NOVEMBRO

By vanessasmarine

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Amanda Horstmann foi expulsa do time de futebol da escola (sua maior paixão) e, entre esse acontecimento, des... More

:: PRIMEIRA TEMPORADA ::
1 - Expulsão
2 - Conclusões
3 - VHS Misteriosa
4 - Eleonor, Minha Mãe
5 - Uma Ideia
6 - Batalha de Bandas
7 - Destrancando Segredos
8 - Orvalho
9 - Desmosqueteiro
10 - A Ideia
12 - Correndo (Literalmente) Atrás
13 - A Proposta
14 - Segunda Tentativa
15 - Planejamento
16 - Vem, ônibus!
17 - Meu Namorado de Mentira
18 - Cara ou Coroa?
19 - Primeira Aula
20 - Palavras que Machucam
21 - Coisas de Garotas
22 - Novata #1
22 - Novata #2
EXTRA - [DOCE] FERNANDO AMARGO
23 - O dia Seguinte
24 - Amarga
25 - Gabriel Gostosão
26 - Expandindo o treino
27 - Amargo Jogo
28 - A Peneira
29 - Mais segredos
30 - O Diário
31 - Ajuda Inesperada
32 - Encontrados
33 - Banda de Última Hora
34 - Gabriel e os Outros
35 - Repertório
36 - O Show
37 - Presente Inesperado
EXTRA - GABRIEL (GOSTOSÃO) FERNANDES
38 - Itamira Café
39 - Açude
40 - A Caixa
41 - Cara a Cara
42 - Construindo Lembranças
43 - Admitindo Sentimentos
44 - Provas e Jogos
45 - Uma Vez FHS...
46 - A Final
47 - Explicações
48 - Precisamos Conversar
49 - 28 de novembro
50 - 281º dia
51 - Presentes
52 - Por Um Dia
EPÍLOGO - PARTE 1
EPÍLOGO - PARTE 2*
EXTRA - PEDRO (MOSQUETEIRO) FERNANDES
HISTÓRIA NOVA
NOVEMBRO, O LIVRO, E UM TEXTÃO DE ANVIERSÁRIO
::SEGUNDA TEMPORADA::
1 - O Que Aconteceu Em Porto Seguro
50% DE DESCONTO

11 - Admirando O Fracasso

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By vanessasmarine

Queria dizer que arrumar alguém que me ensinasse a tocar violão foi tão fácil quanto o surgimento da ideia do memorial, mas não foi. Aquelas almas caridosas que eu acreditava existir, não existiam. Ninguém queria dar aulas de graça.

Os projetos de incentivo à cultura da prefeitura, que ofereciam aulas gratuitas de violão, já estavam com as turmas fechadas e não aceitariam novos participantes até o ano que vem. E eu não podia esperar até o próximo ano. Já havia marcado a data da "apresentação" para o dia 28 de novembro desse ano; o dia do meu aniversário e também o dia em que minha mãe morreu. Até essa data, segundo minhas contas, eu tinha exatamente 281 dias para recuperar o sorriso do meu pai e já tinha desperdiçado alguns com a busca (sem sucesso) de um professor de violão.

Perguntei a Gabriel sobre seus colegas do Grupo (aquele da escola em que ele tocava violino), mas nenhum deles queria dar aulas de graça.

– Muitos já dão aulas para ajudar a pagar o colégio. Nenhum deles vai querer dar aulas de graça. Eles realmente precisam do dinheiro.

– Gabriel, você deve saber tocar alguma coisa de violão...

– Violino não tem nada a ver com violão, Amanda – ele disse pela milésima vez.

Mas para mim todo instrumento de corda era a mesma coisa.

Pedro sabia tocar bateria e era de um dos grupos populares, então, por um momento eu joguei todas as minhas esperanças nos contatos dele.

– Eles estão na mesma situação dos colegas do Gabriel, Dinha – ele disse certo dia. – Ninguém quer fazer de graça. O máximo que eu consegui foi um desconto.

E o desconto não era lá grande coisa. As aulas continuavam caras e eu não tinha dinheiro nem para comprar uma palheta, quanto mais pagar, semanalmente, um professor de violão.

