Libera ela

764 96 97
                                    

Eu estava assistindo algum filme de qualidade duvidosa, sentado no sofá da sala, naquela manhã de sábado chuvoso, quando escutei a campainha tocar.

Consultei o relógio. Eram oito da manhã. Luísa havia saído uns dez minutos antes para a academia. Talvez tivesse esquecido alguma coisa. Ou talvez fosse o Jorge. Havíamos combinado de nos ver mais tarde, mas ele não costumava a avisar quando simplesmente decidia chegar mais cedo.

Levantei, caminhando devagar até a porta, enquanto a campainha tocava novamente, impaciente. De imediato, me veio à mente a lembrança da pessoa que havia tocado a campainha com essa mesma impaciência, dias antes.

Destranquei a porta e observei o visitante inesperado. Por uns segundos, havia esquecido como se respirava. Eu não esperava, de forma alguma, que ela viesse me ver de novo, tão pouco tempo depois da nossa última conversa, que não terminara muito bem.

Materializada na minha frente estava uma pessoa de pouco mais de 1,50 metro, usando um conjunto de moletom preto, o rosto quase completamente coberto pelo capuz, usando um óculos de sol e com a cabeça baixa.

Abri a boca para falar algo, mas a visitante me interrompeu antes:

- Anda, me deixa entrar. Não posso ser vista aqui.

Dei um passo para o lado, liberando a passagem, enquanto a mulher pulava para dentro do hall. Fiz menção de chamá-la pelo nome, mas, assim que ela finalmente levantou um pouco o rosto para mim, percebi que uma mecha ruiva de cabelo escapara por debaixo do capuz.

- Maiara? - soltei, sem conseguir esconder uma pontada de decepção na voz, apesar de surpreso.

A gêmea da Maraisa sorriu, com uma mão puxando o capuz para baixo e, com a outra, tirando o óculos de sol do rosto.

- Você nem para disfarçar que eu não sou a gêmea que você estava esperando - ela franziu o cenho, a expressão um tanto fechada. Maiara, que costumava estar sempre saltitante e serelepe, estava visivelmente tensa.

Fiz sinal com a cabeça para que ela seguisse até a sala. Maiara, de imediato, sentou no sofá, enquanto eu servia dois copos de água no bar.

- Você? Servindo água? - ela torceu o nariz - quem é você e o que fez com o Wendell? - Maiara soltou, antes de aceitar o copo que eu lhe ofereci.

- Estou sem beber. Mas, se você quiser, te sirvo um uísque - fiz menção de voltar até o bar, ainda aéreo e tentando entender o que a presença da Maiara ali na minha sala significava.

- Não - ela respondeu, prontamente - também estou... Sem beber - a gêmea de Maraisa completou.

Sentei no sofá de frente para ela e fiz a pergunta que estava fazendo meu estômago revirar.

- Aconteceu alguma coisa com a Maraisa? Ela tá bem? O bebê também?

Maiara rolou os olhos, visivelmente irritada.

- Para quem demoliu minha irmã em pedaços no último mês você tá bem preocupado, hein - ela soltou, mordendo o lábio - óbvio que ela não tá bem. Vamos contar para nossa família hoje durante o almoço que estamos grávidas... E o pai do filho dela não vai estar lá para apoiá-la.

Senti como se as palavras que saíram dos lábios da Maiara tivessem me acertado como um soco na boca do estômago.

- Pera... - falei, minha cabeça ainda processando o que ela me dissera - "estamos grávidas"? Você também?

Ela se remexeu desconfortavelmente no sofá e jogou a cabeça para trás, visivelmente puta consigo mesma por ter soltado a informação.

- Que merda - Maiara tapou o rosto com as duas mãos - eu odeio ser boca de sacola...

Encontro com o passado - MADELLOnde as histórias ganham vida. Descobre agora