A COR MAIS QUENTE | JIKOOK

Par koopinky

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Na adolescência, Jimin e Jungkook eram como polos opostos e viviam brigando. O Park detinha as melhores notas... Plus

CAST
AVISOS
Prelúdio
[00] Prólogo
[01] Primeira vez
[02] Intimidante
[03] Audácia
[04] Amigo para todas as horas
[05] Romanov
[06] Romeu e Julieta
[07] Novos sentimentos
[08] Eu vejo, eu gosto, eu quero.
[09] Ataque descoberto
[10] Contar estrelas
[11] A paixão é cinza e efêmera
[12] Primícias duma aquarela: acromo
[13] Primícias duma aquarela: policromo
[14] Porsche Carmim
[15] A chama que nunca se apaga
[16] O primeiro ato de coragem | 1
[18] A porta vermelha.
[19] Cicatrizes deixam belos vestígios
[20] Gritos e Sussurros
[21] Sonhos de Infância
[22] La Vie En Rose

[17] Aniquilação de pretendentes| 2

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Par koopinky


SURPRESAAAAAAAAAAA

Meio que eu caguei pro meu planejamento e troquei umas coisas, capítulo 17 narrado por menino Jeikei 😁

Eu to muito baitola por esse capítulo mds e vcs vão ficar tbm graças a deus 

META: Se esse capítulo tiver 5K de comentários em 3 dias, trago atualização dia 6 de Janeiro

CONSELHO: leia devagar porque tem MUITA informação nesse capítulo

Me sigam no Instagram para acompanhar datas de att e publicações: koopiinky

#JujubasEKingKong

"Me dê sua mão, confie em mim novamente. Te mostrarei coisas que você nunca fez"

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Não posso deixar de te amar
Mesmo que eu tente
Não posso deixar de te querer
Eu sei que eu morreria sem você

Eu não posso deixar de errar na escuridão
Porque estou sendo vencido nesta guerra de corações

- War Of Hearts - Ruelle

Você sabe que eu te quero
Não é um segredo que tento esconder

E que o destino está te levando para muito longe
E pra fora do meu alcance
Mas você está aqui no meu coração
Então, quem pode me parar se eu decidir
Que você é o meu destino?

- Rewrite The Stars - James Arthur feat. Anne-Marie

JUNGKOOK

Essa semana você já parou para olhar sua vida e pensar "É isso mesmo que quero para mim?" e chegou na conclusão de que não, entretanto, não sabe como frear e reformular a rota? 

Me sinto assim nos últimos meses. É mais fácil olhar para trás, torturando meu coração, do que ver o que me espera adiante.

Não consigo ser impulsivo em nenhuma de minhas decisões, sempre analisando infinitas possibilidades de consequências para um simples ato. Cronometrando e ponderando as palavras, controlando o cair de cada peça como se fosse um enorme tabuleiro de xadrez ou uma pista coberta por peças de dominó esperando o farfalho ansioso de dedos escorregarem na primeira peça e a derrubar, levando as outras para o mesmo caminho. Tudo no meu consciente funciona como ação e reação perfeita, sem espaço para errar.

Se trata de como me ponho a ser meticuloso em tudo que procuro fazer, mas quando se trata de Park Jimin, perco o controle. E a impulsividade que nem sabia existir dentro de mim, aparece como um enorme sentimento de insurreição.

Não ache isso incrível, é preocupante.

O jeito no qual me formei é fruto do que sofri para aprender. Atitudes rebeldes acarretam frustrações ruins para se lidar em longo prazo.

E é exatamente isso que está ocorrendo agora.

Foram tantos, mais tantos erros que tomei naquela viagem com Jimin, que me deixa chocado ter cada vez mais certeza que as emoções atrapalham, e muito, o seu julgamento.

Não acho que sejam inúteis, os sentimentos, pelo contrário, porém, as ações precisam ser calculadas para funcionarem bem. Fui um criança calada, um adolescente problemático e agora, sou um adulto criterioso.

Essa última semana tem sido a mais complicada dos últimos três meses, e tudo isso, graças a decisão mais bem pensada por mim nos últimos tempos: rever Park Jimin.

Isso mesmo que você leu, a mais bem pensada. Planejei meticulosamente que essa festa fosse na minha filial, afinal, iria consertar as coisas, e foi o que fiz. 

No entanto, vamos do início. Hoseok me deu a ideia de jogar toda a minha ansiedade no papel para pesar menos a cabeça. Não gosto de papelada, então, decidi abrir meu notebook nesta noite de domingo, na qual encontro-me sentado no tapete da mansão da família Jeon em completo silêncio, degustando uma xícara de café fresco e bem doce. 

É tanto silêncio que nem parece que moro com meus avós maternos e meu irmão que chegou ontem, um dia depois da festa, de viagem e está hospedado na ala leste. Ignorando esses fatos, me coloquei a pensar por onde começaria meu desabafo.

Vamos lá, Jungkook, não deve ser tão difícil...

"Era uma vez..." - apaga.

Muito fantasioso.

" Tudo começou qu-"

Horrível.

"O dia hoj-"

Conseguiu piorar drasticamente.

Quer saber? Vou começar pelo título.

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O primeiro ato de coragem

Quando Jimin saiu pela porta do escritório em Paris, soube que as chances de nos vermos novamente era decerto, inexistente. Apesar disso, ainda teria uma chance, futuramente, de o reencontrar, só não sabia ainda naquele momento.

Vê-lo tão inseguro e envergonhado ao passo que afastava-se de mim ou então, o som quebradiço e ardente nos meus ouvidos, sentindo como se cada molécula de meu corpo ardesse em desespero observando as portas do elevador fecharem-se e levarem consigo o meu petit.

Eu não queria conversar com ninguém, desabafar ou ouvir conselhos no momento, queria me afundar naquele abismo e sofrer solitariamente, afinal, sempre me virei bem sozinho.

Solitaire.

Hoseok havia enviado dezenas de mensagens questionando o motivo de eu voltar para Paris sem mais nem menos. Ignorei todas, na hora.

— M. Jeon! (Sr. Jeon!) — escutei a voz do novo secretário me chamando.

Eu havia ficado parado na frente daquele elevador por quanto tempo?

Oui? (Sim?) — arrumei a postura e virei para si, dando-lhe atenção.

J'ai rassemblé les documents et événements des derniers mois dans l'entreprise afin que vous puissiez les consulter. (Reuni documentos e acontecimentos dos últimos meses na empresa para você consultar) — Crispei os lábios em descontentamento, o olhando sério ao passo que levantava o indicador.

Monsieur (Senhor) — Corrigi, Dominique.

Je n'ai pas compris (Eu não entendi) — o rosto fino se contorceu em dúvida genuína.

Nous ne sommes pas intimes, appelez-moi monsieur (Não somos íntimos, me chame de senhor) — expliquei algo que ele já deveria saber.

Assisti o espanto crescer em seus olhos caídos, que logo foram tampados por uma engolida em seco, que por um momento, pensei ter sido raiva. Talvez seja, mas sinceramente? Não me importo.

Désolé monsieur (Desculpe, senhor) — Arqueei a sobrancelha esquerda, averiguando sua expressão.

Laisse tout dans mon bureau (Deixe tudo no meu escritório) — Relaxei o cenho e coloquei as mãos no paletó, parando ao seu lado e indicando o que deveria fazer sem o olhar.

Me dirigi para sala de Namjoon, precisava distrair e esquecer a jogada mais impensada da minha vida.

O Kim e seu esposo são meus amigos há uns bons anos. Nos conhecemos no clube de férias quando eu morava nos EUA, enquanto ele e o M. Kim estavam de passagem aproveitando a temporada. Conhecê-los foi o melhor que poderia ter acontecido naquela fase da minha vida. Namjoon me apresentou um novo mundo e pessoas, prometendo que quando findasse a viagem, me levaria para conhecer seu estabelecimento em Paris, o Cries&Whispers (Gritos&Sussurros).

Nos tornamos próximos com o tempo, amigos de longa data e, mesmo que eu, por si já não seja uma pessoa com tendência de ter um bom leque de amigos, O Kim e seu marido decerto, conquistaram em mim a ideia de ter amigos quase inseparáveis.

Até para desabafar, encontrava ali um porto seguro, e foi com esse pensamento que, ao adentrar sua sala, não forcei nenhuma simpatia ou bem-estar, sentei na poltrona e fiquei encarando o profundo nada, dissociando longe daquela realidade que tanto perturbava meus sentidos.

— E então, o que decidiu? — Namjoon questionou referente a Jimin.

— Acho que tomei a decisão mais burra da minha vida. — voltei para o mundo concreto com algo que não queria lidar tão cedo. 

— Vindo de você essa resposta, é realmente uma grande surpresa.

Não vendo malícia ou deboche em sua expressão e palavras, suspirei tristemente.

Não haviam mais dúvidas, foi a decisão mais idiota da minha vida.

— Não sei como deixei as coisas tomarem esse rumo, sinceramente. — gesticulei nervoso, uma confusão tomava minha cabeça em imensa proporção. — Parece que fiz tudo sem nem pensar nas consequências sabe? Agora Jimin deve pensar que sou um egoísta, que brinquei com a sua cara. Nam, eu nunca fui tão... — procurei por palavras e nem as mais chulas pareciam suficiente para expor minha indignação. — Ah nem sei!

— Impulsivo. — determinou, me examinando com o olhar.

— É.

— Você é tão controlado e minucioso em tudo que faz, mas reencontrar seu amor não correspondido da adolescência te deu fortes gatilhos.

— Ah jura, nem percebi. — Debochei tentando amenizar a tensão, mas não consegui segurar o riso na face por muito tempo.

— Então é isso? — indagou em desdém.

— O quê?

— Você, Jeon Jungkook, o cara mais persistente que conheço, vai desistir dele assim? — Arqueou a sobrancelha, me provocando.

Não verbalizei nada, não tinha coragem de dizer algo concreto, as coisas na minha mente estavam um caos e na ocasião, pensei se minha mãe ainda estivesse viva, ela saberia me aconselhar e não teria que estar lidando com tudo tão sozinho.

Ter meu irmão e Namjoon era muito importante, mas não se compara com o amor materno que perdi tão precocemente.

Anuviado por pensamentos infelizes, o barulho do celular de Namjoon tocando, me despertou.

— Ele está do meu lado. — franzi o cenho em dúvida, mas ao colocar no viva-voz e escutar a voz de animada, característica de Hoseok, sorri.

— Bom temos duas opções. Ou ele fodeu com tudo ou o Jimin tá aí do lado. Fala oi cunhadinho! — ao escutar um completo nada, ele continuou — Fodeu com tudo né, cuzão?

— Vai se foder, Hoseok.

— Ai! — gemeu debochado — vem aqui me foder então, senhor.

Não aguentei e ri junto de Namjoon. 

