Encontro com o passado - MADE...

By aluisa_

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Encarei meu reflexo no espelho de corpo todo em uma das portas do armário, usando só a lingerie. Apesar dos m... More

Oi sumido
Casalzinho butequeiro
Sem tirar a roupa
Tchau falou
Ponta solta
Dois idiotas
Como é que larga desse trem?
Show completo
Melhor terminar
Traí sim
Coração infectado
Repertório de outro
Solidão é uma ressaca
É rolo
Bengala e crochê
Aí eu bebo
Lágrimas
Ligação de emergência
Fala a verdade
Veneno e remédio
Nem Tchum
Campo minado
Não abro mão
Certo pelo duvidoso
Te procurava de novo
Incomparável
Futuro
No dia do seu casamento
No dia do seu casamento II
Quase um casal
Nunca vai ser um adeus
Correntes e cadeados
Imagina
Cachorro de madame
Amores da minha vida
Só lamento
Medo bobo
A culpa é nossa
Ex de algúem
Presepada
Se olha no espelho
5 minutos ou 50 anos
Calma respira
Sem legenda
Jogo é jogo
Cuida bem dela
A pergunta
Felizes para sempre

Libera ela

766 96 97
By aluisa_

Eu estava assistindo algum filme de qualidade duvidosa, sentado no sofá da sala, naquela manhã de sábado chuvoso, quando escutei a campainha tocar.

Consultei o relógio. Eram oito da manhã. Luísa havia saído uns dez minutos antes para a academia. Talvez tivesse esquecido alguma coisa. Ou talvez fosse o Jorge. Havíamos combinado de nos ver mais tarde, mas ele não costumava a avisar quando simplesmente decidia chegar mais cedo.

Levantei, caminhando devagar até a porta, enquanto a campainha tocava novamente, impaciente. De imediato, me veio à mente a lembrança da pessoa que havia tocado a campainha com essa mesma impaciência, dias antes.

Destranquei a porta e observei o visitante inesperado. Por uns segundos, havia esquecido como se respirava. Eu não esperava, de forma alguma, que ela viesse me ver de novo, tão pouco tempo depois da nossa última conversa, que não terminara muito bem.

Materializada na minha frente estava uma pessoa de pouco mais de 1,50 metro, usando um conjunto de moletom preto, o rosto quase completamente coberto pelo capuz, usando um óculos de sol e com a cabeça baixa.

Abri a boca para falar algo, mas a visitante me interrompeu antes:

- Anda, me deixa entrar. Não posso ser vista aqui.

Dei um passo para o lado, liberando a passagem, enquanto a mulher pulava para dentro do hall. Fiz menção de chamá-la pelo nome, mas, assim que ela finalmente levantou um pouco o rosto para mim, percebi que uma mecha ruiva de cabelo escapara por debaixo do capuz.

- Maiara? - soltei, sem conseguir esconder uma pontada de decepção na voz, apesar de surpreso.

A gêmea da Maraisa sorriu, com uma mão puxando o capuz para baixo e, com a outra, tirando o óculos de sol do rosto.

- Você nem para disfarçar que eu não sou a gêmea que você estava esperando - ela franziu o cenho, a expressão um tanto fechada. Maiara, que costumava estar sempre saltitante e serelepe, estava visivelmente tensa.

Fiz sinal com a cabeça para que ela seguisse até a sala. Maiara, de imediato, sentou no sofá, enquanto eu servia dois copos de água no bar.

- Você? Servindo água? - ela torceu o nariz - quem é você e o que fez com o Wendell? - Maiara soltou, antes de aceitar o copo que eu lhe ofereci.

- Estou sem beber. Mas, se você quiser, te sirvo um uísque - fiz menção de voltar até o bar, ainda aéreo e tentando entender o que a presença da Maiara ali na minha sala significava.

- Não - ela respondeu, prontamente - também estou... Sem beber - a gêmea de Maraisa completou.

Sentei no sofá de frente para ela e fiz a pergunta que estava fazendo meu estômago revirar.

- Aconteceu alguma coisa com a Maraisa? Ela tá bem? O bebê também?

Maiara rolou os olhos, visivelmente irritada.

- Para quem demoliu minha irmã em pedaços no último mês você tá bem preocupado, hein - ela soltou, mordendo o lábio - óbvio que ela não tá bem. Vamos contar para nossa família hoje durante o almoço que estamos grávidas... E o pai do filho dela não vai estar lá para apoiá-la.

