AZAHRA - A cidade do céu (EM...

By MyNameIsZoeX

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Ganhadora do #Projeto12meses (primeiro lugar), do #ProjetoUmaDoseAMais (primeiro lugar), do projeto #Escritor... More

Querido leitor...
Dedicatória
DISCIPLINA
TIRO AO ALVO
MINHA NAMORADA
A SELEÇÃO
A SELEÇÃO - PARTE 2
IMPORTANTE! - NOTAS DA AUTORA
ESCOLHAS
APENAS AMIGOS
READY - PARTE 1
SOBRE O PRIMEIRO LUGAR NO PROJETO 12 MESES
READY - PARTE 2
READY - PARTE 3
READY - PARTE 4
POV JOHN
JOGO DURO
SALVA
CAINDO
A39
POV MYA - PARTE 1
POV MYA - PARTE 2
POV MYA - PARTE 3
POV MYA - PARTE 4
SURPRESA

GAROTA PROBLEMA

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By MyNameIsZoeX

OI! Espero que aproveite a leitura!
Beijos da Zôe <3

Lonely day - SOAD <3

O natal estava chegando.
Eu conseguia ver as montanhas cobertas de neve pelas grades da janela. Lembro que deixei de acreditar em papai Noel aos cinco anos, quando minha mãe disse que ele havia deixado um pão a mais para mim como nos anos anteriores, aquela foi a primeira noite que notei que ela não tinha o que comer.

Passei a mão pelos cabelos e suspirei tentando afastar o pensamento daquela noite e de todas as outras onde minha mãe estava. Não demorou muito para que os recursos fossem cada vez mais escassos e o pulmão dela não se recuperasse de uma infecção causada por um vírus novo que estava dizimando Azahra.

Me sentei na cama de cueca e vi minha gata entrar pela janela carregando um rato morto na boca.
- Boa caçada, Emme - eu parabenizei minha vira lata favorita. Ela largou o rato aos meus pés e se esfregou nas minhas pernas. - Pode ir comer sua caça, a minha eu estou indo buscar.
Levantei e coloquei a calça verde e a camiseta branca do uniforme, o tecido era reforçado e nós ganhávamos três pares a cada seis meses, assim como roupa íntima e meias. Os sapatos eram repostos anualmente e isso era a causa da maioria dos furtos entre nós. Amarrei os coturnos, lavei o rosto, escovei os dentes e prendi meu cabelo em um coque desleixado. Estava comprido demais para um homem, mas dificilmente alguém brincaria comigo a respeito disso. Eu era grande, tinha sido um dos poucos a ser escolhido para o EDCP, o Exército Da Cidade em Pé. Eu havia focado todo o meu tempo ali nos últimos quatro anos e agora tinha a oportunidade de ter uma vida um pouco melhor.

Sai do meu apartamento e tranquei a porta, minha ala estava vazia, mas não tive a mesma sorte no elevador, duas meninas de aproximadamente 18 anos se beijavam loucamente quando as portas se abriram. Uma delas parecia um garoto, com o cabelo descolorido e um piercing na língua que ela não parava de mostrar enquanto me encarava nervosa por ter que esperar pra continuar o amasso. A outra tinha enormes olhos verdes que estavam pintados com uma grossa linha preta borrada e um sorriso frágil no rosto, após me encarar e ver que eu não iria desviar o olhar, ela olhou para baixo e sorriu abertamente enquanto suas bochechas ficavam vermelhas. Ela era bonita, mas não me permiti perder mais tempo olhando para nenhuma delas, me virei e assim que o elevador abriu as portas eu saí em direção a mesa dos oficiais.

Uma das vantagens de estar no EDCP era essa, nós podíamos comer mais. Eu ainda lembrava de como era ter fome, mas grande parte dos meus colegas de equipe fingiam que isso não existia a nossa volta. O refeitório era grande, uma das poucas partes bem iluminadas da Cidade em Pé. Eram quatro andares para poder atender a remessa de gente que sobrevivia aqui. Eu frequentei o primeiro andar durante quase toda minha vida, era o lugar onde os mais pobres pegavam suas refeições. Um pão, uma garrafa de água e um prato com o que restasse dos outros refeitórios.

