Encontro com o passado - MADE...

By aluisa_

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Encarei meu reflexo no espelho de corpo todo em uma das portas do armário, usando só a lingerie. Apesar dos m... More

Oi sumido
Casalzinho butequeiro
Sem tirar a roupa
Tchau falou
Ponta solta
Dois idiotas
Como é que larga desse trem?
Show completo
Melhor terminar
Traí sim
Coração infectado
Repertório de outro
Solidão é uma ressaca
É rolo
Bengala e crochê
Aí eu bebo
Lágrimas
Ligação de emergência
Fala a verdade
Veneno e remédio
Nem Tchum
Campo minado
Não abro mão
Certo pelo duvidoso
Libera ela
Te procurava de novo
Incomparável
Futuro
No dia do seu casamento
No dia do seu casamento II
Quase um casal
Nunca vai ser um adeus
Correntes e cadeados
Imagina
Cachorro de madame
Amores da minha vida
Só lamento
Medo bobo
A culpa é nossa
Ex de algúem
Presepada
Se olha no espelho
5 minutos ou 50 anos
Sem legenda
Jogo é jogo
Cuida bem dela
A pergunta
Felizes para sempre

Calma respira

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By aluisa_

Eu estaria mentindo se eu dissesse que eu lembrava do que tinha acontecido nas últimas três horas. Minha cabeça apenas me recordava de alguns flashes de dor e desespero, não só meus, mas de todo mundo que estava ao meu redor.

Apenas de uma coisa eu lembrava muito bem: do olhar horrorizado do Wendell me encarando, enquanto corria pelos corredores esbravejando ordens, desesperado, segundos antes de eu fechar os olhos.

Depois, eu acordei ali: grogue, sem dor, o braço direito ligado em pelo menos uns três acessos venosos diferentes, deitada em uma cama de hospital em um quarto branco sem vida nenhuma. Apenas eu e o silêncio, quebrado apenas por uns bipes contínuos e irritantes de um dos monitores ao meu lado.

Fiz menção de levantar o tronco para sentar na cama, mas uma fisgada na barriga fez com que eu desistisse no mesmo instante e lembrasse o motivo de eu estar ali. Os bipes no monitor claramente dispararam, enquanto eu puxava o lençol branco, destapando minha barriga, na tentativa desesperada de entender o que havia acontecido durante o tempo que eu estava apagada.

Por óbvio, o pequeno volume no meu abdômen ainda existia. Mas eu estava mesmo era preocupada em saber se a "monstrinha" que ali habitava ainda estava bem.

Fiz menção de tentar levantar novamente, mas fui interrompida pelo barulho da porta abrindo e um pigarro de reprovação vindo daquela direção.

- Meu deus, você já acordou? - um homem alto e moreno, vestindo um jaleco branco, adentrou o quarto, caminhando devagar até a cama - achei que o calmante ia fazer efeito por mais tempo...

Ameacei responder algo, mas só o fato de respirar fundo para tentar falar fez com que meu estômago doesse.

- Dói, né? - o médico me lançou um olhar pesaroso, mexendo em um dos monitores ao meu lado - os remédios são fortes para o estômago. Mas em algumas horas vai passar...

- A bebê... - finalmente consegui interromper, me esforçando para soltar uma mísera palavra.

- Está bem - ele sorriu, se encostando na beirada da minha cama - você teve descolamento de placenta. Provavelmente por excesso de esforço físico - o médico me deu um claro olhar de reprovação, fazendo com que eu mordesse o lábio inferior.

- E agora? - eu soltei, nervosa, sentindo meus batimentos cardíacos acelerarem e os bipes dos monitores, mais uma vez, aumentarem.

- Se você estivesse com a gravidez mais avançada, eu recomendaria o parto. Mas, hoje, ainda é muito cedo... - ele suspirou, sem desfazer o olhar sério - inclusive, é a primeira vez que vejo uma gravidez tão no início ter descolamento de placenta...

Senti uma onda de raiva e desespero subir pelo meu peito, fazendo com que algumas lágrimas surgissem nos meus olhos e escorrerem, quase que imediatamente, pelas minhas bochechas. Era óbvio que a minha irresponsabilidade em levar a vida como se nada diferente estivesse acontecendo ia resultar nisso.

