O Céu de Celine

By leticiariele

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Celine era uma jovem solitária, filha do rei e da rainha de Amagiqué, e fantasiava com seu baile de apresenta... More

Capítulo I - Parte 1
Capítulo I - Parte 2
Capítulo II - Parte 1
Capítulo II - Parte 2
Capítulo III - Parte 2
Capítulo IV - Parte 1
Capítulo IV - Parte 2
Capítulo V
Capítulo VI - Parte 1
Capítulo VI - Parte 2
Capítulo VII - Parte 1
Capítulo VII - Parte 2
Capítulo VIII - Parte 1
Capítulo VIII - Parte 2
Capítulo IX - Parte 1
Capítulo IX - Parte 2
Capítulo X
Capítulo XI - Parte 1
Capítulo XI - Parte 2
Capítulo XII - Parte 1
Capítulo XII - Parte 2
Capítulo XIII - Parte 1
Capítulo XIII - Parte 2
Capítulo XIV - Parte 1
Capítulo XIV - Parte 2
Capítulo XV
Epílogo
Agradecimentos + Recados Importantes

Capítulo III - Parte 1

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By leticiariele

Demoro-me no quarto na manhã que se segue. Estou apreensiva, Mary e Henrique podem ter se apercebido da minha ausência e de Edgar no banquete. France foi-se há algum tempo. Afirmei-lhe que estava tão cansada que me despi sem ajuda alguma e descansei num sono profundo na noite antecedente. Na realidade, Edgar me despertou de madrugada e voltamos aos quartos. Acredito que ele também tenha criado uma desculpa para seu lacaio.

Caminho devagar a mesa do café da manhã.

– Oi pai, oi mãe.

Eles recebem-me normalmente e retornam sua conversa, fico aliviada. Ninguém se apercebeu de nada! Sorrio a Edgar, comemorando nosso sucesso. Ele retribui piscando um dos olhos.

– Mamãe, eu poderia se juntar a Celine no cuidado do jardim nesta tarde? Gostei de fazê-lo na última vez...

Consecutivamente, sorrio pela segunda vez. Felizmente, Edgar parece desejar realizar suas palavras da noite passada, ser meu amigo, e isso me deixa contente. Essa possível amizade pode ser meu remédio, e sensação de solidão me conceda paz. Estou um tanto eufórica com a alternativa, no mínimo!

– Não terá aulas enquanto Celine cuida do jardim? – Questiona Mary, com seu jeito gracioso.

Não deixei de pensar nos boatos da minha real origem, evidentemente. Sinto-me muito indignada, Acredito em Edgar, e um dia terei a devida coragem de indagá-los. Se o boato fosse baseado em mentiras, porque não o trouxeram a uma conversa? Está no tempo de admitir a grande probabilidade de que não tenho sangue real. É horrível viver os dias com essa dúvida gigantesca e esse é um assunto que tento fugir diariamente, não quero pensar nisso.

– Seria a aula sobre a geografia de nosso reino.

– Então, infelizmente, tenho de negar a requisição. É de muito bom gosto que vossa mercê deseje conviver com a sua irmã mais nova, entretanto, deve cumprir seus compromissos.

Mary deseja um boa dia, relembrando-nos de nossas aulas e Henrique solta algum comentário sobre os estudos. Os dois partem para suas ocupações. Edgar revira os olhos enquanto isso, revelando sua revolta.

– Está tudo bem. Nós nos veremos posteriormente – conforto-o.

– Teremos aulas e reuniões. O filho jovem de um visitante juntara-se a nós na janta e terei de acompanhá-lo. Não teremos tempo disponível. Encontramo-nos em meu esconderijo, quando todos estiverem em seus aposentos!

– Estarei lá, portanto...

Conversaremos mais e terei a chance de entendê-lo melhor. Assim como os outros, ele parti para o seu dia.

A minha aula é de etiqueta para damas. Ao decorrer uma hora e meia, Sra. Ladine, dá-me dicas e ordens que uma dama tem de executar impreterivelmente. Concentro-me por poucos minutos, no início, e então meus pensamentos viajam a lugares remotos. Eu sei como me portar, afinal, nasci nesse ambiente.

– Portanto, com a vida matrimonial não muito longe, deve-se se acostumar a esses preceitos – disse Sra. Ladine no final da aula.

Hoje, vou novamente no Orfanato Avita. Não é o comum, fui a poucos dias, contudo, é a minha vontade. Lá, me empenho para que a distração não me domine e dedico a atenção a Betty, uma criança do orfanato que cuidarei pela primeira vez. Não é extrovertida como Kate e é mais nova, e por me desconhecer, sua timidez aumenta, porém, não por isso deixa de ser cativante.

– Pequena, o que gosta de fazer? – Luto para arrancar algumas falas de sua boca tímida.

– Eu não sei... – Gagueja e persevera em encarar o chão.