O segundo andar era para os comerciantes e pessoas pouco influentes. A diferença desse para o primeiro andar era pouca, uma refeição e uma garrafa de água a mais. Mesmo assim as pessoas desse andar olhavam ainda mais feio para as do primeiro do que o restante de nós. Eu tinha a teoria de que isso era medo de que um dia eles tivessem que comer no primeiro andar alguma hora da vida.

O terceiro andar, o meu andar, era para pessoas do EDCP e para influentes da igreja. Nós podíamos nos servir a vontade do que tivesse o dia todo.

No quarto andar diziam que a melhor comida era servida para os ricos e influentes, para os políticos e superiores da fé. Abraham era quem governava, ele tinha uma política suja que desagradava grande parte das pessoas, mas, desde que Os Outros apareceram ele conseguiu nos manter seguros.

Mostrei minha identificação no balcão, a mulher me cumprimentou com a cabeça e eu correspondi. Peguei minha bandeja e comecei a me servir com ovos e waffles, eu amava o gosto que aquilo tinha.

- Deixe um pouco para os outros, troglodita - a voz rouca de John me fez rir

- Quem chega tarde nos dias de folga tem uma bela desculpa, mas você não deveria estar em serviço hoje? - eu questionei enquanto o cumprimentava com um aperto de mãos.

Esperei ele se servir e sentamos juntos. Nossa área estava quase vazia, então não precisamos procurar muito por um lugar.

- Eu fui dispensado, parece que aconteceu alguma coisa na academia. Todos estão distraídos enquanto os superiores correm de um lado para o outro, então seu irmão do gueto aqui pediu pra sair por hoje - eu o encarei, John era um dos poucos negros integrantes do EDCP, o fato dele ser grande e, ainda assim, ágil o fez ser convocado.

- Você não deveria ser tão folgado, qualquer hora eles se cansam da ousadia dessa sua bunda e a chutam pro primeiro andar de novo - eu falei sério

- Relaxa irmãozinho, somos a dupla dinâmica. Além do mais, Daya está grávida e eu tenho direito de ficar alguns dias em casa para ajudar minha esposa - ele disse enquanto devorava seu waffle e eu pude ver a massa nojenta que se formava em sua boca.

- E já posso ver o ótimo exemplo que você vai ser para seu filho... - falei colocando a mão no queixo dele, fazendo com que ele comesse de boca fechada. John revirou os olhos para mim e me deixou comer em silêncio por um tempo

- Bom, agora que a senhora já comeu grande parte do seu prato, pode me explicar o motivo de você se recusar a passar o natal com a minha família? Se for por que somos pretos, eu vou chutar essa sua bunda branca até a DeadLine.

Tudo o que pude fazer foi rir do pensamento idiota dele, John não tinha muitos amigos porque era um negro em posição privilegiada. Ele achava que depois de ter entrado para o EDCP as coisas seriam melhores para ele e a esposa, mas descobriu tarde demais que aqui eles ficariam em evidência e seriam apontados por todos os lados.

- Eu deveria chutar a sua bunda até a DeadLine agora mesmo só por você pensar assim de mim. Não... Você sabe o motivo de eu não passar o natal com vocês, se sua mulher explodir até lá e vocês Terem um bebê, chorando alto em 14m², eu vou ficar louco, já tenho coisas piores pra fazer nesse dia - fiz uma careta e ele entendeu que eu estava brincando.

- Bom, o convite está de pé. Pense bem, Ezra - ele já havia acabado de comer e se colocava de pé.

- Obrigado pelo convite irmão, mas eu realmente tenho um compromisso - Mal imaginava ele qual era.

John logo foi embora e eu fiquei sozinho, terminei minhas panquecas enquanto observava o refeitório se encher novamente pela hora do almoço estar próxima. Quase todos estariam aqui e eu não queria ter que ver alguns rostos no meu dia de folga, me levantei e coloquei a bandeja no lugar para ser recolhida.