A rotina de shows, a correria, o estresse, os problemas amorosos... Eu tinha colocado absolutamente tudo acima da maternidade. E eu quase havia perdido minha filha por isso.

- Calma - o médico enxergou o desespero nos meus olhos e a culpa me corroendo por dentro - vou te dar alguns medicamentos e você vai repousar. Por completo. E tudo vai ficar bem.

Concordei com a cabeça, olhando ao redor, me atropelando nas palavras para verbalizar o que eu estava angustiada para dizer.

- Eu preciso do meu celular... Ele deve estar desesperado...

- Seu marido? Ele está ali fora - o médico sorriu - sentado no chão há horas, desde que você entrou aqui.

Fiz menção de corrigi-lo e dizer que Wendell não era meu marido, mas cheguei à conclusão de que não valia a pena o esforço.

- Preciso avisar que a "monstrinha" dele é dura na queda - falei, sorrindo pela primeira vez desde que eu acordara, fazendo com que o médico desse uma risadinha, provavelmente em razão do apelido inusitado.

Ele abriu ainda mais o sorriso e, sem dizer mais nada, saiu pela porta, me deixando novamente sozinha naquele quarto estéril. Parecia o tipo de lugar que se eu passasse mais de dez minutos só, ficaria maluca: sem cor, silencioso, inóspito, sem vida.

Me remexi na cama, devagar, tentando, sem sucesso algum, localizar meu celular em cima da cômoda mais próxima. Eu não fazia ideia de que horas eram ou quanto tempo havia se passado desde o meu desmaio no show.

Mas, sem dúvidas, tempo suficiente para que o mundo inteiro já soubesse o que tinha acontecido comigo.

- Tá procurando isso aqui? - escutei uma voz conhecida falar, vinda do meu lado esquerdo.

Eu estava tão entretida em procurar o maldito celular que eu sequer escutara a porta abrir novamente. Ali, parado, encostado no batente, estava o Wendell, os olhos inchados, vermelhos e úmidos me encarando, o sorriso de orelha a orelha, enquanto balançava meu celular em sua mão esquerda.

Dei um suspiro de alívio tão alto ao enxergar ele que senti meu corpo todo relaxar pela primeira vez desde que eu abrira os olhos. Tudo que eu queria era levantar da cama e abraçá-lo com força, mas o máximo que consegui foi esticar o braço livre dos acessos venosos, fazendo sinal para que ele se aproximasse.

Wendell caminhou na minha direção e sentou na ponta da cama, colocando o meu celular dentro do bolso da sua calça.

- Você não vai ter isso de volta tão cedo - ele torceu o nariz, repousando a mão em cima da minha barriga, tapada apenas pelo pijama cirúrgico, e fazendo carinho, devagar. Percebi que as lágrimas que antes enchiam seus olhos vermelhos começaram a rolar pelo seu rosto.

Ficamos em silêncio, nos encarando, chorando, sem saber o que falar. Talvez, no fim das contas, não tivesse nada a ser dito. Ele apenas segurava a minha mão com força, enquanto, com a outra, continuava a fazer carinho na "monstrinha", fazendo com que eu sentisse uma leve cócegas na barriga.

- Desculpa - eu sussurrei, quebrando o silêncio, depois de alguns minutos em que só o bipe dos monitores ao meu lado emitiam qualquer som - eu...

- Desculpa? - Wendell franziu o cenho, sem desviar o olhar do meu - do que exatamente você está se desculpando?

Mordi o lábio com força, tentando conter o nó que insistia em subir pela minha garganta.

- Foi culpa minha - soltei, perdendo a luta e largando um soluço em seguida - eu não estava me sentindo bem e mesmo assim subi no palco... Você deve estar me odiando por isso...

Wendell rolou os olhos, apertando minha mão com força.

- Eu achei que tinha perdido você. Achei que tinha perdido nossa filha. Te odiar não passou pela minha cabeça nem um minuto sequer durante as últimas horas. Durante os últimos anos, na verdade.

Solucei, enquanto ele se aproximava, cuidadoso, me envolvendo em seus braços e encostando minha cabeça em seu peito.

- Calma, respira - ele sussurrou no meu ouvido - você ama a "monstrinha", Maraisa. Mas também ama estar no palco. Você ainda vai aprender a conciliar a presença desses seus dois amores na sua vida.