— Aí bebezão, 'tô comprando passagem para Paris daqui uns dois meses, preciso organizar as coisas por aqui antes de ir.  — Hoseok disse, me surpreendendo.

— Mas e suas coisas na Coreia?

— Foda-se, família é mais importante.

— Quase me emociono. — ironizei sorrindo, realmente feliz.

— Não vai se acostumando, não viu? No fundo só estou fazendo isso para ficar na mansão. — revirei os olhos.

— Ah sim, claro. Você adora aquela merda de casa tanto quanto eu.

— Agora que Hope estará aqui daqui um tempo, bem que podíamos relembrar os bons tempos do Cries&Whispers, Jin sente falta de vocês lá e das apresentações do Jungkook também.

— Não sei, não estou no clima para isso. — dei de ombros — Mas quem sabe...

— Olha maninho, se eu fosse você, repensaria melhor as escolhas que está fazendo na sua vida, para no final não ser infeliz.

— Jimin não seria feliz do meu lado, pelos holofotes, o trabalho que tenho para fazer Candy não abrir a boca, mesmo após anos de tudo. — suspirei — Vontade de jogar tudo para o alto e me assumir agora mesmo, mas toda vez que penso nisso, meu coração acelera de ansiedade.

Foi desgraçadamente monótono como tudo ocorreu. A ligação findou alguns minutos depois e me despedi de Nam. Teria que ir para a mansão uma hora ou outra, mas vou evitar o quanto puder, por isso decidi que passaria mais uma noite no hotel. 

A chuva que caía do lado de fora do prédio era turbulenta e o céu estava escuro, ignorando essas informações, acenei na rua para o primeiro táxi que passou e entrei. O motorista jazia animado e falava do temporal, dizendo que não via a hora de chegar o verão cálido e sufocante que os parisienses tanto amam.

Deferi minha atenção para a chuva forte que caía do lado de fora, encostando a cabeça na janela e fechando os olhos, focando no som relaxante para vencer meus pensamentos por Jimin. Era quase uma batalha interna não focar em si, e a perdia todas as vezes que tentava. 

Ao chegar no hotel, decidi passar no quarto que Jimin havia se hospedado, quase que institivamente. Me sentia carente de afeto por estar agindo daquela maneira, porém, queria sentir seu cheiro nos lençóis uma última vez, olhar o quarto e ir torturando meu coração ao que pensava em tudo que vivemos ali na noite anterior. 

— Monsieur? (Senhor?) — a camareira questionou minha entrada no quarto, estava com os lençóis de cama sujos nos braços.

— Faites-leur savoir que je resterai dans cette chambre. (Avise que ficarei neste quarto).

— Mais tu ne peux pas faire ça comme ça. (Mas o senhor não pode fazer assim) — disse sem entender meu pedido. 

— Droite.... (Certo) — fui até a cômoda, catei o telefone e liguei na recepção. — Bonsoir, je suis M. Jeon. Mes réservations concernent les chambres 327 et 328. Je veux que vous annuliez la 327 et que vous gardiez la 328 pour ce soir. (Boa noite, sou o Sr. Jeon. Minhas reservas são para os quartos 327 e 328. Quero que você cancele o quarto 327 e mantenha o quarto 328 para esta noite).

— Oui! (Sim) — concordou — Avez-vous besoin d'un service de chambre? (Precisa de serviço de quarto?).

— Non. Et je ne veux pas être dérangé, quoi qu'il arrive. Merci. (Não. E não quero ser incomodado, não importa o que aconteça. Obrigado). — disse, sem delongas. Estava com dor de cabeça e não via a hora de deitar.

— Passez une bonne nuit, M. Jeon. (Tenha uma boa noite, Senhor Jeon).

Aliviado por findar aquele contato indesejado, ajudei a camareira com o restante, e quando a mesma saiu do recinto, entrei no chuveiro para tomar um banho quente e tirar a tensão do corpo.

Encarei o reflexo no espelho enquanto afrouxava a gravata azul marinho no pescoço, retirando-a e em seguida desabotoando a camisa com agilidade, vendo as marcas que Jimin havia deixado no meu peitoral.

Afastei os pensamentos pecaminosos e terminei de retirar as vestes. 

A água fervia e as paredes do banheiro estavam suadas, adorava me banhar em temperaturas altas. O toque vívido e ardente da água me lembrou de Jimin. Não teve um único momento desde sua partida que deixei de pensar nele, mesmo que odeie admitir isso.

Ao encostar a cabeça na parede, sorri descrente ao lembrar das palavras de Namjoon me chamando para ir no Cries&Whispers. Não consigo, não depois dele

Nunca fui apaixonado por ninguém além de Jimin, e dizer isso pode parecer tosco, mas é a verdade.

Minha adolescência foi repleta de inconsequências e festas, e Jimin sempre odiou quando levava o pessoal para o nosso quarto no internato. Nunca me apaixonei, trocava de pessoas tal como se troca de roupa. Era só um beijo ou só uma transa. Não precisava de emoção ou sentimentos envolvidos, era inútil e fútil. Bom, pelo menos, era assim que pensava mais novo.

Não aprendi a lidar com os sentimentos das outras pessoas, e nem queria. Sem exceções, deixava claro que se trataria apenas de ficar ali, no momento, e nada mais. Só que, encher o saco do meu colega de quarto como um perturbado todos os dias, tornou-se o ápice da minha serotonina diária. Catar seus cadernos ao tentava se dedicar ou, como um encapetado, colocar música alta no quarto, tudo isso para ter sua atenção em mim, mesmo que fosse para esbravejar o quão insuportável ele me achava, alegrava-me ao máximo.

E foi aí que fui pego na curva. Me apaixonei por Park Jimin.

Seu esforço e dedicação nos estudos se tornou tão interessante, sua expressão raivosa era atraente e sua voz me esculhambando era como o brilhantismo de Vivaldi em As Quatro Estações, apaixonante.

A ideia inicial era perturbar Park Jimin por não me deixar ficar bêbado em paz e não deixar trazer gente para o nosso quarto, mas no final quem tomou no olho do cu, fui eu. E para piorar a desgraça, Jimin namorava Yeri, que era o sinônimo de perfeição naquele colégio. 

A garota era bem educada, linda de morrer, tão inteligente quanto o Park e muito simpática. Os dois passavam os intervalos juntos todos os dias, sempre colados pelos corredores. 

A minha autoestima sempre foi instável quando o assunto é ser sincero, mas externamente, com as pessoas de fora, nunca me rebaixei, sempre demonstrei muita atitude e confiança em tudo. Entretanto, leitor, além de não ter a menor chance com Park Jimin, eu ainda tive a maior crise existencial da minha vida ao pensar na hipótese de ser gay.

Foi o combo do caos. 

Não podia ser, sempre amei o corpo feminino. Sempre adorei ficar com garotas sem frescura alguma, fossem altas, baixas, magras, gordinhas, loiras, morenas, ruivas... Não importa. O critério era: Olhei e gostei? Quero.

E então, de repente, numa noite de sexta-feira, enquanto Jimin tentava me convencer a devolver seu caderno de matemática ao que berrava na minha cara, pensei em como seria colocar aquele loiro de joelhos e sentir aquela boquinha tão malcriada, que me direcionava horríveis ofensas, mamando no meu pau, caladinho.

Ao constar pela primeira vez o que sentia, lhe devolvi o caderno e saí do quarto apressado que nem um vulto, deixando-o sem entender a minha atitude flexível em devolver o material, afinal, o Jeon Jungkook adolescente jamais desistiria tão fácil de irritar Park Jimin ao extremo. 

Lembrar do meu passado adolescente com Jimin foi muito bom durante a minha vida, um pontapé para entender o que se tratava apaixonar-se. Jimin foi o meu primeiro amor e deus sabe como queria que também fosse o último. Porém, eu precisava seguir em frente. 

Gemi em satisfação ao cair na cama desleixadamente, estava quebrado de tão cansado. Não conseguia conter meus pensamentos e logo parei para analisar o que fazia ali. Deveria ter ficado no meu próprio quarto de hotel e não ir para o que Jimin tinha ficado. Insistir em apegar-me nas emoções só traria mais sofrimento. 

Depois de devanear com uma realidade paralela junto de Jimin onde não existia meus medos e travas, peguei no sono pensando no cheiro daquele loiro marrento que tanto amo.

E bom, é aqui que começa essa história.

É importante dizer que não sou o protagonista, sou o personagem sarcástico, com humor duvidoso, sorriso bonito e o psicológico ferrado.

E os últimos três meses não foram exatamente o que eu poderia descrever como "Lar doce Lar", estava mais para teste de resistência e quem sabe, até mesmo de autocontrole.

Começando pelo fato de parecer que voltei para tudo que larguei há anos atrás.

Quando terminou o ensino médio no internato, meus avós maternos levaram-me para morar com eles, ainda na Coreia e no que dependesse de mim, passaria minha vida lá, bem longe da mansão Jeon e de tudo que fazia lembrar de Jeon Sang-hun, meu pai.

Até hoje penso em como seria se ele nunca tivesse vindo visitar a Coreia, ou melhor, se nunca tivesse conhecido a minha mãe. Mesmo que eu nunca fosse nascer, ela poderia ter tido uma vida feliz sem ele nela. Ela poderia ter conhecido alguém bom, que a amasse. 

A minha infância não foi de todo ruim, meu pai nunca me tratou mal, mas o fato de desprezar Hoseok por ser gay, me enojava. Brigar, humilhar e tratar mal minha mãe, enchia o meu coração de ódio, e com o tempo, tornou-se desprezo. Não me importo com muitas pessoas, na verdade, com quase ninguém, mas tenho pena de quem maltratar aqueles que amo sinceramente. Por isso, mesmo me paparicando nunca tratei bem Jeon Sang-hun. 

Ir para o internato foi ruim, de primeira, mas quando notei que ali não existiam problemas, mídia e holofotes, passou a ser uma libertação. Entretanto, terminar o colégio foi um tiro no meio da minha cara. Aquela avalanche voltando com tudo, e eu só queria me esconder. Não pude continuar na Coreia por muito tempo, meus avós insistiam que deveria voltar para a França e visitar meu pai. Ouvir os pais da sua mãe dizerem que você deve perdoar o assassino dela é revoltante.

Todas as vezes que vinham com este assunto a minha reação era a menos racional possível, começava a rir infame, os lembrando de tudo que ele havia feito. Não obstante, houve uma vez em que ousei perguntar:

"Acham que a filha de vocês morreu de quê? Um vento empurrou e ela caiu da escada? - ri sem humor - Por favor, não peçam para ser bondoso com aquele homem."

Mesmo com a raiva descendo como facas em minha garganta, fiz força para voltar ao meu doce lar e visitá-lo. Me senti fraco, mas por um triz implorei que meus avós maternos viessem junto, eu não iria conseguia lidar com tudo sozinho, não outra vez. Isso ocorreu pós ensino médio e foi o meu primeiro contato com a casa depois da morte de minha mãe. 

