Acordo com a claridade que entra pelas janelas do quarto. Observo os raios de sol que entram e iluminam a madeira brilhante do chão onde as minhas roupas estão em conjunto com as do Harry.
Mexo-me suavemente para lhe virar as costas e encaro o vazio, relembrando a noite passada mas nem sequer isso retira o peso no meu peito pelo o que o dia de hoje significa.
O meu aniversário. O dia que mais odeio em todo o ano.
Levanto-me antes que o Harry acorde, tomo um banho e desço para poder continuar sozinha por algum tempo mas os planos mudam quando entro na cozinha e sinto o cheiro a café acabado de fazer.
"Bom dia." Murmuro chamando a atenção da Marie que abre um sorriso enorme quando me vê entrar. "Acordada tão-"
"Feliz aniversário!" Após largar tudo o que tem em mãos, abraça-me com toda a sua força.
"O quê? Não!" Reclamo obrigando-a a afastar-se. "Nada de feliz aniversário- como é que sabes?"
Tenho a certeza absoluta em como nunca lhe facultei essa informação.
"É o teu aniversário, não é?"
"Não festejo aniversários mas obrigada por te lembrares... e por, de alguma forma, teres descoberto."
"Problema teu. Eu adoro aniversários." Declara aproximando-se do balcão para pegar no saco com o qual chegou na manhã passada.
"Compraste-me um presente?" Seguro o saco e deixo cair os ombros. "Não era preciso, Marie."
"Espero que gostes. Café?"
"Sim, por favor."
Coloco o saco em cima do balcão e retiro a caixinha cor de rosa de dentro do mesmo, abrindo-a. "Marie..."
Retiro o colar cor de prata com um pingente de meia lua com pequenas pedras brilhantes.
"É lindo."
"Eu sei." Brinca pedindo-me que a siga para o exterior. "Onde está o Harry?"
"Deve estar a dormir... no quarto." Digo ouvindo a sua risada aguda e quase maléfica.
"No teu quarto. Na tua cama. Nu." Descreve entregando-me o meu café com o sorriso mais diabólico que já vi ser esboçado.
"Como é que—"
Não...
"Existem chaves nas portas que servem para as trancar. Eu não vi nada, juro. Só queria dar-te os parabéns."
Desvio o olhar quando sinto o meu rosto queimar com a vergonha.
"Ok... não estou a entender esse mau humor. Tiveste uma boa noite de sexo e é o teu aniversário—"
"É um dia como outro qualquer." Sacudo os ombros. "E para ser honesta, estou a contar os minutos para me arrepender do que fiz."
"Estás a sofrer por antecipação." Constata com uma ruga entre as sobrancelhas. "E o teu humor não está a ajudar. O que é que se passa?"
"Odeio este dia—"
"Bom dia!"
A Perrie aparece com um enorme sorriso, ainda de pijama. Atrás dela, o Zayn esboça uma careta que tenta alertar-me para o que está prestes a acontecer.
"Feliz aniversário!"
"Eu tentei para-la—"
"Para-la." A loira cita, revirando os olhos. "Não faz sentido nenhum. É o aniversário dela. Dá-lhe os parabéns."
"Não." Ele enfia as mãos nos bolsos.
"É a tua melhor amiga."
"Eu sei. Olha para a cara dela. Está tão feliz." Diz com ironia.
"Vocês são estranhos."
"O que estão a fazer aqui fora?" Ignorando a indignação da namorada, o Zayn foca-se em nós.
"Nada. Quando descemos, ainda ninguém tinha acordado."
"Estão todos na cozinha. Venham." A Perrie volta a entrar e a Marie levanta-se para ceder ao seu pedido.
"Só para que saibas, já sabem todos que é o teu aniversário."
Agora que somos apenas nós os dois aqui fora e que não preciso fingir, reviro os olhos.
"Eu sei." Assente esperando que me levante para se aproximar, colocando um braço sobre os meus ombros. "Acena, sorri e agradece. Ok?" Sugere sorrindo para mim. "Estamos bem?"
"Estamos bem." Assinto.
"Feliz aniversário!"
Assim que piso o chão da cozinha, sou recebida com festejos pela maior parte deles. Á exceção da Emma, o Taylor e o Max, é claro.
"Obrigada." Aceno, sorrio e agradeço.
"Ouvi dizer que não festejas o teu aniversário." O Louis ergue o olhar. "É verdade?"
"Sim, é."
