Traí sim

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Nem mesmo o solavanco do avião pousando no aeroporto de Goiânia fez com que eu saísse do transe em que eu estava.

Olhei no relógio: era 12:15h. Abri, pela milésima vez, a conversa da Maraisa no WhatsApp, ignorando todas as outras mensagens não lidas, inclusive da Luísa.

Encarei o celular por uns dez segundos, enquanto o avião taxiava na pista. Em seguida, bloqueei a tela. Eu sabia que era inútil mandar mensagem para ela. Nada do que eu falasse amenizaria a situação naquele momento.

Se tinha uma coisa que a Maraisa era, era rancorosa. Eu havia ferido o seu ego profundamente, de várias formas possíveis. Ela, sem dúvidas, estava se sentindo usada, enganada e traída. E não que eu a julgasse por isso.

Eu havia feito merda. Era óbvio, desde o começo, que eu deveria ter terminado com a Luísa. Ou, ao menos, contado para a Maraisa que ela existia, mas que eu terminaria pessoalmente logo em seguida. Mas, pela mera comodidade, eu simplesmente havia apostado na sorte de que eu conseguiria resolver tudo antes que essa história estourasse. Doce ilusão.

E, o pior de tudo, era que eu imaginara a Maraisa descobrindo essa história de mil maneiras. Pela imprensa, pela própria Luísa. Mas nunca lendo uma mensagem no meu celular, comigo entregando a senha de mão beijada. Era uma coisa até idiota de se pensar. Um erro amador, uma atitude espontânea e impensada.

Mas era exatamente isso que eu era quando estava perto dela: espontâneo. Eu não precisava me esforçar nem um pouco para estar com ela. Muito pelo contrário...

- Amor! - escutei a voz conhecida me chamar quando saí pela porta de desembarque do aeroporto. No instante seguinte, Luísa estava pendurada no meu pescoço, enchendo meu rosto de beijos. Devolvi o abraço, sem muita vontade, enquanto ela se afastava dos meu braços - te mandei mil mensagens! Você estava online e não respondia nenhuma... - ela fez beicinho.

- Desculpa - falei, arrastando a mala em direção ao canto do saguão, para que saíssemos do meio do caminho - sinal estava ruim...

Ela abriu um sorriso, enquanto apontava para o carrinho cheio de malas.

- Vamos para casa? Estou doida para te mostrar tudo que eu comprei...

Fiz que sim com a cabeça, enquanto entregava minha mala pequena para ela carregar e eu empurrava o carrinho pesado em direção à saída.

Entramos no uber, depois de muito esforço para fazer caber a bagagem toda. Só deus sabia como Luísa havia conseguido comprar tanta coisa em uma semana.

Durante todo o trajeto ela continuava falando, empolgada, sobre tudo que fizera e comprara nos dias anteriores. Eu permanecia em silêncio, apenas concordando com a cabeça, os pensamentos longe dali. Muito longe.

Minha cabeça ainda estava naquela cama de hotel do Rosewood, a visão do corpo escultural da Maraisa parcialmente coberto pelo lençol branco...

- Wendell? - Luísa perguntou, enquanto eu colocava a última mala para dentro da casa dela e fechava a porta - tá tudo bem? Você simplesmente não falou nada o caminho todo...

Fiz que sim com a cabeça, me jogando no sofá.

- Só estou cansado - falei, forçando um bocejo - a semana foi cansativa.

Ela franziu o cenho, claramente um pouco desconfiada.

- Sabe - ela começou, sentando no meu colo no sofá - antes de abrirmos as malas... Podíamos matar um pouco as saudades...

Luísa mordeu meu pescoço, enquanto descia a mão pelo meu peito. Respirei fundo, derrotado. Apesar de não estar nem um pouco no clima, eu sabia que, caso quisesse manter o meu teatro, eu não tinha opção. Se eu negasse transar com ela naquele momento, depois de uma semana longe, eu deixaria ainda mais evidente que algo estava errado.

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now