Quando a governanta anunciou nossa entrada na mansão e as portas enormes abriram-se, senti o ar faltar e minha expressão congelar. Ao sentir a mão de meu avô num ombro e minha vó no outro, respirei fundo, ainda tinha um apoio, e isso me deu força.

Todas as vezes que fui visitar Sang-hun na prisão, e não foram muitas, a maior parte da visita baseava-se em lhe ouvir dizer que sempre fui o único na família que o dei orgulho. A cada visita só conseguia sentir pena de sua situação lastimável, a raiva ainda existia nas entranhas, apesar disso, quando minha atenção desprendia de suas palavras e focava em sua condição, eu tinha misericórdia, ainda que pouco. Ele havia emagrecido muito, suas roupas jaziam rasgadas e velhas. Toda a sua fama e arrogância haviam findado, Sang-hun não tinha nada.

Meu pai a todo momento pediu que o perdoasse ao longo das visitas, porém, toda a minha compaixão desvanecia no ar quando o ouvia reclamar de meu irmão e dizer que se não fosse minha mãe em sua vida, ele ainda teria sua casa, fama e dinheiro. Na minha última visita, fui na intenção de ser a última vez realmente, não queria mais ouvir as merdas que saíam de sua boca, era demais, exigia paciência demais.

Sang-hun não me esperava naquele dia, eu sempre o visitava uma vez por mês a contragosto, contudo, naquele mês já era a segunda vez. Quando me viu, abraçou-me dizendo que não me esperava ali novamente tão cedo. Não retribui, fiquei parado esperando-o afastar-se.

— Vim para te falar uma coisa. — comuniquei sério.

— O que, meu filho? Seu avô me visitou semana passada e disse que vai fazer faculdade em Harvard, estou muito orgulhoso! Meu único filho e tanto orgulho!

— Não sou seu único filho. — protestei rispidamente.

— Não reconheço aquela aberração como filho, jamais! — ira tomou sua face e a minha também. 

— Sabe papai, por alguns momentos tive pena da sua situação. — o afastei por completo de mim — Mas o senhor merece toda a desgraça que está vivendo agora. — seus olhos arregalaram-se.

— Jeon Jungkook, eu sou seu pai! Tenha respeito por mim! — tomou postura e apontou o dedo na frente do meu rosto.

— Não reconheço essa aberração como pai... — passei os olhos por si —  Jamais.

O deixei boquiaberto com minha fala, não pensei muito ao virar e chamar o guarda em um sinal com o dedo, iria embora e não voltar nunca mais. Porém, um surto de impulsividade tomou conta de mim quando virei para si decisivamente, e disse o que, certamente, poderia ter-lhe causado um enfarto.

— Ademais, se que saber, eu também gosto de homens.

Esse foi o meu primeiro ato, não oficial, de coragem.

Deixei meus avós com a mansão e fui viver minha vida nos Estados Unidos, degustando de paz, conforto e liberdade. A fama nunca me abandonou, infelizmente, nesse ínterim, não era tão conhecido quanto na França e Coreia, isso aliviava. 

Nos Estados Unidos, morava num apartamento luxuoso e espaçoso, era ótimo. Na realidade, acho que qualquer lugar se tornou melhor do que aquela mansão, e agora, olha só que engraçado, estou passando pelos jardins de entrada ao que vejo de longe meus avós acenando animados. 

Você pode até tardar o seu destino, mas não significa que ele não irá cumprir-se. Foi o que ocorreu comigo, protelei o máximo que pude e no final, estou morando aqui novamente. 

Era um dia ensolarado e bem úmido graças a chuva do dia anterior. Trajava uma camisa cinza escura bem larga, calça da mesma cor e um tênis branco. As mãos nos bolsos ao que escutava a governanta apontar que pegassem minhas coisas no carro e os olhos apertados por conta do sol. 

Definitivamente, não estava feliz em voltar para aquela casa.

— Meu neto, está tão forte e saudável! — Sooyoung, minha vó, disse animada assim que conseguiu me abraçar.

— Está a cara da sua mãe mais do que nunca. — Vovô disse sorrindo e não consegui deixar de rir também.

No fim, talvez não fosse ser tão horrível quanto pensei, Sooyoung me assegurou que estava tudo reformado, talvez na possível intenção de me dizer que nada ali me remeteria ao passado.

— Querido, se lembra da sua amiguinha de infância, Evelynn? — Vovó questionou me puxando pelo braço.

Evelynn era a filha da governanta que trabalhava nesta casa quando eu era bem pequeno e ainda morava aqui, muito antes da morte de minha mãe. Nós brincávamos quando sua mãe não tinha com quem a deixar, até que minha mãe permitiu que as duas vivessem aqui, numa casa pequena atrás da mansão, próxima ao jardim dos fundos.

— Ah, me lembro sim. — disse sem entender bem o motivo daquele assunto tão aleatório e repentino. 

— Evelynn é a nossa governanta agora, a pobrezinha de sua mãe faleceu ano passado de câncer. — arregalei os olhos e fiquei ressentido, pois conheço a sensação. 

— Aquela moça na porta é Evelynn?

— Sim querido, está muito bonita, não é? — arqueei a sobrancelha, ao que entendia, enfim, suas intenções com aquilo.

— Está adulta. — dei de ombros.

— Senhor, deixei as malas em seu quarto e logo alguém irá desfazê-las. — A dita cuja apareceu em minha frente.

— Olá Evelynn, quanto tempo! — ela sorriu envergonhada — Não precisa, eu mesmo faço isso. Obrigado.

— Se quiser, posso mostrar onde fica o quarto do senhor. Já faz tanto tempo que não deve se lembrar. — Veio andando em meu encalço.

— Infelizmente, lembro sim. Não precisa. — falei sem olhar para trás, estranhando o fato de ela ainda estar andando junto comigo. — Sim? — parei no corredor branco, a olhando.

— Nada é que... Estava com saudade, Kook. — sorri educadamente pelo apelido da infância, afinal, a única que me distraía das brigas de meus pais, era a moça em minha frente. — Espero que se sinta em casa. — ditou por fim, e saiu, me deixando pensativo no corredor.

Depois de dar uma breve olhada na casa, toquei a maçaneta da porta de meu quarto receosamente, inspirando o ar e abrindo duma vez. Encontrava-se completamente diferente, como vovó havia me assegurado anteriormente. Fiquei feliz ao pensar em como meus avós se preocuparam em me deixar genuinamente confortável ali. 

O quarto tinha as paredes em tom de preto fosco e a principal era repleta de quadros, a enorme cama ao centro tinha lençóis cinza queimado e muitos travesseiros, parecia extremamente confortável. Um ambiente espaçoso, com luminária ao lado da cama e um abajur de luz quente numa mesa pequenina entre duas poltronas.  Do outro lado havia uma abertura para o banheiro da suíte e também um closet minimalista. 

Propus a passar a noite ajeitando tudo ao meu agrado, tomei um bom banho e relaxei de toalha na cama enquanto organizava no notebook como seria meu primeiro dia como CEO na filial francesa.

Agora, dando jus ao que disse antes, sobre os últimos três meses terem sido um teste de resistência, estava me referindo ao meu novo secretário.

Dominique é um completo incompetente.

Isso porque, me lembro perfeitamente dele me dizer, na frente de Jimin, que seria o melhor secretário que já tive. Agora entendo que era ironia, já que não é possível uma pessoa ser tão... Errada em tudo que se propõe fazer. 

No meu primeiro dia, o encontrei em minha sala, dentro do horário, com um copo enorme de chá verde em mãos, e não consegui evitar a careta ao ver que era para mim aquela gosma verde.

Chá verde? 

Eu odeio chá verde, mon dieu!

— Bonjour, M. Jeon ! J'ai apporté ton thé pour bien commencer la journée. (Olá, Sr. Jeon! Trouxe seu chá para começar bem o dia) — o loiro dizia tudo muito animado e eu sorri amarelo para retribuir sua animação, mas merde como terei um bom dia tomando esse veneno em forma de chá? 

Merci. — disse contragosto, ao passo que me esforçava para ser simpático. 

Essa foi a primeira coisa estranha que fez, porém, com o passar dos dias só piorava tudo e eu ia perdendo minha paciência pouco a pouco. 

Diferente da Coreia, na França as coisas eram muito mais calmas na empresa. Os franceses são mais preguiçosos e não se importam tanto com o trabalho, fazem as coisas na paz divina e de vez em nunca se irritam. O único momento alto do mês, era a semana de fechamento, todos tinham muito o que fazer e não havia lá muita delicadeza para tratar os colegas. Nas sextas, todos trabalhavam contentes para o final de semana e quase não havia fofoca. 

Nesse raciocínio, a única coisa que tirava a minha paz era Dominique e seus comportamentos estranhos. 

Ele fazia questão de arrumar minhas coisas milimetricamente na sala, mesmo sem pedir. Ele fazia um planner semanal, uma rotina semanal para mim, desde a hora que acordo até ir para casa. Isso é mesmo necessário? É a perguntava que rondava minha cabeça toda vez. 

Além de trazer aquela gosma horrível embalada em copo todos os dias. De onde ele tirou que gosto de chá verde? 

Era ele virar de costas e eu jogava o chá fora e ignorava seu planner, até porque trabalho melhor improvisando e com picos de energia. Rotinas quase sempre dão errado no meu modo de trabalhar. 

Buscava paz interior para lidar com suas esquisitices, entretanto, tudo tem limite na vida, e a gota d'água foi quando ele chegou na empresa com quase UMA HORA DE ATRASO. Nem Jimin, e suas artimanhas em me engabelar, chegava tão atrasado assim. 

— La prochaine fois que tu seras en retard, tu pourras rester à la maison. (Da próxima vez que você se atrasar, pode ficar em casa mesmo). — estranhei ao ver o alívio em sua face com minhas palavras. Putain, ele é louco ou o quê? 

— Merci de votre compréhension, M. Jeon. (Obrigado pela compreensão, Sr. Jeon) — agradeceu sorrindo. 

O olhei estático por breves segundos, não acreditando em tamanha falta de noção e desatinei a rir descontroladamente, debochando, óbvio.  

— Je ne pense pas que tu comprennes. (Eu acho que você não entendeu). — levantei e parei em sua frente, já bem sério. — Je ne tolère pas les retards. (Eu não tolero atrasos) — disse o olhando — Si vous êtes encore en retard, vous n'avez même pas besoin de revenir ici. (Se você se atrasar de novo, nem precisa voltar aqui mais). 

Seus olhos arregalaram-se e a respiração ficou descompensada, perdendo toda a manha anterior. 

— Ficou claro para você agora? — disse em inglês, o vendo assentir rapidamente. Revirei os olhos e saí de sua frente, voltando a sentar.  — Ah, e pelo amor de deus, está proibido de mexer nas coisas da minha sala ou trazer aquela gosma verde, eu gosto de café. 

