O Céu de Celine

By leticiariele

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Celine era uma jovem solitária, filha do rei e da rainha de Amagiqué, e fantasiava com seu baile de apresenta... More

Capítulo I - Parte 1
Capítulo I - Parte 2
Capítulo II - Parte 1
Capítulo II - Parte 2
Capítulo III - Parte 1
Capítulo III - Parte 2
Capítulo IV - Parte 1
Capítulo IV - Parte 2
Capítulo VI - Parte 1
Capítulo VI - Parte 2
Capítulo VII - Parte 1
Capítulo VII - Parte 2
Capítulo VIII - Parte 1
Capítulo VIII - Parte 2
Capítulo IX - Parte 1
Capítulo IX - Parte 2
Capítulo X
Capítulo XI - Parte 1
Capítulo XI - Parte 2
Capítulo XII - Parte 1
Capítulo XII - Parte 2
Capítulo XIII - Parte 1
Capítulo XIII - Parte 2
Capítulo XIV - Parte 1
Capítulo XIV - Parte 2
Capítulo XV
Epílogo
Agradecimentos + Recados Importantes

Capítulo V

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By leticiariele


O meu baile de apresentação está a agora dois meses de distância. Não é preciso ressaltar a minha ansiedade. Os detalhes aos poucos estão sendo estabelecidos. Mary me ocupa continuamente com avisos, precauções e conselhos, que me põem cada vez mais nervosa. A noite tem de ser perfeita e eu tenho de estar perfeita. E por último, a pior parte de todas, escolher um dos pretendentes. Não quero casar com nenhum deles.

Edgar se tornou o meu querido companheiro, meu melhor amigo. Nossos encontros rotineiros nos esconderijos à noite, parece que existem desde sempre. Sua companhia, seus conselhos, suas conversas, são indispensáveis. Nós dois nos apoiamos muito. E tenho guardado aqueles sentimentos estranhos que sinto para mim, desejando que eles desapareçam. Ninguém mencionou aquela conversa no esconderijo. As vezes tudo fica em câmara lenta novamente, eu me atento cada detalhe do seu rosto, meu coração acelera e minha pele formiga com o seu toque.

Todavia, ao mesmo tempo que sua presença me acalma e me leva a outro mundo, de um o céu mais azul e o sol mais brilhante, me inquieta. Agora tenho tanto medo de perdê-lo. Não quero que ele case jamais e não quero casar. Infelizmente, a vida de todos é cheio de anseios próprios e o mundo não ouve nenhum deles. Não gosto de pensar no que farei quando tiver um esposo, ou quando Edgar tiver uma esposa, e não convivermos mais. Porém, nesse tempo, hoje, possuo sua companhia. Queria revelar esses sentimentos a ele, entretanto não tenho a coragem. Coragem. Ela sempre me faltou.

O dia inicia como usualmente. À tarde, viajo com Mary até Leonlce para escolher joias.

– Porque estás tão calada ultimamente, Celine? – Indaga ela, não tirando os olhos do livro que trouxe.

– Estou apenas a pensar.

– Pensar no que?

– Nada demais...

O joalheiro não tagarela como a costureira, faz um cumprimento educado e simples, nos oferece vários colares e brincos, e eu os provo.

– Não é o suficiente para o baile de apresentação de uma princesa – é o rude comentário de Mary.

– Desculpe-me, Vossa Majestade, trarei o melhor colar que tenho em minhas mãos.

– Espero que ele sirva, senhor.

Por fim, ele me entrega sem me olhar nos olhos, um conjunto de joias pratas, de pedras vermelhas. A corrente do colar é de grossura média e sem muitos detalhes. Os brincos também não são grandes, nem os anéis, mas as pedras vermelhas brilhantes são lindas o suficiente. Apaixono-me pelas peças, e Mary também.

– Definitivamente esse será um conjunto! Não achas, filha?! – Ela exclama. – Quero ele brilhando para o dia de apresentação da princesa – o velho e quieto senhor, acena afirmativamente.

O próximo destino é a costureira. Ela, com ajuda de outras pessoas, costura a capa das almofadas para as cadeiras, pretas com detalhes dourados, além de as cortinas que decoraram o lugar. Usaremos outras além das que já temos em Dipertionis.

