𝐶ℎ𝑎𝑠𝑖𝑛𝑔

By ssunflowerssun

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• Livro 1 da Saga Chasing • "Todos nós temos os nossos demónios. É isso que recebemos pelas escolhas que fize... More

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By ssunflowerssun

Não faço ideia de quanto tempo passou. Sei que já amanheceu há horas atrás e eu ainda continuo na mesma posição, com as mesmas imagens a repetirem-se. 

"Onde é que ele está? Onde é que ele está, Marie?"

"Na casa de banho." 

Não esperava deparar-me com o que vi. Eu achava que talvez tivesse bebido demais e perdido os sentidos ou qualquer outra coisa menos encontrá-lo morto no chão de uma casa de banho. 

Ele estava sozinho. Sem qualquer auxílio. 

Ninguém estava lá para ajudar. Eu não estava lá para ajudar. 

Arrasto-me para fora da cama e olho para o meu reflexo no espelho. A maquiagem é uma mancha preta por baixo dos meus olhos inchados e vermelhos. Pareço uma merda e é exatamente como me sinto.  

Suspiro e aproximo-me da porta, ouvindo vozes vindas da sala e que parecem estar a discutir. 

"Hoje não, Harry. Pelo amor de Deus, não!" O Niall refila num tom bastante moderado. "O amigo dela morreu na noite passada. É fodido, sabias?"

"Eu estava lá, lembraste? Achas que vou fazer o quê? Gritar com ela? Não. Vim para pedir desculpa pelo que aconteceu e para saber como está. Eu sei que é fodido. Sei perfeitamente."

"Podes fazer isso noutra altura. Como deves imaginar, não deve estar com cabeça para falar com ninguém. Tu devias aproveitar para dar um passeio e pensar em formas de te comportares menos como um animal e mais como uma pessoa civilizada."

"Outra vez essa conversa?"

"Olha para a minha sala."

"Não fiz isto sozinho."

"Não estamos na escola primária, Harry."

"Parece." Rebate. "Porque era sempre eu que levava com as culpas nessa altura."

"Não te preocupes. Quando encontrar o William, ele também vai levar o mesmo sermão mas quem está aqui agora és tu e eu sei perfeitamente quem começou. És sempre tu quem começa este tipo de merdas."

"Santo William." O Harry zomba. "Eu vou embora, já não te posso ouvir." 

"Adeus."

Abro a porta do quarto quando a do apartamento se fecha. O Niall debruça-se sobre o balcão e suspira quando me vê. 

"Bom dia." 

"Bom dia." Murmura olhando para as suas mãos. "Boa tarde, na verdade. São duas e meia. O Harry acabou de sair mesmo agora. Queria saber como estavas mas achei que não querias ver ninguém então mandei-o embora." Dispara todas as palavras rapidamente, encolhendo os ombros para si mesmo. "Estou a falar demasiado, não estou?"

"Ficar em silêncio não nos serve de nada."

"Já sei a resposta mas... como estás?"

"Não sei."

"Honestamente, não sei o que dizer." Admite balançando a cabeça. "Ainda estou meio atordoado com a notícia e só posso imaginar o que estás a sentir." Desviando o olhar, algo chama a sua atenção. "Quase me esquecia. Um número desconhecido está farto de ligar e eu atendi porque não queria incomodar-te." Explica arrastando o meu telemóvel pelo balcão. "Era o Zayn. Pediu que lhe ligasses assim que puderes."

Pego no telemóvel e procuro o número nas chamadas perdidas, retornando a chamada imediatamente. 

"Anna?"

"Nós temos que conversar, Zayn." Digo sem rodeios, passando a mão pelo cabelo sob o olhar atento do Niall. 

"Preciso que me venhas ver. Fui detido e não tenho mais a quem recorrer."

"O quê?"

Não posso ter ouvido bem. 

"Só tenho dez minutos, Anna. Por favor, promete que vens."

"Quando?"

"Podes vir hoje?"

"Posso ir agora." Começo a dirigir-me para o quarto, abrindo as gavetas em busca de um par de calças e uma camisola para vestir. "Eu vou agora mesmo. Prometo." 

"Obrigado. Eu—"

A chamada cai. 

