Felizes para sempre

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Perdi a conta de quantas vezes apertei o botão do elevador, nervosa. Olhei para o relógio na tela do meu celular pela vigésima vez desde que eu arrancara o bilhete do espelho do banheiro e saíra correndo do quarto.

Já eram 19:05h.

Mordi o lábio com tanta força que consegui sentir o gosto de sangue na boca do pedaço de pele que eu arrancara. Meu coração batia tão rápido e tão forte que eu conseguia quase escutá-lo sem esforço algum naquele corredor vazio e silencioso.

Apertei o botão mais uma vez antes de olhar no relógio. 19:06h. Levantei os olhos para o visor que indicava que o elevador estava parado no terraço. Seis andares acima de onde eu estava.

Olhei para os lados e encontrei o que eu procurava: a porta da saída de emergência que levava às escadas. Sem pensar duas vezes, fui até ela e menos de dez segundos depois eu já estava correndo escada acima, pulando de dois em dois degraus.

Óbvio que o pique não durou muito tempo. Ainda faltavam uns três andares quando comecei a sentir o peso do bebê que eu estava carregando na barriga. Mas a minha ansiedade para chegar no terraço era tão grande que eu já nem me importava com a falta de ar nos meus pulmões.

Mais três andares depois, empurrei a porta e logo dei de cara com o amplo terraço do Rosewood. De imediato, para a minha surpresa, percebi que não havia ninguém ali.

A piscina comprida de borda infinita, bem iluminada, estava vazia, assim como o bar ali ao lado.

Fiquei encostada na porta, respirando fundo, tentando fazer minha respiração voltar ao normal. Eu já não sabia se estava ofegante de cansaço ou se de raiva por ter corrido que nem uma idiota até ali para não encontrar ninguém.

Franzi o cenho, começando a ficar irritada comigo mesma. Cinco minutos atrás eu estava querendo matar o Wendell. Por causa de um bilhete idiota, eu havia subido seis andares de escada correndo.

E agora eu estava ali, encostada na porta, depois de deixar um último fio de esperança tomar conta de mim, achando que ele estaria ali me esperando.

Após respirar fundo várias vezes, diminuindo consideravelmente o ritmo das batidas do meu coração, notei que algumas velas decoravam o chão, fazendo uma trilha até o deck de madeira que eu sabia que dava para uma vista estonteante do centro de São Paulo.

E, prestando um pouco mais de atenção, reparei que além do barulho distante do movimento da cidade lá embaixo, fervendo aquela hora da noite, havia um som baixo de violino que saía dos alto falantes do bar da piscina.

Suspirei, caminhando até a beirada do terraço, observando a confusão de carros lá embaixo, sentindo o vento gelado de início de noite quase queimar minhas bochechas e balançar meus cabelos soltos. A solidão e o silêncio pareciam me consumir por dentro, fazendo com que eu levasse, instintivamente, a mão até o volume da minha barriga.

- Estamos sozinhas nessa, Maya - sussurrei, acariciando o meu ventre.

Escutei uma risada baixa vinda de trás de mim, seguida por alguns passos secos na madeira que revestia o deck.

- Vocês nunca vão estar sozinhas - alguém sussurrou de volta.

Sem pensar duas vezes, eu sorri, mesmo que sem querer. Não precisei me virar para saber que ele estava ali.

Continuei olhando para a lua no céu, relutando em virar para olhá-lo nos olhos. No fundo, apesar do alívio em saber que Wendell aparecera, não era suficiente para responder todas as minhas dúvidas e minhas frustrações daquele dia.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 11, 2023 ⏰

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