O Céu de Celine

De leticiariele

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Celine era uma jovem solitária, filha do rei e da rainha de Amagiqué, e fantasiava com seu baile de apresenta... Mais

Capítulo I - Parte 1
Capítulo I - Parte 2
Capítulo II - Parte 1
Capítulo II - Parte 2
Capítulo III - Parte 1
Capítulo III - Parte 2
Capítulo IV - Parte 2
Capítulo V
Capítulo VI - Parte 1
Capítulo VI - Parte 2
Capítulo VII - Parte 1
Capítulo VII - Parte 2
Capítulo VIII - Parte 1
Capítulo VIII - Parte 2
Capítulo IX - Parte 1
Capítulo IX - Parte 2
Capítulo X
Capítulo XI - Parte 1
Capítulo XI - Parte 2
Capítulo XII - Parte 1
Capítulo XII - Parte 2
Capítulo XIII - Parte 1
Capítulo XIII - Parte 2
Capítulo XIV - Parte 1
Capítulo XIV - Parte 2
Capítulo XV
Epílogo
Agradecimentos + Recados Importantes

Capítulo IV - Parte 1

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De leticiariele

– Que vestimentas devo usar France? Uma bota e um vestido para cavalgar, certo? Ah! O que opinaria se pusesse o vestido rosa com panos finos e sem mangas. Lembra-se dele?

France acena, vendo graça em minha ansiedade.

– Tranquilize-se, Vossa Alteza! É um passeio a cavalo, não o seu baile de apresentação. O vestido rosa servirá.

– Não costumo andar a cavalo, todavia Edgar afirmou que tem experiência. Tomara que eu não me espatife no chão. Inconvenientemente, o passeio será no horário que visitaria o Orfanato Avita.

– Oh! Lembrou-me de te informar. Encaminhei aquele jovem mendigo ao Avita. Está hospedado confortavelmente nele, receberam-me com grandes cortesias, em virtude da carta que enviou.

– Que notícia prazerosa France...! E está definido! Irei pôr o vestido rosa claro e nos meu cabelos nenhum penteado. Irá se desmanchar de todo modo. Faz algum tempo que não os uso totalmente solto.

Edgar indagou a Mary, junto de mim, se seria possível que nos andássemos de cavalo, no tempo livre dele e no tempo que iria ao Avita.

– Como vossa mercê sabe, sou experiente com cavalos, ótimos animais. Não precisaremos, sequer, de um instrutor – ele disse.

– Desde que Celine aceite perder seu compromisso – ela retornou.

Celine, é claro, aceitou calmamente. Cavalgar não é meu maior dom, não tive aulas de equitação, sou medrosa. Todavia, não desperdiçarei a chance de passear com meu novo amigo. Estou felicíssima. Vestida para ir, giro em círculos no meu quarto e meu vestido gira comigo. Olho o teto sorrindo, nele pintado o céu, pássaros, flores, pessoas se movimentando. Penso em quem fez essas pinturas. Deveria ser um pintor triste, as flores são de um roxo escuro, os pássaros são marrons e as pessoas, vestidas com vestes elegantes estão melancólicas. De fato, os amagiquenos tem uma atração pela melancolia, uma tristeza vaga. Tonta, paro com os giros e pulo na cama fofa. E nesse instante, Edgar adentra o cômodo. Com agilidade, levanto-me e ajeito meu vestido.

– Não é muito útil arrumar sua pose agora, estou te examinando há uns minutos, – ele me conta risonho.

Franzo a testa e forçando uma careta, resmungo:

– Você não tinha o direito de me observar sem minha consciência!

Edgar apenas ri, pega meu queixo e diz frente a meu rosto:

– Sim, eu tenho esse direito. Venha, temos de partir!

Andamos pelo o castelo até a saída, a carruagem nos espera. O mundo tem tantos perigos e temores, e nós somos imensamente vulneráveis, como pedaços de papel que são facilmente rasgados. Acidentes, problemas de saúde, os modos de se ferir ou morrer são ilimitados. Talvez porque ninguém, em momento algum, entrelaçou seus dedos ao meu, me abraçou, acariciou meus cabelos e me consolou enquanto chorava, mas não sinto medo com Edgar. Acho que por finalmente ter alguém, estou finalmente realizada, o sol parece finalmente alcançar meu corpo e a vida parece finalmente ter várias portas abertas.

