Victor Augusto
01/09 – Quarta-feira
17:00h
Suspirei, nervoso. Passei a mão pelos cabelos e senti que os segundos se passavam mais devagar.
─ Relaxa, cara. – Arthur disse, do meu lado. – Vai dar tudo certo.
─ Confia. – Jaden disse. – É uma pena que você seja burro e ainda não tenha contado pra Bárbara, mas você está sendo um ótimo namorado, sério.
─ Eu não posso contar pra ela, Jaden. – eu disse. – Eu preciso proteger ela. E se tudo der errado? E se eu não conseguir trazer Lizzie de volta? E se isso só a machucar ainda mais?
─ E se der tudo certo? E se ela ficar extremamente feliz com você? E se ela finalmente entender que sua cabeça está cheia por conta da Lizzie e não porque você tá traindo ela? – ele rebateu.
─ Vocês acham que ela acha que eu tô traindo ela? – eu perguntei.
─ Não, o Jaden falou merda. – Gilson disse. – Mas ela deve estar insegura. Com certeza.
─ Caralho, teu tio é mó ricão né. – Mob disse, olhando o escritório do meu tio.
─ Não brisa, Mob. – Crusher pediu. – Bárbara deve estar insegura, porque você é um meloso insuportável e agora nem tá conseguindo conversar direito.
─ Tenho medo da reação dela sobre a Lizzie. – eu disse. – Passou muito tempo.
─ Ela é irmã dela, Victor. Óbvio que ela vai ficar feliz. – Gilson disse.
─ Mas talvez ela se sinta só mais culpada. – eu disse.
─ Por que? – Mob perguntou.
─ Porque, pelo o que eu saiba, Lizzie estava com Bárbara em uma feirinha de arte, um maluco entrou atirando em todo mundo e Lizzie soltou a mão da mão da Babi, então elas se perderam e não se acharam mais. Ela se sente bem culpada pelo o que aconteceu, sente que não cuidou direito da Lizzie.
─ Porra. – Gilson disse. – Que pesado.
─ É, vai ser um turbilhão de coisas pra ela. – Crusher disse. – Talvez seja melhor contar com calma, mas esconder não.
─ Eu tenho medo de ela se machucar. – eu disse.
─ Mas Victor, eles não vão prender a Lizzie naquela cidadezinha, eles nem podem. Se ela tem os pais, por que teria que continuar no orfanato? – Jaden disse.
─ Eu não sei, não entendo nada de direito e por isso estamos aqui, mas e se não puder? – eu disse. – Aí sim, Babi vai ficar muito mal. Pelo menos agora, ela pensa que a Lizzie morreu... Se algo der errado e ela não souber, continua tudo igual.
─ É, mas ela está perdendo a confiança em você. – Arthur disse. – Você não sabe esconder as coisas.
─ É, não mesmo, ainda mais sendo uma coisa tão particular dela. – eu respondi.
─ Só que ao invés de contar, você esconde, fica nervoso perto dela por estar escondendo algo importante, ela fica desconfiada e insegura em relação a você, porra, só dá merda. – Arthur disse. – Não é mais fácil contar?
─ Eu não sei. – eu disse. – Não sei nem como abordar o assunto com ela... Tenho medo da reação dela, de como ela vai ficar... Eu não ia suportar ver ela mal de novo.
─ Mas vocês estão bem? – Jaden perguntou.
─ Mais ou menos, acho que estamos bem mal na verdade. – eu disse. – Não tô conseguindo dar muita atenção pra ela, fico distraído demais... Eu não sei. Hoje de manhã eu fui beijar ela e ela até virou o rosto.
─ Puta merda. – Gilson disse. – Isso não é bom.
─ Só que aliviou depois, quando ela chorou e eu cuidei dela.
─ Por que que ela tava chorando? – Mob perguntou.
─ Eu não sei bem, ela não me explicou direito. Acho que é porque estou estranho. Ela me disse: eu já perdi tanto na minha vida, vou ter que perder você também?
─ Puta que pariu. – Arthur disse. – Só piora.
─ Victor, isso vai dar merda. – Jaden disse. – Você devia ter contado desde o começo.
─ Eu sei, caralho, mas eu não podia só chegar e jogar essa bomba pra ela, ainda mais logo depois do que aconteceu com a Suellen...