– Você vai ter de pagar – Pedro concluiu num suspiro lamentoso.

Meu pai poderia pagar as aulas, eu sabia, mas eu não queria. Primeiro, porque ele não ficaria surpreso em me ver com um violão na mão em novembro, no dia da apresentação; segundo, porque eu queria que o memorial nascesse totalmente do meu esforço e não do dele. Era um presente para meu pai e eu não queria que ele pagasse nem um centavo por isso.

Sem alternativa, comecei a procurar por trabalho.

Eu nunca trabalhei ou fiz algum curso extracurricular realmente proveitoso para alguma profissão, então o meu currículo ficou mais vazio do que o estômago do Gabriel antes da ceia de natal. Chegava a ser ridículo, mas era tudo o que eu tinha.

Todo dia eu pegava a página de empregos do jornal que meu pai comprava, e levava para o colégio para procurar com calma algum emprego, mas quase nunca eu encontrava algo que se enquadrasse com a minha idade ou conhecimentos.

– Amanda! – o grito ecoou pelo corredor vazio da FHS, me assustando e fazendo com que caíssem os jornais que eu carregava em minhas mãos.

Mal olhei para quem me chamara, porque talvez nem estivessem me chamando. Talvez estivessem chamando outra Amanda, ou outra pessoa que tivesse um nome parecido com Amanda. Ananda, Fabiana, Joana...

– Amanda!

Virei minha cabeça para ver quem era a pessoa – havia uma grande possibilidade de ser alguém que queria tirar uma onda com a minha cara.

Era Jéssica Santiago, a novata do FHS.

Sabia seu nome e sobrenome porque, embora a garota fosse nova ali, ela já estava tentando se aproximar de um dos grupos de populares (sim, UM dos grupos. Havia os populares bons, maus, malas e o resto do colégio). Todos ficavam falando quando alguma carne fresca tentava se aproximar dos holofotes do FHS, torcendo a favor ou contra a sua aceitação em um grupo.

Era quase um Big Brother da vida real adolescente.

Respirei fundo e me abaixei para pegar os jornais ignorando o fato de que ela vinha correndo em minha direção. Já estava me preparando para ouvir alguma piadinha desagradável, porque era assim que me tratavam ali desde o meu primeiro dia de aula naquele lugar. Com a entrada no time de futebol as piadinhas aumentaram, e com a minha expulsão as coisas pioraram ainda mais. Não que eu me importasse com isso. Eu, sendo bem sincera, não me importo com a opinião dessas pessoas. Eu tenho Pedro e Gabriel e a amizade deles me basta.

– Você é a garota do time de futebol, não é? – ela perguntou arfando por ter corrido até a minha direção.

- Era – corrigi entre dentes.

Óbvio que eu era a garota do time de futebol. Todos sabiam disso.

"Vamos logo, Jéssica. Pula para a parte que você me chama de Maria João ou algo assim", pensei, mas de repente ela agachou e começou a me ajudar a pegar os meus jornais do chão.

– Não precisa me ajudar – eu disse automaticamente, surpresa com o ato. – Eu estava levando isso para o lixo.

Mas ela pareceu não me ouvir e continuou a pegar os jornais. Quando terminou, se levantou, tirou das minhas mãos os jornais que eu havia pegado do chão, e, como demonstração de que ela havia me ouvido sim, levou os papéis até o lixo mais próximo.

Meu queixo caiu diante desse ato de bondade repentino. Quase ninguém nunca havia sido legal comigo naquela escola – principalmente pessoas como Jéssica – e de repente... Isso. Ela me ajuda pegar as coisas que eu derrubei no chão.

– Não sei se ficou sabendo, mas eu sou nova na equipe das animadoras de torcida – ela disse quando voltou a se aproximar de mim, ignorando o acontecimento com os jornais.

Sim, meu colégio caríssimo também investia nossas mensalidades em coisas inúteis como uma equipe de animadoras de torcida. "Ah, mas elas existem no Brasil?". Sim, existem, mas ninguém nunca repara no que elas fazem, porque, como eu já disse, é uma atividade inútil. Se você reparar em qualquer transmissão dos jogos do Brasileirão, vai haver que existe meia dúzia de meninas correndo em volta do campo enquanto o jogo acontece, chacoalhando seus pompons.

– Não, eu não sabia.

– Ah... – ela colocou as mãos em sua cintura. – Bom, também não sei se você sabe do jogo fechado que vai ter amanhã.

Disso eu sabia. Pedro havia me falado sobre uma partida que iria ter entre a FHS e outra escola particular de São Paulo. Era um jogo fechado. Só convidados de jogadores e de animadoras de torcida poderiam assistir. E essas animadoras só conseguiram tal acesso vip depois de um baixo assinado que rodou pela escola, decretando por fim que essa equipe acompanharia o time do FHS em qualquer jogo que tivesse.

Engraçado... Assinar meu baixo assinado para montar um time de futebol feminino quase ninguém assinou. Sacanagem.

– Estou sabendo desse jogo. Meu amigo me convidou.

Pedro havia me dado um de seus convites, mas eu já havia dito que não iria. Não aguentaria ver meus ex-colegas (que, aliás, nem queriam me ver por perto) jogando e eu ali só assistindo.

– Ah – disse decepcionada. – Eu ia te convidar também.

Oi?

Silêncio.

– Hã?

– Olha, eu posso ser nova no colégio e tudo mais, mas eu não gostei do que o treinador fez com você – ela fez uma pausa como se estivesse procurando a palavra certa. – Puro machismo.

Eu não disse nada – só fiquei olhando para ela com imensa surpresa – por isso Jéssica continuou:

– Eu sei como é isso. Ser zoada por aquilo que você faz – ela disse. – Ou você acha que não me zoam por agora eu "chacoalhar pompons"?

Senti meu rosto queimar de vergonha.

Eu mesma zoava as líderes de torcida da minha escola. Todos os dias. Mas era que isso também fazia parte do Big Brother da vida real adolescente.

– Amm, mas não foi nada demais. Eu já estou... Eu já superei.

– Que bom então – ela sorriu satisfeita.

Meu Deus, ela estava sorrindo para mim. Uma quase popular estava sorrindo para mim, me convidando para algo e dizendo "que bom" por eu não estar mal.

Fim dos tempos.

– Mas mesmo assim eu não vou ao jogo – eu disse ainda um pouco tímida.

– Por que não?

– Não sei...

– Você precisa ir – ela me interrompeu. – Jonathan iria ficar bem irritado se te visse por lá – Jéssica sussurrou e depois me lançou uma piscadela. – Nada mais justo você ir até lá e mostrar que está bem e admirar o fracasso dele. Não que eu entenda de futebol, mas até um cego vê que a coisa no time não está boa.

Realmente. Jonathan iria ficar bem irritado se me visse ali, olhando sua desgraça... Mordi meu lábio inferior em excitação. Finalmente os anos que passei assistindo A Usurpadora começaram surtir efeitos – era o que Gabriel diria.

– Amm... Ainda não sei. Mas eu vou pensar sobre isso. Obrigada pelo convite.

Decidi que eu iria para o jogo no dia seguinte sim. Jéssica havia conseguido me convencer com aquele argumento de "admirar o fracasso". E, além do mais, Pedro era o meu amigo, eu tinha de apoiá-lo (por mais contraditório que isso seja, pois eu estava torcendo contra o treinador do time dele). Também queria retribuir a amabilidade de Jéssica. Não é todo dia que uma pessoa é legal com você, principalmente se esse "você", no caso, sou eu.

Os Fernandes, meu pai e Max também iriam ver o jogo. Max sempre ia a todos os jogos da nossa escola. Na verdade, ele sempre ia a todos os eventos da nossa família, principalmente agora que, bom, ele não tinha mais uma família só dele. O jogo não aconteceria na FHS e sim na escola do time adversário, Korban. Já havia ouvido falar nessa escola, mas eu não a conhecia realmente.