Respirei fundo, mas sem lutar contra as lágrimas, deixando elas descerem livremente pelo meu rosto, sentindo, aos poucos, meus batimentos cardíacos voltarem ao normal. Mais uma vez, perdi a noção de quanto tempo ficamos ali, abraçados, enquanto Wendell afagava meus cabelos, ambos chorando. Um choro doído, de medo, de saudade, mas, principalmente, de alívio.

Fomos interrompidos pelo barulho da porta do quarto se abrindo. Wendell se afastou de mim, fazendo com que eu enxergasse um furacão ruivo de 1,54m correr na nossa direção.

- Eu vou matar você! - ela rugiu, parando na frente da cama, cruzando os braços, enquanto me encarava. Apesar do olhar sério, eu percebi que seus olhos estavam tão inchados e vermelhos quanto os do Wendell - puta que pariu, Maraisa! Você quase matou eu e o seu sobrinho de nervoso! - ela levou a mão ao próprio ventre, emburrada.

- Tá tudo bem, irmã - falei, na tentativa de acalmá-la - foi só um susto.

- Um susto? - ela se aproximou um pouco mais, trocando de lugar com o Wendell, enquanto ele caminhava, de fininho, até a cômoda próxima à porta, para se servir de um copo de água. Se tinha algo que Wendell sabia era que se meter nas discussões minhas com a Maiara nunca era uma boa opção.

- Susto? - minha irmã franziu o cenho, colocando as mãos na cintura - você tem noção da gravidade do que você teve, Maraisa? Tem noção que você deu uma sorte fodida do Wendell te trazer tão rápido para o hospital? Pouco tempo a mais você teria perdido a bebê, sabia?

Senti as palavras dela me atingirem como um soco na boca do estômago. Apesar de direta, eu sabia que a Maiara estava certa, só não queria admitir. Eu havia sido irresponsável e egoísta em achar que estava tudo bem. E eu sabia disso. Talvez por isso as lágrimas voltaram a descer com ainda mais vontade pelas minhas bochechas.

Maiara suspirou, suavizando um pouco a expressão, percebendo que havia me atingido em cheio. Ela esfregou o rosto com as duas mãos, agitada, antes de tirar o celular do bolso da calça jeans que usava.

- Desculpa - ela soltou, balançando a cabeça e desbloqueando o telefone - eu ainda estou nervosa pra cacete... Não foi bem isso que eu quis dizer...

- Você tá certa - interrompi, secando as lágrimas com as costas da mão esquerda - eu preciso diminuir o ritmo...

- Não - ela devolveu, direta, voltando a fechar completamente o rosto - você não entendeu, Maraisa. Você não precisa diminuir o ritmo. Isso você precisava fazer lá no começo. Agora você precisa parar - minha irmã me encarou, frisando com vontade a última palavra - e eu vou garantir que você faça isso - ela baixou olhar para o telefone novamente.

- Maiara, o que você tá fazendo? - perguntei, enquanto minha irmã digitava freneticamente no celular.

- Avisando todo mundo que você não vai mais fazer show até essa criança nascer sã e salva. Sem discussão - ela levantou o olhar, séria.

- E a nossa agenda? - não consegui conter o tom de indignação na voz - a gente não pode simplesmente cancelar tudo...

- Sim, a gente pode - Maiara devolveu, rápida - mas não vamos. Eu vou fazer os shows já agendados sozinhas.

A ruiva continuava mexendo no telefone, mordendo o lábio inferior, como se tivesse acabado de me falar algo muito óbvio e simples.

- Maiara... - eu comecei, torcendo o nariz, ainda assimilando o que ela havia acabado de me falar - você também está grávida! Você não pode simplesmente assumir uma agenda de shows sozinha...

- Sim, eu posso - ela me interrompeu - eu, ao contrário de você, não tenho descolamento de placenta com menos de vinte semanas de gravidez... - Maiara soltou, áspera, me encarando com um olhar de evidente reprovação - sim, já conversei com o médico e já sei sobre o seu quadro. Peguei a lista de remédios, a dieta nova, marquei as próximas consultas... Você vai fazer tudo que eu disser. E ai de você se contestar qualquer coisa ou reclamar de algo.