Atiro o telemóvel para cima da cama e arranco a porcaria da roupa de enfermeira. 

"Está tudo bem?" O Niall coloca um pé dentro do quarto mas recua assim que me vê de roupa interior, a tentar desesperadamente vestir as calças. "Desculpa!"

"Podes entrar." Aperto o botão das calças e pego na camisola. "Vou ter que sair."

"Agora?" Ele volta a entrar no quarto, confuso. "O que é que se passa?"

"O Zayn meteu-se em problemas."

Deixo o apartamento apesar da relutância do Niall em deixar-me sair no estado em que me encontro. Garanti-lhe que estava bem e ele acabou por desistir embora ambos soubéssemos que é mentira. 

Ainda não estou em mim. A adrenalina é o que me mantém em pé apesar da dor flamejante na minha cabeça, no meu estômago e no meu peito. 

"Agora não, Harry." Murmuro assim que o vejo dirigir-se a mim quando me vê dirigir-me para o parque de estacionamento. 

"Onde é que vais?" 

Desvio-me em silêncio. Preciso encontrar a paragem do autocarro. 

"Anna…" Ele segue-me pelo parque de estacionamento. "Para onde vais?"

"Sabes onde fica a paragem do autocarro?" Paro por um segundo, olhando-o. 

Ele encolhe os ombros, elevando uma sobrancelha. "Eu nunca andei de autocarro."

"É claro que não." Reviro os olhos. "Obrigada na mesma." 

"Estás muito nervosa." Agarrando o meu braço, impede-me de virar-lhe as costas. "Diz-me do que precisas e eu ajudo."

"Acabei de te dizer." Afasto a sua mão. "Preciso saber onde posso apanhar o autocarro."

"Eu levo-te." Oferece e sem me deixar decidir se quero ou não, começa a caminhar para o seu carro. "Para onde vais?"

"A delegacia."

Ele olha-me por cima do ombro mas não questiona o que quer que seja. 

Entro no seu carro e coloco o cinto. Preferia fazer isto sozinha mas a verdade é que com a ajuda do Harry, chegarei mais rapidamente à delegacia. 

"Posso perguntar porque é que vais à Polícia?"

"Sem perguntas, por favor." Olho para o exterior. 

"Como é que te sen—"

"Não quero falar." Interrompo-o. 

Agradeço o gesto e ajuda mas não preciso de mais nada.

Não quero falar ou sequer pensar em nada. 

Estou exausta, tanto física como mentalmente. Talvez ainda em choque, não faço ideia. 

Apenas sei que tenho que me manter composta por tempo suficiente. Há pessoas a precisar de mim. 

Em menos de quinze minutos, chegamos à delegacia mais perto. Inspiro profundamente e retiro o cinto de segurança. 

"Chegamos."

"Obrigada." Abro a porta do carro e saio do mesmo, ouvindo a sua voz novamente. "Eu espero aqui."

Entro no edifício calmo, sendo imediatamente notada por alguns agentes. Caminho pelo corredor e dirijo-me ao balcão. 

"Boa tarde." Chamo a atenção do senhor sentado em frente ao computador. "Estou aqui para ver Zayn Malik."

"Só um minuto." Pede. Assinto, respirando fundo. 

Estou a sentir-me ligeiramente tonta e desorientada.

"Na porta à direita. Entre e espere. Eles vão levá-lo até si." Responde sem sequer olhar para mim.

A sala é pequena. Tem duas cadeiras e uma mesa entre elas. Não há janelas e isso incomoda-me mais do que esperava. 

Sento-me de frente para a porta e espero pelo momento em que o Zayn irá entrar. 

Devia pensar no que lhe vou dizer. Não posso gritar, perder a cabeça ou chorar. 

Chorar está fora de questão. 

O meu telemóvel começa a tocar e apresso-me a desligar a chamada da Danielle ouvindo a porta abrir-se. 

"Boa tarde." Um agente alto e de pele escura entra em primeiro lugar, trazendo o Zayn consigo. 

"Boa tarde." Esfrego as minhas mãos debaixo da mesa enquanto observo cada movimento de ambos. 

O Zayn senta-se com o olhar fixo em mim enquanto é algemado à mesa. Quando termina, o agente sorri suavemente para mim e sai da sala, deixando-nos a sós. 

