É rolo

755 73 54
                                    

Eu fiquei encarando o celular, atônita, mesmo depois de o Bruno ter desligado a ligação. Ele ficara curioso com a minha reação inesperada, mas eu apenas falei que iria desligar e que mais tarde explicava. Eu não tinha condição alguma de contar toda a confusão que aparentemente tinha ocorrido.

Se, por um lado, meu ego amou saber que Wendell, o homem que se dizia o menos romântico da face da terra, havia comprado um buquê das minhas flores favoritas e dirigido mais de uma hora para me encontrar, eu sabia que o fato de ele ter assistido eu beijar o Hugo ao vivo e a cores tinha afastado, pelo menos por um tempo, qualquer intenção dele em me procurar novamente.

Continuei olhando a tela do celular, pensando se devia ligar para ele e me justificar. Por um momento, neguei a ideia. Afinal, eu não havia feito nada de errado. Muito pelo contrário, quem estava em um relacionamento sério e me enganara continuava sendo ele.

- Chegou a comida! - Maiara entrou na cozinha, o bom humor ainda nas alturas, segurando dois sacos de papel pardo, um em cada mão - pedi aquele hambúrguer que a gente adora... Meu deus, Maraisa - ela parou do meu lado, colocando os pacotes em cima da mesa - que cara de enterro é essa?

Dei um suspiro alto, sem saber por onde começar.

- Você lembra do buquê de girassóis no chão? - perguntei, enquanto Maiara ficava na ponta dos pés para pegar dois pratos no armário.

- Lembro - ela respondeu, colocando os pratos na mesa, franzindo o cenho - o que que tem a ver?

Soltei uma única palavra, sem maiores explicações.

- Wendell.

Maiara me olhou, confusa, tirando o hambúrguer de um dos sacos e colocando no prato. Depois de uns dez segundos, a expressão dela mudou para choque, tapando a boca com a mão, no mesmo instante em que claramente a sua ficha havia caído.

- Você tá de brincadeira... Ele foi até lá? Mas porquê deixou o buquê...?

- Ele me viu beijando o Hugo. Tenho certeza - interrompi ela, torcendo o nariz.

Maiara, ainda boquiaberta, encheu um copo com refrigerante, bebendo um gole longo antes de verbalizar qualquer coisa.

- Não sei o motivo da briga de vocês, mas se bem conheço o Wendell, ele tá puto...

Concordei com a cabeça, rindo de nervoso.

- O que que eu faço?

Maiara rolou os olhos, dando uma mordida no lanche.

- Não é óbvio? Liga pra ele! - ela soltou, de boca cheia.

Mordi o lábio, pegando o celular de cima da mesa e encarando a tela novamente. Óbvio que minha gêmea ia militar em favor do Wendell. Além de amar ele abertamente, Maiara não sabia da existência da namorada do Wendell, e, naquele momento, a última coisa que eu queria era ter que contar aquilo para ela.

- Será?

- Óbvio que sim, Maraisa! Ele tomou atitude de ir até lá pedir desculpas, para vocês conversarem, e deu de cara com você beijando outro. Se você não tomar a atitude de ligar e combinar de vocês se encontrarem e se acertarem, se eu bem conheço os dois orgulhosos, vocês nunca vão dar o braço a torcer...

Suspirei, derrotada, já sabendo o que tinha que ser feito. Desbloqueei o telefone e conferi o horário: eram quase duas da tarde. Wendell com certeza já estaria acordado.

Apertei em ligar, ensaiando mentalmente o que eu pretendia falar. Não que tivesse muito a ser dito... Eu só precisava deixar claro que queria conversar pessoalmente com ele, o quanto antes.

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now