– Pense... Qual brincadeira prefere querida?

– Acho que... Pintar.

Pela mão a dirijo a sala de pintura. Copio as ações de Kathy e a peço para me desenhar, enquanto desenho-a. Não há nenhum protesto. Com essa descontração transforma-se, fica menos acanhada. Decorremos a tarde na sala de pintura, com quadros da natureza, de castelos e autorretratos. Betty despede-se com um abraço apertado e murmura "obrigada por ficar comigo", revelando sua carência. Acaricio seu cabelo e falo que o prazer foi todo meu. Entrego um pequenino chocalho para Lalani presentear Kathy, e peço que dê lembranças minhas.

No tempo de cuidar do jardim não há muito o que fazer, rego as flores e aparo uns arbustos. O tempo teria seria melhor aproveitado com Edgar. Lamentavelmente, não há momento livre para tocar o piano, por isso, me encaminho diretamente para meu quarto, onde France me aguarda para pôr vestimentas adequadas e fazer um novo penteado para o jantar.

– Vossa mercê está bem France? Está desconfortável com algo? – Questiono observando seu rosto pelo espelho da penteadeira, enquanto ela desembaraça minhas mechas. Sua boca abriu-se como se fosse dizer algo, mas indecisa, calou-se.

– Há um adolescente, mendicante. Anda pelas ruas perto de minha casa. Vossa Alteza consideraria arranjar uma vaga para ele no Avita? Os orfanatos vizinhos aquela região são horríveis, com péssima organização!

– Arranjarei! Não é preciso ter receio de fazer pedidos, amanhã mesmo enviarei uma carta ao Avita solicitando que aceitem um adolescente levado pela Sra. France.

– Estou gratificada, Celine. Vossa Alteza é uma jovem com coração muito bondoso.

Na sala de jantar, como visitantes estão um casal e um rapaz, os quais Edgar se referiu.

– Filha querida, esse é Joan e Anastasia Sorales, junto de seu filho, Fernando Solares. Grandes autoridades de outro reino, de imenso prestígio e merecedores de muito respeito!

Por Henrique os apresentar pomposamente deduzo que são importantíssimos e os mesuro com o máximo de educação.

Alimento-me apressadamente, ansiando que os convidados vão embora para que Mary e Henrique entrem em seus aposentos. Assim, os empregados podem ter seu descanso e eu posso ir ter com Edgar.

Os casais papeiam, enquanto Edgar distrai Fernando. Minha atenção não é fundamental. Com convidados prestigiosos, não tenho autorização para subir as escadas. Convidados de outro reino não são tão comuns. Curiosamente, os examino; possuem cabelos loiros, peles levemente bronzeadas, olhos azuis. Fernando e Joan vestem-se semelhantes a nossos cavalheiros, contudo, com sapatos diferentes e estranhos e cores mais chamativas, como azul e verde. Os paletós dele parecem casacos, são mais longos. Anastasia está num vestido esbelto, um amarelo forte, cor raramente usada em nosso reino, e menos justo que o comum. Não está de espartilho, o que é uma regra aqui. As despedidas, por fim, ocorrem. Eles são gentis, e sorriem a mim.

Meia hora após recolher-me em meu quarto, dou o primeiro passo fora dele. Caminho na ponta dos pés, como fazia ao ir sorrateiramente de madrugada ao meu esconderijo. Mas, dessa vez, vou ao encontro de alguém.

Ao alcançar o esconderijo de Edgar, cato a chave da porta no chão. Deve ter a deixado aqui para o caso de eu comparecer com antecedência. Destranco a porta e procuro o interruptor. A luz amarela expõe a sala pequena. Sinto temor de que ele não apareça. Olho o céu, para me entreter com outra coisa. Chove bastante e venta forte, não obstante, as estrelas ainda brilham com toda a beleza. As gotas estão para numa direção diferente e não atingem a janela aberta.

– O que se passa na sua cabeça, Celine?

Reconheço a bela voz de Edgar e sorrio, admirando mais um momento as estrelas, antes de o olhar parado na porta. Está com a roupa formal, da janta. Despiu o paletó e desabotoou alguns botões da camisa branca. Traz um ar arrojado, com um cabelo sedutoramente bagunçado.

– Muitas coisas passam-se nela.

Em suas mãos está um cobertor e um pacote de bolachas de chocolate. Eu adoro essas bolachas deliciosas, uma iguaria que apenas nossa cozinheira é capaz de cozinhar. Sentamo-nos no sofá vermelho, o cobertor é extenso para que nós dois caibamos. Edgar desfaz o laço que lacra o pacote de bolachas e me dá a primeira.

– Vossemecê não gosta de Henrique e Mary? – Indago, pois pensei nisso durante a tarde.