Baixo o olhar e engulo em seco. 

"Eu sei porque é que estás aqui." Mordo o interior do lábio. "Vi-te na festa. Queres explicar-te?" 

Preciso ouvir a sua versão da história. Devo-lhe isso. 

"As coisas não estão fáceis." Suspira passando a mão pelo cabelo, evitando qualquer contacto visual. "Eu preciso de dinheiro e esta é a maneira mais fácil."

"Não, não é. Sabes que é errado." Suspiro, pressionando os lábios. "O Tate morreu, Zayn."

"Eu sei—"

"Sabes?" Coloco as mãos em cima da mesa, arregalando os olhos perante a sua naturalidade ao dizer-me que sabe. "O que é que lhe vendeste?"

"Eu não lhe vendi nada." 

"Estou dentro do assunto o suficiente para saber que apenas um é aceite por festa." Inclino-me sobre a mesa com medo que mais alguém me ouça para além dele. "Vendeste a mais alunos. Mais pessoas podiam ter morrido!"

"Eu não vendi nada que matasse alguém." Aproximando-se também, olha no fundo dos meus olhos. "Não vendi nada ao Tate."

"Então quem foi!? Ele disse-me que esteve contigo."

"Sim, esteve comigo." Afirma unindo as sobrancelhas. "Mas não lhe vendi nada, Anna. Se o tivesse feito, admitia-o."

"Tens a certeza?"

Não quero duvidar da sua palavra mas estou de pé atrás. Ele está assustado com tudo o que está a acontecer e não sei até que ponto é capaz de ser verdadeiro, até mesmo comigo. 

"Tenho a certeza. Merda, tens que acreditar em mim."

"Eu acredito em ti mas—" Esfrego o rosto com as mãos. A minha cabeça está a acabar comigo. "Tenho medo que não estejas a dizer-me a verdade."

"Eu juro que não tive nada haver com o que aconteceu. Eu não sabia de nada até algumas horas atrás. Eles disseram-me que só vou ser libertado quando sair o resultado da autópsia."

"Eu não sei nada sobre isso. Não falei com ninguém... nem sei como estas coisas funcionam."

"Como é que estás?" A sua mão cai sobre a minha, reconfortando-me como pode. 

"Em choque." Uso as palavras do Taylor. "Eu vi-o na casa de banho... Não havia nada a fazer." Fecho os olhos por um momento. "Nós devíamos ter estado lá para o ajudar."

"Nenhum de nós imaginava que uma coisa destas iria acontecer. Não sabemos sequer o que aconteceu exatamente... Está tudo muito fresco."

"O tempo acabou." O agente abre a porta, interrompendo-nos. 

"Eu vou dando noticias, ok?" O Zayn balança a cabeça, garantindo-me que tudo vai correr bem. Que vamos superar isto. 

"Eu também." É tudo o que consigo dizer. Ele é levado para fora da sala e eu levanto-me, percorrendo todo o caminho para o exterior. 

O Harry espera-me encostado ao capô do carro, com os braços cruzados mas não dá por mim até que me aproximo e paro à sua frente. 

"Podemos ir."

"Ele está bem?" Levanto o olhar para ter a certeza de que estamos a falar da mesma pessoa e questioná-lo como sabe o que se passa. "Disseste-me que não podia fazer-te perguntas. Não que não podia ir lá dentro perguntar."

Pressiono os lábios. Ele tem uma certa razão e eu não estou com cabeça para discutir mais uma vez sobre limites. 

"Já esteve melhor." Murmuro entrando no carro sem esperar por ele. "Ser detido não é divertido, como podes imaginar."

"Foi ele quem–" Ele entra no carro e é interrompido de imediato. 

"Não."

"Como é que sabes?" 

"Ele disse-me." Enfrento o seu olhar cético. "E eu acredito nele."

"Tudo bem." Murmura ligando o carro. "Para a Universidade?"

Desvio o olhar e franzo as sobrancelhas. Não quero voltar para lá, no entanto, estou exausta e não tenho outro local para onde ir para fugir de tudo isto. 

"Sim." Acabo por responder. 

