Capítulo I - Parte 1

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  Estou desperta, entretanto mantenho-me deitada. Sonolenta, abraço as cobertas. Meus olhos abrem e fecham vagarosamente repetidas vezes, e quase caio no sono novamente. O que me faz levantar apressadamente da cama é a lembrança de meu plano. A primeira coisa que faço é olhar o céu; tudo ainda está escuro. Que sorte! Torço para que ninguém esteja acordado. Como os empregados se levantam às cinco horas tenho tempo o suficiente para me retirar e voltar sorrateiramente ao meu quarto. Não seria agradável se algum deles, um guarda noturno, ou pior; meus pais, me descobrissem numa camisola branca vagueando pela casa no meio da noite.

Abro cuidadosamente a porta pesada de madeira, que de qualquer forma range como nunca, e verifico o corredor, que por sorte está deserto. O lugar para onde desejo ir é no quarto andar, preciso subir apenas um lance de degraus. Sigo quietíssima, andando nas pontas do pé na escuridão, para as escadas. Ando até uma das salas de descanso do andar, que por uma porta num canto, abre passagem para outro quarto, pequenino com apenas uma cama de solteiro e guarda roupa empoeirados. A procurada escada está ao lado deles. Estreita e extensa, finalmente me leva ao pequeno compartimento de madeira no telhado. Mal consigo ficar em pé lá.

Há uma janela que ocupa uma das paredes por inteiro no compartimento. Posso ver por ela a Floresta Amaretem, o caminho de árvores entre o castelo e a cidade de Leonlce, agora sombria. Posso ver as sombras das casas da cidade, as maiores e menores, dos comércios, da Praça de Henrique I. Posso ver o céu, com suas várias estrelas, brilhando como sempre.

Imagino como o céu estará de dia. Inteiramente azul, com algumas poucas nuvens; esse é o meu céu predileto. Gostaria de observar o sol nascer, mas será tarde para estar aqui. Esse é o meu lugar favorito do Palácio Dipertionis desde os meus onze anos. De fato, acho que é o meu lugar predileto em todo o mundo Amoieux. O único local onde ninguém poderia me encontrar e que me pertence. Abraço as minhas pernas e apoio meu rosto em meus joelhos. Tenho vindo aqui mais vezes, quanto mais se aproxima a hora de me mudar de Dipertionis. Carecem três meses para o baile de apresentação. Posteriormente, em menos de um mês estarei casada e hospedado em um novo palácio.

Não posso declarar, com pura honestidade, que morrerei de saudades de minha vida como solteira. É uma vivência solitária e repetitiva, sem muitas pessoas queridas. Estou num caos de sentimentos a respeito de meu casamento. Aguardei ansiosamente por ele, desde que amadureci. O único pensamento que me sossegava ao voltar à noite para o meu quarto, entristecida. O acontecimento ao qual mais reservei expectativas. Eu bufo irritada ao ver onde meus pensamentos estão. Se eu me decepcionar e meu companheiro não me amar, não terei outro propósito para me dar esperanças. Sequer sei se consigo prosseguir três meses sozinha e entediada como estou.

Em minha rotina, tenho como frequentes meus pais e France, uma empregada que me acompanha desde minha infância. Com empregados, educadores e outros jovens da nobreza é difícil alcançar grande intimidade. Alguns são evidentemente interesseiros e outros são muito educados e polidos, com receio de dizer algo a filha do Rei Henrique. Nesses casos, os diálogos param em todos os assuntos, menos nos pessoais. Todas as minhas tentativas de solucionar essa infeliz situação são inúteis. Queria morar num dos reinos de Amoieux onde se acredita em magia. Pediria a algum mágico uma forte poção do amor. Sou tão patética.

Observo a vista por mais alguns instantes e retiro-me, para dali fazer o mesmo caminho, na mesma completa quietude. Quando alcanço o meu destino, pulo na cama imensa e, com alguma dificuldade, adormeço

"Mamãe deve estar irritada, se aborrece caso eu acorde após as sete horas da manhã", penso ao acordar pela segunda vez no dia. Dou um grito quando vejo o relógio; nove horas! Oh céus! Aperto seguidamente o sino que chama Sra. France! A minha aula de história inicia-se em uma hora. Foi muito conveniente que minha primeira aula do dia tenha sido cancelada. A Sra. France chega e com a pressa que peço me ajuda a vestir-me e arrumar meu cabelo.

O Céu de CelineWhere stories live. Discover now