– Acho que Pedro já chegou – disse Victor depois de estacionar o carro, apontando para um ônibus particular estacionado logo a frente de nós.

Os jogadores sempre iam de ônibus para os jogos.

Encarei o transporte com nostalgia, me lembrando de quantas vezes já passei batom vermelho 24 horas nos meninos que dormiam durante o caminho de volta à escola. Era tão estranho ver aquele ônibus ali e saber que eu não fazia mais parte daquilo: dos jogos, das viagens, das brincadeiras...

Engoli em seco, saindo do carro.

Passamos pelas portas de vidro do prédio que davam para a luxuosa recepção da escola. Cada um mostrou o seu convite e fomos guiados até outra porta onde havia um segurança que conferiu um por um cada convite novamente. Quando terminou, ele passou um cartão que carregava no pescoço em uma das três catracas que havia ali para liberar nossa entrada.

Nada muito diferente do funcionamento do Francisco Henrique Sampaio.

Uma mulher nos guiou até a quadra da escola, que parecia mais uma réplica de um estádio de verdade. A quadra do FHS era ainda maior. Minha mensalidade, com certeza, também era maior do que a daquele colégio.

– Quem é familiar direto de um dos jogadores? – a mulher perguntou de repente.

Gabriel e Victor se manifestaram.

A mulher entregou um papel para cada um deles, indicando o assento onde deveriam se sentar.

– É de preferência que as famílias se sentem na frente para ter uma visão melhor – e se virando para nós, continuou – Sinto muito.

Ela ainda entregou outros papéis para Max, meu pai e eu com o número dos nossos lugares – que não eram ruins; ficavam umas três fileiras atrás de onde os Fernandes estavam.

Antes de eu conseguir me sentar, de longe já vi que havia alguém no assento ao lado do meu... Alguém bastante familiar...

– Fernando! – Jéssica apareceu no meio do campo, com o uniforme de animadora de torcida, acenando para o garoto.

Ele estava me perseguindo ou algo assim?

Fernando também acenou para Jéssica com um meio sorriso em seu rosto, o que me surpreendeu já que eu nem sabia que ele era capaz de sorrir. Me surpreendeu também o fato dele estar ali. Eu não me lembro de tê-lo visto em qualquer outro jogo do time treinado pelo seu pai.

Max, com seus grossos indicadores, cutucou fortemente cada lado da minha cintura me fazendo pular de susto.

– Anda, Messi.

Foi aí que eu percebi que eu havia parado de caminhar em direção ao meu lugar.

Finalmente me sentei o mais discreta possível para não chamar atenção do filho do meu ex-treinador. Na verdade, eu queria passar bem longe daquela família. Max ficou entre meu pai e eu, e começou a falar alguma coisa com ele, me deixando ali, desprotegida, ao lado de Fernando. Tentei me concentrar em outra coisa.

Passei meus olhos pela quadra e avistei Pedro concentrado em seu aquecimento. Provavelmente ele não tinha visto nem que seu pai e seu irmão tinham chegado, o que era absolutamente normal. Naquele momento, os jogadores só se concentravam em uma coisa: o jogo.

– Vá se sentar lá na frente – alguém disse de repente.

Nem precisei olhar para o meu lado para descobrir quem estava falando com Fernando. Aquela voz eu conhecia muito bem: Jonathan Amargo.

– Eu não sou cego. Consigo ver o jogo daqui – retrucou o garoto.

– Quero que preste atenção neste jogo e no ritmo dos jogadores... – ele ia dizendo, porém sua voz se perdeu quando seus olhos finalmente me encontraram. – Horstmann – ele cumprimentou surpreso.

– Amargo – disse sorrindo falsamente.

Senti meu pai ficando atento, mas ele não disse nada, apenas ficou observando a nossa conversa.

Fernando também me olhou, mas sem tanta curiosidade quanto o seu pai. Jonathan passou a mão na cabeça do filho e, ainda olhando para mim com acidez, continuou orientando Fernando:

– Preste atenção no jogo – disse parecendo aqueles vilões de filmes vagabundos que acariciam a cabeça de seu cachorro pitbull antes de mandá-lo atacar sua vítima.

