Veneno e remédio

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- Eu só quero comer alguma coisa e ganhar uma massagem nos pés - Maiara se jogou no sofá assim que chegamos em casa, apoiando as pernas em cima da mesa de centro - eu tô morta de cansada.

- Você tá com fome de novo? - Paulinha torceu o nariz - Maiara, você comeu todos os tipos de comida que tinha na festa...

- Isso foi três horas atrás - minha gêmea deu de ombros, enquanto mexia no celular, distraída - tem que comer de três em três horas, não?

Paulinha franziu o cenho, a expressão séria, mas apenas se limitou a perguntar o que minha irmã queria comer.

- Abacate - ela respondeu, sem levantar o olhos do telefone - abacate com mel.

Fiz um barulho simulando ânsia de vômito, fazendo com que a Maiara rolasse os olhos na minha direção.

- Que nojo - soltei, sentando do lado dela - você tá comendo umas coisas muito estranhas, não? Parece desejo de grávida isso...

Maiara deu de ombros, em nítida tentativa de fingir despreocupação, mas eu jurei que senti que, lá no fundo, ela ficou incomodada com o comentário.

Ficamos sentadas no sofá da sala, em silêncio, as duas mexendo no celular. Eu, pelo menos, estava fingindo estar entretida, pensando em alguma forma de começar o assunto do Wendell e contar para a Maiara tudo que acontecera naquele quarto horas atrás. Eu precisava desabafar com alguém e colocar para fora o que estava me sufocando.

Poucos minutos depois, Paulinha voltou para a sala, entregando um pote com abacate e mel para a Maiara, antes de desejar boa noite e subir para o quarto, deixando eu e a minha irmã sozinhas na sala.

Maiara abriu um sorriso de felicidade ao levar a primeira colherada à boca, fazendo com que eu torcesse o nariz.

- Juro por deus, Maiara... Que gororoba é essa?

- Tá uma delícia - ela disse, de boca cheia - deixa eu comer, pro meu filho não nascer com cara de abacate... - percebi que, antes de terminar a frase, Maiara deu uma gaguejada, como ela sempre fazia quando sabia que tinha falado demais.

Encarei-a, intrigada, esperando uma justificativa para o comentário. Para minha surpresa, ela riu, revirando os olhos de forma irônica.

- Credo, Maraisa, que cara é essa? Tô só brincando, óbvio que não estou grávida... Eu quero é saber o que rolou durante a meia hora de festa que você simplesmente desapareceu...

Fuzilei-a com o olhar, ainda tentando decifrar a brincadeira que me soou esquisita, mas suspirei em seguida. Ela finalmente havia me dado a abertura que eu precisava para desabafar.

- A barbie da shopee tá grávida? - minha irmã largou, depois que eu terminei de contar com detalhes o episódio com o Wendell durante o aniversário mais cedo.

- Maiara! - soltei, em tom de repreensão, mas não consegui esconder o sorriso.

Maiara sorriu, mas fechou a cara em seguida, pensativa.

- Você tem certeza que ela tá grávida? - ela repetiu, tamborilando os dedos em cima da coxa, as pernas cruzadas em cima do sofá.

Encarei-a, confusa, sem entender o motivo da dúvida.

- Foi o que o Wendell disse... Por quê a surpresa?

Minha irmã deu de ombros, fingindo desinteresse.

- Sei lá... Mas era meio óbvio que tinha algo errado nisso tudo né... Talvez por isso ele tenha decidido casar com ela...

- Maiara - eu interrompi - não tenta justificar. Não tem justificativa. Ele podia ser pai sem casar com ela - suspirei, como se as palavras que eu disse a seguir me custassem a serem ditas - ele vai casar com ela porque quer. Simples assim.

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now