Bárbara Passos
25/08 – Quinta-feira
06:50h
Entrei no carro do meu namorado, com um sorriso no rosto. Já fazia alguns dias que ele não me levava pra escola, mas hoje ele iria.
─ Bom dia! – eu disse, indo até seu rosto e lhe dando um beijo leve nos lábios.
─ Bom dia. – ele respondeu, se separando rapidamente.
É. Eu já estava meio cansada daquela frieza, daquele olhar de agitação e agonia, sempre desatento e tão distraído. Ele nunca tinha sido assim. Victor sempre era o tipo de pessoa que olhava para mim com profundidade, tentava ver todas as partes que me compõe, tentava decifrar minha alma pelos meus olhos. Eram olhares que me confirmavam que ele me amava. Só que agora já não confirmavam mais.
Deixei aquele sentimento de agonia ir embora e me joguei um pouco mais no banco daquele carro. Toda a manhã eu ainda tinha a mesma esperança: de que ele tinha voltado ao normal. E toda a manhã eu tinha a mesma decepção.
Quietos por todo caminho, fomos para a escola. Eu até cheguei a entrelaçar minha mão com a sua, mas logo ele precisou dela para mexer no volante e não voltou mais para mim. E eu até tentei dizer algo, mas nada parecia acordá-lo, ele não parecia querer conversar. Estava distraído ao extremo, mas mesmo assim prestava atenção no transito. Piscava muito também, piscava forte, querendo tirar algo da sua cabeça.
Eu o observei durante todo o caminho. E era a primeira vez que não conseguia saber o que estava acontecendo.
Chegamos na escola, ele estacionou o carro e eu saí logo depois, peguei minhas coisas no banco de trás e saímos juntos para a entrada da escola. Eu continuava ansiosa e ele distraído.
─ Tá tudo bem? – perguntei, depois de séculos de silêncio.
Ele pareceu surpreso com a minha pergunta e fez questão de responder rapidamente.
─ Claro que sim, por que não estaria? – ele falou tão rápido que demorou para eu poder processar.
─ Eu não sei, você tá um pouco estranho e... – eu não consegui terminar.
─ Eu tô sim, fica tranquila! – ele disse. – Preciso falar com os meninos.
Ele me deu um beijo rápido na bochecha e saiu. Aquilo só aumentou as minhas dúvidas.
Andei até onde estavam as meninas e Jean. Elas, conversavam tranquilas e felizes.
─ Ei, Babi! – Carol me abraçou. – Como você tá?
─ Tô bem. – dei meu melhor sorriso.
─ Me engana que eu gosto. – Jean disse. – Essa sua cara não me engana.
─ Verdade... – Tainá disse.
─ Nossa, o Victor nem tá colado em você hoje?! Que milagre! – Alyssa disse, brincando.
─ É... Ele tá bem estranho essa semana. – eu disse.
─ Como assim estranho? – Bianca perguntou.
─ Sei lá... Meio... Meio distraído... Sinto que ele tá escondendo algo de mim. – eu disse.
─ Eita. – Milena disse. – Ele nunca foi disso.
─ Eu sei. – eu disse. – Por isso que eu estou ficando preocupada.
─ Mas, não liga para isso. Deixa ele um pouco no cantinho dele e logo ele já volta a te agarrar. – ela disse e eu ri de leve. – É bom deixar um pouco de saudade na pessoa.
É, talvez ela esteja certa, mas eu não queria fazer aquilo. Parecia que a cada dia que ele ficava mais distante, eu precisava cada vez mais dele.
Victor Augusto
Minha cabeça estava cheia, eu estava uma pilha de nervos. Faltavam só alguns dias para eu falar com aquele advogado, que também é meu tio. Faltava bem pouco. E eu não conseguia estar mais agitado. Não conseguia prestar atenção nas aulas, fazia tudo no automático... E inclusive com a minha namorada. Queria muito estar mais presente, só que eu simplismente não conseguia, eu não tinha um minuto de cabeça fria para só lhe dar atenção e não pensar em mais nada. Rapidamente, uma ansiedade tomava conta do meu peito e um frio na espinha me vinha quando eu lembrava da minha "cunhada".
Cheguei perto de Arthur, coçando os olhos e tentando acordar.
─ Ei, tudo bem? – ele disse.
─ Sim, só um pouco ansioso. – eu disse.
─ Eu tô vendo. – ele disse.
─ Cara, só toma cuidado com a Bárbara, é sério. – Jaden disse. – Ela te conhece como ninguém.
─ Eu sei. – respondi.
─ Se ela te ver estranho desse jeito, vai saber que tem coisa errada. – Gilson disse.
─ Só que não é uma coisa que eu controlo, eu estou assim. Eu não consigo controlar. – eu disse.
─ Mas tenta não ficar assim perto dela, com a gente pode, a gente sabe o que tá acontecendo. Ela não. – Mob disse. – Pensa quantas coisas devem passar na mente dela quando você fica estranho?
