Capítulo IV - Parte 1

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– Que vestimentas devo usar France? Uma bota e um vestido para cavalgar, certo? Ah! O que opinaria se pusesse o vestido rosa com panos finos e sem mangas. Lembra-se dele?

France acena, vendo graça em minha ansiedade.

– Tranquilize-se, Vossa Alteza! É um passeio a cavalo, não o seu baile de apresentação. O vestido rosa servirá.

– Não costumo andar a cavalo, todavia Edgar afirmou que tem experiência. Tomara que eu não me espatife no chão. Inconvenientemente, o passeio será no horário que visitaria o Orfanato Avita.

– Oh! Lembrou-me de te informar. Encaminhei aquele jovem mendigo ao Avita. Está hospedado confortavelmente nele, receberam-me com grandes cortesias, em virtude da carta que enviou.

– Que notícia prazerosa France...! E está definido! Irei pôr o vestido rosa claro e nos meu cabelos nenhum penteado. Irá se desmanchar de todo modo. Faz algum tempo que não os uso totalmente solto.

Edgar indagou a Mary, junto de mim, se seria possível que nos andássemos de cavalo, no tempo livre dele e no tempo que iria ao Avita.

– Como vossa mercê sabe, sou experiente com cavalos, ótimos animais. Não precisaremos, sequer, de um instrutor – ele disse.

– Desde que Celine aceite perder seu compromisso – ela retornou.

Celine, é claro, aceitou calmamente. Cavalgar não é meu maior dom, não tive aulas de equitação, sou medrosa. Todavia, não desperdiçarei a chance de passear com meu novo amigo. Estou felicíssima. Vestida para ir, giro em círculos no meu quarto e meu vestido gira comigo. Olho o teto sorrindo, nele pintado o céu, pássaros, flores, pessoas se movimentando. Penso em quem fez essas pinturas. Deveria ser um pintor triste, as flores são de um roxo escuro, os pássaros são marrons e as pessoas, vestidas com vestes elegantes estão melancólicas. De fato, os amagiquenos tem uma atração pela melancolia, uma tristeza vaga. Tonta, paro com os giros e pulo na cama fofa. E nesse instante, Edgar adentra o cômodo. Com agilidade, levanto-me e ajeito meu vestido.

– Não é muito útil arrumar sua pose agora, estou te examinando há uns minutos, – ele me conta risonho.

Franzo a testa e forçando uma careta, resmungo:

– Você não tinha o direito de me observar sem minha consciência!

Edgar apenas ri, pega meu queixo e diz frente a meu rosto:

– Sim, eu tenho esse direito. Venha, temos de partir!

Andamos pelo o castelo até a saída, a carruagem nos espera. O mundo tem tantos perigos e temores, e nós somos imensamente vulneráveis, como pedaços de papel que são facilmente rasgados. Acidentes, problemas de saúde, os modos de se ferir ou morrer são ilimitados. Talvez porque ninguém, em momento algum, entrelaçou seus dedos ao meu, me abraçou, acariciou meus cabelos e me consolou enquanto chorava, mas não sinto medo com Edgar. Acho que por finalmente ter alguém, estou finalmente realizada, o sol parece finalmente alcançar meu corpo e a vida parece finalmente ter várias portas abertas.

– A fim de que solicitou a carruagem, Edgar?

– Os campos onde vivem os cavalos estão a vinte minutos.

A carruagem não entra em Leonlce, vira a esquerda numa rua após a floresta, antes da cidade.

– Como é o filho daquele casal? Daquela noite, em que os convidados eram estrangeiros.

– Figura agradável, muito gentil e cordial. Aliás, Fernando virá me ver amanhã, pela tarde. Minhas aulas foram anuladas para esse encontro.

– Então não poderemos se encontrar amanhã – digo emburrada.

O Céu de CelineDonde viven las historias. Descúbrelo ahora