Cuida bem dela

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- Maraisa, você sabe que a resposta é não - Maiara estava sentada na ponta do sofá, digitando no celular, frenética, a cara fechada - e não tem discussão.

Torci o nariz, disposta a insistir o quanto fosse necessário. Virei minha cabeça em direção ao Wendell, meu olhar implorando para que ele militasse ao meu favor, sem sucesso.

- Você sabe que eu não vou emitir opinião sobre - ele disse, sentando do meu lado no sofá, distraído, também mexendo no celular - a Maiara que foi na última consulta com você, ela sabe melhor do que eu a situação...

- A médica disse que eu podia! - resmunguei, cruzando os braços, igual criança emburrada quando a mãe se nega a comprar uma bala no caixa do supermercado.

- Ela disse que podia se fosse necessário - Maiara fez questão de frisar a última palavra propositalmente.

- E é necessário! - devolvi - fala sério, irmã, quando vamos ter a chance de novo de gravar uma coisa dessas? Não era você que sempre quis ser atriz?

Maiara ameaçou dizer algo, mas visivelmente desistiu. Ela sabia que, nesse ponto, eu estava certa. Era uma oferta irrecusável e que mexia com um grande sonho dela.

- Irmã... - eu continuei, encarando-a nos olhos - sempre foi seu sonho, lembra? Fazer uma participação como atriz, gravar uma novela... A gente não pode deixar passar...

- Maraisa - Maiara me interrompeu, mas eu percebi pela sua expressão que eu estava quase convencendo ela - você sabe que a sua gravidez...

- Faz mais de dois meses que eu tô presa em casa. Tenho me comportado, comido, dormido cedo, feito exercício sob supervisão, saio de casa só para caminhar e pegar um sol. Tô me esforçando, vai...

Percebi que Maiara rolou os olhos, o que fez com que eu sorrisse. Ela sabia que eu, de fato, estava me esforçando desde o susto que eu dera naquele show em janeiro. E ela também sabia que era uma oportunidade única para Maiara e Maraisa.

- Um dia só, Maraisa. Vamos amanhã cedo para São Paulo, gravamos, voltamos no outro dia. Sem inventar nada lá. É chegar no hotel, gravar, dormir e voltar para Goiânia.

Abri um sorriso vitorioso, levantando em um pulo e me jogando do lado dela no sofá, envolvendo-a em um abraço. Eu nem estava tão empolgada assim para gravar a novela. Mas a possibilidade de sair dos portões do Aldeia do Vale para fazer algo que não fosse ir ao médico ou visitar o Wendell me deixara em êxtase.

- Você é a melhor irmã do mundo! - enchi a bochecha dela de beijos, fazendo com que ela se debatesse.

- Eu sei, eu sei - Maiara rolou os olhos, risonha, me afastando - vai arrumar suas coisas. Vou telefonar para o escritório e pedir que o nosso voo saia amanhã bem cedo.

Pulei do sofá, fazendo sinal para que o Wendell se levantasse também.

- Você, vem comigo... Eu e a Maya precisamos de ajuda para fazer a mala!

Wendell levantou do sofá, mas fez que não com a cabeça, erguendo os olhos do celular só por alguns segundos.

- Lembrei agora que tenho que resolver algumas coisas ainda hoje, vou aproveitar que você vai ter distração até de noite. Nos falamos mais tarde, tudo bem? - ele perguntou, dando um beijo na minha testa e saindo da sala, pegando as chaves do seu carro no balcão, antes que eu tivesse tempo de responder qualquer coisa.

Franzi o cenho, desgostosa, mas afastei minha irritação logo em seguida. Eu não tinha como negar que o tempo em casa fizera com que eu ficasse cada dia mais acostumada com a proximidade do Wendell. Ele adiara, nas últimas semanas, vários compromissos e reuniões só para passar alguns dias me fazendo companhia para que eu não me sentisse tão sozinha.

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now