Visitamos o maior salão do palácio, onde tudo irá suceder. É o salão mais lindo que já vi. O chão é de pedras verdes claras e marrons, as paredes e o teto são dourados e têm pinturas à mão de anjos e flores com tons de azul escuro. O lustre dourado é gigante, com muitas pedras transparentes, deve ser o maior de todos os salões. Há um cheiro de verão e de limpeza, que está sendo executada, pois ele não é usado com regularidade.

Na aula de piano, estou empolgada com minhas composições, Sra. Lonara me elogiou, afirmando que elas estão se aperfeiçoando rapidamente. Aperfeiçoar é uma palavra cômica. Quando algo melhora, outro piora, parece uma reação cíclica em minha vida. Novas situações trazem novos problemas.

No jantar posso afinal, conversar com Edgar.

– Então, como foi o seu dia, Edgar? – Digo, tomando a primeira colher de sopa.

– Oh, você não gostaria de saber! Tive várias aulas chatas de geografia, história e economia. Nada de interessante ocorreu... Porque preciso ter essas aulas, Celine? A única coisa divertida de hoje, é te ver – é claro que ele reclama em um tom baixo, e os outros a mesa não podem ouvir. E é claro que me alegro em ouvir a última parte, e aguardo todos os dias esses momentos de alegria.

– Fico contente saber isso... E ao se casar poderá dispensar as aulas, com um bom conhecimento para reinar.

– Então, amaria prosseguir com as aulas, se não tivesse de casar... – Exclama em um tom irônico. – E como foi o seu dia? Desejo que tenha sido melhor que o meu.

– Oh, verificamos vários detalhes do baile, nada de especial. E a minha amada aula de piano.

– Amanhã você tocará piano para mim outra vez! Eu amei vê-la tocando.

– Se é isso que deseja. Mas e você? O que irá fazer no seu aniversário? Em contraste a mim, teve a oportunidade de escolher um presente, não há bailes para rapazes.

– O presente que escolhi é um segredo.

– Você gosta mesmo de segredos.

– Eu os adoro.

Eu acho que não guardo segredo algum. Se há coisas secretas na minha vida, são as que nem eu conheço.

No meu quarto, com France deslaçando meu espartilho, ela também me questiona sobre o decorrer do meu dia.

– Muito interessante. Vimos vários detalhes do grande baile, vai ser um evento muito belo. Estou muitíssimo ansiosa. E a aula de piano, estou aprendendo a compor.

– Que bom que gostou do seu dia. Também estou ansiosa para a ocasião – ela fala enquanto alcança a minha camisola na gaveta.

– Espere! Hoje poderia pegar a outra camisola branca? – Uso todos os dias a mesma camisola ao ir ao esconderijo, será bom variar. Essa é branca, bem como a outra, entretanto é mais curta, bate no meu joelho, e tem detalhes rendados em baixo e nas alças.

– Sim, Vossa Alteza, a apanharei.

Por fim, estou desacompanhada. Eu gosto do meu quarto, ele é confortável e antes começar a buscar por esconderijos, era o meu lugar favorito. É um espaço grande, as paredes são de um azul carinho e o teto azul escuro. Há dois sofás pretos grandes, com as bordas douradas e retalhos de ouros nos braços. Há também um divã, todo vermelho, que é muito confortável. O lustre é dourado, como a maioria. Os quadros decoram as paredes. Tenho dois favoritos, uma pintura de Dipertionis, e o outro é de um casal, que olham um lago melancolicamente. Suas faces não aparecem, e os tons da pintura são frios. O guarda roupa é de um tom de madeira escuro, e é imenso. E por último a minha cama, ela é muito espaçosa, e é dourada, com muitos travesseiros vermelhos e peludos.

A luz de velas e descalça ando sem objetivo pelo meu quarto. A minha vida melhorou tanto. Eu tenho vontade de correr, gritar, chorar, sorrir e sentir. Olho o céu pela janela e faço desenhos imaginários com as estrelas. O vento, que está violento, bate no meu rosto. Passa-se o tempo necessário para que todos estejam em seus aposentos e olhando o lado de fora, quase adormeço no banco que há na parede da janela.

Sento no sofá vermelho, já no esconderijo, e suspiro. Ele ainda não chegou, e logo chega. Sento do meu lado e diz:

– Não estou com sono, Celine! Vamos passear hoje!

– Passearíamos por onde, Edgar?! Está escuro. Está de noite. E os guardas poderiam nos ver! E estou sonolenta...

– Pare de ter esse comportamento precavido! Vamos! Ficamos aqui todas as noites – ele segura minha mão e me guia pelas escadas, acelerado, e eu acabo indo sem resistir. Talvez seja bom ter alguma ventura.

