Se olha no espelho

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- Já viram minha aliança? - Maiara repetiu, pela vigésima vez, dessa vez para o Juninho, um dos integrantes da nossa equipe, que estava de pé, no nosso camarim, terminando de organizar algumas coisas para o show daquela noite.

- Meu deus, Maiara - eu ri, enquanto o Bruno terminava de retocar minha maquiagem - todo mundo entendeu que você está noiva...

Minha irmã deu de ombros, levando o garfo à boca, comendo sua janta, deixando o Julyer terminar de amarrar seu cabelo em um coque.

- Apenas repetindo para reforçar - ela sorriu, quase quicando na cadeira enquanto balançava a mão direita na minha direção, fazendo com que o anel de brilhante reluzisse no seu dedo.

Sorri, rolando os olhos. Apesar de a Maiara estar insuportável, contando até para as paredes que estava noiva, mostrando a aliança para deus e o mundo, apenas uma coisa importava: ela estava feliz novamente.

Eu e o Wendell estávamos bem, Maiara e o Mioto estavam juntos mais uma vez. No final das contas, desde o nosso retorno de Orlando, na noite anterior, as coisas pareciam ter voltado novamente para o lugar.

Porém, apesar da sensação de que tudo estava bem, admito que isso me deixava aflita: tudo parecia estar muito certo, como se algo fosse desandar e dar errado a qualquer minuto.

- Você não sabe aceitar as vitórias de vida, né? - Bruno resmungou, mais cedo, quando eu lhe confidenciara que estava com um sentimento ruim de que algo não estava certo - deixa de ser pessimista, Maraisa!

- Não é ser pessimista - resmunguei, dando de ombros - eu só sinto que algo vai dar errado a qualquer momento...

Desde que eu confindenciara esse sentimento para o Bruno, naquela manhã, a situação só piorara. Parecia que algo ruim estava por vir, mas eu não sabia dizer o quê.

Respirei fundo, tentando esquecer o assunto, pegando o prato de comida que Wendell estendera na minha direção assim que o Bruno anunciou que havia terminado de me arrumar. Eu estava sem fome, mas sabia que era inútil dizer isso para o Wendell. Ele faria eu comer todo aquele pote de frango e salada de qualquer forma, eu querendo ou não.

Abri a tampa e senti o cheiro da comida, torcendo o nariz de imediato. Depois do terceiro mês, os enjoos haviam diminuído, mas desde o nosso retorno da viagem eu estava especialmente ruim nesse quesito.

- Você tá enjoada de novo - Wendell mordeu o lábio inferior, sentando do meu lado e passando os braços ao redor do meu peito.

- Um pouco - respondi, mexendo o conteúdo do pote com o garfo.

- Não foi uma pergunta - ele devolveu, sério - foi uma afirmação. Tá escrito na sua cara que você não está se sentindo bem. Te falei isso desde hoje cedo. Você acabou de voltar de uma viagem longa, amor. Devia cancelar o show de hoje...

- Já disse que não - retruquei, levando o garfo à boca, para provar que eu estava bem, tentando disfarçar a cara de desgosto ao sentir o sabor do frango na minha língua - eu tô bem. Só um pouco cansada.

Wendell não respondeu, apenas ficou com os braços ao redor dos meus ombros, acariciando minhas costas, em silêncio.

De fato, eu não estava nos meus melhores dias, mas isso não seria um obstáculo para que eu fizesse o show. Eu e a Maiara já havíamos nos apresentado em situações muito piores do que aquela. Óbvio que eu daria conta de cantar uma hora e meia e depois voltar para o hotel descansar antes de ir para Goiânia novamente.

Quando levei o garfo à boca pela terceira ou quarta vez, senti uma pontada na boca do estômago, fazendo com que eu me remexesse, desconfortável, no sofá. Por óbvio, Wendell reparou na minha cara de dor, mesmo que, na minha cabeça, eu tivesse disfarçado muito bem.

Encontro com o passado - MADELLOnde as histórias ganham vida. Descobre agora