"Queres ir comer qualquer coisa antes?" Sugere cuidadosamente. Está a ser prestável e agradeço-lhe por isso mas não preciso que cuide de mim. 

"Não, obrigada."

"Tenho que insistir." Rebate saindo do parque de estacionamento. "Não estás com boa cara."

"Eu sei mas quero ir para casa."

"Tudo bem." Concorda sem mais insistência. 

O Harry decide acompanhar-me até ao apartamento em total silêncio. A confusão que criou ontem ainda está exatamente como estava e o Niall não se encontra aqui. Presumo que esteja com a Emma. Ela precisa do seu apoio neste momento. 

"Eu vou… resolver isto." Parando ao meu lado, torce ligeiramente o nariz. "Mas primeiro vou fazer-te alguma coisa para comer."

"Não quero comer nada."

"Não queres falar, não queres comer…" Girando o corpo, encara-me apreensivo. "Tens que reagir. Eu sei o quanto é difícil, ok?" Prossegue pouco à vontade por ter que ter esta conversa comigo. "É um processo difícil mas quer queiras ou não, vais ter que o concluir. Não há outra opção. Perdeste um amigo—"

"O Tate não era meu amigo."

Não sei o porquê estou a falar com ele sobre isto. Ele provavelmente não quer ouvir mas preciso explicar porque dói tanto. "Era mais que isso." 

O Tate era meu irmão. A família que escolhi. Parte de mim. 

Parte do que me mantém sã, protegida e amada. Tínhamos uma ligação como nenhuma outra e essa ligação foi cortada tão repentinamente que me deixou vazia, mais sozinha. Mais incompreendida. 

"Ele é meu irmão. Ele não tinha mais ninguém além de nós e estava sozinho. Morreu sozinho." Digo afastando-me quando tenta reconfortar-me. "Ele odiava estar sozinho." 

A ficha cai neste exato momento. 

Ele odiava a solidão e sentir-se sozinho. Abominava a sensação de abandono. 

O meu coração aperta ao ponto de doer quando penso no que deve ter sentido. O medo, terror e pânico pelo qual passou naquela maldita casa de banho completamente sozinho. 

"Sabes como é estar sozinho?" Balbucio esfregando o rosto quando as lágrimas começam a escorrer. "Ele estava sozinho."

"Nenhum de vocês sabia o que ia acontecer. A culpa não é tua." 

"Não importa de quem é a culpa." Rebato encolhendo-me quando os seus braços me seguram apesar da minha relutância. "Ele está morto—"

Soluço descontrolada, agarrando a sua camisola com força. O Harry não diz nada, nem uma única palavra enquanto me desfaço nos seus braços sem capacidade para parar. Dói. Dói ainda mais do que ontem. É insuportável. 

As suas mãos sobem e descem suavemente pelas minhas costas, confortando-me por longos minutos. 

"Anda comigo." Passando um dos braços pela minha cintura, começa a mover-nos lentamente, levando-me para o meu quarto. "Precisas descansar um pouco."

Balanço a cabeça negativamente, limpando as lágrimas com as costas das mãos. "Não—" 

Afastando-se, pega na manta ao fundo da cama antes de pegar nas minhas pernas, obrigando-me a deitar-me na cama. Após cobrir o meu corpo, deita-se ao meu lado, envolvendo-me num abraço forte. 

Escondo a cabeça no seu peito e respiro fundo, focando-me na sua respiração serena. 

"Fecha os olhos. Respira fundo." Sussurra deixando um beijo no topo da minha cabeça. 

Fecho os olhos e entrego-me ao cansaço, caindo num sono profundo invadido pelas memórias do Tate.

O luto acontece por fases. 

Primeiro o choque e a negação. 

Em segundo, a raiva onde ainda há negação e onde todas as questões começam a surgir uma atrás da outra.

Depois acontece uma espécie de negociação, onde se busca uma forma de voltar à realidade. Logo a seguir, há um estado depressivo onde tudo fica frágil e por fim, a aceitação. 

Estou em quatro das cinco fases em simultâneo, com dificuldade em ligar com a segunda em específico. 

Entro no dormitório da Marie sem bater. Sei que estão à minha espera após a chamada da Danielle a dizer que temos um problema. 

Se fosse apenas um. 

