Presepada

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- Vão indo na frente para o restaurante - eu falei para o Wendell, que estava caminhando do meu lado, de mãos dadas comigo, enquanto a Maiara fingia interesse em uma vitrine mais à frente. Ela estava o dia todo assim: aérea e desinteressada em tudo. O fato de ela ter aceitado sair do apartamento para ir até a Disney dar uma volta e jantar já havia sido uma vitória.

Wendell me encarou, confuso.

- Onde você vai? Vou também. Não vou te deixar sozinha pelo parque, já está escurecendo...

- Vou... - comecei, falando baixo, mas a Maiara já tinha reparado que havíamos parado de caminhar e virou na nossa direção, curiosa - comprar um negócio que eu esqueci. É rapidinho.

- Vamos todo mundo - Wendell insistiu.

Eu encarei-o, séria, colocando as duas mãos na cintura, tentando me comunicar com ele sem verbalizar o que eu realmente queria fazer.

- Vão indo pegar mesa, essa hora é bem cheio - falei, pausadamente, e acho que ele finalmente entendeu que eu precisava ir sozinha, pois concordou com a cabeça afirmativamente - encontro vocês em quinze minutos.

Deixei um beijo rápido nos lábios do Wendell, antes de virar as costas para eles e caminhar, depressa, na direção contrária.

Desde que acordara de manhã, a Maiara estava jurando que o Gustavo já tinha ido embora de volta para o Brasil. Mas o meu sexto sentido insistia que não. Algo me dizia que ele estava ali perto, no bar que nós quatro mais amávamos em Orlando. E se tinha uma coisa que eu aprendera a não ignorar, era a minha conexão com coisas relacionadas à minha gêmea.

Entrei no bar, agitada, buscando um rosto específico no meio de todos os que estavam sentados ali. Uma garçonete sorridente logo veio me oferecer uma mesa, mas eu apenas respondi "estou procurando um amigo", em um inglês amador e arranhado.

A garçonete se afastou e eu continuei com o pescoço esticado, tentando achar uma única pessoa específica sentada em alguma das mesas do bar lotado naquele final de tarde do primeiro dia do ano. Já estava quase duvidando do meu instinto de que ele estaria ali e desistindo, voltando para o restaurante onde Maiara e Wendell me esperavam, quando enxerguei quem eu procurava.

Ele estava sentado em uma mesa afastada da entrada, a cabeça baixa e balançando de acordo com o que parecia ser o ritmo da música que tocava, deixando indícios de que o litrão de cerveja aberto na sua frente não era mais o primeiro que estava tomando.

Caminhei até a mesa, o passo apressado, desviando das demais pessoas e mesas, enquanto me aproximava por trás do homem sentado e com o olhar distante.

- Vem cá, e se eu te dissesse que você tá perdendo o amor da sua vida, você ainda abriria mais uma? - soltei, sentando na cadeira vazia em frente a ele.

Gustavo levantou os olhos e sorriu, me encarando, a cabeça levemente inclinada para o lado. Apesar do olhar distante, ele não aparentava estar bêbado, muito pelo contrário. Mas os seus olhos levemente inchados entregavam que ele não havia dormido muito bem naquela noite.

- Eu tinha certeza que você viria - ele sorriu na minha direção, se ajeitando na cadeira.

Fiz menção de responder, pronta para introduzir meu sermão, mas ele logo levantou a mão, fazendo sinal para eu não falar.

- E eu também já sei o que você vai dizer. Não precisa perder seu tempo...

Suspirei, derrotada. Se ele não escutasse o que eu tinha para falar, de nada adiantava minha ida até ali. Eu já estava com o meu discurso pronto para começar a despejar quando ele tirou alguma coisa do bolso e colocou em cima da mesa, fazendo eu perder completamente o rumo, estudando o objeto, visivelmente tensa.

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now