"Uma pena. Pensei que ias dar-me um pretexto para uma festa."
"O Liam e a Sophia chegam hoje. Tens aí o teu pretexto."
"Ele quer esvaziar a adega do meu pai, nada mais, Eleanor." O Harry ri forçado, levantando-se quando a campainha soa alto na casa. "Devem ser eles."
"É a tua última oportunidade, Anna. Tens a certeza de que não queres uma festa?"
Nego para aborrecimento do Louis e enquanto isso, sou agredida por tentar roubar uma torrada do prato do Taylor.
"São minhas."
"Não sejas assim. É o meu aniversário, Tay."
"Vais mesmo usar essa cartada comigo?"
"A minha mãe está a ligar-me-"
Enquanto a Emma sai para encontrar algum silêncio, o Harry regressa. "Tens visitas."
Fico um pouco desconfortável com a forma como fala comigo mas rapidamente entendo o porquê.
"Bom dia!" O William chega com um sorriso rasgado e imediatamente tenho uma justificação para o comportamento do Harry.
"William." A Marie abre um sorriso sacana que nem quero imaginar o que significa. "Olá."
"És servido?" O Max aponta para a mesa, oferecendo-lhe um lugar que educadamente recusa.
"Não, Max. Obrigado mas não quero incomodar. Vim só trazer o meu presente para a Anna."
"Não era preciso." Aproximo-me, balançando a cabeça negativamente. "Eu disse-te que não festejo o meu aniversário."
"Eu sei mas não me sentia bem ao ignorar a data." Explica com um encolher de ombros tímido, entregando-me o saco de papel. "Não é nada demais. Espero que gostes."
"Nesse caso, obrigada." Sorri e agradeço, mais uma vez. "E obrigada por teres vindo até aqui..." Franzo as sobrancelhas para mim mesma. "Como é qu-"
"O meu pai disse-me que estavam aqui."
"Ok, faz sentindo." Solto uma risada, afastando-me. "Obrigada."
"Não tens que agradecer."
"Mãe..." Inclino-me sobre a madeira do alpendre sentindo o nó que se formou na minha garganta aumentar a cada segundo que passa.
Porque é que de cada vez em que as coisas começam a recompor-se damos cinco passos atrás?
"Eu não sei se devo. O que é que faço? Ela vai ficar furiosa comigo, no mínimo."
"Não vai—"
"Vai, mãe." Insisto sabendo que estou certa. "Ambas sabemos que vai." Bufo passando a mão pelo cabelo. "Porque... porque é que foste vê-la? Ela não merece qualquer tipo de compaixão." Refilo para afastar um pouco da tensão, mesmo sabendo que a culpa não é da minha mãe.
"É minha irmã. Sangue do meu sangue. Eu sei que aconteceu muita coisa e que ela cometeu muitos erros, mas continua a ser minha irmã." Mordo o lábio ao sentir a dor nas suas palavras. "Não podia simplesmente virar-lhe as costas."
"Porque és um coração de manteiga, assim como eu. A Anna não é."
"Continua a ter o direito de saber e decidir o que quer fazer. Não podes privá-la da verdade."
"Eu sei que não. Não é minha intenção fazê-lo, mas falar do assunto não é fácil."
"Não vai ser fácil de qualquer forma, querida."
"Eu vou falar com ela e depois digo-te como correu, ok? Amo-te muito." Sorrio para mim mesma.
"Eu também te amo muito. Falamos mais tarde."
Desligo a chamada com as mãos trémulas e tiro uns segundos para respirar.
Estou fisicamente mal disposta.
Acabaram de me atirar uma bomba prestes a explodir para as mãos e tendo em conta que as coisas entre mim e a Anna não estão bem, não será uma conversa fácil.
Regresso à cozinha no instante em que o William deixa a mesma, desviando a minha atenção por um segundo.
Inspiro e evito o olhar do Niall que inexplicavelmente nota o meu nervosismo e foco-me na Anna.
Um passo em frente, cinco para trás.
"Anna." Desvio a sua atenção do que presumo ser um presente.
Limpo a garganta quando olha para mim, à espera de alguma coisa.
"Posso falar contigo? A sós?" O meu estômago revira, a minha boca está seca e a minha cara quente.
"Seja o que for, podes dizer aqui." Despacha com a sua atenção focada no presente.
"Acho melhor não."
"Qual é o problema de falar aqui?"
"É a tua mãe." Declaro sem pensar, sem me retrair.