Senti como se as palavras que saíram dos lábios da Maiara tivessem me acertado como um soco na boca do estômago.

- Pera... - falei, minha cabeça ainda processando o que ela me dissera - "estamos grávidas"? Você também?

Ela se remexeu desconfortavelmente no sofá e jogou a cabeça para trás, visivelmente puta consigo mesma por ter soltado a informação.

- Que merda - Maiara tapou o rosto com as duas mãos - eu odeio ser boca de sacola...

Eu sorri, aproveitando que a notícia tinha amenizado um pouco o clima hostil entre nós.

- Por isso você recusou o álcool... É filho do Gustavo, né?

- Esquece - ela devolveu, sem me dar abertura - não é sobre a minha gravidez que vim falar. Nem sobre a da Maraisa, na verdade. E não te interessa quem é o pai do meu filho. Você tem que se preocupar com o seu.

Eu a encarei a nos olhos, surpreso, sentindo a tensão voltar a reinar na sala. Ela estava claramente magoada, o que não me surpreendia. As gêmeas se defendiam como dois leões ferozes, e eu havia, por óbvio, machucado uma delas. Mas continuava sendo estranho para mim escutar aquilo tudo vindo diretamente da boca da Maiara.

A gêmea da Maraisa sempre fora a maior apoiadora do nosso relacionamento e eu sabia que ela ter tomado a liberdade de vir até ali e jogar aquelas palavras em mim significava uma coisa só: eu não tinha mais nenhum aliado sequer naquela luta que eu travara.

- Maiara... - eu comecei, respirando fundo, na tentativa de começar a me justificar, mas minha ex cunhada levantou a mão, fazendo sinal para que eu parasse.

- Eu não vim aqui escutar a sua história. Acredite em mim quando eu digo que já ouvi ela mil vezes da boca da minha irmã, enquanto ela chorava no meu colo. Eu já conheço o seu papo de "eu te amo, mas a Luísa está grávida também".

Respirei fundo, tentando conter o incômodo que crescia no meu peito. Eu já sabia, por óbvio, que tinha feito a Maraisa sofrer muito nos últimos tempos. Mas escutar a irmã dela me confirmando aquilo, com um olhar visivelmente irritado de quem estava me julgando, havia me ferido de mil maneiras possíveis.

- Vou ser breve. Tenho bastante coisa para resolver para o almoço de família de hoje. Também preciso contar para o pai do meu filho que estou grávida, antes que a sua noiva faça o favor de também vazar a informação - Maiara se levantou, largando o copo em cima da mesa de centro. Foi só nesse momento que percebi que ela segurava um envelope pardo pequeno em sua mão esquerda.

- A Luísa não está em casa... - comecei, tentando tranquilizá-la, mas Maiara novamente me interrompeu, estendendo o envelope na minha direção.

- Toma. Você não tem noção de quantas leis eu quebrei para conseguir isso aqui. Então pelo amor de deus... - percebi que o tom de voz dela ficou mais suave e sua expressão adquiriu um ar melancólico - faça valer a pena o risco de eu ir presa.

Peguei o envelope da mão dela e percebi que era extremamente leve, indicando que, provavelmente, havia apenas papel ali dentro.

No instante seguinte, Maiara deu um suspiro longo, me encarando nos olhos. Apesar de visivelmente irritada comigo, eu pude sentir que ela estava ali não só na tentativa de ajudar a sua irmã, mas também porque ainda nutria certo afeto por mim.

- A Maraisa ainda te ama - ela soltou, o que foi suficiente para que eu perdesse a luta para as lágrimas que eu me esforçava em segurar - por incrível que pareça... - Maiara sorriu pela primeira vez desde que me vira - você consegue, de alguma forma, transformar aquele poço de razão e independência em uma mulher sensível e frágil. Mas ela não é otária, Wendell. E, convenhamos, minha irmã nem combina com o homem frouxo e manipulado que você se tornou nos últimos dois meses - ela parou, respirando fundo, antes de segurar minha mão livre e continuar - mas eu sei que você não é esse homem.

Concordei com a cabeça, incapaz de verbalizar qualquer coisa, enquanto as lágrimas continuavam correndo pela minha face. Maiara soltou minha mão e me deu as costas, caminhando até a porta da frente, abrindo-a, revelando a chuva que continuava a cair torrencialmente na rua.

Eu queria falar mil coisas para ela. Dizer que tudo que eu estava fazendo era exatamente para proteger a Maraisa. Dizer que eu amava a sua irmã. Que ser o pai do filho dela tinha sido a melhor notícia que eu já recebera na vida. Mas, naquele instante, eu havia perdido a capacidade de falar.

A angústia que se formara no meu peito era sinal de que eu tinha plena ciência do que aquilo significava. A ida da Maiara até ali era um claro sinal de que a irmã gêmea dela já tinha desistido de mim.

- Wendell - ela falou, virando a cabeça levemente sob o ombro - se isso não for suficiente para você acordar... Libera a minha irmã. Amar também é deixar ir embora.

Senti o nó que se formara na minha garganta aumentar, enquanto segurava o envelope que Maiara me entregara minutos antes em uma das mãos. Antes que eu pudesse falar qualquer outra coisa, Maiara já cobrira novamente sua cabeça com o capuz e correra em direção ao carro, parado do outro lado da rua, agora deserta, entrando no lado do passageiro.

Corri atrás dela, mas não rápido o suficiente. Assisti ao motorista acelerar no instante seguinte, sumindo em poucos segundos do meu campo de visão, me deixando ali, parado na calçada, sentindo a chuva encharcar meus cabelos e molhar meu rosto, se misturando às lágrimas que eu cansara de segurar.

__________

- Onde vocês estavam? - Maraisa nos encarou, desconfiada, assim que eu e Bruno entramos em casa.

- Bruno foi me ajudar a comprar umas coisas de bebê - falei, fingindo despreocupação, enquanto pisávamos no hall  de entrada e eu tirava a parte de cima do moletom molhado.

- E voltaram sem sacola nenhuma? Por quê o Bruno foi com você e não a Paulinha? - minha irmã perguntou, torcendo o nariz, enquanto eu subia as escadas em direção ao quarto - e desde quando é saudável para grávida tomar banho de chuva?

- Meu deus, Maraisa, virou fiscal de rolê agora é? Deixamos as sacolas no carro, a Paulinha não foi porque estava ocupada... Já estou atrasada, Julyer tá me esperando para começar a me arrumar pro almoço!

- Você também precisa se arrumar, cantora! Vamos subir - escutei a voz do Bruno, na clara tentativa de desviar a atenção da Maraisa, enquanto eu entrava no meu quarto e fechava a porta atrás de mim, respirando fundo.

A princípio, minha parte estava feita. Aquele envelope tinha conteúdo suficiente para, no mínimo, plantar uma dúvida na cabeça do Wendell. Se ele tivesse o mínimo de juízo, iria sentar a mão na cara da Luísa e procurar a Maraisa para conversar. Não necessariamente nessa ordem.

Tomei meu banho mais rápido do que o normal, ciente de que já estava atrasada. Eu ainda tinha que me arrumar e conversar com o Gustavo antes do almoço. Havia pedido para que ele chegasse às onze e, pela pressa do Julyer, eu tinha certeza de que o horário estava próximo.

Sentada na poltrona do quarto, enquanto meu maquiador estava entretido secando meus cabelos, comecei a cogitar se eu não havia feito uma cagada enorme indo procurar o Wendell. Se a Maraisa sonhasse com aquilo, eu claramente perderia o cunhado, a irmã e também o meu sobrinho que ainda nem havia nascido. Mas, se Wendell ainda amasse minimamente a minha gêmea, aquilo seria suficiente para fazê-lo questionar muitas coisas.

- Ruiva, você tá muito tensa - Julyer interrompeu meus pensamentos - relaxa essa expressão, se eu passar base nessa sua cara desse jeito vai ficar tudo marcado...

- Desculpa - sussurrei, afastando o Wendell da minha mente. A verdade é que eu tinha outros problemas para me entreter nas próximas horas.

Talvez um pouco dessa minha vontade em ajudar a resolver os problemas da Maraisa fosse uma nítida tentativa em fugir dos meus. Na minha cabeça, desde a descoberta da gravidez, eu havia criado um cenário imaginário que, pensando melhor, talvez não fosse bem a realidade.

Desde o começo eu imaginara um Gustavo Mioto feliz e empolgado com a possibilidade de ser pai. Mas, conforme os dias passaram, minha mente começou a me atormentar com alguns questionamentos pertinentes.