Por óbvio, não ousei retrucar. Já era impossível vencer a Maiara em uma discussão quando ela estava errada, quem dirá quando ela realmente tinha um ponto.

- Mas irmã... - continuei, ainda preocupada - como você vai dar conta da agenda sozinha? E, ainda por cima, grávida?

Maiara deu de ombros, entretida no celular, sentada na ponta da cama.

- Já estou pedindo para a Workshow bloquear nossa agenda. Até os bebês completarem três meses, não vamos marcar mais nenhum show. Os que já estão agendados até lá, eu dou um jeito - ela levantou a cabeça e me deu uma piscadela, sorrindo pela primeira vez desde que entrara no quarto, ficando de pé em um salto - não há nada que não possa ser resolvido, Carla Maraisa. Sua única preocupação, a partir de hoje, é manter minha sobrinha aí dentro até o final dessa gravidez - ela se inclinou na minha direção, deixando um beijo demorado na minha bochecha, antes de sussurrar no meu ouvido - e ai de você se não fizer isso direito.

Minha irmã gêmea riu, aquela risada gostosa que só ela sabia dar, fazendo o ar pesado daquele quarto de hospital finalmente ficar mais leve em poucos segundos.

- Pode deixar, "monstrinha", a titia Maiara vai dar um jeito nessa sua mãe descompensada das ideias. A partir de hoje ela vai ficar quietinha para te deixar crescer forte e bonita em paz, tá? - Maiara colocou a mão sob meu ventre, conversando com a sobrinha.

Eu sorri, sentindo que as lágrimas haviam voltado a rolar pelos meus olhos úmidos, mas, dessa vez, não eram lágrimas de medo ou de tristeza.

Era incrível como a Maiara era forte e decidida. Apesar de todos insistirem que eu era a gêmea "pé no chão" e racional, mesmo depois de mais de trinta anos juntas, minha irmã ainda me surpreendia em como ela conseguia tomar a frente das coisas quando eu parecia perder o controle de tudo.

Antes de sair, ela se despediu do Wendell, virando o rosto por cima do ombro antes de atravessar a porta, me encarando nos olhos novamente, o sorriso sendo substituído por um olhar quase que de súplica.

- Se cuida. Pelo amor de deus. Eu não tenho condição nenhuma de continuar vivendo sem ter você do meu lado.

Concordei com a cabeça, a visão embaçada pelas lágrimas que insistiam em cair, enquanto Maiara fechava a porta atrás de si, apressada, provavelmente se preparando para correr atrás da agenda da semana que ela teria que dar conta sozinha.

Mesmo grávida, mesmo cansada, a Maiara estava ali, pronta para me cobrir para que eu pudesse levar minha gravidez até o final.

E também foi ali, naquele exato minuto, deitada na cama do hospital, secando as últimas lágrimas no meu rosto, que um estalo me veio à mente.

- Wendell - eu chamei, sorrindo, fazendo sinal para que ele se aproximasse, minha mão repousando, involuntariamente, no meu ventre. No mesmo instante, Wendell largou o copo de água em cima do aparador e voltou a sentar na ponta do colchão, do meu lado - acho que eu já sei qual nome deveríamos dar para a "monstrinha"...

Soltei o nome curto em voz alta pela primeira vez, enquanto ele me olhava, curioso. Verbalizá-lo soou tão bem aos meus ouvidos que eu já tinha certeza de que minha filha se chamaria assim.

Para meu alívio, Wendell abriu um sorriso enorme, repetindo o nome várias vezes, em voz baixa, como se estivesse avaliando a sonoridade dele.

- A Maiara vai adorar - ele me abraçou, fazendo carinho na minha barriga com uma das mãos.

- E finalmente vamos poder chamar nossa filha de algo que não seja "monstrinha"... - completei, vitoriosa.

- Admite, você gostou de chamar ela assim - Wendell riu, me encarando, enquanto cutucava meu braço.

Rolei os olhos, me negando a verbalizar a resposta, apesar dele já saber que eu havia me derretido pelo apelido bobo que ele tinha dado para a bebê.

- Chega de hospital por hoje. Daqui a pouco o médico deve passar para te dar alta - ele baixou a cabeça em direção à minha barriga, sussurrando - hora de voltarmos para casa, "ex-monstrinha".

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