Victor Augusto
01/09 – Quarta-feira
07:00h
Hoje eu estava extremamente feliz e ansioso, era o dia. O dia que eu finalmente tiraria todas aquelas dúvidas e medos da minha cabeça. Hoje eu vou conversar com o advogado e saber o que eu tenho que fazer para trazer Lizzie de volta para a família dela.
Bárbara entrou no meu carro e fechou a porta. Sem nem um sorriso.
Aquilo certamente me afetava, me abalava. Com a cabeça um pouco mais aliviada por finalmente ter chegado o tão sonhado dia primeiro de setembro, eu não estava tão cego pela ansiedade. Talvez hoje eu visse as consequências dos meus atos.
─ Bom dia! – eu disse, me virando para lhe dar um beijo.
Ela virou o rosto e eu só beijei sua bochecha. Estranho. Muito estranho.
─ Bom dia. – ela respondeu, sem emoção.
Então eu entrelacei nossas mãos e percebi que a dela rapidamente ficou frouxa. Ela ficou olhando a janela do carro e não falamos nada durante todo o caminho. Eu não sabia o que falar.
O choque não me permitia reagir. Eu tinha percebido que não estava conseguindo dar atenção para Bárbara, mas eu ainda não tinha conseguido realizar isso muito bem. Minha cabeça estava muito cheia.
Chegamos na escola e aquela frieza dela ainda me incomodava. Eu sabia que Bárbara se fechava muito quando estava sofrendo. Só que dessa vez era diferente, ela estava fria comigo.
E então, ela saiu do carro primeiro. Eu saí logo depois, me apressando para chegar do seu lado.
Eu queria muito abraça-la e ficar ali com ela, a confortando, mas ela não parecia nem querer conversar.
O sinal tocou e eu o xinguei mentalmente. Cheguei perto dela, mas ela só olhou para mim.
─ Tchau. – ela disse, já se virando para entrar na sua sala.
Eu bufei, chateado, andei até sua sala e quase entrei, se o professor de física não tivesse entrado da minha frente.
─ Augusto. – ele disse.
Aquele cara era tão musculoso que poderia me quebrar inteiro.
─ Sala. – ele disse.
─ Sim senhor. – saí dali, ainda chateado.
Gravei na minha cabeça que precisava conversar com ela no intervalo, para entender o que estava acontecendo. Eu sabia que não estava tão presente esses dias, mas não sabia que estávamos daquele jeito.
Lembrei que precisava mandar uma mensagem para o meu tio, perguntando se eu realmente poderia ir no seu escritório à tarde.
Escrevi rapidamente e fui até a minha sala.
O tempo passou bem devagar, para o meu azar.
{...}
09:40h
Olhei o horário de novo na tela do telefone, já ansioso.
Bárbara estava demorando demais para aparecer para o intervalo. Demais.
Eu estava no parquinho, esperando ela, como sempre fazia. Eu não a encontrava na sua sala porque muitas vezes ela estava conversando com Carol e Jean e eu não queria interromper. Então ela sempre vinha para o parquinho e eu sempre a esperava.
Só que hoje foi diferente.
Ela chegou, andando rápido. Carolina foi rapidamente se sentar ao lado de Crusher e Jean se sentou entre os outros. Bárbara se sentou do meu lado, como sempre fazia. Ela olhava alguma coisa, parecia distraída, mas eu notei a pontinha do seu nariz vermelha. Então entendi o que realmente estava acontecendo.
─ Ei. – levantei seu queixo. Ela forçou contra, não me deixando ver seu rosto. – Anjinho...
Então ela me deixou ver seu rosto. Seus olhos vermelhos, a pele meio molhada... Seus olhos me transmitiam tristeza, caos, insegurança...
─ Vem cá. – eu disse, rapidamente passando meu braço por seu pescoço e a deixando se esconder no meu.
Abracei seu corpo, enquanto sentia a curva do meu pescoço se molhando pelas suas lágrimas. Eu esquentei suas costas, a abracei e tentei a acolher de todas as maneiras que eu pude, sem dizer uma palavra. Tinha medo daquela conversa. Eu não sabia esconder as coisas de Bárbara.
Olhei para os outros, que olhavam para nós com pena.
─ Melhor a gente sair. – Tainá disse.
─ Verdade. – Carol concordou.
Todos saíram de lá, deixando só eu e Bárbara no parquinho. Ela se virou e eu continuei com meu braço pelo seu pescoço. Puxei ela para mais perto e deixei um beijo no topo da sua cabeça, depois na sua testa, bochecha... Eu estava apavorado.
─ O que aconteceu? – eu perguntei. Deixei mais um beijo na sua testa e ela enxugou as lágrimas para poder falar.
Mas ela não conseguiu dizer nada. Parecia não ter força. Eu continuava sempre ali, fazendo carinhos e tentando confortá-la, mesmo sabendo que a culpa era minha.
─ Sabe... – ela deu um tempo para comprimir um soluço. – Eu já perdi tanto na minha vida... Eu vou ter que perder você também?
Tudo parou para mim por um segundo, cheguei a ficar tonto. Nunca aconteceu de nenhum de nós dois ficar pensando no fim do relacionamento, nunca.
Ok, teve o episódio da Suellen, mas aquilo foi algo repentino e que só pensamos no fim quando aconteceu, além de outras brigas e separações de no máximo alguns dias... Mas nunca naquele nível.