Olho para cada um dos cinco rostos presentes no dormitório e espero que alguém quebre o silêncio. 

"Agora que já todas estão aqui, vou direto ao assunto." O Richard faz uma pausa para respirar fundo sem nunca parar de acariciar o cabelo da Marie na cama. "A Marie sentiu-se mal esta manhã. Eu e a Perrie fomos com ela ao hospital e…" Outra pausa é feita, desta vez para que seja a Marie a completar a frase. 

"Estou grávida." Sussurra baixinho, com os olhos presos nas suas mãos que brincam uma com a outra. 

"Ok." A Danielle tenta parecer composta e confiante. "Nós estamos aqui para te ajudar no que for preciso."

"O que é que vou fazer?"

"O que quer que seja, estamos aqui."

Dou alguns passos pelo quarto, observando os alunos pela janela. Estão mais quietos do que o normal. 

As notícias espalharam-se rapidamente. Há medo no ar pelo crime que foi cometido contra uma das alunas e há tristeza pela perda do Tate. 

Quero dizer-lhe que pode contar comigo mas não sei até que ponto a posso ajudar. 

Afinal, como posso ajudar alguém quando não sou capaz de ajudar a mim mesma? 

Estou zangada. Furiosa com o mundo. E por essa razão, devo manter-me em silêncio. 

Suspiro de exaustão após todos terem dito as suas palavras de encorajamento, vendo a Marie olhar-me em busca de alguma reação. 

"Não sei o que dizer." Murmuro honestamente. 

"Qualquer coisa ficava bem." 

"Ai sim?" Desvio o olhar para a minha prima, pressionando os lábios com uma atitude afiada. 

"Não abriste a boca desde que aqui chegaste. Diz qualquer coisa." Incentiva. 

"Não tens que dizer nada." Intervém a Marie. "Eu sei que está a ser complicado para todos nós." Afirma tentado apaziguar a tensão crescente em mim. 

"Eu não estou a atacar-te, Anna. Na verdade, estou a tentar perceber como estás."

"Eu também tentei saber como estavas nas cinco vezes em que te liguei esta manhã mas não atendeste. Estou surpresa que tenhas conseguido cinco minutos do teu precioso tempo com o Niall para estar aqui." Cuspo venenosamente. "É preciso alguém morrer para ter-mos o prazer de te ver."

Não é o lugar ou o momento para discutir este tipo de idiotices mas ela quer que diga alguma coisa e estou a fazer o que me pediu. 

É isto que faço. Procuro algo em que possa descontar a minha raiva. 

"Queres deitar tudo cá para fora? Força. Estou disponível para te ouvir mas não aqui e agora." Diz calmamente. 

Ela conhece-me demasiado bem. Sabe o que estou a fazer e não vai alimentar a discussão. 

"Este não é o momento." Repreende fazendo-me revirar os olhos. 

"Nem este, nem qualquer outro." Passo por ela, parando em frente à porta. "Desculpem, mas preciso estar sozinha." Desculpo-me antes de sair do quarto, fechando a porta atrás de mim. 

Sou atingida por uma náusea forte, seguida de alguma confusão mental ao chegar à esquina do corredor. Sem qualquer aviso prévio, o meu corpo desliga e é tudo o que capto antes de perder os sentidos. 

Algo frio é pressionado contra o meu maxilar, fazendo-me estremecer. Estou deitada numa cama, presumo pelo conforto. O local onde estou cheira levemente a canela. 

"Anna…"

Uma voz feminina que não reconheço, chama-me. O frio desaparece por alguns segundos, voltando a tocar o meu rosto novamente. 

"Acho que está a acordar." Desta vez reconheço a voz. É o Niall. "Anna?"

Pisco várias vezes, ajustando-me à luz do quarto e deparo-me com quatro corpos inclinados sob a cama a observar-me. 

"Bem vinda de volta." O Louis abre um sorriso suave. "Como te sentes?"

"Encontrámos-te completamente apagada no corredor." A Eleanor afasta o saco de gelo da minha cara e senta-se na berma da cama. "Dói muito?" Inquire apontando para o que quer que eu tenha na cara. 

"Não." Levanto a cabeça e sinto o pescoço dorido mas ignoro. 