As portas de entrada e saída do palácio dificilmente são fechadas, ninguém se atreve a entrar na casa do rei, e facilmente achamos uma. Sem a intervenção de um guarda noturno, por sorte. Mas, ela não mostra a frente de Dipertionis, o que vejo é a vista da janela do esconderijo de Edgar. Há um jardim simples e pequeno, somente flores rasteiras. Há quatro ou cinco bancos. E além do jardim, há campos e campos de grama. Edgar respira fundo, absorvendo o cheiro que o agrada e eu faço mesmo.

– Mas... O que faremos?

– Nós iremos para lá – Edgar me responde apontando para o horizonte; os campos, como se a resposta fosse óbvia.

– Não, não, não! – Respondo-o arregalando os olhos. – Lá está totalmente escuro. E é longe do palácio. E eu estou com uma camisola de dormir!

– Não seja medrosa! Eu estarei com vossa mercê, pois não? – Ele entrelaça seus dedos e antes de correr, me dá um sorriso de lado sensual.

Eu o sigo, ainda amedrontada. Passamos o jardim e tudo torna-se uma grande escuridão. E Edgar, numa brincadeira de mal gosto solta minha mão e dispara a correr e por vezes, me olha, desesperada para alcançá-lo. Quando o alcanço, dou um tapa em seu braço, não contendo o riso.

– Seu malvado!

– Vamos apostar uma corrida, Celine! – Edgar sugere com um sorriso maroto.

– E até onde correríamos?

– Até o perdedor se cansar.

Eu concordo com a cabeça. E ele, muito competitivo, dispara. Meu cabelo atrapalha a corrida, sendo jogado pelo vento na frente dos meus olhos. É bom correr assim, sem sapatos ou vestidos apertados. Sinto-me natural e viva. Eu ultrapasso Edgar, entretanto, não consigo manter o ritmo pesado. Sou ultrapassada, diminuo meus passos com a respiração pesada, e por fim me jogo na grama. Só então me lembro das lindas estrelas brilhante que avistei na janela há pouco. Aqui, parecem mais vívidas.

– Eu venci – diz o vencedor, deitando-se ao meu lado.

– Tudo bem, você venceu – minha respiração se acalma aos poucos.

– Edgar... – eu questiono um tempo depois, quando eu e ele estamos mais descansados. – Nós se veremos quando estivermos casados? Nossa amizade acabará?

– Claro que nós nos veremos! Não vou sequer considerar essa possibilidade. Você é a única alma que gosto nesse mundo inteiro!

– Você também é a única alma que gosto nesse mundo inteiro – repito o que ele disse, em tom baixo, como se fosse meu mantra.

Edgar se aconchega a mim com uma expressão neutra. Sua mão aperta minha cintura delicadamente e a outra serve de travesseiro para minha cabeça. E persisti em me puxar mais contra seu corpo forte. Passo as unhas por seu pescoço lentamente e desço, as espalmando em seu peito. Seus olhos profundos me fitam. Eu me perco neles, como já me perdi vezes sem conta. Não me apercebo quando faço isso. Em segundos já estou perdida naqueles abismos completos, que parecem ter tanto a dizer. E aquela negridão que é seu olhar, de repente, parece manifestar adoração por mim, me envolvendo num ambiente divino. Não é possível que exista algum homem mais magnífico que o que este a minha frente. Estamos incrivelmente próximos, e sua mão sobe a meu rosto, e nosso lábios sem tocam sem pressa.

Não há meio definitivo de escapar dos sentimentos, obviamente, eles te perseguem até o último suspiro. E são tão poderosos. De fato, a vida é estranha, vivemos por pouquíssimo tempo num mundo imenso e misterioso. Há tantas armadilhas, e sabedoria é algo muito raro de se alcançar. E a complexidade imensurável de tudo isso é, no mínimo, desesperadora.

Não pude evitar amar Edgar, seu cabelo negro, sua pele pálida, seus olhos escuros profundos. Seu jeito. Eu não sei o que é amor. E céus! Alguém um dia soube o que é o amor? Se é eterno, se é ruim, se é bom, se é doloroso, a maior armadilha de toda a minha vida

O nosso beijo termina, com pesar. Meu peito queima, por mim eu nunca me afastaria de seus lábios. É a melhor sensação da minha vida e eu tenho vontade de o abraçar e convencê-lo a não partir.

