Capítulo XIV - Parte 2

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 Despeço-me das duas e com pressa subo numa carruagem. Como estou completamente distraída nos últimos acontecimentos, a viagem passa num piscar de olhos. Na recepção, uma empregada se surpreende ao me ver, deve ser nova nesse trabalho. Abaixo os olhos, faz a reverência e diz, gaguejando:

– Vo... Vossa Alteza, o que posso fazer por vossa mercê?

– Chame a Sra. Lalani.

Lalani, ao me ver, arregala os olhos

– Vossa Alteza, há quantas semanas não nos vemos! É um prazer receber sua visita outra vez. O que deseja no nosso humilde estabelecimento?

– Também é um prazer revê-la, Lalani. Infelizmente, nos últimos meses estive muito atarefada com meu baile de apresentação e agora, o noivado. Contudo, encontrei um tempo para visitar Kathy. Poderia vê-la, por favor?

– Sim, é claro! Ela está com saudades e vive perguntando pela "tia Celine"! Trarei a menina em um instante.

Estou num banco de madeira próximo ao parquinho e vejo Kathy correndo até mim, e pula em meu colo. Seus pequenos braços, embora maiores da última vez que a vi, circulam meu pescoço.

– Olá, tia Celine! Por que não veio me visitar durante tanto tempo, tia Celine? Vosmecê és minha tia favorita! Eu estava com saudade suas!

Enquanto ela diz isso, seus olhos lacrimejam um pouco. Estava centrada em meu querido Edgar e perdi de vista essa carente garotinha. Mas, ao mesmo tempo que a culpa me atinge, eu penso: o que poderia fazer? Eu tenho meu Ed... Ela ficará bem no orfanato, será cuidada caso ninguém a adote e arranjará um bom emprego e um esposo.

– Perdoe-me Kathy, me perdoe! Tia Celine estava muito ocupada com um grande baile e não havia tempo para vir no Orfanato Avita! Você poderia me perdoar?

– Sim, Tia Celine... Eu te perdoo, eu te perdoo! Venha, vamos brincar no parquinho!

Eu solto um gargalhada, e seco meu olhos. Estavam a lacrimejar. Estou, também, muito sentimental. É maravilhoso como uma criança tem capacidade de seguir em frente e esquecer, sem sequer olhar para trás, e com tanta leveza. Observo sua corrida até um balanço, com o vestido lilás voando com seus pulos.

– Balance-me tia!

Ainda rindo, empurro o balanço.

– Tia, pare de me balançar, eu estou tonta! – Ela grita após alguns minutos.

Quando ela pousa seus pés no chão, sugiro:

– Vamos caminhar até que sua tontura passe, brincar em mais alguns brinquedos, e então vamos para a sala de desenho. Que tal?

– Pode ser... – Ela responde, meio tristonha.

– Qual é o problema Kathy? – Questiono enquanto já andamos pelo jardim.

– Um menino há alguns dias atrás disse que meus desenhos são feios!

– Oh Kathy – eu exclamo segurando um sorriso –, os seus desenhos são lindos!

– Você tem certeza que meus desenhos são lindos?

– Mas é claro! Faço hoje um desenho para que eu leva para casa! – Peço pensando em levá-lo como lembrança na fuga.

–Vamos a sala de desenho! Vou fazer um lindo desenho – ela saltita animada, agora para a sala de desenho, depois que passamos por todos os brinquedos.

Nos sentamos numa mesa, e ela traz alguns potes de tintas.

– E o que vossa mercê vai pintar, Kathy?

O Céu de CelineOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz