Encontro com o passado - MADE...

By aluisa_

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Encarei meu reflexo no espelho de corpo todo em uma das portas do armário, usando só a lingerie. Apesar dos m... More

Oi sumido
Casalzinho butequeiro
Sem tirar a roupa
Tchau falou
Ponta solta
Dois idiotas
Como é que larga desse trem?
Show completo
Melhor terminar
Traí sim
Coração infectado
Repertório de outro
Solidão é uma ressaca
É rolo
Bengala e crochê
Aí eu bebo
Lágrimas
Ligação de emergência
Fala a verdade
Veneno e remédio
Nem Tchum
Campo minado
Não abro mão
Certo pelo duvidoso
Libera ela
Te procurava de novo
Incomparável
Futuro
No dia do seu casamento
No dia do seu casamento II
Quase um casal
Nunca vai ser um adeus
Correntes e cadeados
Imagina
Cachorro de madame
Amores da minha vida
Só lamento
Medo bobo
A culpa é nossa
Ex de algúem
Presepada
5 minutos ou 50 anos
Calma respira
Sem legenda
Jogo é jogo
Cuida bem dela
A pergunta
Felizes para sempre

Se olha no espelho

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By aluisa_

- Já viram minha aliança? - Maiara repetiu, pela vigésima vez, dessa vez para o Juninho, um dos integrantes da nossa equipe, que estava de pé, no nosso camarim, terminando de organizar algumas coisas para o show daquela noite.

- Meu deus, Maiara - eu ri, enquanto o Bruno terminava de retocar minha maquiagem - todo mundo entendeu que você está noiva...

Minha irmã deu de ombros, levando o garfo à boca, comendo sua janta, deixando o Julyer terminar de amarrar seu cabelo em um coque.

- Apenas repetindo para reforçar - ela sorriu, quase quicando na cadeira enquanto balançava a mão direita na minha direção, fazendo com que o anel de brilhante reluzisse no seu dedo.

Sorri, rolando os olhos. Apesar de a Maiara estar insuportável, contando até para as paredes que estava noiva, mostrando a aliança para deus e o mundo, apenas uma coisa importava: ela estava feliz novamente.

Eu e o Wendell estávamos bem, Maiara e o Mioto estavam juntos mais uma vez. No final das contas, desde o nosso retorno de Orlando, na noite anterior, as coisas pareciam ter voltado novamente para o lugar.

Porém, apesar da sensação de que tudo estava bem, admito que isso me deixava aflita: tudo parecia estar muito certo, como se algo fosse desandar e dar errado a qualquer minuto.

- Você não sabe aceitar as vitórias de vida, né? - Bruno resmungou, mais cedo, quando eu lhe confidenciara que estava com um sentimento ruim de que algo não estava certo - deixa de ser pessimista, Maraisa!

- Não é ser pessimista - resmunguei, dando de ombros - eu só sinto que algo vai dar errado a qualquer momento...

Desde que eu confindenciara esse sentimento para o Bruno, naquela manhã, a situação só piorara. Parecia que algo ruim estava por vir, mas eu não sabia dizer o quê.

Respirei fundo, tentando esquecer o assunto, pegando o prato de comida que Wendell estendera na minha direção assim que o Bruno anunciou que havia terminado de me arrumar. Eu estava sem fome, mas sabia que era inútil dizer isso para o Wendell. Ele faria eu comer todo aquele pote de frango e salada de qualquer forma, eu querendo ou não.

Abri a tampa e senti o cheiro da comida, torcendo o nariz de imediato. Depois do terceiro mês, os enjoos haviam diminuído, mas desde o nosso retorno da viagem eu estava especialmente ruim nesse quesito.

- Você tá enjoada de novo - Wendell mordeu o lábio inferior, sentando do meu lado e passando os braços ao redor do meu peito.

- Um pouco - respondi, mexendo o conteúdo do pote com o garfo.

- Não foi uma pergunta - ele devolveu, sério - foi uma afirmação. Tá escrito na sua cara que você não está se sentindo bem. Te falei isso desde hoje cedo. Você acabou de voltar de uma viagem longa, amor. Devia cancelar o show de hoje...

- Já disse que não - retruquei, levando o garfo à boca, para provar que eu estava bem, tentando disfarçar a cara de desgosto ao sentir o sabor do frango na minha língua - eu tô bem. Só um pouco cansada.

Wendell não respondeu, apenas ficou com os braços ao redor dos meus ombros, acariciando minhas costas, em silêncio.

De fato, eu não estava nos meus melhores dias, mas isso não seria um obstáculo para que eu fizesse o show. Eu e a Maiara já havíamos nos apresentado em situações muito piores do que aquela. Óbvio que eu daria conta de cantar uma hora e meia e depois voltar para o hotel descansar antes de ir para Goiânia novamente.

Quando levei o garfo à boca pela terceira ou quarta vez, senti uma pontada na boca do estômago, fazendo com que eu me remexesse, desconfortável, no sofá. Por óbvio, Wendell reparou na minha cara de dor, mesmo que, na minha cabeça, eu tivesse disfarçado muito bem.

- Você tá com dor - ele afirmou, sem rodeios, colocando a mão na minha barriga.

Não respondi, apenas bebi um gole longo do copo de água que estava na mesa na minha frente. Não adiantava eu tentar mentir para o Wendell. Ele já estava nos acompanhando nos shows antes mesmo da nossa viagem para Orlando. Se tinha uma coisa que ele sabia, era quando eu estava bem ou não.

- Maraisa... - ele começou, quase em tom de súplica - eu posso ligar para a médica, ela vem te examinar aqui...

Fiz que não com a cabeça, irritada.

- Nem pensar. Vai dar o maior alarde se você chamar um médico aqui agora. A última coisa que eu quero é chamar atenção.

Wendell concordou com a cabeça, mas estava visivelmente contrariado. Se dependesse dele, sem dúvidas, o show já estava cancelado e estaríamos no caminho do hospital mais próximo.

- Maiara e Maraisa, cinco minutos no palco! - um dos produtores soltou, apenas colocando a cabeça para dentro do camarim e fechando a porta novamente em seguida.

Entreguei o pote da minha janta na mão do Wendell e levantei do sofá. Para minha sorte, ele estava tão preocupado em reclamar que eu não havia comido tudo que sequer percebeu que eu dera uma leve desequilibrada na hora que fiquei de pé.

"Nada demais. Você está enjoada e levantou muito rápido", pensei, respirando fundo, colocando, involuntariamente, a mão na barriga, como se estivesse protegendo a bebê do que eu estava sentindo.

- Bom show, minhas meninas - Wendell se aproximou, me envolvendo com os dois braços - se cuidem. Estarei aqui esperando vocês para irmos direto para o hotel descansar. Sem discussão.

Eu sorri, um sorriso genuíno, que fez eu esquecer, por um momento, todas as dores que eu estava sentindo, deixando um beijo calmo e suave nos lábios dele. Uma das coisas que eu mais gostava era ouvir ele falando tudo no plural, como se eu e a bebê já não fôssemos mais a mesma pessoa.

E eu era obrigada a admitir que eu me fazia de durona, muitas vezes. Apesar de resmungar e reclamar do instinto protetor do Wendell comigo e com a bebê, me tratando quase como se eu fosse um vaso de cristal delicado que podia quebrar a qualquer toque leve, o sorriso bobo que ele dava toda vez que me olhava, cheio de preocupação e cuidado, fazia eu me sentir a pessoa mais especial que caminhava sob a terra.

E isso fazia eu me sentir de uma forma que há tempo não me sentia: completa. Em todos os âmbitos da minha vida.

- Eita que você tá mais branca que papel - Maiara soltou, apressando o passo para caminhar do meu lado pelos corredores do backstage, em direção ao palco, me trazendo de volta à realidade - tá tudo bem?

- Você também? - resmunguei, sem diminuir o passo - Wendell tá pagando você para ser minha babá?

- Eita que ela tá mal humorada hoje - Maiara retrucou, torcendo o nariz.

Respirei fundo, arrependida pela resposta direta e ríspida que eu dera.

- Desculpa - mordi o lábio, enquanto me encostava na coxia do palco - estou um tanto enjoada e com um pouco de cólica...

- De novo? - minha gêmea constatou, parando na minha frente, de braços cruzados - você reclamou da mesma coisa antes de embarcar de volta para o Brasil...

- É da viagem - respondi, cortando minha irmã - não dormi muito bem no voo da volta...

- Desde quando você virou a Dra. Maraisa, formada em medicina e com especialidade em obstetrícia? - Maiara soou um pouco irritada - você tem que ver um médico, Maraisa... Não é mais só sobre você, é sobre a sua filha também...