─ E ela? O que que deu? – Mob perguntou.
─ Ela ainda fica piscando pra mim, mas eu já nem sei, nem presto mais atenção.
─ Mob, o Victor não tá prestando atenção nem na Bárbara, quem dirá na Suellen. – Arthur disse.
─ Victor? – meu tio me chamou.
─ Vai que é tua. – Crusher deu um tapinha nas minhas costas e eu me levantei, indo até meu tio.
Ele me abraçou rapidamente e eu fiquei feliz em vê-lo.
─ Quanto tempo! – ele disse. – Entra.
Entrei na sua sala e percebi que era muito bonita, moderna... Bem a cara do meu tio.
Sentei na cadeira, de frente para ele.
─ Então, eu estou bem curioso com o porquê da sua visita. – ele disse e eu ri de leve. – Me conta tudo, como eu posso te ajudar?
Meu tio era um cara legal, pena que a filha dele era uma tonta.
─ Acho que o senhor sabe que eu namoro, né? – eu perguntei.
─ Não, andei faltando nas últimas reuniões de família. – ele disse eu ri. – Que legal, qual o nome dela?
─ Bárbara. – eu respondi. – Só que ela não é de São Paulo, morava em Santa Catarina até alguns anos atrás. E ela também tinha uma irmã.
─ Tinha?
─ É. Um dia, ela estava com a irmãzinha em uma feira de arte, um cara entrou com uma arma, atirando. A irmã dela tinha muito medo de sangue, então se soltou da minha namorada e saiu correndo. O problema, é que ela nunca mais foi encontrada.
─ Nossa. – ele arregalou os olhos. – Que coisa horrível.
─ Pois é. Todos nós achávamos que ela tinha falecido, porque passou anos e ninguém nunca a encontrou... Só que algumas semanas atrás, de madrugada, eu tive um pesadelo e acordei muito agitado e me veio a curiosidade, porque eu nunca quis saber muito desse assunto pra não parecer intrometido, sabe?
─ Sim, além de que é uma dor bem particular da sua namorada.
─ Sim. – eu respondi. – Só que nessa madrugada, eu pesquisei bastante... E eu acabei encontrando a menina. Ela está em um tipo de orfanato em uma cidade minúscula, no Rio Grande do Sul. Eu não tenho a mínima ideia de como ela foi parar lá, mas eu só sei que preciso tirá-la de lá.
─ Meu Deus, eu devia parar de faltar nas festas de família pra ficar por dentro das novidades. – ele disse e eu ri de leve. – Como a sua namorada tá em relação à isso?
─ Eu ainda não contei pra ela... – eu disse. – Esse acontecimento fez muito mal para ela, muito mesmo e eu não quero que ela se magoe mais. Eu ainda não sei de nada sobre como tirá-la de lá ou o que fazer... Nada... Tô literalmente perdido, por isso eu queria sua ajuda.
─ Eu entendo... – ele disse. – Bom, me mostra o que você encontrou e eu vou tentar ver o que posso fazer.
─ Sobre valores, eu posso pagar p... – eu fui interrompido.
─ Nem pense em dinheiro, vai sair por minha conta. – ele disse.
─ Não precisa, de verdade. – eu disse.
─ Eu quero ajudar vocês, não vou cobrar nada. – ele disse.
Eu acabei aceitando, então eu mostrei pra ele o site da casa que Lizzie estava, dei algumas informações básicas sobre Bárbara, os pais dela, Lizzie. Só que eu sabia muito pouco da minha cunhada.
Passamos horas conversando, tentando traçar uma ideia e entender sobre o que aconteceu, até que ele chegou em uma conclusão.
─ Bom, o que eu estou entendo até agora é: isso não é difícil de resolver. – ele disse.
Expirei o ar que nem sabia que estava guardando.
─ A primeira coisa a se fazer é saber se a Lizzie está realmente lá, o que se resolve com uma ligação. Se ela estiver, a única coisa que precisamos fazer é levantar uma documentação necessária, provar que Lizzie não é órfã e então nos darão autorização, não precisamos nem envolver o atentado nisso. – ele disse. – Se envolvermos a questão do atentado, a coisa fica mais complexa. Eu ainda não sei se é bem isso o que temos que fazer, mas creio que sim. E outro ponto é: a cidade é muito pequena e pelo o que vimos aqui no mapa, a casa fica no meio do campo, então eu não penso que eles seriam muito burocráticos, acho que só o padrão mesmo.
