Aí eu bebo

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Eu não tinha mais lágrimas para chorar. Do caminho para o show até a nossa casa, que levava uns quinze minutos, eu soluçara incansavelmente, durante todo o trajeto, a cabeça encostada no ombro do Bruno.

Meu estômago estava completamente embrulhado. Apesar de não ter comido praticamente nada o dia todo, a ansiedade me corroía por dentro. Eu não só havia sido enganada, como fora obrigada a assistir, com um sorriso no rosto, o homem que me enganara pedir outra mulher em casamento, sob o olhar dos meus próprios fãs, enquanto eu cantava uma música minha.

Aquilo tinha sido baixo e humilhante. Nada dentro de mim conseguia aceitar que Wendell havia tido a coragem de fazer aquilo, ainda mais comigo. Eu tivera a clara sensação, em alguns instantes, que ele não estava confortável com aquilo. Nem um pouco. Mas, ao mesmo tempo, naquela hora, nada justificava aquele show de horrores que eu presenciara.

Bruno me ajudou a descer do carro assim que chegamos na minha casa. Eu tremia, não sabia se de frio ou se de raiva. Meu maquiador tirou a própria jaqueta e colocou sob meus ombros, me ajudando a subir os degraus até o hall de entrada da casa.

- Você não precisa ficar - falei, enquanto ele abria a porta.

- Mas eu vou - ele me colocou para dentro, quase me carregando até o andar de cima.

Quis agradecer, mas não consegui emitir qualquer som. Subi as escadas, em silêncio, com ele do meu lado, até chegar no meu quarto. Todas as minhas forças estavam sendo usadas para tentar manter minha respiração controlada, enquanto meu coração batia completamente desritmado.

Assim que sentei na minha cama e Bruno começou a me ajudar a tirar as sandálias de salto, senti que meu estômago havia perdido a batalha contra o enjoo. Num pulo, larguei a jaqueta no chão e corri até o banheiro.

Sem dúvidas, foram os cinco metros mais longos e demorados da minha vida. Mas, por sorte, consegui me debruçar no vaso sanitário rápido o suficiente para colocar para fora a pouca comida que eu tinha ingerido durante todo aquele dia.

Mas, no fundo, eu sabia que eu estava colocando para fora todo o estrago emocional que a raiva, o desgosto e a ansiedade haviam feito comigo naquela noite.

Senti a mão a mão do Bruno encostar na minha nuca e segurar meus cabelos.

- Você tá péssima - ele disse, fazendo eu levantar do chão e me ajudando a ficar de pé, assim que eu terminei.

- Obrigada - respondi, me debruçando na pia e lavando o rosto e a boca, assistindo uma parte da maquiagem do show escorrer pelo ralo. Meu reflexo no espelho me confirmou que eu estava mais branca que um papel.

- Maraisa? - escutei a voz da minha gêmea me chamando, vindo do meu quarto. Suspirei, derrotada, sabendo o bombardeio que viria a seguir.

Maiara não sabia do real motivo da minha briga semanas atrás com Wendell. Eu não contara para ela da existência da Luísa, mesmo não tendo motivos para esconder. Afinal, o único errado naquela história era o próprio Wendell. Mas a sensação de rejeição e a vergonha de ter sido enganada me impediram de contar a verdade para ela.

Saí do banheiro, seguida pelo Bruno, e mal cheguei a ver a figura da Maiara, pois, no instante seguinte, ela havia corrido na minha direção, me abraçado e encostado a cabeça no meu ombro, afagando meus cabelos, agora um tanto emaranhados.

- Irmã... O que diabos aconteceu?

Me separei dela e olhei nos seus olhos, que transpareciam um único sentimento: confusão.

- Cantora, eu vou descer fazer um chá para o seu estômago, tá? - Bruno disse, na clara intenção de deixar eu e a Maiara conversarmos a sós.

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now