─ Ainda mais você, que é todo boiola. – Crusher disse e lhe dei um soquinho de leve.
─ Mas é verdade, você é muito carinhoso. – Jaden disse.
─ Até demais. – Mob reclamou.
─ Vão se foder. – eu zoei e nós rimos.
O sinal tocou, nós nos despedimos e eu fui até Bárbara, porque eu sempre a deixava na sua sala e depois ia para a minha. Andamos, quietos. Logo, todos aqueles pensamentos voltaram ao meu encontro.
Paramos na frente daquela sala e eu olhei um pouco para dentro. A mesma sala que eu achei os desenhos dela. O frio na espinha voltou quando eu me lembrei da causa deles. Engoli seco, encarando a cesta de recicláveis.
─ Victor. – acordei quando Bárbara estralou os dedos na minha frente.
─ Oi. – respondi.
─ Eu vou indo. – ela disse. – Tchau.
Ela me deu um beijo rápido, que acho que não correspondi direito, porque Bárbara saiu rápido e parecia chateada.
Bárbara Passos.
Entrei na sala e rapidamente me sentei. Meu pé começou a bater freneticamente no chão e eu senti uma leve falta de ar, um desespero nos meus pulmões, assim como na minha mente.
Eu sabia que o meu relacionamento tinha uma dependência gigante, tanto eu em Victor quanto ele em mim e isso nunca nos fez mal, só que nesses momentos eu entendia que talvez eu tenha errado de ser tão apegada ao meu namorado. Nunca me fez mal ser "dependente" porque ele nunca me deu motivos para isso, não era algo não correspondido, pelo contrário. Então, vê-lo assim de repente, tão mudado, me fazia ansiosa. Não o sentir presente me deixava ansiosa. Victor era a pessoa que eu mais confiava e mais me dava apoio e não sentir isso me deixava confusa. Extremamente confusa.
Não consegui prestar atenção nas aulas seguintes, alguns momentos até sim, mas logo aquela inquietude me voltava, aquela ansiedade tomava conta das minhas veias e eu me sentia mal.
Saí para o intervalo, derrotada, enquanto Carol e Jean tentavam me animar um pouco.
Andamos até o parquinho e Victor estava sentado na rede, como sempre. Eu me sentei ao seu lado, ainda com as pernas inquietas e roendo as unhas. Estava pura ansiedade naquela manhã.
Eu olhei para ele, ele ria um pouco com os outros, mas mesmo assim, distante. Aquela distancia me dava agonia.
Então, sem querer, eu encostei as costas na rede e algumas lágrimas vieram nos meus olhos. Ele me acolhia quando minha ansiedade me atacava, mas agora ele nem percebeu.
─ Babi, quer dar uma volta? – Carol disse com um olhar de que queria estrangular alguém.
Fiz que sim com o rosto e sequei a última lágrima que caía, logo saindo com a loira para andar nas partes "verdes" da escola.
Tentei respirar um pouco de ar fresco, talvez aquilo tirasse a minha confusão dos pulmões, mas nada.
Victor Augusto.
─ Não sei como ainda não reprovou. – Jean murmurou e saiu atrás de Bárbara e Carol.
E todas as outras meninas saíram, me olhando com reprovação. Então eu olhei para Crusher, sem saber o que estava acontecendo.
Sentia que a minha ansiedade não me permitia nem falar.
─ O que aconteceu?
─ Ué, você não viu? – ele devolveu a pergunta.
─ Não. O que?
─ Bárbara saiu daqui chorando um pouco. – Jaden respondeu.
─ Ela tava bem estranha. – Mob disse.
─ Como você não viu? Ela tava do seu lado. – Gilson perguntou.
─ Eu sei... Eu já ia falar com ela, eu juro! Mas ela saiu antes. Foi rápido, e... – eu tentei falar mas Crusher me interrompeu, sentando do meu lado.
─ Cara, você tá ansioso demais. – ele disse. – Não tá conseguindo prestar atenção nem na sua namorada, que é o que você mais presta atenção. Foca Victor! Você não pode perder a Bárbara, isso é se autodestruir. Você ama essa garota, são como um só.
─ É verdade. – Jaden disse. – Cuidado.
─ Que droga. – eu disse, passando as mãos pelos cabelos.
─ Vai falar com ela, ela não tá bem. – Arthur disse.
Me levantei e fui atrás da minha namorada. Não consegui achar ela por nenhum lugar, nenhum mesmo. Procurei pelos jardins, na biblioteca, nos corredores, até que tocou o sinal e eu resolvi ir até sua sala, ela com certeza teria que voltar ali.
E ela realmente veio. Jean passou por mim e revirou os olhos, Carol não teve reação. Bárbara veio até a porta e manteve seu olhar no chão. Eu a vi tentando esconder a carinha de choro.