As suas mãos param de mover o saco, as minhas suam. Toda ela paralisa, eu estremeço. "Está internada no hospital. Detetaram-lhe um tumor no cérebro. Está em estado terminal."
Acho que nunca falei tão rápido em toda a minha vida. Soei demasiado indelicada mas não me ouviria se enrolasse por muito tempo.
A atmosfera animada que nos rodeia escorrega pelos nossos dedos para bem longe, dando lugar ao choque perante a notícia. Ninguém se atreve a emitir um único som ou levantar o olhar à exceção do Taylor que, assim como eu, espera pela tempestade que está a formar-se no seu olhar.
Não estamos à espera que se desfaça em lágrimas ou que grite em desespero mas algo terá que dizer.
"Porque é que estás a dizer-me isso?" Questiona com frieza, a mesma que me atinge com o olhar onde consigo ver tudo. A raiva, a confusão, a incredulidade pelo facto de que estamos a falar dela.
"Porque..." Encho o peito de ar, o que me dá meros segundos para pensar em algo. "Tens o direito de saber no caso de... quereres despedir-te." Murmuro sentindo que é cada vez mais difícil respirar.
O assunto não é apenas difícil para ela. É para mim também, mais do que ela pode sequer imaginar.
"Eu posso ir contigo, se quiseres." O Zayn limpa a garganta, esfregando o pescoço num gesto nervoso. Até mesmo ele está pálido.
"Eu não vou a lado nenhum." Murmura incrédula, atingindo-o com a mesma frieza que era dirigida a mim até então.
O ambiente muda pela terceira vez, tornando-se quase insuportável.
"É a tua mãe, Anna. Não a vais ver?"
Mordo o lábio assim que ouço o Richard, temendo o que possa sair da boca da minha prima que o olha, desligando as suas emoções por completo.
"Só está a ter aquilo que merece."
As suas palavras deixam um frio cruel enquanto sai da cozinha, dirigindo-se para o exterior.
"Merda." O Taylor segura o rosto entre as mãos, esfregando-o violentamente fazendo com que o sentimento de culpa me atinja.
"Eu..." Olho para as minhas mãos. "Tinha que lhe dizer, Taylor." Mordo o lábio, segurando as lágrimas. "Não queria mas não podia esconder-lhe isto."
"Fizeste a coisa certa." O Zayn levanta-se e surpreende-me quando se aproxima, apressando-se a limpar uma lágrima que me escapa. "Tem calma." Murmura esfregando os meus braços antes de me abraçar. "Está tudo bem."
"Não, não está."
"O que é que acabou de acontecer?"
"A mãe dela está a morrer e ela não dá a mínima para isso." O Harry responde à pergunta do Richard com sarcasmo, sendo imediatamente atacado pelo Max.
"Não comentes sobre o que não sabes."
"É, não vamos meter-nos em algo que não nos diz respeito." A Marie olha pela janela, tentando encontrá-la. "Ou piorar as coisas."
"Eu vou falar com ela—" O Niall levanta-se e eu afasto-me imediatamente do Zayn, impedindo-o de dar outro passo.
"É melhor não, Niall."
"Estás bem?" Sussurra acariciando o meu rosto.
"Estou." Garanto. "Por favor, não vás. Está muito nervosa e pode ser muito difícil lidar com ela neste momento."
"Não vou insistir se não quiser, mas não vou deixá-la sozinha."
Balanço a cabeça, concedendo a sua partida. Sei que sente que precisa estar ao seu lado e não posso negar-lhe isso.
"Foi a tua mãe que te contou?"
O Max abandona a mesa sem terminar o seu pequeno-almoço e caminha um tanto desorientado pela cozinha, vindo até mim.
Balanço a cabeça afirmativamente.
"Foda-se." Murmura seco.
O meu corpo ainda treme quando, desta vez, o Taylor se levanta demasiado desconfortável para continuar aqui.
Isto é o que ela faz. A todos nós.
"Desculpa." Sigo-o pelo corredor sem saber o que dizer para além de pedir desculpa.
"Não tens que pedir desculpa."
"Sinto que tenho."
"O que vamos fazer?" Parando diante de nós, o Max faz o seu papel de manter a calma e ser objetivo, organizado nos seus pensamentos e sentimentos.
"O que é que o Tate faria?" O Zayn sacode os ombros quando o olhamos com a menção do seu nome.
"Não sei."
"Então precisamos descobrir e fazer exatamente isso."