Fernando desviou a cabeça das mãos dele, murmurando algo em concordância.

As animadoras de torcida entraram na quadra anunciando que logo o jogo iria começar. Jonathan se afastou de nós e foi para o seu posto. Enquanto ele descia as escadas para ir à primeira fileira, fiquei torcendo que ele caísse e quebrasse a perna ou algo pior, mas isso não aconteceu.

Meu pai se inclinou em minha direção perguntando se eu estava bem, se queria que ele fosse conversar com o professor depois do jogo, mas eu disse que não e que estava tudo sobre controle. Até porque a minha prioridade naquela semana não era voltar ou arrumar um novo time de futebol, e sim conseguir um professor de violão.

Uma música começou a tocar e as animadoras começaram a sua apresentação. As garotas da Korban ficaram olhando para elas com indignação e inveja, já que sua escola toda pomposa não tinha um grupo tão bem organizado, com uniformes e tudo mais. Mas ignorando a inveja alheia, eu nunca havia reparado quem eram as garotas cheerleaders do FHS. Eu sempre estava preocupada em jogar. Me surpreendi ao perceber que as futuras-quase-melhores-amigas de Jéssica não faziam parte da equipe. A garota mais inteligente da minha sala estava lá, e a mais simpática também, dentre outras garotas que não agrediam verbalmente (ou com unhadas manicuradas) as outras pessoas.

Definitivamente o conceito "líderes de torcida são vadias" não se encaixa ali.

Sobre a apresentação em si, primeiro elas começaram a dançar para depois começarem a saltar. Algumas pessoas estavam gostando, outras não achando nada demais, até que elas começaram a dar mortais para trás, e depois a se equilibrarem umas nas outras e saltarem no alto... Tudo aquilo que já estamos acostumados em ver nos filmes, mas ver ali, pessoalmente bem na sua frente era muito mais surpreendente.

A música acabou, a apresentação também e logo surgiram os jogadores do FHS e da Korban.

Num par ou ímpar rápido, a FHS ganhou a posse de bola, depois o juiz começou a dar as ordens, provavelmente as mesmas que eu ouvia quando jogava: "quero um jogo limpo".

Os jogadores se dirigiram cada um para a sua parte do campo, e foi nesse momento que eu descobri que o Guilherme, o pior jogador do FHS, estava me substituindo no ataque. O garoto era uma anta. Não sabia se sentia pena ou raiva por vê-lo ali no meu lugar...

Quando cada um estava na sua devida posição, o apito soou.

– VAI GUILHERME!

Pois é. Não havia se passado nem cinco segundos e eu já estava indo contra os meus princípios e torcendo a favor do time do FHS, que estava jogando com 2 atacantes no dia, Guilherme e João Pedro.

– Droga – disse quando a bola foi passada para os pés de Guilherme e logo um dos laterais da Korban a roubou.

Esse mesmo jogador passou a bola para outro, que passou para outro e... A torcida da Korban começou a gritar.

Gol.

– Caramba, não faz nem 6 minutos que estamos jogando – falei para mim mesma frustrada. – SE LIGA NO JOGO! – gritei incorporando o Troy de High School Musical.

Pedro bateu uma das suas mãos enluvadas em sua coxa nua, e depois começou a gritar algo para os jogadores que estavam por perto. Realmente a bola havia sido difícil para Pedro, e se os outros estivessem jogando de modo defensivo, como o treinador estava ordenando, aquilo não teria acontecido.

A maior parte do jogo, a Korban ficou com a posse de bola e as tentativas de gol do FHS foram todas frustradas. Fora as centenas de passes errados feitos.

– VAI LUCAS! – gritei o mais alto que consegui para um dos meio campistas do nosso time.

Lucas roubou a bola do adversário e começou a driblar os outros jogadores.

– Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! – eu dizia "ai meu Deus" a cada drible, me levantando ainda mais do meu assento até finalmente ficar em pé.

– Ô garota, sai da frente. – disse um cara atrás de mim.

