Victor Augusto
08/08 – Segunda-Feira
07:00h
Entrei no colégio, querendo sumir. Eu não conseguia acreditar que tudo aquilo estava realmente acontecendo. Nunca imaginei esse desfecho, na verdade eu nunca imaginei o fim do meu relacionamento.
Eu sei que errei em não ter afastado a Suellen antes, mas eu não escolhi. Eu não queria nada disso.
─ Cara, olha o seu pescoço! – Crusher disse.
─ Eita. – Jaden veio ver.
─ A noite foi quente em! – Crusher disse com uma cara maliciosa.
─ Quem dera... – eu respondi.
─ Como assim? – Mob perguntou.
─ Você tá com alergia? – Gilson perguntou.
─ Não foi a Bárbara que fez isso. – confessei. Eu não ia conseguir esconder por muito tempo.
─ O QUE?! – Crusher gritou e logo depois me deu um tapa. – VOCÊ TRAIU A BÁRBARA?!
─ Não! – eu disse. – No sábado, de tarde, a Suellen brotou na minha casa pra conversar comigo, disse que eu era o homem da vida dela e que eu sentia falta dela, eu disse que não, que era apaixonado em Bárbara e tudo mais... Só que então ela disse "então vai ser do jeito difícil", aí ela grudou no meu colo e começou a beijar meu pescoço, por isso as marcas. Ela não saia, eu a empurrava de todo o jeito, só que quando uma parte dela desgrudava de mim, ela dava um jeito de me agarrar de novo.
─ Que tarada. – Jaden disse.
─ Só que aí deu merda... – eu disse. – Bárbara apareceu na minha casa, não sei porque, acho que ela esqueceu o carregador do celular e voltou para pegar. Ela apareceu bem na hora que a Suellen tava me beijando. E então ela saiu, chorando. Eu fui na casa dela tentar conversar, expliquei o que aconteceu... Mas nada adiantou.
─ E aí? – Gilson perguntou.
─ A gente... Ela no caso... Terminou. – foi difícil dizer a última parte.
Crusher arregalou os olhos, chocado.
─ Cara. – ele disse. – Eu confio em você, eu sei que nunca trairia a Bárbara, mas só pra confirmar: você realmente não traiu ela, né?
─ Não. Eu juro que não. – eu disse. – Eu mandei várias mensagens, tentei ligar, mas ela desligou o celular e nem recebia mais as coisas. Mas eu não ligo, vou continuar mandando.
─ Que merda, cara. – Mob disse.
─ Que bosta. – Jaden disse.
─ Eu amo ela. – eu comecei a falar. – E amo só ela. Não quero terminar, nem sei se a gente realmente terminou ou só deu um tempo.
─ Mas o que ela te disse? – Crusher perguntou.
─ Que acabou. – respondi.
─ Então, fodeu. – Crusher disse. – Tenta falar com ela quando ela chegar.
─ Ou no intervalo. – Jaden disse.
─ Se bem que, acho que ela não vai querer ver você nem pintado de ouro. – Gilson disse.
─ É. – Mob concordou.
─ Eu não sei. – passei as mãos pelo rosto. – Eu tô um caco.
{...}
Bárbara Passos
09:30h
O sinal tocou, anunciando o intervalo. Fechei o caderno e o livro, bufei, me esparramando na cadeira.
Por um segundo eu pensei em ir até Victor, como eu sempre ia. Mas hoje não.
Desde sábado não nos falamos, por opção minha. Ele me ligou, me mandou muitas mensagens, tentou de todo o jeito se resolver comigo. E então, eu desliguei o telefone e não recebi mais nada. Eu não queria conversa.
Carol e Jean se sentaram do meu lado, os dois me olhando com caras preocupadas.
─ Você não está bem. – Jean disse.
─ Não mesmo. – Carol disse. – Depois do jantar com o Victor, achei que você estaria super feliz hoje...
Eu ri de leve. Lágrimas invadiram meus olhos e era horrível ter que admitir que tinha acabado, que nós tinhamos acabado. Eu e Victor nunca tivemos um término, quando aconteciam as fases ruins, dávamos tempo no relacionamento, por quanto era preciso. Dessa vez, era diferente. Ele me traiu.
─ É, o jantar foi realmente bom. – eu respondi.
─ Então, por que tá chorando? – Jean perguntou. – Babi, somos seus melhores amigos! Sabe que pode contar tudo pra gente!
─ É mesmo. – Carol concordou.
─ É que... No dia seguinte do jantar, depois que eu fui embora da casa dele, eu voltei para a minha casa, só que eu percebi que tinha deixado meu carregador na casa dele e meu celular estava quase sem bateria. Então, eu voltei para a casa dele, e quando eu entrei...
As lágrimas começaram a escorrer e eu não conseguia conter.
─ Eu vi a Suellen em cima do colo dele, o pescoço dele tava cheio de marcas de beijo... Ele... Ele tava me traindo com a Suellen. – assumi, tremendo com o choro.
Carol tinha lágrimas nos olhos. Ela viu eu e Victor desde o começo, na verdade, ela teve uma grande participação na nossa história. Eu entendo que ver tudo acabar assim, era complicado.
Olhei para Jean, que respirava fundo, bem fundo na verdade. Ele fechou os olhos e parecia meditar.
