Capítulo XII - Parte 1

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Com um último olhar exasperado e aflito para France, passo pela porta principal sabendo que todos os convidados, centenas deles, me fitarão. Torço para que não tropece em meus próprios pés. Olho o salão, de parede a parede, e é inevitável que trema. Eu sorrio forçadamente e aceno, todos fazem primeiramente uma reverência e batem palmas. Tudo se sucede tão rápido e logo, e como diz a tradição, os primeiros a me cumprimentar, são Mary, Henrique e Edgar. Ed. Seus olhos, além de muito perdidos, estão atormentados. Ele não me olha diretamente. Sussurra em meu ouvido, com aparente dificuldade, um "eu te amo". Não há tempo de repetir as mesmas palavras para ele. A segunda família a me cumprimentar é a família Solares, de Fernando.

- Estamos imensamente honrados por poder estar nessa noite magnífica do seu baile de apresentação! Adoramos o reino Amagiqué e lhe desejamos um futuro feliz, cheio de amor - é o cumprimento de Joan.

Os pais de Fernando se afastam, e ele se achega. Beija meu rosto, lentamente, e seus lábios são macios, não tanto quanto os de Edgar. Sem se afastar muito, fala:

- O homem que ter o seu coração será mais sortudo e feliz de toda Amoieux, minha querida.

Afinal, ele não teve tempo de me perguntar sobre minha reação no baile de Parasent. Ele sai, e Isabel e Carine, com seus pais chegam. Eles também me parabenizam e saem, e Isabel pergunta:

- Está um tanto séria... Não está feliz com esse imenso baile de apresentação?

Lembrar que Ed pode ir ao baile de apresentação dela, me faz fazer uma careta e tenho vontade de ignorá-la e avançar com os cumprimentos. Mas, sua fala me faz observar o salão. Grandes cortinas douradas estão penduradas no teto, contrastando com outras cortinas brancas e leves ou vermelhas escuras. A orquestra está localizada no fim do salão, em linha reta, organizadamente. A capa das cadeiras é dourada. Em cada mesa de madeira redonda, de quatro ou cinco lugares, há uma toalha vermelha, e também tulipas vermelhas em cima dela, além de velas em torno das flores. Alguns aperitivos e bebida estão sendo servidos. Despejadas no chão, em alguns pontos, estão rosas brancas. O ambiente exala romance, riqueza e delicadeza e todo está mais lindo do que em todos os bailes que já fui. Mary sabe como planejar algo.

- Estou muito feliz, Isabel - afirmo com uma falsa convicção, pois sinto sua inveja. Eu não estou feliz.

Obviamente, não cumprimento todas as pessoas. Apenas as mais relevantes, com títulos mais altos. Muitas conversas curtas, formais e tolas, ouço tantas congratulações, indagações e formalidades comuns. A orquestra, nessa noite, não descansa. Toca as melodias continuamente, o que faz com que meus sentimentos estejam mais caóticos. Quando a janta é anunciada, rodo os olhos pelo lugar, buscando Ed. Acho-o tranquilo, assentado numa mesa. Supunha que estaria mortalmente aborrecido, por ter de enfrentar a noite em que elegerei meu marido, todavia um belo sorriso brota em seu rosto. Primeiramente, penso que estaria conversando com algum convidado, sendo cortês. Mas, logo vejo que quem está a sua frente, não é ninguém mais que Blair. Meus olhos se arregalam e dou um pequeno pulo. Eu os olho conversando e rindo, e a raiva e o ciúme dominam meu coração e minha mente. Reprimo um grito em minha garganta. Quem convidou essa bastarda para o meu baile? Porque raios ela está presente na minha noite especial com o meu amado?! Apostaria todas as minhas joias que ele a convidou para me perturbar. Como se não soubesse que não é minha escolha estar aqui. Homem maldito! "Eu apenas tenho que esperar até o final da noite", é a minha conclusão, que se reitera vezes e vezes em minha mente e segura o choro em minha garganta. Ele me verá com meu noivo.

Na hora da janta, sento juntamente com meus pais e Edgar. Ignoro esse completamente. Será que ele irá ao baile de apresentação de Blair, e não do de Isabel? Não posso me sentar em qualquer outra mesa, pois nessa poderia estar um pretendente, que teria um privilégio desmerecido. Tento ocultar a ansiedade que me cerca, além de uma inquietação ciumenta. Henrique levanta-se e todos calam-se.

O Céu de CelineOù les histoires vivent. Découvrez maintenant