Virei minha mão para fazer um gesto obsceno, mas Max, prevendo aquilo, puxou minha camiseta para baixo me forçando a sentar novamente. Então ele se virou para o rapaz e disse:

– Descul...

– GOL! – gritei rapidamente. – GOOOL! – gritei novamente, abraçando Max pelo pescoço.

Mas estava impedido. E aquele foi o primeiro e último gol do FHS naquela partida. Depois dele vieram outros quatro do Korban.

Me afundei em meu assento, enquanto os jogadores saíam da quadra e outros torcedores saíam de seus assentos para cumprimentá-los. Fiquei um tempo ali, sentada e desligada do mundo, pensando no que eu faria se eu estivesse no time naquela partida. Nos 13 jogos que eu havia jogado, somente em quatro nós perdemos.

Max e meu pai se levantaram para ir cumprimentar Pedro, me deixando ali olhando para o nada.

– Você veio! – alguém gritou por trás de mim me fazendo pular em meu assento por causa do susto.

Olhei para trás e vi uma Jéssica toda sorridente passando por entre os lugares para se sentar ao meu lado, onde Max esteve minutos atrás.

– Legal, não é? – ela perguntou.

– Legal o quê?

– O FHS ter perdido – foi aí que eu me lembrei o porquê eu havia ido assistir aquele jogo: ver a derrota do FHS. – Você tem de ver a cara de Jonathan.

– É verdade – soltei uma risada tímida que foi se encorajando aos poucos.

Jonathan deveria estar muito nervoso por eu ter visto aquela partida, apreciado a sua derrota. Ele nunca imaginaria que eu iria até ali, assistir um jogo, depois de ele ter me expulsado do time de forma humilhante, ainda mais para vê-lo perder.

– É verdade – reforcei mudando de humor.

– Ele está lá – Jéssica apontou para uma sala que ficava no corredor por onde as pessoas estavam saindo. – Se quiser ver a cara dele depois... – ela riu baixinho.

Eu ri também, mas depois eu comecei a pensar sobre toda aquela situação com mais racionalidade. Por que Jéssica ficaria tão feliz por "seu" time perder? Não tinha motivo e era muito contraditório.

– Amm... Eu pensei que você estava torcendo pelo FHS, já que você é líder de torcida deles.

Ela enrugou a testa.

– Mas isso não tem nada a ver – respondeu. – Eles perdendo ou ganhando, nossa equipe de torcida continua intacta. E você viu a cara de inveja que as garotas desse colégio fizeram quando nos viram saltar? Incrível!

– É... Ah, e por falar nisso, você foi demais. Eu não sabia que vocês faziam coisas tão difíceis.

– Obrigada! – ela disse com sinceridade. – Agora eu tenho de ir. Nos vemos na segunda?

– Amm... – será que ela quis dizer "nos falamos na segunda-feira" ou só "nos vemos na segunda-feira", literalmente? – Claro.

– Até mais.

Jéssica se foi, balançando a minissaia do seu uniforme conforme caminhava.

Depois de um tempo, eu percebi que Fernando não estava mais sentado ao meu lado também. Na verdade, todas as pessoas que anteriormente estavam sentadas na mesma fileira que eu, já tinham ido embora.

Me levantei, e resolvi seguir o conselho de Jéssica e ir ver a cara de Jonathan.

Saí discretamente das arquibancadas, tentando evitar me encontrar com Pedro e sua família e me ver obrigada a parar para confortá-lo pelo mau jogo. Não que eu não fosse fazer aquilo, mas primeiro eu tinha de desfrutar meu lado vilã e apreciar a desgraça dos outros.

A sala que Jéssica havia me apontando tinha colada na porta uma folha com "FHS" impresso em letras garrafais. Do lado do local havia um banheiro, e do outro lado do corredor estreito havia a mesma coisa (ou seja, uma outra sala e um outro banheiro) – provavelmente onde os jogadores da Korban estavam. O único problema naquele arranjo todo era que a porta da sala do FHS estava fechada, o que me impedia de ver qualquer coisa...

– É uma troca em que nós dois saímos ganhando! – ouvi a voz de Jonathan gritar dentro da sala de repente.