Ela continuou a chorar, dessa vez com ainda mais intensidade.
─ Anjo... – eu disse, beijando seu rosto. – Você nunca vai me perder. Nunca. É sério. Nunca. Podemos nos separar por 10 anos, mas minha alma sempre vai pulsar pela sua. Sempre.
Ela queria responder e eu soube disso pela risada fraca, como se duvidasse do que eu estava falando. Só que ela não fez. Não disse o que queria dizer. Parecia arrependida de pensar em me responder.
─ Por que tá pensando nisso? – perguntei.
─ Você tá super estranho, nem fala mais comigo, nem me beija, nem me olha... – ela disse. – Porra, você não era assim. E aí do nada você começa com isso. O que foi? Foi algo que eu fiz?
─ Claro que não. – a interrompi. – Amor, eu só tô muito ocupado com o basquete, o fim da escola... Isso anda ocupando muito a minha cabeça, é sério. Sei que não tô te dando a atenção que você merece, me perdoa. De verdade.
Ela continuou a chorar, só que agora mais calma.
─ Eu sinto sua falta. – ela disse, chorando mais.
─ Eu também sinto a sua, você não sabe quanto. – eu disse, beijando sua testa e a abraçando mais.
Ficamos abraçados por um tempão. Ela fazia carinhos leves no meu pescoço e eu abraçava seu corpo.
Eu me virei para seu rosto depois, vendo seus olhos e secando a última lágrima que escorria. Puxei seu queixo para mim e lhe dei um selinho longo nos lábios. Ela continuou com a mão no meu pescoço e eu a trouxe para mais perto. Fiquei ali, lhe dando mais beijos, leves como aquele, e no intervalo entre eles, fitava seus olhos. As pálpebras meio inchadas pelo choro, os olhos ainda vermelhos e a cor das suas íris ainda mais presente.
─ Vamo quebrar isso hoje? – eu sussurrei, lhe dando mais um beijo nos lábios. – Dorme na minha casa.
─ Vic... – ela tentou reclamar, só que então puxei seus lábios para bem perto.
─ Por favor... – pedi, lhe dando mais um beijo e ela sorriu de leve.
─ Tá bom. – ela concordou, ainda meio resistente.
Ela estava chateada, claro que não queria dormir comigo, só que a coisa que eu menos precisava era de Bárbara desconfiada de mim ou preocupada. E é óbvio, eu nunca queria que ela chorasse pela minha ausência. Nunca. Eu estou tentando proteger ela da melhor maneira possível, só que parecia que quando eu a protegia de uma coisa, outra estava a machucando. E eu me cobrava de ser um bom namorado.
Namorado não é só beijos e abraços, nem palavras carinhos, nem só "eu te amo". É muito mais profundo do que isso. Ser um namorado é proteger sua namorada – até dela mesma – lhe dar muito carinho, ama-la verdadeiramente e fazer com que ela se sinta protegida com você.
Só que Bárbara ainda tinha um porém: ela tinha aquela maldita ansiedade enraizada na sua mente. Então as suas inseguranças em relação à nós triplicavam e qualquer coisa que eu deixasse escapar – como essa minha ausência por culpa da mente cheia – virava uma barreira gigante entre nós e eu lhe causava mágoas, desconfortos, inseguranças... Entendia o lado dela e me odiava por não cuidar dela bem o suficiente.
Só que então lembrei da merda que tinha feito. Ela não podia dormir na minha casa porque eu ia no advogado. Merda. Por que não lembrei disso antes?
No impulso de tentar reverter a situação com a minha namorada, eu acabei esquecendo que eu tinha um segredo a esconder dela.
Merda.
Mas, eu também não consigo falar só um "sinto muito" e deixa-la ali, insegura comigo.
Ela continuou encostada no meu peito, parando de chorar aos poucos enquanto ficávamos quietos, só olhando os galhos das árvores balançarem.
Passei a ponta do meu nariz pelo seu pescoço, fazendo um carinho leve e sentindo o cheiro do seu perfume. Deixei um leve beijo na sua clavícula, no seu pescoço, no seu maxilar.
Arrepiada, ela virou o rosto para o meu, me olhando nos olhos e depois na minha boca. Peguei sua cintura, ainda olhando para seu rosto, e puxei para mais perto. Selei nossos lábios em um beijo leve, onde eu sentia só seus lábios nos meus. Depois é que o beijo se tornou ainda melhor, quando eu deslizei minha língua na sua boca. Eu amo beijar ela. Seus beijos eram delicados e leves, ao mesmo tempo que me faziam implorar por mais.
Terminou leve e delicado, como sempre era. Eu lhe dei beijos leves na bochecha, selinhos e acariciando sua cintura.
Depois o sinal tocou e eu revirei os olhos. Ela riu da minha cara e eu a ajudei a levantar.
Andamos de mãos dadas até a sua sala, onde paramos na porta. Eu a virei para mim e peguei sua cintura, lhe dando um selinho leve. Ela sorriu, abraçando meu pescoço e me dando mais um beijo.
─ Eu te amo. – ela disse.
─ Eu também te amo. – respondi.
Beijei sua testa e vi que o professor cruzava o corredor.
─ Tchau. – eu disse, lhe dando um último beijo e saindo da sua sala.
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tão curiosos pra saber o que vai dar com a Lizzie? 👀
Até a próxima, fadinhas 🧚♀️