─ Calma Jean, você não merece machucar as mãos batendo em um cachorro como o Victor, nem em uma porta como a Suellen. Calma. – ele repetia.
Sorri de leve. Carolina chorava silenciosamente, assim como eu. Então ela veio, puxou minha mão e fez eu me levantar.
─ Vem, vamos ir no banheiro tirar essa carinha de choro. – ela disse e eu ri.
Jean continuava tentando meditar. Ela arrastou nós dois para fora da sala, fomos até o banheiro e Jean ficou de fora. Eu enxuguei as minhas lágrimas, assim como ela enxugou as dela. Na verdade, logo depois disso, começamos a chorar de novo, as duas. E depois rimos da situação.
Quando saímos, acabamos dando de cara com os meninos conversando. E então, eu vi Victor. Estava com olheiras, estava chateado, parecia cansado. Ele me viu por alguns segundos, mas eu fiz questão de sair andando.
─ Bárbara, espera! – ele saiu andando atrás de mim.
Eu peguei a chave do meu armário e já aproveitei para pegar algumas coisas que eu precisaria. Abri o armário e me enfiei nele, não querendo ver a cara de Victor. Quando fechei o armário, ele estava ali ainda.
─ A gente pode conversar? – ele perguntou.
─ Não. – respondi. – Não temos nada para conversar.
─ É claro que temos. – ele disse. – Bárbara, não me entra na cabeça! Voc...
─ Eu não quero conversar. – interrompi. – De verdade. Eu não quero.
Lágrimas já invadiam os meus olhos e eu tratei de as secar.
─ Só deixa eu falar uma coisa. – ele pediu. – Você disse que acabou. Eu te entendo, se eu visse uma cena como aquela, eu também diria que acabou, mas Bárbara... Foi um ano e mais alguns meses de relacionamento. Em todos eles, eu nunca te dei motivo para você pensar que eu te trairia. Nunca. Sempre tentei ser um cara legal para você, um cara carinhoso, que te tratasse como você merece. Eu sei que acabei perdendo a mão com a Suellen, mas ela sempre faz isso que fez comigo: sempre acabamos no "jeito difícil". Eu nunca te trairia, Bárbara. Nunca. Eu sei que deve ser difícil de acreditar, mas eu preciso que acredite. Sem você, eu não sou nada.
─ Eu queria muito poder acreditar. – respondi. Eu não parava de chorar. – Mas eu não consigo. Eu não posso. Não posso fazer isso comigo. Eu não consigo esquecer o que eu vi...
Passamos alguns segundos quietos.
─ Eu não quero terminar, anjinho. – ele olhou para mim, com os olhos marejados. – A gente nunca terminou de verdade, e...
─ É claro que não. Toda a vez que demos um tempo foi porque brigamos e queríamos esfriar a cabeça, mas dessa vez foi diferente: você me traiu.
─ Eu não te traí. – ele respondeu.
─ Não é isso que seu pescoço fala. – eu disse. Tranquei o armário, decidida a sair daquela conversa. – Chega, eu não vou mais discutir.
─ Só mais uma coisa. – ele disse. – Lembra que eu já sentir a dor de uma traição. Eu já vi isso acontecer com uma das pessoas que eu mais amo. E eu já vivi isso na pele. Então, eu nunca faria isso com você. Nunca.
E então, eu saí andando e enxugando as lágrimas, só querendo ir para casa.
{...}
13:00h
O carro de Crusher estacionou na frente da minha casa. Carol estava no banco do carona, eu no de trás e Arthur na direção.
Ficamos os três quietos por algum tempo. Era estranho estar no carro de alguém e não ser o de Victor.
─ Eu vou indo. Obrigada pela carona, Arthur. – eu disse, pegando minha mochila.
─ De nada, Babi. – ele disse. – Victor tá muito mal. De verdade. Muito mal mesmo.
─ Pensasse nisso antes de me trair. – eu dei de ombros.
─ Ele não te traiu, Babi. Eu conheço o Victor e pelo o jeito que ele me contou, eu sei que ele não te traiu. Ele tá muito mal. Olha, eu entendo que a cena não é muito convincente e que tá doendo, mas a Suellen é realmente filha da puta. Ela é muito mimada, sempre quer as coisas de um jeito ou de outro. Então, eu sei que tá difícil, mas vocês tem um amor tão puro... Ele nunca faria isso com você. Nunca. Pensa nisso.
Eu não tinha resposta. Eu queria acreditar em tudo aquilo, mas aquela maldita cena não me deixava em paz.
─ Você vai ficar bem? – Carol perguntou.
─ Vou. – eu respondi. – Obrigada.
Saí do carro e entrei em casa. Meus pais estavam no trabalho, então eu estava sozinha.
Joguei a mochila na minha cama e sentei na cadeira. Peguei uma folha e comecei a fazer traços. Traços pretos, fortes, aleatórios. As lágrimas saíram dos meus olhos, eu estava com o rosto todo inchado hoje. Eu só soube chorar ontem e hoje. Era uma dor imensa. A dor de três coisas: a dor de uma "traição", a dor de um termino e depois, a dor da dúvida. Eu não sei se Victor realmente me traiu, mas eu não conseguia achar uma explicação para aquilo.
Continuei a desenhar, com a cabeça cheia de dúvidas.
é, sem muito o que dizer...
só que: "a verdade cura todo mundo"
até a próxima, fadinhas 💗🧚♀️