Capítulo II - Parte 2

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No meu quarto após o treino de piano, a Sra. France está a minha espera. Quero estar especialmente bela. Abro a porta de meu guarda-roupa e me empenho em escolher um vestido. Há tantos deles, de renda, com pedras, babados, alguns usei muito e outros não. Nenhum me atrai o suficiente para vestir essa noite. Até que vejo um vestido branco, num canto do guarda roupa. Nunca trajei pelo medo de manchá-lo ou estragá-lo. Branco, longo, suave e de seda. Não possui enfeites ou brilhantes, contudo, é simples e elegantíssimo. Peço para France aperte bem o espartilho. Ela fez um delicado coque em meus cabelos, com duas mechas soltas na frente, e eu escondo algumas imperfeiçoes em minha pele, com um pó branco.

– Estou bonita France? Ou há algo que deva substituir? Outro vestido talvez...?

– Está muito bonita, querida! Sempre estás.

Na porta do salão onde a festa se sucederá, numa entrada separada, deparo-me com Henrique, Mary e Edgar. Temos de entrar unidos em alguns eventos reais. Ao ver Edgar o observo atenciosamente, e fico desajeitada quando ele me fita. Seu cabelo preto está num topete, não cai em seu rosto como usualmente. Sua calça é preta, assim como o paletó e a bota. A camisa é branca, e nessa noite o lenço é cinza, no bolso do paletó. Ele jamais teve o hábito de usar roupas coloridas, apenas preto, branco, cinza e azul escuro. Seu olhar, seguindo o usual, é vago.

– Olá pai, olá mãe.

Mary passa as mãos por meu cabelo, dizendo que é um belo penteado e dá as mãos a Henrique.

– Entremos portanto, amor – Henrique fala carinhosamente a ela.

Passamos pela grande porta. Todos os convidados, a nobreza de Amagiqué, nos contemplam e nos reverenciam. Nós nos separamos e partimos para os cumprimentos.

– Boa noite Vossa Alteza! É sempre um prazer vê-la. Sou obrigado a dizer que estás encantadora – diz Amé, o primeiro a me reverenciar, com sua voz num tom baixo e propositalmente sensual.

É um galã. Olhos azuis irresistíveis e um cabelo ruivo brilhante, num topete impecável. Um andar pomposo e um olhar paquerador que conquista as damas do reino e é motivo de alvoroços e fofocas. Eu sorrio desajeitadamente e não desejo alongar a conversa. Ele me apavora com suas falas maliciosas. Com tantos elogios, costumo gaguejar e dizer coisas sem sentido em sua presença.

– Olá Amé, também é um prazer revê-lo. Agradeço pelo gentil elogio – agradeço e saio em passos acelerados.

– Boa noite, Vossa Alteza! – Carine e Isabel dizem juntas ao me alcançar.

Carine e Isabel, filhas do Duque de Leonlce. Costumeiramente, acompanham-me nos bailes, banquetes e outras festas, porém, somente neles. Brigam entre si constantemente e me esforço para manter a paz ao estar junto delas.

– Tiveste a oportunidade de ver como está Amé? O seu cabelo... – Carine suspira antes de continuar sua fala. – Lindo...

– Como se ele fosse dirigir atenção a vossa mercê – Isabel a menospreza.

– Olá, senhoritas! – Interrompo a conversa, antes que se agrave.

Continuo sorrindo, cortesmente, no tempo em que recebo diversas saudações, com intervalos e comentários das gêmeas.

– Como está, Vossa Alteza? – Inquiri Roberto docemente, o centésimo a fazer a mesma pergunta essa noite. Todavia, ele desconhece esse fato e sou educada.

– Estou em ótima estado, obrigada pela sua educação e preocupação.

Ele sorrindo se afasta e prevejo o que as gêmeas falaram. Roberto não é bem visto entre as mulheres, por não ser ajeitado como Amé. Não anda com uma postura pomposa com a dele, e ainda não é tão maduro quanto ele.

O Céu de CelineWhere stories live. Discover now