Eu não conseguia dizer nada, sabia que era perigoso tentar conversar. Ela diria que eu estou estranho e eu não sei se manteria o segredo. Ao mesmo tempo que quero protege-la de se decepcionar, não quero fazer com que ela chore. Ainda mais por uma coisa que eu não tinha contado pra ela. Eu odiava esconder as coisas dela. Fazer surpresas românticas ou de aniversário já eram como um parto para esconder, eu não conseguia disfarçar. E acho que agora falhei no mesmo ponto.
Peguei seu queixo e levantei, logo ela olhou para mim com os olhos já secos, porém um pouco inchados e a pontinha do nariz vermelha.
Eu encarei seu rosto, seus olhos, boca... Ela era linda.
Lhe dei um beijo na testa, tentando demonstrar que queria ser sua zona de conforto, um lugar em paz, onde ela podia relaxar.
Depois, lhe dei um beijo do lado do olho, nas duas bochechas, o que a fez rir de leve. Depois, desci para seu pescoço e o enchi de beijinhos leves, agarrando sua cintura. Ela abraçou meu pescoço e eu a abracei.
─ Eu te amo. – eu disse. – Não esquece disso.
─ Eu não vou. – ela disse.
Então saí do abraço para ver seu rosto, por mais que ainda tivesse sua cintura nas mãos. Lhe dei um beijo leve nos lábios, bem lento, onde sentia sua delicadeza e doçura nos lábios. E depois a beijei de leve, um selinho normal e longo. Deixei meu rosto bem próximo do seu e continuei lhe dando beijos leves.
Aquilo sim conseguiu aliviar toda a minha ansiedade. Me arrependi de não contar para ela desde aquela maldita madrugada na minha casa, mas eu me senti melhor quando lembrei que ela poderia sofrer muito se não desse certo. A dor de não conseguir é pior do que de perder. E eu nunca me perdoaria se a visse chorando por algo que eu não fui capaz de fazer.
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oieee fadinhas, sumi rapidinho mas eu voltei :)
eu sinto que eu preciso me explicar sobre o porque essa fanfic tá tão grande, tipo sério, 139 CAPÍTULOS? eu nem tinha me tocado.
bom, eu tô me arrependendo de ter feito tão gigante, poucas pessoas tem a paciência de ler até o fim, mas eu tenho uma explicação do porque:
eu projetei essa fanfic pra ter um foco: a complexidade da mente humana.
é claro que tem a questão da Lizzie, porque é raro você ter um irmão desaparecido, isso não acontece com qualquer pessoa, mas a Lizzie representa muito mais do que isso: ela representa qualquer dor interna. Ela pode representar a dor de perder alguém, como é o caso da história, pode representar a dor da autocomparação, a dor da ditadura da beleza, a dor de perder alguém que você ama, a dor de ser traído ou traída ou apenas a dor de uma ansiedade sem controle, de uma depressão que parece nunca ter fim... Ela pode representar muitas coisas.
Eu poderia ter colocado um transtorno de ansiedade no lugar da Lizzie para ser mais próximo da nossa realidade, só que eu sinto que isso não teria o peso que eu gostaria e eu gosto de dar essa intensidade na dor, porque muitas vezes, a intensidade da dor que sentimos dentro da gente se assemelha a uma dor como a de perder uma irmãzinha como a Lizzie de um jeito tão trágico. A intensidade da dor é que contou para a história, não o contexto em si. A intensidade da tragédia da Lizzie se parece com a intensidade das nossas tragédias internas.
E como eu trouxe tanto peso pra história com uma tragédia, eu também abordei muitos assuntos que fazem parte do nosso dia a dia. A Lizzie foi o gatilho que sucedeu toda a corrente de dor da Babi depois. E todos nós temos um gatilho nas nossas vidas. Todos.
O meu foco é tentar destacar (talvez de forma muito exagerada) o tamanho das nossas dores e como isso deve ser sim falado, como isso deve ter importância, como as nossas dores internas deveriam ser tão relevantes para nós quanto o desaparecimento de uma criança para as pessoas.
E é claro, a mente humana é muito complexa, então acabou levando muito tempo para que eu conseguisse abordar várias fases da ansiedade, depressão, problemas com alimentação e inclusive trazer uma melhora disso, mostrar um pouco que podemos sair dessa quando estamos com as pessoas certas.
Eu espero de verdade que atráves do que aconteceu com a Lizzie, vocês possam enxergar o reflexo de algumas das dores de vocês também. Meu intuito com essa história é tentar tocar vocês atráves da Lizzie e do romance entre a Babi e o Victor, e também fazer vocês lembrarem que não estão sozinhos!
Espero de verdade que eu tenha conseguido fazer vocês se sentirem acolhidos, mesmo que atráves de 139 capítulos KKK.
me desculpem se essa história ficou enorme. :(