Suspirei, derrotada. Maiara estava certa. A minha mania de querer fazer e resolver tudo sozinha estava começando a ir longe demais.

- Vamos ver um médico depois do show. Sem discussão - minha irmã me deu um beijo na bochecha, antes de sumir pela parte de trás do palco, indo se preparar para a entrada, me deixando sozinha na coxia do lado esquerdo.

Fechei os olhos e respirei fundo, tentando me concentrar em algo que não fosse minha dor de estômago e o enjoo, que pareciam só aumentar.

O som dos gritos e aplausos do público, assim que começaram a anunciar nosso show, encheram meus ouvidos. Geralmente, esse era o barulho que mais me emocionava e me deixava realizada em todo o mundo. Mas, naquela noite, eu só queria que todos fizessem silêncio, para que a dor de cabeça, que começava a querer aparecer, apenas fosse embora.

Abri os olhos, enquanto começava a escutar a música da introdução da nossa entrada no palco. Dei de cara com um espelho ali do backstage, alguns poucos metros na minha frente, que eu não havia reparado que estava ali antes.

Observei, com calma, o meu reflexo de corpo inteiro, me encarando de volta. O vestido preto de manga comprida e um ombro só que eu usava marcava, de leve, minha barriga. Desde nossa ida para Orlando, a "monstrinha" resolvera dar o ar da graça, fazendo um pequeno volume, antes inexistente, surgir no lugar do meu abdômen reto.

Mordi o lábio, apreensiva. Enxergar a bebê começando a aparecer fazia com que tudo aquilo ficasse ainda mais real. Era estranho, mas muitas vezes eu ainda não assimilava que, de fato, eu estava grávida e seria mãe.

- Vocês estão lindas - escutei a voz do Wendell sussurrar, antes mesmo de enxergá-lo parado atrás de mim, através do espelho, enquanto eu passava a mão sob meu ventre, distraída.

- Tô é ficando gorda - resmunguei, pousando a mão na barriga e encarando meu reflexo, de lado. Obviamente, não era isso que me preocupava, mas achei ser um bom escape para que o assunto não fosse as dores e o mal estar que eu estava sentindo.

Por óbvio, ele revirou os olhos, me abraçando por trás.

- Sério isso? Se olha no espelho, Maraisa - Wendell mandou e eu obedeci, logo em seguida, encarando meu reflexo - você não tem noção de quanto é linda - ele me virou, fazendo com que ficássemos frente a frente, e usou as duas mãos para levantar minhas bochechas e forçar um sorriso no meu rosto - e quando sorri mais bonita ainda... Principalmente se for assim, totalmente espontânea.

Rimos, antes de eu dar um suspiro pesado, encostando minha cabeça no seu ombro.

- Eu não estou me sentindo muito bem - sussurrei, usando todas as minhas forças e ferindo meu orgulho para admitir aquilo.

- Eu sei - Wendell respondeu, afagando meus cabelos - já liguei para a médica. Ela está de plantão. Vamos sair daqui depois do show e ir direto para lá, tá bom?

Concordei com a cabeça, segurando o choro.

- Agora vai lá e brilha, como você sempre faz. Vou estar esperando vocês bem aqui - ele beijou o topo da minha cabeça, desfazendo o abraço.

- Maraisa - escutei uma voz quase que do além me chamar - você tá doida? Entra logo no palco! - Maiara ralhou comigo pelo microfone interno, fazendo com que eu reparasse que ela estava no fundo do palco, sozinha, de costas para o público. Pelo andar da música de introdução, eu tinha uns cinco segundos para chegar até o lado dela.

Sem nem conseguir me despedir do Wendell, corri em direção à minha gêmea, exatamente no tempo suficiente para que fizéssemos nossa entrada no palco.

- Você tá bem? - Maiara sussurrou novamente no microfone interno, mexendo o mínimo possível os lábios.

Dei um suspiro demorado, enquanto minha irmã começava a cantar a primeira música do repertório do show e eu acenava para o público, forçando um sorriso. Se eu ganhasse um real toda vez que alguém me perguntara naquele dia se eu estava bem, com certeza já poderia me aposentar.

Maiara, por óbvio, percebeu pela minha cara a resposta óbvia para a pergunta dela. Eu não estava bem. Cada passo que eu dava no palco era uma pontada que eu sentia na minha barriga e uma onda de arrependimento me invadia, me sentindo uma idiota por não ter escutado meu corpo e cancelado o show, como todo mundo havia me recomendado.