— Mas Sr. Jeon, todas as coisas que ando fazendo foram por indicação de Park. — confidenciou baixo, atraindo toda a minha atenção para si. Como é? 

— O que quer dizer com isso? 

— O seu antigo secretário, o Sr. Park, quando estava aqui me passou algumas recomendações de coisas que o senhor gosta para eu conseguir te receber bem. — arqueei a sobrancelha sugestivamente. Passava por minha cabeça uma ideia, mas Jimin não faria o que pensei. 

— E quais foram as recomendações? — questionei apoiando os cotovelos na mesa e prestando atenção em sua fala. As jujubas de Jimin fizeram falta agora.

— Disse que o Sr. é perfeccionista, que gosta de rotinas e coisas padronizadas; Que odeia café e ama chá verde por conta de sua dieta e que o senhor não é tão severo quanto a atrasos. — falou inocentemente, enumerando nos dedos ponto a ponto. 

Jimin, sua cobra peçonhenta! 

A cada ponto falado, a vontade de gargalhar crescia mais um pouco ao passo que a surpresa em saber que Jimin havia mentido descaradamente para Dominique, me deixava em choque. 

Park Jimin você nunca tinha jogado tão baixo assim e mesmo sendo errado, achei fofo que provavelmente ele havia feito aquilo por raiva e ciúmes. Aquele baixinho rabudo era pior do que pensava, e saber isso o deixou mais sexy na minha cabeça. 

Seria muita maldade rir na cara do pobre coitado em minha frente, então mesmo com os olhos cheios de lágrimas e a cara toda vermelha querendo rir, forcei uma seriedade inexistente no momento. 

— Ele deve ter se equivocado. — respirei fundo ao dizer "equivocado" — Esqueça tudo que Park lhe disse e preste atenção no que vou te recomendar agora. Odeio rotinas fixas, odeio chá verde e não suporto atrasos. 

— Me perdoe pelas atitudes inapropriadas, Sr. Jeon, não irão se repetir. — se curvou em respeito. 

— Certo, agora preciso que vá até a sala de Namjoon e o chame aqui com urgência. 

Assim poderemos rir da sua cara. Não falei, mas pensei. 

O vi levantar envergonhado e acanhado, ao que a porta se fechou comecei a rir lembrando do loiro desalmado que inventou mentiras horrendas sobre mim para aquele coitado. 

— Aconteceu alguma coisa? — Nam questionou ao entrar na sala. 

— Você não sabe o que aconteceu... — falei rindo e outro me encarou sem entender nada.

Liguei para Hoseok e ficamos os três rindo do ocorrido. 

— Ele deve ter feito isso por raiva de você. — pontou Hoseok. 

— Mas Dominique não tinha nada a ver com o problema deles. — Namjoon tem um ponto muito bom mas eu tinha ficado tão abolhado com aquilo, que nem liguei. 

— Foi um ato de ciúmes. — disse convicto. 

— Vivi para ver  o Jungkook boiolão por alguém. — meu irmão disse com uma voz forçadamente fofa. 

— Nada a ver, só estou dizendo a realidade. — dei de ombros. 

— Ficou bravinho, foi? 

— A sua sorte é que ainda está do outro lado do mundo, Hoseok. — ameacei. 

— Também te amo. — gargalhou — Mas me diz uma coisa, tem certeza do que fez? Você não parece feliz, Jungkook. 

Ah jura? Deve ser porque não estou mesmo. 

— Ainda tem como você resolver as cois- 

— Hoseok, quando tiver uma vida amorosa e souber como é complicado, deixo você dar pitaco na minha. 

— Isso foi bem passivo agressivo. — Namjoon que até então estava quieto, comentou venenosamente. 

— Você tocou no meu ponto, maninho. Retire o que disse, anda! — fingiu chorar — Acho que fiquei pra titia. 

Meu coração é o único que sabe quão doloroso foi o meu marrento ir embora. Queria ter dito tantas coisas para ele, mas no momento, só consegui dizer adeus. Queria ter lhe dito como fica lindo quando está sério trabalhando, seu sorriso meigo que nada condiz com sua personalidade, como fiquei olhando para as paredes daquele quarto de hotel sentindo tudo queimar em arrependimento dentro de mim. E no fundo, por trás de toda a dor, tenho cada vez mais certeza de que não mereço Park Jimin. 

Evitava pensar em Jimin a todo custo e mesmo tentando ocupar o máximo possível meus dias, quase tudo que fazia me lembrava rapidamente do loiro. E depois de muita insistência, decidi ceder ao pedido de Namjoon e visitar o Cries & Whispers, como nos bons tempos. 

Já era noite quando enviei uma mensagem para meu amigo avisando que iria ao clube, porém não tinha vontade de me apresentar, como costumava fazer antes. 

Cries & Whispers é um clube fetichista no qual fiz parte por um bom tempo antes de parar com as idas e vindas para a França e ir para a Coreia de uma vez assumiu o cargo de CEO. Antes de conhecer o mundo do BDSM eu não tinha ideia de como o prazer poderia ser potencializado com a doce e gostosa, dor

Nunca tive relacionamentos duradouros, e quando iniciei no mundo fetichista lembro que por ter rosto de boneca e ser jovem, o estereótipo de submissão foi o que colocaram em mim. 

Não tinha muita noção de nada ainda, era literalmente um iniciante em todos os sentidos, e ver meu amigo zombar de mim por ser baunilha até era engraçado, porém, como tudo, aprendo bem rápido. 

Todas as sextas, eu mais do que ninguém ficava vidrado observando a apresentação da Dominatrix mais famosa do clube, Kate. Além de linda, era sempre um enorme prazer observar como homens musculosos e mais velhos se prostravam de joelhos em obediência para si. Na maioria das vezes, tinham os olhos vendados e ficavam de quatro com uma coleira no pescoço, ao que Kate tinha a mania de afundar sua bota de salto e couro, em suas costas. 

Nam pensava que minha devoção era em imaginar eu ali sendo um submisso seu, contudo, acho que o surpreendi quando Kate me propôs ser seu submisso na apresentação da próxima semana e aceitei sem resistências.  Meu amigo caiu como um patinho, sem sequer imaginar o pensamento diabólico em minha cabeça. 

Veja bem, gosto quando tudo soa a minha maneira de fazer, e sendo nada modesto no que vou dizer, leitor, sou muito bom planejando, organizando e comandando as coisas. Agora junte tudo isso com um complexo insuportável de superioridade e sarcasmo ácido. Um grande filho da puta, como meu irmão me apelida carinhosamente.  Ou você pode chamar de perturbado, que foi o apelido que Jimin me deu na adolescência. 

Adorava Kate e suas apresentações, ainda assim, também adoro desafios, e sabia bem como Kate agia com malcriados, por isso, iria lhe testar sem pensar nas consequências futuras. 

Idiota? Sim.

Irresponsável? Completamente.

Me importo? É tão óbvia a resposta que vou lhes poupar dela. 

Não nasci para ser mandado, e talvez você pense agora que teria sido mais fácil então que eu escolhesse um submisso para domesticar na apresentação, mas isso, na minha cabeça da época, não era um desafio a altura para Jeon Jungkook. 

Nunca esperei tão ansiosamente uma sexta-feira à noite em minha vida, confesso. 

Meu tronco estava nu, o cabelo bagunçado e como de costume da Dominatrix, pediu que ficasse de joelhos, e eu fiz tudo como um bom menino obediente. Ao que senti as mãos gentis de Kate vendarem meus olhos, não consegui evitar o sorriso desgraçado que saiu de meus lábios. Nem estava acreditando no que ocorria. 

Previamente já havia sido feita a abertura da noite, a nossa não foi a primeira apresentação, e como sempre, ela foi recebida com euforia pelo público. Anteriormente, tínhamos conversado e estabelecido algumas regras, ela pontuou que eu deveria entrar na apresentação apenas de boxer, ficar ajoelhado, de frente para a parede, braços para trás e cabeça baixa, lhe esperando enquanto a ansiedade e nervosismo me corroíam, e bom, foi o que fiz. 

As luzes estavam apagadas e uma música sensual tocava de fundo, eu não conseguia assimilar bem e tentava manter o foco na audição. Minha senhora estava me vestindo com algo e senti uma coleira ser colocada no pescoço junto. Quando minha visão foi liberta, jazia um espelho na frente e pude vislumbrar com certa curiosidade que vestia um harness de couro, e a mulher estava por trás, observando minhas feições e parecendo gostar da reação que tive. Foi a primeira vez que me vi materializado como um fetichista, porém, algo ainda estava errado em meus pensamentos. 

A plateia mantinha-se quente e focada em cada movimento ao que observei de escanteio, e foi ali que começaram os jogos de sedução. Não estava arredio ou assustado como normalmente os submissos iniciantes ficavam, tinha apenas curiosidade genuína pelos próximos passos, e Kate notou isso. Ela começou deslizando as mãos por meu corpo calmamente, fazendo-me sentir na pele o couro, sussurrando em minha nuca que precisava escolher uma palavra de segurança. 

A palavra que escolhi foi Pêssego. 

Tinha ciência que ela procuraria um jeito inicial de mostrar que lugar de submisso é no chão, e da forma mais genérica possível, mandou que eu massageasse seus pés, dando um sentimento de superioridade para si. 

Eu odeio pessoas genéricas e nada originais, isso me cansa profundamente. É sério? Tão fácil como 1+1 ser 2, um dominador começar pelos pés é o primeiro passo mais eficaz para iniciar a brincadeira, mostrando e acostumando o submisso a ficar sob os pés do dominador, inferior a ele. 

Esperava mais de você, Kate. Tsc.

— Está falando sério? — prendi a língua nos lábios, sorrindo maldoso. 

Kate não gostava de ser testada em suas sessões, eu já havia notado isso. Não foi surpresa então quando senti meu rosto arder pelo tapa que ganhei e ter a face segurada por suas mãos quentes, olhando-me de cima. 

Agir daquela moda comigo só pioraria as coisas, e foi o que ocorreu quando a encarei debochado. Mesmo tendo o rosto segurado firme por sua mão, eu não estava para brincadeiras e queria testar seu autocontrole. 

No começo, pensei em ceder, juro, mas conforme discorria, meu tesão só aumentava. Ela me xingava, e até utilizou alguns brinquedos comigo. Diferente de Brats, submissos focados na disciplina, eu não queria ser conquistado ou controlado por ela. Após bons minutos de preliminares, percebi que não estava me encaixando tão bem quanto deveria ou como Nam me disse que seria. 

Estava excitado, obviamente, porém, queria muito testar a última barreira que faltava para tirar minha dominadora do sério. E eu fiz. 