– A fim de que solicitou a carruagem, Edgar?

– Os campos onde vivem os cavalos estão a vinte minutos.

A carruagem não entra em Leonlce, vira a esquerda numa rua após a floresta, antes da cidade.

– Como é o filho daquele casal? Daquela noite, em que os convidados eram estrangeiros.

– Figura agradável, muito gentil e cordial. Aliás, Fernando virá me ver amanhã, pela tarde. Minhas aulas foram anuladas para esse encontro.

– Então não poderemos se encontrar amanhã – digo emburrada.

Edgar me dá um beijo na bochecha e sorrindo, argumenta:

– Não seja tola, teremos a noite inteira. Ainda há todo o tempo do mundo para nós, Celine.

– E como vossemecê sabes disso? – Eu indago com um sorriso de lado.

– Simplesmente sei.

A carruagem suspende o movimento na frente de uma extensão de campos verdes. Há um estabelecimento de madeira, um estábulo grande. France veio conosco, caso algo ocorra, junto de dois criados. Ela, entretanto, afirmou ficar no estabelecimento, preferindo nos dar privacidade. Ao chegar ao local, a um empregado com um cavalo a nossa espera.

– Como você não tem prática em cavalgar, pensei que poderíamos primeiramente, ir no mesmo cavalo. Discorda? – Indaga Edgar.

– Não, não, assim sentirei mais segurança.

É um extremo desafio as mulheres de Amoieux andar a cavalo, acompanhada pelo vestido comprido. É preciso que as duas pernas fiquem num lado do cavalo. Um vestido escolhido para cavalgar é menos volumoso, com menos ornamentos e mais simples, e facilita o exercício. E por vezes, as damas e os cavalheiros vão no mesmo cavalo

O animal é imenso e ameaçador, e ao averiguar isso, meus passos ficam mais lentos.

– Faça carinho nele, verá que é de natureza dócil. Conheço-o.

Dizendo isso, Edgar arrasta minha mão a crina dele, que verdadeiramente é dócil. Seus olhos castanhos me olham mansos, apreciando a carícia. É branquíssimo e aparenta ter sido lavado há pouco. Eu gosto de animais, não somente porque são bonitos, mas por serem seres sem malícia ou maldade. Ofereço a ele um pedaço de capim, que mastiga lentamente.

– Vê? O bicho é dócil.

– Ele é tão lindo, Edgar... Nunca havia olhado um com atenção...

– Podemos? – Estende sua mão a mim e me auxilia a subir.

Ele, seguidamente a mim, repete o ato e em um segundos, o belo animal começa a andar. Justamente, quando penso quão desconfortável é permanecer com as duas pernas num lado do cavalo, ouço:

– Não há movimentação alguma, e estamos longe da vista de qualquer um. Vossemecê pode posicionar uma das pernas do outro lado do animal.

Meu vestido mesmo que mais simples do que o comum, ainda é inadequado para tal ato.

– Não! O vestido subiria um pouco.

– Ponha logo uma das pernas do outro lado, Celine. Experimente!

"Autoritário", eu murmuro. Obedeço-o e a velocidade é diminuída enquanto o faço. Voltamos a correr e a sensação é muito melhor e confortável.

– Eu te disse – Edgar afirma, lendo meus pensamentos.

Seu corpo cola ao meu. Suas mãos agarram as rédeas com força, passando pela minha cintura para isso. Descanso em seu peito, deitando minha cabeça no seu ombro e fechando os olhos. No início estou tensa, todavia logo me acostumo e me sinto bem. Amo o vento no meu rosto e nos meus cabelos, e o sol que irradia em minha pele, me aquecendo. Amo todos os momentos que passo com Edgar. Gosto dos nossos diálogos. Das carícias vindas dele. De seus olhos perdidos, da textura tenra de sua pele, do seu peito forte que estou encostado. E gosto do jeito que me sinto, meu rosto ganha cor e me transformo em alguém vivaz. E não vou fazer nada que possa impedir que nossa relação se fortaleça. E é fascinante estar próxima dele. Não gostaria de estar em nenhum lugar.