Voltei ao meu quarto apenas para escovar os dentes e limpar a sujeira que Emme havia deixado, apenas a pele do rato havia sobrado e ela me olhava como se esperasse um elogio. Os apartamentos eram minúsculos, no meu havia uma cama de solteiro que dividi com minha mãe até os oito anos, uma estante de livros que minha mãe costumava ler para mim e eu nunca mais mexi, uma mesa pequena, duas cadeiras, uma pia com espelho ao lado de uma divisória para o vaso e uma porta que separava um pequeno quadrado do quarto com o chuveiro dentro. Não havia muito que ver, eu não era de acumular pertences e minha mãe havia me ensinado logo cedo que eu precisava ser organizado com minhas coisas ou não saberia onde elas estavam e seria roubado. Me sentei na cama e encarei a minha volta, em breve eu seria um capitão do EDCP aos 23 anos e iria me mudar para um apartamento melhor, essa era a vida que tanto almejava.
Eu me orgulhava das minhas conquistas, me criei sozinho e não passava mais fome, de agora em diante seria respeitado e se um dia eu viesse a ter um filho, ele não passaria nem metade das necessidades que eu havia passado.

Esfreguei os olhos e peguei a roupa suja que eu havia acumulado na última semana, enfiei dentro de uma sacola e saí do apartamento em direção à lavanderia.

A lavanderia estava lotada, eu procurei por quase cinco minutos para encontrar uma máquina livre. Enfiei minha roupa lá dentro junto com o sabão e esperei o tempo que precisava para poder enfiar a roupa molhada na secadora. Havia jornais jogados em um banco próximo da minha máquina e eu me distrai lendo os absurdos que o jornal manipulador escrevia sobre a Cidade em Pé.

- Não tem como acreditar nisso, não é? - Uma voz feminina me tirou do transe em que eu estava e eu levantei o rosto para encontrar a garota de olhos claros do elevador. 

- Não, realmente - a garota tomou aquilo como um convite e se sentou ao meu lado.

- Esse é o meu pai - ela apontou pra um homem gordo e quase careca que estava em uma foto ao lado de Abraham. - Ele deveria administrar a saúde da Cidade em Pé, mas tudo o que faz é dar jantares caros e para suprir seu capricho acaba cortando remédios básicos para os mais pobres - ela suspirou.

- Grande homem... - eu comentei baixo com certa agressividade na voz, o que a fez ficar em silêncio.

Depois de ler a chamada em que o pai dela era elogiado pela boa administração, parei para olhar para ela com mais atenção. A garota havia corrigido a maquiagem preta dos olhos e agora não estava mais borrado. Sua pele era muito branca e dava para ver os hematomas roxos e amarelados em suas coxas, o shorts ,um dia, foi uma calça igual a minha e sua blusa branca também havia sido reciclada por uma tesoura. Ela era realmente muito bonita, mas eu afastei qualquer pensamento com segunda intenção dela, garotas da cúpula não eram permitidas. Os olhos verdes enormes me encararam e ela esticou a mão em minha direção.

- Sou Mya, Mya Foster. E você?

- Ezra Stone - Eu apertei a mão dela de volta e ela sorriu.

- Você é do EDCP... Como entrou? Conheço meninos que sonham com isso... - A garota era direta.

- Como você pode ver, eu não sou pequeno... - endireitei os ombros - Também me formei com todas as honras e tenho alguns truques na manga... - sorri de canto - Mas e você? Como pode conhecer pessoas que querem entrar pro EDCP? Por que você está aqui embaixo? - as perguntas saltaram antes de eu me dar conta

Ela virou os olhos como se já tivesse ouvido aquilo mil vezes. Mya se ajeitou no banco e abraçou os joelhos.

- Como eu poderia não estar aqui? - a resposta me surpreendeu.

- Você deveria estar lá em cima no topo, não? - Minha pergunta não era ofensiva, mas ela me encarou como se eu tivesse batido nela.

- Já pensou que nem todo mundo quer estar lá? Não tem pra onde correr, é como se você fosse um pequeno rato entre as maiores cobras - a garota desabafou, jogando a cabeça pra trás enquanto rolava os olhos.

Eu ri e estiquei os braços no encosto do banco.

- A garota que tem tudo e vive no meio dos que não tem nada... - debochei - Isso é no mínimo engraçado.

- Não - ela me cortou - Não tem graça eu assistir a pobreza, a miséria organizada. Não tem graça nenhuma ver gente morrer por culpa do meu pai, não é engraçado segurar na mão de uma criança que está assistindo a mãe morrer quando eu sei quem é o responsável por essa merda.

Parei de rir quando ela começou a falar, eu era uma dessas crianças, eu sabia muito bem do que ela falava. Meu silêncio deu abertura pra que ela falasse mais.