Quando Kate abaixou-se para ligar minha coleira numa corrente, sorrindo minimamente ao ver minha excitação entre as pernas, segurei em seu braço, a impressionando e deixando a plateia em silêncio. Antes que pudesse me punir e chamar-me de insolente, a segurei forte e levantei do chão, fazendo todos chiar em choque, colocando minha senhora, de joelhos. Com certeza foi um choque para a mesma ver o que eu estava fazendo consigo, mas foi tudo tão rápido que ela mal teve tempo de se recompor. 

— Eu sempre imaginei que você ficaria melhor nessa posição, Kate. — segurei seu ombro com a destra e acarinhei seu rosto com a canhota, a prendendo ali, ao que me fitava descrente. 

Procurei repulsa em seus olhos, e tudo que encontrei foi excitação e uma grande surpresa. 

Ela poderia ter feitos inúmeras coisas para tomar o controle novamente. Puxar a guia da corrente, já que ainda estava presa na coleira em meu pescoço, poderia pisar em mim com suas botas como fazia sempre com outros subs ou até mesmo me punir por tamanha falta de respeito com minha dominadora. No entanto, tudo que vi foi silêncio, esperando minhas próximas atitudes que nem uma cadelinha. 

Retirei a coleira de meu pescoço, decidindo permanecer com o harness e plantei um beijo em sua bochecha ao que colocava a coleira no seu pescoço, a ouvindo lamuriar perdida:

— O que pensa que está fazendo, Kook? — sorri em resposta. Seu tom de voz era irritado, mas eu sabia que no fundo havia gostado, as reações de seu corpo quando lhe tocava evidenciavam isso. 

— Brincando com a minha senhora. — desdenhei no "senhora". — Pode me dizer, você está gostando, não é? — meus dedos gelados tocaram seus mamilos eriçados, a fazendo resfolegar pelo contato e isso a desarmou completamente, mesmo que ainda estivesse receosa. Talvez nunca tenha ficado na posição de submissão antes, pensei comigo. 

Após torturar seu corpo com movimentos lentos e provocativos, levantei em sua frente, puxando rápido a corrente em minha direção, fazendo seu rosto parar em minha excitação. 

— Sabia que nessa posição eu poderia enfiar meu pau todinho na sua boca até engasgar? — puxei seus cabelos para perto da virilha, a sentindo suspirar ali. — A dominatrix na verdade é uma putinha? Não esperava menos de você, Kate. Tão safada vindo pedir para me adestrar e ainda achou que conseguiria. — ri de sua cara - Quer mais do meu pau? Vou enfiar ele todo em você. 

Não me importava mais com a plateia, e nem Kate. A partir dali a sessão fluiu como água percorre o rio e o vento segue um caminho. Finalmente me senti pertencente naquele espaço e Kate acabou descobrindo que era bem versátil, switcher

Desde aquele dia, me aprofundei totalmente no BDSM, participando de eventos, jantares e até festas. Kate e outros me ajudaram muito no processo de desenvolvimento, até o patamar de todas as sextas disputar público com a mesma nas apresentações. 

E mesmo após alguns anos...

O lugar continuava praticamente igual, o dress-code elegante e libertino contrastando, era a sua marca registrada graças ao bom gosto dos Kim. Porém, mesmo que já tivesse passado mais de um mês após tudo, eu ainda não conseguia ser que nem antes.

Desde que cheguei, fiquei sentado na área do bar olhando o show de strip junto de alguns colegas. Encarava a bebida no fundo do copo com certo desinteresse, não fiquei tão bem ali quanto achei que estaria. Eu vestia um colete de couro preto, com zíper em metal, fechado até metade do peitoral, deixando os braços e tatuagens livres, botinas pretas e calça da mesma cor.

A maioria das pessoas estavam ocupadas conversando, bebendo, assistindo alguém ou se encaminhando para a masmorra no piso inferior. Parecia que somente eu encontrava-me no absoluto no tédio.

Cada vez mais cheio e barulhento ficava o local, e eu comecei a pensar em ir embora. No entanto, senti uma aproximação do meu lado esquerdo, encontrando um rapaz alto, de olhos verdes e cabelo caramelo, muito bonito e carismático.

— Aimeriez-vous prendre un verre? (Aceita uma bebida?) — questionou ao que sorria sugestivamente. De esguelha constei que não havia coleira em seu pescoço ou outro adorno que pudesse significar compromisso D/s com outrem.

Após um assunto fajuto iniciado, descobri que seu nome é Artur e tem 22 anos, essas foram as informações que o mesmo me deu. Após aceitar a bebida e iniciar uma conversa genérica ao que se conhece alguém, começaram alguns flertes descarados por parte do outro. Ele era descarado em sua atitudes, eu o disse que não queria ser tocado quando tentou aproximar-se dos meus bíceps.

Na minha visão como dominador, o submisso precisa merecer as coisas, até um simples toque. O rapaz tinha sido muito rápido para o meu gosto e eu não apreciava isso nem um pouco. A sutileza nos atos leva ao delírio, enquanto a pressa estraga a construção de um clima quente.

Mesmo que eu estivesse disposto a sair da zona de conforto, coisa que não estava, já era ali o primeiro sinal de que não haveria sinergia com ele. Artur, de fato, muito lindo, encantador, no entanto, observo bem meus projetos de parceiro, independente se for para levar adiante ou não com algo sério.

Ter alguém que dance na mesma velocidade e sincronia que você no BDSM é a coisa mais importante para mim depois do SSC, e é realmente um achado encontrar isso.

— Pourquoi es-tu si silencieux? Je ne peux pas au moins toucher tes bras forts? (Por que o senhor está tão quieto? Não posso ao menos tocar seus braços fortes?). — fez um biquinho forçado nos lábios, ri desacreditado de tamanha insolência.

— Tu ressembles à une petite salope nécessiteuse. ( Você parece uma putinha carente). — soprei em seu ouvido, ao que segurava sua mão tentando me tocar. — Et être ainsi insolent ne vous attirera que du mépris de ma part. (E sendo insolente desse jeito não vai conseguir nada de mim além de desprezo).

Ele ficou calado por alguns instantes, claramente na intenção de rever suas atitudes, e isso foi muito engraçado. Aos poucos, mudou sua tática, voltando para a conversa e estava até bem agradável seu assunto. A afinidade foi surgindo naturalmente conforme o tempo discorria. Minha mão acariciavam sua coxa com brutalidade, apertando a carne gostoso ao que ele falava entre arfares sobre seus maiores fetiches. Estávamos próximos e ele veio hesitante ao pé do meu ouvido dizer sem vergonha alguma:

— Je vous ai aimé, M. Jeon. Que pensez-vous qu'on programme quelque chose?(Gostei de você, senhor Jeon. O que acha de marcarmos algo?) — sua voz aveludada soou como uma faca nos meus ouvidos.

Com aquela pergunta eu pareci despertar. As mãos em sua coxa tensionaram e eu me afastei de supetão, o deixando confuso. Todo o clima criado havia se dissipado para mim e eu havia broxado de corpo e mente, aquilo nunca havia ocorrido antes. Suas palavras me fizeram lembrar de Jimin, e mesmo que seja tosco, senti como se estivesse traindo os sentimentos que nutro por ele. Ter ciência do que havia acabado de ocorrer fisicamente, me deixou sem reação. 

Em meu estado normal, sem broxar e sem outro nos pensamentos, colocaria Artur de joelhos perto de minhas botas na intenção de o fazer beijá-las, afinal, o garoto precisava ser posto no lugar. Contudo, tudo que fiz foi me desculpar e ir embora com uma sensação horrível no peito. O que ocorria comigo?

Já dentro do carro na calçada, suspirei em cima do volante ao ver a mensagem de Namjoon dizendo que justo naquela noite não pôde comparecer no clube devido a um compromisso que teve com a família Kim.

É real oficial, eu sou puta de um gado, até o pau falhou. MON DIEU!

O mini Jeon falhou apenas da adolescência e foi uma única vez. Me sinto frustrado com tudo. Os meses passam e mesmo que a vida pareça caminhar bem, ainda é uma felicidade incompleta.

Na mansão as coisas discorrem bem. Quarta-feira é o dia de assistir filme na sala de cinema junto de meus avós, todas as quintas fazemos a noite da leitura na biblioteca e vovô conta histórias de terror ou damos continuidade no nosso RPG, vez ou outra acabava engatando em algum assunto com Evelynn e as coisas na empresa caminhavam perfeitamente depois de Dominique parar de me trazer chá verde.

Mesmo tentando me ocupar, ainda sobrava tempo para pensar em como Jimin podia ser tão belo ou o que está fazendo agora? Ele está bem? Perguntas assim rondavam minha cabeça diariamente. Por isso, fiz a coisa que todo adulto maduro faz quando quer esquecer alguém:

Se atola de tarefas.

Fuçando pelas redes sociais encontrei que Paris promoveria um torneio local de xadrez no fim de semana, e isso me pareceu a escapatória perfeita. O torneio seria no estilo rápido, com seis rodadas de 16 minutos para cada jogador, e o competidor que conquistasse mais pontos, era declarado campeão. Fácil.

Eu sei jogar xadrez desde criança para estimular a cognição. O xadrez é bom para a concentração, raciocínio lógico, foco e até resolução de problemas. Tem vezes que utilizo o tabuleiro para pensar, e pode parecer loucura, mas ajuda bastante, principalmente em situações que dependem grande carga emocional.

Não preciso nem dizer que não se foi pensado sequer duas vezes para participar do campeonato, certo?

Além de tirar o foco de certos loiros marrentos, acabei fazendo alguns amigos que participavam arduamente dos torneios e até eventos de xadrez. Gabaritei minha presença em tudo que aparecia para fazer ao longo das semanas.

De repente, passaram-se três meses, e após um dia exaustivo na empresa, cheguei em casa bem tarde.

— Uma hora dessas, Jungkook? — Sooyoung, vulgo vovó, parou na porta de meu quarto.

— Semana de fechamento. — dei de ombros, me estirando na cama de sono, quase cochilando.

— Menino, você não vai dormir assim! — deu dois tapinhas na minha bunda. — Jungkook, eu vou pegar o chinelo para você! Estou avisando, já 'pro chuveiro que vou mandar preparem algo de comer e trarei aqui.

Resmunguei bravo e levantei, catando em minha cama a toalha e o pijama que provavelmente algum dos empregados deixou pronto para quando chegasse, me trancando no banheiro.

O celular começou a tocar alto e saí procurando nos bolsos do terno, atendendo a ligação de Hoseok.

Dis moi, irmãozinho. — coloquei no viva voz e retirei minhas vestes, entrando na banheira preparada, bem quente e cheirando camomila com erva-doce.

— Já fiz tudo que precisava aqui e liguei para avisar que chego em três semanas.

— Que bom, agora terá mais alguém 'pra me atazanar. — falei sério.

— Nossa, seu ingrato!