─ Nossa, que alívio. – eu disse. – Muito obrigado, de verdade.
─ Não tem de que. – ele disse. – Olha, eu vou estudar isso um pouco melhor e eu te retorno, então organizamos os próximos passos.
─ Quanto tempo você acha que vai levar? – eu perguntei. – Eu não tenho pressa, mas é que a escola está acabando e eu ainda não sei como vai ser.
─ Entendo. – ele disse. – Te prometo que vou tentar fazer tudo isso o mais rápido que eu puder, mas acho que vem antes de dezembro, com certeza.
─ Ah, então tudo certo. – eu disse.
Conversamos mais um pouco e saímos da sala.
─ Muito obrigado, mesmo.
─ Não tem de que. – ele disse. – Boa sorte com a sua namorada.
─ Obrigado.
Saí de lá e meus amigos já tinham ido embora. Eles só vieram para me apoiar.
Entrei no carro, dei partida e saí pelas ruas, indo até a casa da minha namorada.
Eu estava mais aliviado, mas ao mesmo tempo, surgia uma nova ansiedade no meu peito. Estava cansado, parecia que alguém tinha passado por cima de mim como um caminhão. Ao mesmo tempo, parecia que alguém tinha me tirado um elefante das costas.
Estava extremamente cansado.
Parei na frente da casa dela, mandei uma mensagem dizendo que estava ali e esperei que ela saísse.
Passei as mãos no cabelo, cansado. Repousei a cabeça no banco por alguns segundos e fechei os olhos, desejando que aquele pesadelo acabasse.
Até que Bárbara abriu a porta e eu acordei. Eu estava extremamente cansado. Cansado mentalmente. Eu olhei para ela, com os cabelos volumosos e soltos, uma camiseta minha e um shorts confortável que ela usava em casa. Não usava maquiagem, estava 100% natural ali. E eu amava isso. Amava ela produzida, com certeza ela ficava linda, só que observar a verdadeira Bárbara me deixava fascinado.
Ela olhou para mim de volta, com os olhos castanhos hipnotizantes.
─ Oi... – ela sussurrou.
─ Oi. – eu disse de volta.
Eu cheguei perto de seu rosto e lhe dei um selinho nos lábios. Ela me abraçou pelo pescoço depois e eu a apertei contra o meu corpo, me afundando no seu pescoço. Ali era o lugar que eu me recarregava.
Passamos alguns minutos daquele jeito e eu comecei a dirigir.
Bárbara Passos
Observei um pouco Victor quando ele deu partida no carro. Ele estava todo arrumado, de camisa...
A dúvida me veio. O que ele estava fazendo de tão importante que pedia aquela roupa?
Me repreendi por pensar aquilo. Eu não queria ser tóxica, só que a nossa situação não me ajudava. Nosso relacionamento não ia nada bem. Eu o sentia cada vez mais distante, ansioso, nervoso, mas ao mesmo tempo, distraído, distante, longe de mim. Nunca foi assim. E me dava medo. Não só pelo acontecimento com a Suellen, mas porque ele nunca foi assim. Me sentia menos amada e percebi que eu era extremamente dependente do Victor. Eu já não me sentia tão bonita, nem tão confiante e nem tão feliz. Ele começou a ficar estranho e eu comecei a me sentir cada vez pior – até comigo mesma.
─ Nossa, você tá todo arrumado... – comentei. – Onde você tava?
─ E-Eu fui tomar um café com os meninos, só isso. – ele disse.
Gaguejou. E aquela resposta me dava mais inseguranças.
Eu sentia suas mentiras, sentia que ele me escondia alguma coisa. Talvez pela voz sem firmeza, pela postura nervosa, por coçar o cabelo todas as vezes que eu pergunto alguma coisa, por ter aquele olhar tão aflito...
Comecei a ficar preocupada quando Victor não viu uma lata de lixo quase no meio da rua.
─ Victor, o lixo! – eu disse.
─ Merda. – ele desviou rapidamente o carro e nós dois acabamos indo para o lado por conta do impulso. – Desculpa, desculpa.