Edgar não tem muito convívio e conversa com eles. E, depois de toda a situação do boato, percebi que também não tenho, são atarefados e quando estão livres, dedicam-se ao próprio romance. Todavia, oposta a ele, não os desobedeço, não esgueiro-me de aulas e não os retruco.

– Não – a resposta é rápida e seca.

– Por que não gostaria?

– Enquanto crescíamos eles estavam afastados, com todos os encontros, reuniões, decisões e tradições. Os criados que nos instruíram em tudo. Mal nos conhecem... Estão tão distraídos com as próprias paixões e com seus próprios obstáculos, que simplesmente não podem arranjar tempo para pensar em nós. Ora, se esse fosse o caso, não deveriam ter tidos filhos...

Opto pelo silêncio, não vou contrariá-lo Ele expressa mágoa e não quero que chateie-se comigo.

– E vossa mercê, Celine? Gosta deles, apesar dos boatos?

– Sim, mesmo que fique infinitamente chateada por não me contarem sobre os boatos e sobre minha origem, eles me acolheram. Na realidade, há pouco tempo me apercebi a desatenção e descaso deles em relação a nós dois...

Edgar solta um sorriso aberto e verdadeiro. Ele se aproxima de mim, e suas mãos roçam lentamente em minha bochecha. A luz está acesa e sei que ele vê meu rosto corar. Não olho seus olhos, mas seus dedos que me tocam.

– Você tem certeza que gosta deles, Celine?

– Porque... Porque não teria certeza de que gosto deles?

– Não ouça-me. Você é uma menina doce...

– Obrigada, Edgar – seu elogio simples põe-me feliz.

Apanho mais uma bolacha e mastigo lentamente. Estar com Edgar me faz fazer perguntas que nunca faria.

– Edgar, poderia me contar porque costumava me ignorar?

Ele aparenta refletir para responder a minha indagação desajeitada.

– Nunca disfrutei de muita atenção de Mary e Henrique. E qualquer atenção que dessem a você eu me enciumava. Hábitos de uma criança imatura que não superei. Achava que fosse mimada e irrefletida também. Perdoa-me, querida?

– Sim, obviamente... Podemos cultivar uma boa amizade, querido – uso o apelido acanhadamente, na nossa pequena conciliação.

– Sim, nós podemos e seremos grandes amigos! Porém, escasseiam-se os dias para os nossos casamentos. Em menos de três meses é o seu aniversário e o meu é uma semana antes... Está ansiosa, Celine?

– Para examinar meus pretendentes? Sim! Infelizmente, não garanto se irei estar feliz em seguida a conhecê-los. Terei de ter fé de que o amarei o que escolher.

– Eu não irei amar minha esposa. Casar-se comigo será apenas um desejo interesseiro.

– Não seja tão pessimista, pode vir a apaixonar-se.

– Não seja tão positiva.

Sorrio com seu comentário. Nós dois reparamos na chuva que se intensifica.

– Adoraria enxergar tudo o que fez nesses longos anos que estávamos afastados – comento pensativa.

– Nada de intenso ou muito interessante. E para você, Celine? Alguma paixão plebeia extremamente secreta?

– Sequer uma amizade, muito menos uma paixão – respondo com um risinho.

– A situação é engraçada, não é? Nós nos ignorávamos e somos parecidos. Vivemos nos mesmos ambientes e temos sentimentos similares.

– E quais seriam esses sentimentos similares?

– Ah, vossemecê sabe do que me refiro.... Não fomos inteligentes para enxergar o que estava muito próximo, talvez nosso crescimento teria sido mais fácil com um parceiro do nosso lado. Deveria ter contado antes sobre os boatos...

Sua declaração é verdadeira. É uma solução perfeita. Ele é um amigo que sempre poderei me encontrar, o meu suposto irmão. Meu suposto familiar, que estará nos principais momentos e que terei comigo diariamente nos três meses seguintes.

– Dormiremos aqui outra vez?

– Sim, acordamos de manhã e voltamos aos nossos aposentos.

Levanta-se e a luz é apagada. Deitamo-nos, cobertos pelo tecido quente e confortável. Deito com os braços ao redor de sua cintura, calma.

Ao resolver um problema, retirar um obstáculo, naturalmente, fico satisfeita e alegre. Contudo, esse caso é distinto. Não estou mais triste e solitária agora. E drasticamente empolgada com essa resolução, com o fim de um incômodo problema, não penso nela, e sim no que ocorrerá a partir de hoje. O que a vida nos reservará com essa nova disposição dos fatos... O meu coração demora a se acalmar, e eu demoro a dormir.

***

Olá leitores! Mais um capítulo para vocês. Eu ficaria muuuuito feliz se vocês comentassem, pois o número de comentários tem diminuído ultimamente. Sintam-se a vontade para criticar ou me corrigir em algo. Quero dizer outra vez que estou muito contente pelas mais de mil e quinhentas visualizações com uma pequena quantidade de capítulos. Beijos e até o próximo capítulo! ♥

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