— Foi claramente ironia, Hobi. — dei risada e encostei a cabeça no azulejo, aproveitando a tranquilidade.

— Como tem sido por aí? Quase não nos falamos.

— Ainda é estranho morar aqui... — respondi sinceramente, abrindo os olhos e pensando nos pormenores. — Nada aqui se parece como antes, mas isso não me impede de ficar divagando olhando para a escada e as paredes. — pontuei — Principalmente a escada...

— Creio que será bem difícil para mim também. — suspirou — Tento não pensar, mas é inútil.

— Sabe que não precisa fazer isso. Eu sei que... Não se sente confortável aqui.

— Não fale asneiras, Kook. Você é meu irmão, e estarei com você no que precisar. — ri fraco, me reconfortando naquela informação.

— Você acha q-que ele esqueceu de mim? — brinquei com os pontinhos de água na banheira, perguntando com receio.

— Você quer que ele esqueça?

— Não. — me martirizei em pensamento.

— Então porque continua sofrendo que nem um mané e não tenta resolver as coisas? — perguntou o óbvio.

— Ele me odeia, Hoseok.

— Precisa parar de preencher o vazio com suposições.

— Mas...

— Sem mas, eu tenho razão. — debochou -—Três meses não foram o suficiente para você perceber o óbvio?

— Óbvio?

— Sim. Você anda se atolando até o rabo de trabalho, coisa que nunca fez; Mal fala comigo ou com Namjoon, parece até fugitivo; E vovó me ligou dizendo essa semana que você parece um adolescente revoltado quando está em casa, se tranca no quarto e mal conversa, a não ser que te puxem para fazer algo.

— É cansaço. — me expliquei.

— É amor incubado.

— Teu cu.

— O seu, esse fedido! — não aguentei a seriedade e sorri. — Olha só, ou você dá um jeito nesse teu não-relacionamento ou eu meto um chutão nessa sua bunda malhada até tomar jeito. Está ouvindo?

— Eu não sei o que fazer, Hoseok. — choraminguei triste. — Estamos a milhas de distância, ele está completamente fora do meu alcance.

— Jungkook... — disse incerto, como se pensasse — Sofri por muito tempo negando quem e o que eu sou, não quero que faça isso com você. — ouvi sua voz falhar e me encolhi na banheira, colocando a cabeça e braços nos joelhos. — A culpa não foi só de Sang-hu-

— Foi sim. — disse com mágoa.

— Ele teve uma boa parcela de culpa no meu processo de aceitação, mas eu também me sentia... — parou e respirou — Me sentia nojento.

— Hobi... — senti uma lágrima descer por minha bochecha.

— E Jungkook? — me chamou choroso.

— Pode f-falar.

— Você não é nojento, nada falta em você, está me ouvindo? — desabou completamente a chorar ao que falava, e eu senti meu coração esfarelar na água quente. — Você não é um lixo e Deus ama você do jeito que é. — comecei a chorar consigo, sem mais controlar a emoção de alívio que ia tomando meu corpo por completo, o relaxando. — Gostaria de ter escutado tudo isso alguns anos atrás, porém, você tem alguém para te dizer isso agora e eu não vou te deixar sozinho nessa jamais.

Essa noite escura (não fique sozinho)
Assim como estrelas (nós brilhamos)
Não suma
Porque você é importante

- Mikrokosmos - BTS

— Que droga, Hoseok. — ri fraco, limpando as lágrimas.

— O que foi?

— Você me fez chorar.

— Grande coisa. — riu — Agora presta atenção. Comece pela distância.

— O que?

— Resolva o problema da distância de vocês.

— E como faço isso? — uma ponta de esperança surgiu em meu coração.

— Ah Jungkook, bota esse seu cérebro malhado de whey para pensar né! Querer tudo de mão beijada é foda, né paizão! — a piada aliviou o clima anterior.

Após ouvir sua doce resposta, revirei os olhos e mesmo após desligar a ligação, me secar e jantar, fiquei pensando seriamente em suas palavras, com o coração acalentado.

Como eu iria reduzir a nossa distância, Park Jimin?

Claro que a distância não é o único problema, mas o resto eu posso verificar depois. A cada dia que passa sinto que o meu destino é Park Jimin e não posso deixá-lo escapar por mais nenhum milésimo de tempo. Mesmo que precise, enfim, lidar com os meus monstros interiores para darmos certo. Eu não quero mais ficar longe do meu amor.

.

Apontei que Dominique colocasse meu café na mesinha e cancelasse toda a minha agenda daquele dia, afinal eu tinha prioridades. Hoseok havia enviado uma mensagem dizendo que já tinha chegado na mansão e no momento, conversava com nosso avós. Fiquei feliz com a notícia, mas decidi manter o foco no planejamento.

Logo pela manhã, levei meu tabuleiro de xadrez dentro da maleta, rumo ao trabalho. Passei grande parte da manhã sobrevivendo de café durante o período que resolvia pendências no e-mail corporativo. A tarde foi tranquila, com meu tabuleiro estirado na mesa ao que me colocava para pensar fazendo um roque nas peças brancas.

A única coisa que Jimin e eu temos em comum agora é a JZ, portanto, de alguma maneira que ainda não sei, é daí que vou tirar minha solução. Vamos lá, Jungkook... O que temos sobre a JZ?

Enumerando:

Empresa multinacional de tecnologia;

Bem falada na mídia;

Grande renome dentre os ricos empresários;

Jantares mensais da mesa de acionistas;

Festa de aniversário anual em alguma filial;

Parceria com marc-

CALMA AÍ!

FESTA DE ANIVERSÁRIO ANUAL EM ALGUMA FILIAL!

É isso! É disso que eu preciso!

Derrubei todas as peças do tabuleiro, muito animado com a ideia que tive. Catei o telefone na mesa e chamei Dominique em minha sala o mais rápido possível.

— Excusez-moi, M. Jeon. De quoi avez-vous besoin? (Com licença, Sr. Jeon. O que precisa?). — chegou avoado.

— Je veux que vous appeliez l'associé majoritaire, Lee Taemin et que vous lui disiez que cette année la branche française serait très heureuse d'organiser la fête annuelle. (Quero que ligue para o sócio majoritário, Lee Taemin e o fale que esse ano a filial francesa estaria muito feliz em conceber a festa anual).

— Et s'il disait non ? M. Jeon, la fête annuelle a lieu à un endroit choisi par les membres. (E se ele disser não? Sr. Jeon, a festa anual é realizada em um local escolhido pelos sócios.). — sorri ladino diante sua dúvida.

— Dans ce cas, vous lui demanderez quel est son prix et je paierai le montant nécessaire. (Nesse caso, você perguntará qual é o preço e eu pagarei a quantia necessária). — disse convicto.


.


Não foi difícil conseguir a aprovação de Lee Taemin, o mesmo me enviou um e-mail dizendo que estava encantado com o meu convite e não via a hora de se aventurar por Paris, me dando total liberdade criativa para o local da festa e preparações.

Certeza que esse cara está apaixonado. Foi o que pensei quando li o texto entusiasmado do herdeiro Lee.

Sem nada no meu caminho para colocar em prática o plano, comecei a pensar aonde realizaria o evento. Conhecia muita gente influente em Paris, pessoas da mídia, amigos antigos, portanto, arrumar um local prestigiado não era um trabalho árduo. No entanto, é complicado vencer uma batalha em águas misteriosas.

 — Poderia ser aqui na mansão, é grande, tem um salão de festas espaçoso e poderíamos organizar tudo nos mínimos detalhes, meu querido. — Sooyoung disse, ao que me via pensativo no sofá menor. — Evelynn é a governanta da casa e conseguiria distribuir bem as tarefas. — sorriu para a moça parada na entrada do cômodo e Hoseok, mesmo alheio ao assunto, acenou concordando. 

De início, achei uma ideia horrível. A mansão não me dá boas lembranças e eu queria que fosse um dia especial, no entanto, foi tanta a insistência por parte de Sooyoung e Evelynn, que me dei por vencido. Hoseok participou da algazarra só para me irritar, como sempre.

Taemin passou nas recomendações do e-mail que a festa precisa sempre de um tema, por conta disso, decidi me espelhar de referências nos bailes franceses do século XIX.

E assim nomeei a festa como "Nuit des Roses" ou Noite das Rosas.

A ansiedade percorria cada célula do meu corpo, como um palito de fósforo aceso e jogado no chão infestado de gasolina. Cada molécula vibrava em um sentimento que nunca achei que fosse ser capaz de sentir por alguém. Tão delicado, dócil e... Puro.

Amor.

Jimin é a minha linha fora da curva, minha anomia, minha inspiração, eu o amo demais para deixá-lo partir.

Existe a possibilidade de ter reconhecido isso tarde demais, conquanto, desistir não é uma opção. Conversar com Hoseok sobre os meus receios foi o empurrãozinho que precisava para tomar coragem e deixar de sofrer. 

Me coloquei a pensar em como gostaria que fosse o grande dia, por isso ao anuir que a construção da mansão era bem antiga, aos bailes franceses, tive uma ideia mirabolante.

O termo "baile" surgiu na idade média e foi utilizado na época no contexto da literatura e amor cortês, como forma dar um novo nome para a dança, promovendo um esquecimento passageiro da realidade. Onde, naquele tempo, o soldado oriundo da guerra deixava, por algumas horas, o mundo caótico e bélico para adentrar na esfera da elite feminina. O baile é repleto de elementos, como a riqueza, elegância e o domínio da arte de dançar, e eu queria trazer tudo isso no meu evento.

Claro que, inicialmente, o baile ficou conhecido como uma festa aristocrática e luxuosa, ademais apenas o burgo participava. Contudo, atualmente, dar um significado para esse tipo de festa, é muito esparso.

Agora trazendo essas informações para a realidade do meu país, após a Revolução Francesa o significado mudou bastante. Até porque, foi colocado que ir ao baile era evidenciar a distância surreal que separa o mundo real, que se era monótono, para uma realidade mágica, uma noite feérica. Em outras palavras, esse tipo de comemoração passou a lembrar o antigo regime autoritário de Luís XIV, selecionando a casta da nobreza para essas festas, ao que o povo passava fome e não tinha sequer pão para alimentar-se.

Aproveitei-me dos traços de velha transcendência que a mansão possui e comecei os preparativos. Encomendei objetos e adornos romanescos, deixei nas mãos de minha vó e Hoseok o cuidado em arrumar vestimenta para os empregados e de contratar musicistas para tocar, Evelynn ficou ocupada em direcionar o jardineiro, a cozinheira e os mordomos para suas respectivas tarefas. Enquanto eu, me propus a planejar os convites e ser bem específico no dress-code da festa. Ah e claro, para completar a fantasia, todos os convidados seriam buscados numa limousine em suas respectivas casas.