Eu contemplo o céu. É o mesmo dos minutos anteriores, todavia poderia jurar que está mais escuro e que o vento se tornou gélido. Tudo está desorganizado. Nosso relacionamento seria condenado ao ódio do povo, dos nobres e da realeza. Desejo que Alexandre II, Ariel e Pablo, irmãos que induziram o reino a ruínas por intrigas amorosas – e criaram a crença de que relações entre parentes causam desordem – não tivessem existido. Imagens de Edgar sentado, com seu cabelo charmoso penteado, um paletó preto e camisa branca, com uma feição entristecida e odiosa na cerimônia de meu casamento, passam por minha mente. Vejo-me no casamento dele, e por tudo o que é real, meu coração dói com tanto furor. O imagino beijando a noiva, como fez comigo a pouco. Meus pensamentos giram com uma velocidade surpreendente e fraca como sou, faço o presumível; caio em prantos. Edgar me levanta e agarra a minha mão outra vez, caminhando para a casa. Percebo que nos distanciamos muito de Dipertionis, ao se distrairmos correndo. Caminhamos por bons minutos, sem palavras ou olhares. Edgar, apenas na porta do meu quarto, sussurra; "amanhã falaremos".

Desperto horas mais tarde que o comum, depois de uma das noites mais longas da minha vida. Chorei até adormecer, com pensamentos desconexos, relembrando o beijo, e me irritando por meu coração se aquecer toda vez que o fazia. France apercebe-se de minha quietude e pergunta se estou bem. Digo que não dormi muito bem.

Não há ninguém na mesa do café da manhã, me alimento desacompanhada. A primeira aula era de história e não compareci. A aula seguinte é sobre a geografia de Amagiqué e eu não solto uma palavra durante toda ela, pensando sobre Edgar. Se ele sente algo por mim, se eu sinto algo por ele, se agirá normalmente ou me ignorará, se me beijará outra vez um dia ou se não sentirei seus lábios nos meus jamais. A última alternativa me incomoda.

Vejo Edgar no almoço, contudo, não podemos conversar e eu evito seus olhos penetrantes. Fernando está na cidade e ocupando a atenção dele.

– Celine, tem uma desculpa razoável para não comparecer a sua aula de história e ao café da manhã? – Brava, pergunta Mary.

– Perdoe-me, mãe. Não estava me sentindo bem pela manhã, achei de bom-senso ficar deitada – respondo, segurando minha grosseria.

– Vossa mercê está melhor, Vossa Alteza? – Pergunta Fernando, por educação.

– Sim, estou melhor, agradeço sua preocupação Sr. Solares.

Cuido do jardim e na hora que comumente vou ao orfanato, aviso que não poderei me apresentar. Fico e pratico o piano sem a Sra. Lonara. Na sala de piano, em frente ao instrumento, penso em que música tocarei e caio pela centésima vez no dia, na armadilha de pensar e rever a cena de ontem a noite. Por coincidência, ouço a porta ser aberta e passos. Mãos grandes pousam em meu ombro. É Edgar e ele quer me ouvir tocar algo. Toco as teclas e o que o som que sai é de uma das minhas composições, uma das mais calmas. Encosto minha cabeça no tronco de Edgar. Eu alongo a melodia, pois sei que teremos de conversar. E eu não quero conversar. E eu não paro, emendo outras músicas.

Edgar agarra minhas mãos, as retira do teclado e senta-se no banco.

– Temos que falar, Celine – afirma em seu usual tom autoritário.

– Não há o que falar – murmuro evitando seu olhar, não planejo ter de falar.

– Não há porque conversarmos, Celine?!

– Não...

– Não seja covarde! Nós nos beijamos! – Ele tem de abrandar sua voz, alguém poderia espreitar.

– Mas... o que quer que eu lhe fale? Eu gostei... E você, gostou?

– Sim, Celine, eu gostei – surpreendentemente, se tranquiliza com minhas palavras e um sorriso doce e repentino surge no seu rosto, me encantando, e não evito sorrir junto dele. – E não vou resistir mais.

***

Olá, leitores! De fato, faz algum tempo que não posto, estou um pouco desmotivada com a história, mas não se preocupem, não vou desistir. Enfim, o primeiro beijo aconteceu!! Espero que tenham gostado dele e comentem bastante. Eu, particularmente, tenho essa parte como uma das minhas favoritas. Lembrem-se, críticas construtivas são sempre bem-vindas. Até o próximo e não se esqueçam de votar e comentar! ♥♥♥

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