Bom, já que eu não podia ver a raiva de Jonathan, eu iria ouvi-la.

Encostei meu ouvido na porta, aproveitando que ninguém mais passava no corredor.

– Eu não quero jogar na porcaria do seu time de futebol! – essa voz eu não reconheci.

Quem Jonathan estava convocando para o time? E quem era louco o bastante para recusar uma proposta dessas?

– O campeonato é para novembro e eu preciso deste time pronto no esquema tático que eu quero – Jonathan disse entre dentes. – Eu nunca perdi um campeonato em toda minha carreira no FHS.

– Arranja outra pessoa.

– Não há nenhum maldito aluno naquela porcaria daquela escola que possa entrar no time. Eu fiz testes com todos no fim do ano passado. Eu conheço a capacidade de cada um – ele disse. – Ou a falta de capacidade, no caso – houve uma breve pausa. – Você é meu filho, o esporte... O futebol está no seu sangue. Sempre te dei uma vaga no time, mas você nunca aceitou...

Então era Fernando quem estava lá dentro? Fernando quem iria me substituir no time?...

– Ninguém mandou você tirar a garota – Fernando disse. – Agora arque com as consequências.

– Concordo – sussurrei baixinho para mim mesma.

– Olha, eu te dou o que você quiser... – disse Jonathan de um modo mais manso. – Sabe o carro que você quer comprar? Eu o dou para você... Não precisa mais economizar.

Silêncio.

– O carro é outra história. Você me prometeu um empréstimo.

– Mudei de ideia. Se você não entrar no time, não vai ter nem um pneu de uma Brasília se depender de mim! – Jonathan gritou novamente. – Ou você joga, ou você esquece o seu carro.

– Está querendo me comprar? – Fernando questionou lentamente – É isso?

– Estou tentando fazer uma troca...

– Está tentando me comprar com um carro!

Houve um ranger de cadeiras.

– Espero que pense na proposta que eu estou fazendo – disse Jonathan enfatizando a palavra "proposta" para corrigir a acusação do filho sobre chantagear.

Depois disso, comecei a ouvir som de passos cada vez mais altos... Alguém estava se aproximando. Me desencostei da porta rapidamente e entrei no banheiro ao lado, sem ao menos ver se era feminino ou masculino. Naquele momento isso não importava.

Ouvi a porta abrir e, logo em seguida, bater. Jonathan passou em frente ao banheiro onde eu estava escondida, murmurando algo consigo mesmo. Quando ele foi embora, saí do meu esconderijo e voltei a ouvir atrás da porta, pois eu precisava acompanhar aquela história toda até o fim.

Por que raios Fernando se recusava tanto entrar no time? Não fazia o menor sentido... Ainda mais com um o carro sendo oferecido assim de bandeja. Jonathan deveria estar mesmo desesperado.

– Fernando, você tem de ajudar o papai... – disse a voz feminina novamente, que pelo jeito era de Alice, a irmã.

– Não... Não posso...

– Ele é nosso pai!

– Um pai que suborna os filhos!

– Fala como se nunca tivesse cedido às chantagens dele...

– Agora é diferente...

– Como se no fundo não quisesse aceitar a proposta...

– Alice.

- Você é louco para ter um carro...

– Alice...

– Mas agora resolveu causar discórdia na família.

– ALICE! – ele gritou fazendo a irmã finalmente se calar. – Eu não sei jogar futebol – ele disse entre dentes. – Mal sei chutar uma bola direito. E ele não pode saber disso.

[Notas finais escritas enquanto eu ainda estava postando a história semana a semana:]

Oi!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Tudo bom, gente? 

Desculpa não ter postado na quinta, mas eu estava no modo avião. TPM e pá... E aí eu fico bem desanimada sem vontade de viver, sair, conversar, enfim. Tô bem na bad. O que me ajuda muito é quando surge uma notificação no youtube ou aqui. Nesses momentos lembro o porquê de eu ter voltado a "morar na internet" hahaha então muito obrigada a todos vocês por tornarem meus dias mais coloridos <3.

Mil beijos,
Marine.

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