- Não tem um dia que eu não chore, que eu não culpe Os Outros ou meu próprio pai de deixar as coisas chegarem nesse estado, mas o que eu poderia fazer? Cada vez mais existem vírus diferentes, cada vez mais fortes, alguns fazem coisas horrendas com as pessoas! Se isso não é culpa dos Outros ou, principalmente, do meu pai, eu deveria culpar Deus? Deus vai descer aqui e curar essa gente e esse mundo? - ela falava alto e eu entendi que aquele desabafo solto e desenfreado comia a alma da garota que quase explodia em lágrimas. Sem entender minha atitude, eu a abracei.

- Calma garota problema, tudo vai ficar bem - foi tudo o que consegui dizer.

Ela começou a chorar no meu peito, eu senti as lágrimas molhando minha camiseta e a segurei mesmo depois dela parar de chorar. Ficamos em silêncio sabendo que tínhamos atraído olhares sobre nós. Quando a secadora de roupas apitou avisando que seu ciclo havia acabado a garota problema se levantou e secou os olhos, ela olhou pros dedos pretos e para minha blusa que estava manchada com sua maquiagem e corou.

- Me desculpe, vou lavar sua blusa. Coloque uma das suas limpas, por favor.

- Não se preocupe, realmente. Não precisa... -  minha voz sumia conforme eu via o estrago feito pela chorona. Fiz cara feia, eu teria que deixar aquela blusa de molho por um bom tempo.

- Por favor, eu insisto. E por favor, esqueça o que eu disse - a fala dela era firme.

Revirei os olhos e abri a secadora, olhei para a garota e tirei minha blusa em um movimento rápido. Estiquei a blusa na direção de Mya e reparei que ela havia arregalado os olhos vendo meu corpo, a garota estava completamente vermelha olhando meu abdômen definido, eu ri alto vendo a reação dela e a vi desviar o olhar, com a cara fechada.

- Achei que eu não fizesse seu tipo, garota problema - isso fez com que ela ficasse no mesmo tom que um tomate.

- Veste logo sua blusa, eu não sou a única tendo problemas aqui.

Eu olhei a nossa volta e reparei que outras quatro mulheres de variadas idades me olhavam de modo indecente, eu ri e me demorei para vestir a camiseta, o que fez com que Mya começasse a bufar ao meu lado.

- Você precisa de ajuda para encontrar o buraco certo? São três, um maior para a cabeça e dois menores para os braços - ela estava impaciente

- Pronto querida, não fique constrangida. Tenho olhos apenas para você - Falei alto causando um burburinho ao nosso redor entre as espectadoras e deixando Mya sem palavras. O cabelo dela caia em duas tranças infantis por cima dos seios e iam até a barriga descoberta. Eu coloquei a blusa e a abracei pousando um beijo em sua cabeça fazendo a audiência se dispersar. Ela me olhava sem entender e eu sorria enquanto recolhia e dobrava o restante da roupa.

- Qual o seu problema? - ela disse engolindo forte enquanto voltava a sua cor branco papel pouco a pouco.

- Apenas brincando um pouco e espantando os comentários de que você é lésbica do ouvido do seu pai. Uma das mulheres era do EDCP, muito bem relacionada por sinal, e estava na porta do elevador quando eu desci e você e sua namorada continuavam o showzinho de vocês - fechei a máquina e me encostei nela com os braços cruzados, encarando a garota que agora olhava assustada a nossa volta.

- Não namoro Ella.

- Então deve ser por isso que ela ficava me mostrando o piercing o tempo todo como se estivesse lambendo outra parte sua que não a boca, não é mesmo? - Antes que ela se recuperasse do choque, eu peguei minhas coisas e sai andando enquanto ria.

A garota problema realmente tinha muita coisa para pensar. Eu odiaria meu pai se ele fosse como o dela, mas eu não tinha um pai, minha mãe me criou sozinho e apesar de eu procurar diversão de vez em quando, eu ainda me achava do lado dos mocinhos. Quando eu cheguei na porta do elevador a garota problema me chamou.

- Ezra, espera! - ela gritou enquanto corria.

Eu me virei na direção dela.

- O que foi, garota problema?

- Não peguei seu endereço - Ela ainda estava longe.

- Vai precisar descobrir - Eu sorri e entrei no elevador, a porta se fechou antes que ela conseguisse chegar.

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