Tudo caminhava perfeitamente, até a escolha do tema da festa foi calculado. Bailes são a perfeita ocasião para iniciar duas coisas, de acordo com a alta sociedade parisiense: Um batizado para o mundo e para o amor, onde, além de pessoas, circulam desejos e história.

E assim ocorreu, as semanas passaram rápido por conta do trabalho enorme em planejar tudo, e logo chegou o grande dia.

Passei as mãos outra vez no terno vermelho bordô para ajeitá-lo no corpo perfeitamente, colocando o lenço bordado no bolso e arrumando o adorno dourado, cravejado em rubi, com o símbolo da família Jeon, no tecido do paletó. Meu cabelo estava arrumado despojadamente e coloquei uma argola preta bem pequena na orelha direita para dar o charme final.

Ao descer as escadas, o som do violino foi o primeiro que se fez presente e o salão já continha um bom número de convidados. De escanteio, alguns jornalistas e fotógrafos alocavam também, fazendo algumas perguntas para os sócios e outros convidados fazendo pose em seus vestidos elegantes.

Meus ouvidos foram preenchidos docemente com a melodia instrumental de Someone You Loved.

Sem me importar com ninguém, passei os olhos para baixo procurando o meu amado, e não o encontrei.

Será que ele vem?

Meu coração apertou em pensar na hipótese de Jimin não vir. Caso assim fizesse, eu não teria outras chances de reverter a nossa situação e isso me entristecia em níveis atormentadores.

No meio da escada, fui apresentado por Evelynn ao centro, sendo recebido com aplausos por todos os convidados presentes, que logo viraram do que faziam para me receber. Pelo visto, foi uma ótima escolha o tema.

Fui acalorado de pessoas até o ponto alto do salão, um trono para a minha pessoa, o anfitrião da festa.

Os primeiros a cumprimentar-me de perto foram os sócios coreanos, alegando que estava tudo muito bonito, os jardins bem cuidados e iluminados e que a minha presença fazia falta na matriz, porém, alegando que a gestão ia bem por lá também.

Quase revirei os olhos com a última fala. É óbvio que a gestão vai bem por lá, é Jimin o CEO.

Assim transcorreu a noite por uma hora. As comidas eram servidas pelos garçons andando em vestes finas e luvas brancas, com uma bandeja prata equilibrada no braço. Todos estavam aproveitando o espaço, socializando, dando entrevistas, afinal, havia muitas pessoas famosas e importantes no evento. E eu? Bom, rodeado de colegas, conversando alegremente, mesmo que por dentro a ansiedade pela chegada de Jimin me desprendia a atenção a cada átimo de tempo.

(dá play aí e confia no processo)

Quando não se tinha mais ninguém para chegar e as enormes portas abriram-se, senti algo diferente, e parecendo loucura ou não, soube que ele havia chego.

No momento de sua anunciação, me encontrava na direção da porta na qual entrou, porém, uma enorme multidão de convidados tampavam a visão por suas danças bem ao centro, e o trono no qual estava sentado como um rei, ficava no final do salão.

(não consegui achar foto melhor mas o espaço em si define bem a distância. E a mansão não é bem assim tbm)

Minha roupa era destoante de todos ali por ter uma cor vívida e forte, diferente dos homens trajados, em sua maioria, de preto e as mulheres com vestidos em cores pastéis ou delicadas.

Procurei não demonstrar nervosismo e prestar atenção no que Namjoon falava ao meu lado, só que quando virei para frente novamente, mesmo com aquelas pessoas dançando sincronicamente, com as mulheres segurando e girando seus vestidos...

Eu o vi, e ele me viu também, no mesmo instante.

Cada parte do meu corpo pegou fogo ao olhá-lo, como eu o desejo e amo não é suficiente para despejar em palavras e não importa o tempo que passe, o sentimento retorna com força maior do que consigo controlar.

A partir daquele instante, meu cérebro se desligou para o que meu amigo falava, e tudo que vi foi o loiro mais lindo de todos, num terno da mesma cor que o meu. É o destino.

O alvo dos meus desejos não tinha reação plausível, Jimin ficou parado na mesma posição sem desviar os olhos de mim.

Ao que levantei a mão para Namjoon pedindo licença, o Kim não pareceu entender nada, entretanto me explicaria consigo outrora. A atenção de grande massa do baile se foi para mim, que pela primeira vez na noite, havia levantado do trono e andava em sentido reto, olhando para o ponto que logo procuraram com o olhar.

Pela primeira vez na minha vida, não me importei verdadeiramente com o que as pessoas poderiam estar pensando.

A cada passo dado, subia pela barriga a excitação em estar perto de petit novamente.

Finalmente de frente para si, sorri aproximando meu corpo do seu, sussurrando em seu ouvido a única coisa que consegui dizer pós muitas lutas internas com a minha ansiedade.

—  Jimin...  — inspirei fraco e de olhos fechados o cheiro delicioso que desprendia perto de seu pescoço. A um passo de enlouquecer.  — Quanto tempo, petit...  — Soltei o apelido que o dei a tempos, e ele sequer já tinha escutado de meus lábios.

O corpo do Park retesou no lugar, provavelmente não esperando aquela atitude de mim.

— Não sabe como ansiei por esse momento. — segredei, e ele não recuou de nada.

— J-jungkook... — sussurrou virando para me olhar com as bochechas coradas e olhos arregalados. Ficamos extremamente próximos. — O que está fazendo? 

Eu iria responder, chamá-lo para conversar sobre nossas pendências, estava extasiado de alegria em tê-lo tão perto, mas todo o clima dissipou quando uma voz terceira se fez presente.

— Jimin! — o herdeiro Lee Taemin chegou, contornando o braço em seu ombro ao que eu arqueava a sobrancelha e a expressão voltava ao comum de sempre, séria. — Viu que incrível o baile que o Sr. Jeon planejou? — sorriu para o loiro.

Olhei em volta e quase todos haviam voltado a fazer algo, apenas Namjoon, Hoseok, Taehyung e outro baixinho ao lado do mesmo, encaravam a situação.

Por que Lee Taemin estava abraçado em Jimin?

— S-sim. — Jimin respondeu ao herdeiro, ainda me encarando. — Ficou tudo muito lindo, Sr. Jeon! — respondeu nervoso e o que mais me deixou puto nisso tudo é o fato de que ele ao menos tentou se afastar daquele homem.

Há certas coisas na vida que aprendemos desde criança, como por exemplo, a dividir. Certamente, falhei miseravelmente nessa lição e não poderia me importar menos.

Hoseok, como irmão mais velho, tentou desde... Bom, desde sempre, eu acho, me explicar calmamente a importância em aprender a compartilhar. No fim, o pequeno "eu" de 10 anos se dava ao trabalho de escutar, desgostosamente, — é bom ressaltar — virar e sair andando como se tudo que ele falou, fosse um monte de bosta.

Sem querer ofender ou diminuir os esforços de meu querido irmão, no entanto, é com desprezo que digo com ínfima certeza: Eu odeio dividir.

E nesse exato momento, arrisco dizer que estou quase estourando o copo na minha mão por puro ciúmes do que não é, nunca foi e provavelmente, jamais será meu. Não depois de eu constatar com meu olhos a proximidade de Jimin com Lee Taemin.

— Por que não vai lá e fala com ele? — Hoseok reverberou já do meu lado na mesa.

Eu estava cercado por idiotas trajados em ternos caros e papos elitistas tão desgastantes quanto a minha paciência ao ver, de longe, Taemin se engraçar perto de Jimin.

— 'Pra ver aquele idiota cair de amores por ele na minha frente? — esbravejei baixo apenas para que meu irmão escutasse. — Obrigado, mas prefiro ficar aqui dando topada com o meu dedinho na mesa enquanto escuto esses imbecis falando de suas vidinhas fúteis!

— Só para constar, Ggukie, fuzilar Lee Taemin, que, por acaso, é o herdeiro de maior influência aqui, não será nada bom para sua reputação e também não vai trazer seu amor em 3 dias.

Só quem tem irmão mais velho sabe o inferno que é, mas bem no fundo, bem no fundinho mesmo, amo Hoseok.

Em dias normais eu retrucaria o deboche na fala de meu irmão, porém, a proximidade entre petit e aquele viadinho pão com ovo, estava consumindo toda a minha atenção.

— Olha bem para minha cara e me diga o que vê.

 Un con. (Um idiota). — brincou com a língua nos lábios ao que me fitava debochado, como sempre.

— Não, Hoseok. — sorri irônico. — Vê um homem que por pouco levantará daqui e dará um chute naquela bunda magra de grilo para sair de perto do que é meu.

— Calma lá, meu querido, Jimin não é propriedade de ninguém e você precisa se acalmar. Descontrole e raiva não são características suas, até eu estou ficando assustado.

Na verdade, honorável leitor, vamos trocar o título para Aniquilação de Pretendentes. Este parece ser mais apropriado, levando em consideração que minha vontade agora é de aniquilar Lee Taemin da face da terra, que nem o GabFlow com o Schuler, ou algo parecido!

E agora, estou emburrado e fuzilando a mesa que está Jimin, Taemin, meu ex-advogado Kim Taehyung e o baixinho.

— Se encarar mais seca. — Hoseok sussurrou para mim, 'pra lá de bêbado.

— Se vomitar em mim, dou seus restos para os cães no jardim. — nem o olhei para dizer isso, meus lumes tinham outra prioridade no momento.

— Credo, Jungkook! — chiou indignado.

E parece que para combinar com o meu bom humor que havia se dissipado por completo em alguns minutos, o barulho da chuva forte caindo lá fora chamou a atenção de todos os convidados, incluindo a minha.

Foi ordenado por Evelynn que fechassem todas as janelas e portas da casa, direcionando os empregados para onde cada um deveria ir, e dessa forma o ponto alto da noite se deu quando alguns dos sócios decidiram dar um discurso sobre como era bom ver todos reunidos ali e mais um monte de merda que eu nem estava prestando atenção.

— Vamos prestigiar também o M. Jeon Jungkook que planejou acho que a melhor festa, digo baile, que a JZ já teve na história! — Taemin dizia no microfone apontando para mim, que já havia levantado da mesa e ido ficar de pé perto do palco.

Mais aplausos direcionados a mim vieram, e normalmente estaria radiante com aqueles elogios, porém, a raiva e o ciúmes não permitiam tal reação.

Andei até o meio, sem meu irmão e amigo por perto, para tentar me controlar ao que escutava a voz do banana em minha frente. Fico surpreso ao perceber que parei bem atrás de Jimin, que também, por coincidência, encontrava-se longe dos amigos. Não me contive e cheguei perto de si novamente.

— Por que ele está tão perto de você? — questionei e o vi se assustar ao olhar de relance e me ver.

— Ele quem? — suspirou ao perguntar.

— Lee Taemin.

— Não sei do que 'tá falando. — Ah Jimin, eu conheço suas expressões tão bem.