Abro os olhos algumas vezes para espiar o céu azul. E num instante, Edgar encaixa sua cabeça no meu pescoço, e murmura um "eu gosto de você, Celine". Eu repito o mesmo. A corrida abranda e avistamos um jardim pequenino com bancos de madeira em sua volta.

– Vamos repousar antes de retornar ao estábulo. Não posso vê-lo da distância que estamos – comenta Edgar.

Abaixo-me e toco nas flores. Não reconheço a espécie, são rosas, baixas e pequenas, com seis pétalas longas. Sentamo-nos bancos e Edgar, folgadamente de olhos fechados como eu há instantes, inquiri:

– Você não ama o cheiro da grama?

– Não presto atenção nele...

– Portanto preste. Cheirá-lo me faz recordar das maravilhas da vida. Assim como o cheiro das flores ou o da floresta Amaretem.

– Você precisa que cheiros lhe recordem das maravilhas da vida?

– Sim – ouço depois de um intervalo. – Alguma coisa também lhe faz recordar-se da vida. Você não sabe do que falo? Quando recordamos o quanto a vida é bela e parece que sentimos tudo de uma vez.

– Eu entendo, entendo sim... Como deve ser viver isso a todo instante, sem interrupções?

– Deve ser como amar.

Pensativos, permanecemos ali por alguns minutos e voltamos no mesmo ritmo. No estábulo, descemos, e Edgar passa o cavalo às mãos do empregado, depois que o acaricio outra vez. Estamos indo para frente do lugar, onde France está lendo algum livro enquanto nos espera. Antes, vimos um bando de borboleta, são muito comuns por essa região. E Edgar inicia uma corrida. Desorientada, o observo e descubro que persegue uma borboleta verde, um pouco afastada do grupo. É semelhante a que vi naquele dia no jardim, mas mais clara. Eu entro na brincadeira e por alguns segundos, o momento parece estar em câmara lenta. Olho meu companheiro, seus cabelos voando, sua boca entre os dentes, segurando um sorriso bobo. Percebe que o encaro e pisca um dos olhos. Eu volto a olhar para aquele belo inseto, rindo um pouco, achando tudo muito estranho. Não pensei que existissem sentimentos intensos desse jeito, com um olhar dele, um frio se instala em minha barriga e meu coração dá um pulo pequeno. A seguimos até voarem além da cerca dos campos, com o vento forte. Rimos juntos, e ele joga-se no chão, cansado.

– Você vai sujar sua roupa – o aviso.

– Não há grandes problemas nisso. Venha e se deite.

Deito na grama ao seu lado. Meus olhos estão entreabertos por causa da claridade do sol. Respiro fundo. Decidi que também gosto do cheiro da grama.

– Você tinha razão ao dizer, o cheiro da grama é bom.

Viro meu corpo em sua direção e em poucos segundos estamos chegados demais. E de novo, tudo passa lentamente em meus olhos. Eu não me canso de observar cada detalhe e do seu rosto, e quando vejo estou fazendo isso outra vez. Sinto vontade de tocar sua face, como ele faz em mim. E eu o faço, meus dedos passam cuidadosamente, receosos, pela sua sobrancelhas grossas, tocam seus cílios macios, seu maxilar marcado e seu nariz delicado. Não olho diretamente para seus olhos e quando olho constato, embaraçada, que o seu olhar se concentra em minha boca. Tenho certeza que minhas bochechas estão num tom escarlate. Automaticamente, também olho seus lábios, e meus dedos a circundam. Eles são macios, tem contornos perfeitos, carnudos na proporção perfeita. Juro que está mais próximo a cada segundo de mim – e uma tempestade surge em meu coração, trazendo toda confusão e mistura de sentimentos –, e ele se distancia como um relâmpago, quando escutamos o som de alguém a cavalo. Tudo é rápido, e nos erguemos apressados.

***

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