Ele piscou no mínimo umas cinco vezes e parecia extremamente nervoso.
Ficamos quietos o resto do trajeto e Victor parecia estar com a mente bem longe dali, não prestava atenção no trânsito.
Chegamos na sua casa e ele deu um longo suspiro, mexendo nos cabelos como sempre fazia.
─ Vamo subir. – ele disse, pegando minha mão.
─ Tá bom.
Subimos as escadas e vimos que sua mãe ainda não estava em casa. Ele me disse que ela estava com o Jacob. Eu ficava feliz pela minha sogra, ela merecia uma pessoa boa como ele.
Eu me deitei na cama de Victor, ainda o olhando. Ele tirou a camisa branca, tirou as calças jeans e colocou uma bermuda qualquer. Ele odiava deitar de camiseta, então vivia sem ela dentro de casa.
Continuei observando ele. Eu obviamente ainda estava chateada, ansiosa, insegura e desconfortável com o clima entre a gente.
Só que agora, além de tudo, eu estava preocupada. Victor sempre foi muito atento no trânsito, sempre me fez eu me sentir segura, só que hoje não. Ele simplismente esquecia que estava dirigindo. E aquilo me deixou preocupada.
Talvez eu o estivesse julgando mal, talvez ele só tivesse muitas coisas na cabeça ou estava chateado com alguma coisa... Só que ele não conversa comigo sobre nada e quando conversa, age como se tudo estivesse normal. Só que hoje eu percebi que não está.
É agoniante ver alguém que está passando por alguma coisa não conseguir pedir ajuda.
─ Vic, o que... – eu tentei abordar o assunto.
Só que então ele colocou as mãos nos meus joelhos e abriu minhas pernas. Arregalei os olhos e um frio bateu na minha espinha, só que depois se aliviou.
Se aliviou no momento em que ele deitou o rosto na parte mais alta da minha barriga, passando os braços pela minha cintura e ficando entre as minhas pernas.
Ele fechou os olhos, praticamente em cima de mim. Ele parecia cansado, exausto na verdade.
Eu tinha vontade de falar tudo o que estava me deixando com raiva e chateada, tinha vontade de conversar sobre tudo. Só que eu não conseguia. Não tinha coragem de tentar discutir sobre toda aquela situação com ele daquele jeito.
─ Se você quiser conversar sobre hoje de manhã, tudo bem. Eu tô te ouvindo. – ele disse, ainda de olhos fechados.
Desisti da ideia. Não tinha coragem de fazê-lo passar por aquela conversa naquele momento.
─ Não, tudo bem. A gente já conversou hoje de manhã e tá tudo bem. – eu disse.
Passei meus dedos entre seus fios de cabelo e fiquei fazendo carinho ali. Senti que ele precisava de mim.
─ Mesmo? – ele perguntou, levantando o rosto e apoiando o queixo na minha pele.
─ Mesmo. – respondi, dando um leve sorriso.
Ele sorriu de volta, se levantou um pouco e deixou um selinho nos meus lábios, logo voltando a deitar na minha barriga. Continuei fazendo carinhos no seu cabelo, costas, braços...
Victor Augusto.
Bárbara estava chateada comigo e eu sabia disso, só que a sua alma conhecia muito bem a minha e de alguma forma ela entendeu que eu precisava dela naquele momento.
Geralmente, ela era quem deitava no meu peito, como se quisesse ser protegida por mim, mas hoje não. Eu era quem pedia esse acolhimento.
Eu fiquei ali por não sei quanto tempo. Não dormi, apenas relaxei, sentindo seus carinhos pelo meu cabelo. Eu parecia uma criança que deita no colo da mãe quando está com medo.
Mas ela parecia me entender. E acho que ela realmente entendia.
Depois ela passou os carinhos para o meu rosto e eu abracei mais seu corpo.
Ergui um pouco o rosto e o corpo, dando mais um beijo nos seus lábios e girando nossos corpos, fazendo ela ficar deitada em cima de mim. Ela riu, abraçando meu pescoço.
Abracei sua cintura e deixei um leve beijo noseu pescoço. Ela continuou fazendo carinho na minha nuca e cabelo e ali eurelaxei, dormindo logo em seguida.
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"bota o capacete q lá vem pedrada"