Capítulo V

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O meu baile de apresentação está a agora dois meses de distância. Não é preciso ressaltar a minha ansiedade. Os detalhes aos poucos estão sendo estabelecidos. Mary me ocupa continuamente com avisos, precauções e conselhos, que me põem cada vez mais nervosa. A noite tem de ser perfeita e eu tenho de estar perfeita. E por último, a pior parte de todas, escolher um dos pretendentes. Não quero casar com nenhum deles.

Edgar se tornou o meu querido companheiro, meu melhor amigo. Nossos encontros rotineiros nos esconderijos à noite, parece que existem desde sempre. Sua companhia, seus conselhos, suas conversas, são indispensáveis. Nós dois nos apoiamos muito. E tenho guardado aqueles sentimentos estranhos que sinto para mim, desejando que eles desapareçam. Ninguém mencionou aquela conversa no esconderijo. As vezes tudo fica em câmara lenta novamente, eu me atento cada detalhe do seu rosto, meu coração acelera e minha pele formiga com o seu toque.

Todavia, ao mesmo tempo que sua presença me acalma e me leva a outro mundo, de um o céu mais azul e o sol mais brilhante, me inquieta. Agora tenho tanto medo de perdê-lo. Não quero que ele case jamais e não quero casar. Infelizmente, a vida de todos é cheio de anseios próprios e o mundo não ouve nenhum deles. Não gosto de pensar no que farei quando tiver um esposo, ou quando Edgar tiver uma esposa, e não convivermos mais. Porém, nesse tempo, hoje, possuo sua companhia. Queria revelar esses sentimentos a ele, entretanto não tenho a coragem. Coragem. Ela sempre me faltou.

O dia inicia como usualmente. À tarde, viajo com Mary até Leonlce para escolher joias.

– Porque estás tão calada ultimamente, Celine? – Indaga ela, não tirando os olhos do livro que trouxe.

– Estou apenas a pensar.

– Pensar no que?

– Nada demais...

O joalheiro não tagarela como a costureira, faz um cumprimento educado e simples, nos oferece vários colares e brincos, e eu os provo.

– Não é o suficiente para o baile de apresentação de uma princesa – é o rude comentário de Mary.

– Desculpe-me, Vossa Majestade, trarei o melhor colar que tenho em minhas mãos.

– Espero que ele sirva, senhor.

Por fim, ele me entrega sem me olhar nos olhos, um conjunto de joias pratas, de pedras vermelhas. A corrente do colar é de grossura média e sem muitos detalhes. Os brincos também não são grandes, nem os anéis, mas as pedras vermelhas brilhantes são lindas o suficiente. Apaixono-me pelas peças, e Mary também.

– Definitivamente esse será um conjunto! Não achas, filha?! – Ela exclama. – Quero ele brilhando para o dia de apresentação da princesa – o velho e quieto senhor, acena afirmativamente.

O próximo destino é a costureira. Ela, com ajuda de outras pessoas, costura a capa das almofadas para as cadeiras, pretas com detalhes dourados, além de as cortinas que decoraram o lugar. Usaremos outras além das que já temos em Dipertionis.

Visitamos o maior salão do palácio, onde tudo irá suceder. É o salão mais lindo que já vi. O chão é de pedras verdes claras e marrons, as paredes e o teto são dourados e têm pinturas à mão de anjos e flores com tons de azul escuro. O lustre dourado é gigante, com muitas pedras transparentes, deve ser o maior de todos os salões. Há um cheiro de verão e de limpeza, que está sendo executada, pois ele não é usado com regularidade.

Na aula de piano, estou empolgada com minhas composições, Sra. Lonara me elogiou, afirmando que elas estão se aperfeiçoando rapidamente. Aperfeiçoar é uma palavra cômica. Quando algo melhora, outro piora, parece uma reação cíclica em minha vida. Novas situações trazem novos problemas.

O Céu de CelineWhere stories live. Discover now