Como sempre fazíamos quando sabíamos que uma de nós não estava bem, minha gêmea assumiu o show com maestria e comandou o público durante a hora e meia que ficamos em cima do palco. Apesar de também estar visivelmente cansada da viagem, da gravidez e do êxtase que fora o pedido de casamento, ela não fraquejara um segundo sequer durante toda a apresentação.

Eu, por outro lado, estava me esforçando ao máximo para ficar de pé. Cada segundo, para o meu corpo, parecia levar horas para passar. Maiara, de tempos em tempos, me lançava alguns olhares discretos, parecendo não estar muito contente com a minha cara.

- Irmã - ela falou no microfone interno, aproveitando um pequeno intervalo entre duas músicas, próximo ao final do show - sai do palco. Eu termino sozinha.

Fiz que não com a cabeça, sentindo as dores na barriga aumentarem ainda mais, as luzes fortes dos refletores do palco quase me cegando, fazendo a dor de cabeça que eu sentia se intensificar. Eu sabia que, se eu descesse do palco antes da minha irmã, coisa que eu nunca fazia, em poucos minutos o assunto dominaria a internet e todo mundo saberia que eu não estava bem, fazendo a fofoca rolar solta.

Além do mais, eu nunca havia abandonado um show antes do fim em anos de carreira, ainda mais tão perto de terminar. Faltava só mais uma música. Aquela noite não seria a primeira vez. Só mais cinco minutos e eu poderia sair sem que ninguém estranhasse e ir para o hospital.

- Maraisa! - Maiara rugiu, ficando de costas para o público e de frente para mim, abandonando completamente o tom de voz manso do comentário anterior, fazendo questão de deixar claro que aquilo era uma ordem -  sai do palco. Você precisa ir para o hospital agora!

Não soube dizer o quê eu deixei transparecer para que a Maiara estivesse tão preocupada e segura de que eu precisava sair do palco naquele exato momento. Por óbvio, ela já sabia desde antes do show que eu não estava nos meus melhores dias, afinal, já havia dito que eu era obrigada a ir para o médico depois da nossa apresentação.

Mas eu não podia negar que eu e minha gêmea tínhamos uma conexão incrível. Eu não precisava deixar evidente meu desconforto para que a Maiara soubesse que eu não estava nem um pouco bem. Ela apenas sabia, sem mais nem menos, sem justificativas.

Maiara levantou a mão, em claro sinal para a banda segurar a última música, caminhando na minha direção. Conforme ela ia se aproximando, pude perceber que a minha visão estava ficando embaçada e meu corpo foi amolecendo aos poucos.

Consegui me manter de pé pelo tempo exato para que minha irmã pudesse me segurar pela cintura, evitando que eu caísse no chão. Menos de cinco segundos depois, senti outras várias mãos me segurando e me carregando para fora do palco.

Senti meu corpo mole sendo abraçado e carregado no colo por alguém, que vociferava ordens para todos no backstage, a voz visivelmente trêmula de nervoso e tomada pelo medo.

- Wendell... - sussurrei, sentindo que ia apagar em breve. As vozes de todos ao meu redor ficavam cada vez mais distantes, como se eu estivesse me afastando de todos, aos poucos, caminhando na direção contrária de todo mundo.

Quando escutou minha voz fraca, ele baixou o olhar na minha direção. Pude enxergar o mais puro desespero e preocupação em seus olhos, quase como se ele estivesse assistindo a cena mais aterrorizante da vida dele se desenrolar bem na sua frente.

Wendell não parou de correr, me carregando, provavelmente em direção ao carro, parado no estacionamento.

- Ela tá sangrando! - escutei ele gritar, fazendo com que o alvoroço ao nosso redor aumentasse e ele apressasse o passo.

Senti uma onda de tensão invadir meu corpo. Por óbvio, isso não era um bom sinal. Eu queria chorar, gritar de dor, de raiva de mim mesma por ter deixado aquilo chegar naquela situação. Mas eu simplesmente não conseguia. Minhas últimas forças estavam sendo usadas para manter meus olhos abertos.

- Wendell... - eu sussurrei de novo, quase sem voz, enquanto ele sentava no banco de trás de um carro e me acomodava no seu colo, seguido por um barulho forte, provavelmente a porta do veículo se fechando - salva a nossa "monstrinha"...

Depois disso, foi só escuridão.

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