Casalzinho butequeiro

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Li a mensagem dele umas dez vezes, sem abrir. Toda vez que eu pensava no que responder, minha cabeça ia longe.

Eu era automaticamente transportada para duas noites atrás, no Rabo di Galo, um bar que ficava no hotel Rosewood, em São Paulo.

Era uma sexta-feira chuvosa, perto das onze da noite. O cabelo bem escovado e a maquiagem impecável entregavam que eu recém havia voltado de um ensaio fotográfico para uma campanha que eu faria com a minha irmã.

Apesar do dia cansativo, eu estava ligada no 220v. As noites em claro sempre foram minhas companheiras. E, naquele dia, não foi diferente.

Pedi um drink, sentada no balcão, observando a movimentação de fim de noite. Poucas mesas ainda estavam ocupadas. No bar, só havia eu e um homem mais velho, que, de vez em quando, me olhava de canto de olho.

Tamborilei os dedos no balcão, enquanto encarava a tela do meu celular. Eu estava morrendo de vontade de chamar o Henrique ali. Descontar um pouco da minha energia em um sexo bem feito. Cheguei a desbloquear o celular e abrir a conversa dele no WhatsApp, mas desisti.
Era o último dia da semana do Henrique em São Paulo com a família. Não era justo eu chamá-lo ali.

Suspirei, derrotada. Maiara estava certa. Eu precisava parar com aquilo.

Virei o resto do drink, convencida de que era hora de voltar para o quarto. Mas, quando fiz menção de levantar, uma mão firme e gelada tocou meu ombro descoberto.

- Maraisa? - senti meu corpo arrepiar inteiro quando escutei aquela voz cantarolando meu nome. Lá dentro, no meu subconsciente, aquela voz tinha despertado milhares de lembranças.

Eu, fingindo não estar abalada,  virei para a pessoa, sorrindo. Me virei apenas para confirmar o que eu já sabia.

Era ele. Wendell Vieira. Meu ex-noivo.

Fiquei alguns segundos perdida nos olhos dele. Aqueles olhos que eu conhecia tão bem.

- Wendell? - perguntei, me fingindo de sonsa, recuperando meus sentidos aos poucos. Eu tive a sensação de que tinha desaprendido a falar - o que diabos você faz aqui no Rosewood?

Wendell gargalhou, se encostando no balcão ao meu lado.

- Três anos ... Três anos sem trocar uma palavra sequer comigo. E a primeira coisa que você me pergunta é o que estou fazendo em um bar em uma sexta-feira. Não me conhece mais, é?

Eu revirei os olhos para ele, rindo.

- Conheço você suficientemente bem para saber que o bar do Rosewood não é bem o seu lugar... Que se você tivesse opção, estaria em um boteco barato na Vila Madalena bebendo uma Heineken bem gelada...

- Você também - ele se apressou em dizer - a gente era o típico casalzinho butequeiro...

Mordi o lábio, enquanto encarava os olhos escuros dele. Ficamos alguns segundos em silêncio. Era estranho, para mim, estar apreensiva perto dele. Mas, na verdade, não era nenhuma surpresa.

Wendell fora meu único ex que tinha terminado comigo. Todos os outros, era eu quem havia tomado a atitude. Tudo bem que eu colaborara para o término, mas, pela primeira vez, não tinha sido eu a colocar o ponto final. Talvez por isso ele ainda fazia meu coração errar um pouco as batidas.

- Vai querer beber alguma coisa, senhor? - a voz do garçom interrompeu meus pensamentos.

- Não, não - Wendell disse, se desencostando do balcão, como se tivesse levado um choque - já estou de saída.

Encontro com o passado - MADELLOnde as histórias ganham vida. Descobre agora