Quando tento levantar-me, o Harry levanta a mão, impedindo-me de o fazer. 

"Ligamos ao Taylor e ele disse para não te deixarmos sair daqui até que chegue." Informa deixando claro pela sua expressão que não devo negociar ou testar a sua paciência. 

"O que é que aconteceu? Tiveste uma quebra de tensão?"

"Já comeste hoje? Estás muito pálida." A Eleanor interrompe o Niall. 

"Não."

"Há quanto tempo não comes?" O Harry junta-se ao interrogatório. 

"Não sei."

"Não sabes?" 

"Como assim, não sabes? É perigoso estar sem comer por tanto—"

"Não comecem. Ela sabe que é errado, não é nenhuma idiota." O Louis interrompe os amigos. "Aconteceu muita coisa nos últimos dois dias e a última coisa de que precisa é de levar um sermão."

"O que é que aconteceu?"

"Ela está bem." A Eleanor levanta-se, dando espaço para que o Taylor ocupe o seu lugar. 

"Sim, apesar de não saber quando foi a última vez que comeu." O Harry não perde a oportunidade para me denunciar, o que me surpreende após todo o apoio que me prestou. 

"O quê?"

"Ele está a exagerar." Balanço a cabeça, notando que o Taylor não acredita em mim. "Eu já me sinto melhor. Foi só… tudo junto e—"

"O que é que me prometeste?"

"As circunstâncias mudaram, Taylor." 

"Vamos deixá-los conversar a sós." 

"Queres que te traga alguma coisa para comer?" O Niall interrompe a Eleanor, entrelaçando os dedos. 

"Sim."

"Não." Nego fuzilando o Taylor com o olhar. "Obrigada, Niall. Não é preciso. Eu posso ir até ao bar."

"Eu não vou sair." O Harry cruza os braços quando os seus amigos o olham, questionando-o porque não está a segui-los para fora do quarto. "O quarto é meu. Para além disso, chega desta condescendência. Levanta-te e vamos até ao bar comer qualquer coisa." 

"Eu já disse que vou."

"Eu sei. Vais agora."

"Se te sentires melhor." O Taylor sorri embora o sorriso dure apenas por um segundo. 

"Ok." Concordo com um suspiro ruidoso. 

Levanto-me com cautela, agindo como se tivesse todo o controlo sobre os meus movimentos quando na verdade, não tenho. 

Mal sinto o chão debaixo dos meus pés enquanto caminhamos até ao bar, mal sinto as mãos do Taylor nos meus ombros enquanto me guia por precaução e a tarefa mais complicada é manter os olhos abertos. 

Estou exausta e não consigo disfarçar. 

"O que queres comer?" 

"Eu escolho o que ela vai comer. Voltamos já." 

O Harry vira-nos as costas assim que nos instalamos numa mesa livre e o Niall segue-o sem pensar duas vezes, deixando-nos na companhia da Eleanor. 

"Desde quando é que ele se tornou a baby-sitter?" 

"Ele não é a baby-sitter, Taylor. Apenas gosta de me tirar do sério." Murmuro esfregando o rosto com as mãos. "E acho que está a tentar ajudar." 

"Não seria necessário, se cuidasses de ti."

"Já comeste hoje?" Ergo as sobrancelhas, sabendo que ao contrário de mim não consegue mentir. "Duvido." 

"Eu não desmaiei no meio do corredor. Pois não?" Ele encara a Eleanor que balança a cabeça negativamente, olhando para ambos. "Exatamente."

"Não vou discutir contigo sobre desmaios." 

"Não estou a tentar discutir. Chama-se preocupação." 

"Há coisas mais importantes com o que nos preocupar neste momento." 

"És importante para mim."

"Sim, eu sei." Murmuro segurando-me para não revirar os olhos. "Mas estou bem. Ou pelo menos, há quem esteja pior do que eu." 

A Marie, o Zayn… o Max. 

"Onde está o Max?" 

"Não sei. Tentei ligar-lhe mas recusou a chamada." 

"E não achas que devias estar preocupado por isso?" 

"Com certeza não está caído num corredor—"

"Ok, Taylor." Interrompo-o, desistindo de tentar conversar. "Já entendi."

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