— Dormiu com ele? — cheguei onde queria com aquela conversa, e o loiro finalmente me encarou, completamente indignado em sua feição.

— Isso não é da sua conta, ok? — Se afastou de mim, querendo sair de perto, mas segurei sua mão, o puxando de volta.

— Você gosta dele? — perguntei olhando profundamente em seus olhos. Eu precisava saber.

— Jungkook... — toda a sua marra foi embora, e ele encolheu os ombros.

Eu quis chorar.

— Me responde. — permaneci sério — Você gosta dele, Jimin?

— Por que quer tanto saber? — chegou perto, a voz diminuindo ao que questionava. — Você acabou com isso. — apontou para eu e ele, e sua voz pareceu embargar, no entanto, continuou firme no que falava. — Quer saber... — pareceu pensar, fungando baixo. — Nem deveria ter vindo nessa merda. — soltou sua mão da minha e saiu andando rápido pelos convidados, não se importando em esbarrar nos outros.

Não ter reação me definiu, nessa hora. Não sabia o que fazer, se voltaria a sentar, se choraria em algum canto ou se subia no último andar e me tacava da janela.

A última parte é brincadeira, mon dieu!

Todavia, ver ao longe Jimin exigir que abrissem nem que fosse a porta dos fundos pois queria ir embora, me deixou perplexo.

Caía o mundo lá fora de tanta chuva, e ele queria sair?

Não vou deixar!

E assim fui atrás do mesmo sem pensar duas vezes, largando festa, mídia e convidados para trás, enquanto meu cérebro alertava que a qualquer momento poderia cair um raio na minha cabeça, porém, ignorei todos os alertas.

—JIMIN! — O gritei, correndo em seu encalço.

Ele parou na varanda, puxando o ar com força e me encarou, com certa incerteza em suas ações, mas logo olhou para o enorme jardim labirinto que há nos fundos da mansão, me dando as costas e correndo para lá impulsivamente. Revirei os olhos e o segui, pouco me fodendo para a chuva.

— JIMIN, PARA SER UM INCONSEQUENTE! VOCÊ PODE MORRER COM UM RAIO NA SUA CABEÇA! — lhe informei o óbvio, alterado pela situação.

— EU NÃO LIGO! ME DEIXA EM PAZ, JUNGKOOK! — a voz chorosa mexeu comigo.

— MAS EU LIGO! — disse a plenos pulmões, sentindo o cabelo cair nos olhos de tão molhado e minha roupa pesar no corpo por estar encharcada.

— MENTIROSO!

Se eu alcanço esse baixinho, dou umas palmadas para aprender. Pensei chiando de raiva e preocupação.

— NÃO ENTRA AÍ! — o alertei quando estava perto da entrada do labirinto, e foi como se eu tivesse dito "Entra Jimin, aí é bem legal!".

— AQUI VOCÊ NÃO VAI ME ENCONTRAR NUNCA! — falou em bom tom, se esgueirando labirinto a dentro, e eu o segui, mas acabei o perdendo de vista pelas viradas.

Ah, então é assim?

— EI! NUNCA ENTRE NUMA BRIGA QUE NÃO DÁ 'PRA GANHAR! — disse alto e convicto, parando de correr, seguindo andando pelos arbustos.

— O que quer dizer com isso, seu convencido? — questionou baixo, afinal estávamos muito longe da festa e era de noite, não havia barulho algum além de nós.

— Esta é a minha casa, mon ange. — debochei — Conheço este labirinto como a palma da minha mão. — o silêncio foi uma vitória para mim.

— Está blefando...

— Estou? Então veremos. — dei risada. — Se eu te achar... — fui pegando caminho até o meio, já sabendo que independente de qual caminho ele tenha pego, todos passavam pelo centro. — Ah Jimin, se eu te achar você não tem ideia do que vou fazer.

Encher de beijos.

— Eu vou bater em você! — ralhou bravinho. Que fofo, quase acreditei.

— Claro que vai. — cheguei ao centro bem pleno e fiquei parado no canto, o esperando. Chovia muito forte e não havia nenhuma cobertura, estava ensopado e provavelmente Jimin também. — Estou chegando perto... — sorri maldoso, mesmo que estivesse literalmente parado no mesmo lugar de braços cruzados, aguardando sua passada pacientemente.

Ele ficou em silêncio, grunhindo quem sabe de frio ou raiva, e o barulho maior provinha do céu e as gotas grossas que caíam. A inquietude subiu em meu peito quando vi uma criatura ensopada adentrar ao centro do labirinto, ele havia entrado do meu lado e sequer me viu.

Não perdi tempo, andando em seu encalço, tocando seu braço e o puxando para mim.

Mesmo tentando o esquecer nos últimos meses, não consigo evitar de amá-lo e de o querer, as reações instintivas do meu corpo denunciavam isso. Seu cabelo estava molhado, assim como seu corpo e roupas, no entanto, continuava lindo e naquele instante, deixei de ligar para a chuva, parando para analisar a fisionomia abismada de Jimin.

— Como foi que você... — me encarou atônito, e eu sorri, tocando seu rosto de perto.

— Foi como eu disse, mon amour, nunca entre numa briga que não dá para ganhar. — sorri ladino, o fazendo revirar os olhos.

Nossos corpos frios pela chuva despencando em cima de nossas cabeças, porém, toda a minha atenção era do loiro bravo e bicudo na minha frente.

Esperava qualquer coisa de Park Jimin. Um empurrão, quem sabe até um xingamento, contudo, a forma na qual me encarou sem sequer piscar foi, no mínimo, desconcertante até para mim.

— Você é um idiota. — proferiu sem mais nem menos. — Mas eu sou mais. — arqueei a sobrancelha.

— Por quê?

— Por gostar de você. — Antes que eu pudesse ter qualquer reação, Jimin tocou no vão entre meu rosto e pescoço, puxando para si e me beijando com gana. O correspondi imediatamente, a mão em seu rosto foi parar na nuca, controlando seu movimentos e puxando os fios, enquanto a destra deslizou por seus braços lentamente, o causando arrepios gostosos, até chegar na cintura e firmar ali, colando os corpos.

Caralho...

Que saudade desse corpo, desses gemidos, do meu pau endurecendo só com ele chegando perto.

— Fica comigo, aqui. — separei nossos lábios, ainda o segurando e na linha de seu olhar atento. 

— Eu não entendo... — sussurrou com a boca pertinho da minha — Por que me pede para ficar? Você nos afastou, Jungkook.

— Eu não consigo mais te afastar, e sinceramente? Nem quero. — acariciei sua bochecha o encarando amorosamente. — Eu não quero ficar longe de você nunca mais.

Ele pareceu viajar em pensamentos, sua expressão era pensativa e eu quase não respirava ao esperar por uma resposta.

— Mas e tudo que me contou? E a sua sexualidade? — agora eu quem ficou apreensivo, mas respondi a verdade que gritava em minha mente e coração:

— Prefiro enfrentar meus problemas do que perder você, petit. — o confidenciei, selando os lábios alheios com carinho. — Quero fazer as coisas direito. — suspirei em suas mãos — Eu quero você, e sei que também me quer. Mesmo com os empecilhos, olha onde estamos agora? Até ontem, estávamos separados pelo globo e agora tenho o objeto de todos os meus desejos parado na minha frente. — suas bochechas ficaram vermelhinhas e o olhar desviou — Quando estava longe, fora do meu alcance, ainda levava as memórias contigo no meu coração. Só que, eu não quero que sejam apenas memórias agora. 

— Mas eu não posso ficar aqui, Jungkook... Esqueceu que ainda tem a empresa lá na Coreia? — fez um bico nos lábios, me jogando de volta na realidade.

Contudo, meu raciocínio sempre foi bem rápido na resolução de problemas. E eu sorri maquiavélico ao pensar em mais uma ideia genial que tive, matando dois problemas, digo coelhos, numa cajadada só.

— Taemin já foi CEO da matriz, você pode tirar 30 dias de férias e passar aqui. — sorri. — As portas da mansão estão abertas.

— Não é uma ideia horrível. — ponderou, ainda pensativo. — Mas eu só aceito com uma condição. — agora foi ele quem sorriu maldoso, perdendo a vergonha. 

— Qual seria?

— Se Taehyung e Yoongi puderem ficar também. Yoongi iria adorar conhecer mais de Paris e aposto que Tae também.

— Yoongi é o baixinho? — tirei a dúvida que rondava minha cabeça.

— Não fala assim dele. — deu um peteleco no meu peito.

O encarei pensando por uns minutos, não era uma ideia ruim, mesmo que eu verdadeiramente quisesse não ter que dividir sua atenção.

— Tudo bem, eles ficam. — Jimin sorriu e eu o acompanhei, pronto para juntar nossos lábios novamente, mas ele estampou a mão em meu peito e afastou-se. É claro que eu fiquei com a maior cara de idiota sem entender bulhufas.

— Você disse que quer fazer as coisas direito, então dessa vez vamos ir com calma. — pontuou sério, mas os lábios puxavam um sorrisinho — De qualquer forma, Kook... — se aproximou com a expressão maliciosa. — Você não está merecendo hoje. 

Apertei a mão em sua cintura, o olhando incrédulo, mas não aguentei a ousadia e comecei a gargalhar alto, levando o corpo para frente e deitando a cabeça em seu ombro, soprando baixinho no seu ouvido: 

- Não vou fazer nada sem que me peça, petit.

Ele só não esperava, futuramente, que aquilo tinha sido uma promessa bem séria, e que se quisesse algo de mim, teria que pedir.

E bom, querido leitor, acho que já tomamos intimidade e posso te chamar assim, certo?

Esse foi o meu primeiro ato de coragem.

Continua...

.

SÓ LEMBRANDO QUE..

GENTEEE VCS ENTENDERAM QUE A PARTE DO JK E DA KATE É NO PASSADO NÉ? TIPO ANOSSS ATRÁS, QUANDO O MENINO JEIKEI TINHA ACABADO DE INGRESSAR NO BDSM, OK??? 

ah que tanto jimin quanto jk são SOLTEIROS, logo, Jimin ter ficado com o Taemin e JK quasee ter ficado com o Artur é NORMAL! 

META: Se esse capítulo tiver 5K de comentários em 3 dias, trago atualização dia 7 de Janeiro!

Como estou postando dia 15/12 às 19h, os 3 dias acabam em 18/12 às 19h! 

Soltei e saí correndo rs

O que acharam?

Qual sua parte favorita?

CARASSS QUE SAUDADE DE VCS!!! O CAPÍTULO FICOU GRANDE DEMAIS 14K DE PALAVRAS ASUSHAAJ MAS É PRA COMPENSAR O TEMPOO <3

perceberam que a mansão do jk é tão grande que tem até ALAS vei, sonho

Gostaram do JK e o jeitinho dele?

E sim, referência ESCRACHADA em Bridgerton rsrs n me julguem, eu amo.

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