A verdade era que, querendo ou não, não era uma gravidez planejada. Não era um relacionamento antigo. Eu e Gustavo estávamos saindo há pouco mais de um mês, entre minhas idas e vindas com o Fernando. Ele era novo, no auge da carreira. Certamente, um filho não estava nos planos.

- Filha? - a voz da minha mãe cortou, novamente, meu raciocínio - o Gustavo está lá embaixo... Falo para ele subir?

Senti todo meu corpo gelar e meu coração disparar. Antes que eu pudesse pensar em responder, Julyer falou por mim:

- Ela já tá prontinha - ele deu uma última pincelada de pó nas minha bochechas, me encarando, sorrindo, como um pintor encara sua obra-prima. Em seguida, guardou os pincéis e as maquiagens na caixa, apressado - vou descer com você, Almira.

Minha mãe e Julyer saíram do quarto, fechando a porta ao passar. Levantei da cadeira e corri até o closet, encarando meu reflexo no espelho de corpo todo, respirando fundo uma dezena de vezes, na tentativa de me acalmar.

Julyer tinha feito um rabo de cavalo alto, com alguns fios soltos que emolduravam meu rosto. A maquiagem era leve, apenas o suficiente para dar um ar saudável para a minha cara, depois das últimas noites mal dormidas. Para vestir, eu havia escolhido um vestido azul claro rendado de alças finas. Percebi, naquele instante, que a escolha não tinha sido muito boa, pois iria parecer que eu estava fantasiada para um chá revelação.

Antes que eu resolvesse trocar de roupa nos quarenta e cinco do segundo tempo, caminhei até um dos armários e tirei a caixinha de veludo vermelha de dentro da gaveta, segurando-a com força na mão esquerda. Minhas mãos suavam de nervoso, enquanto eu repetia mentalmente, ainda encarando meu reflexo, todo o discurso que eu havia ensaiado na minha cabeça, com toda a certeza de que eu não conseguiria falar nem metade antes de desabar no choro.

- Maiara? - a voz dele veio de trás de mim, fazendo cada centímetro do meu corpo estremecer.

Levantei os olhos em direção ao espelho. Por cima do meu ombro, enxerguei o reflexo de um Gustavo Mioto sorridente, segurando um buquê de rosas vermelhas em uma das mãos. Engoli o choro, a cada segundo mais nervosa, cada vez mais ciente de que eu fracassaria na missão de falar tudo que eu queria sem derramar uma lágrima sequer.

Gustavo se aproximou de mim, ainda sorrindo, enquanto eu apenas o observava pelo reflexo do espelho, sem conseguir mover um músculo sequer. Ele me abraçou por trás, passando a mão com o buquê pela minha frente.

- Para você. Para comemorar nosso primeiro almoço em família.

Eu sorri, já sabendo que não demoraria mais dez segundos para a primeira lágrima começar a escapar pelos meus olhos.

Ele percebeu meu estado de choque, fazendo com que a expressão animada em seu rosto desaparecesse e fosse substituída por um ar genuíno de preocupação.

- Amor... Tá tudo bem?

Fiz que sim com a cabeça, enquanto ele largava o buquê em cima da cômoda mais próxima e me puxava para perto, fazendo com que eu olhasse no fundo dos seus olhos pela primeira vez desde que ele entrara no quarto.

- Maiara... Por quê você tá chorando?

A pergunta fez com que eu, de fato, desabasse de vez. Encostei minha cabeça em seu peito, enquanto ele afagava meus cabelos, visivelmente tenso e preocupado.

- Eu... Eu tinha ensaiado tudo para te falar - comecei, gaguejando, sem coragem de levantar o rosto - eu tinha partido do pressuposto de que era uma notícia maravilhosa, mas, pensando melhor, acho que não necessariamente vai ser algo bom para você, para a sua carreira... Você é novo ainda e... - desandei a falar, a respiração descompassada fazendo com que as palavras saíssem completamente atropeladas.

- Maiara - ele me segurou, de leve, pelos dois braços - o que você tá falando?

Sem pensar duas vezes, ciente de que eu não conseguiria mais verbalizar uma palavra sequer sem um soluço me interromper, levantei a caixinha de veludo que estava na minha mão até a altura do meu peito.

- O que é isso? - Gustavo franziu o cenho, curioso, tirando a caixinha da minha mão, com toda a delicadeza do mundo.

- É que... - eu comecei, levando a mão até o ventre de maneira instintiva, sentindo as palavras se embolarem na minha boca - que saco! - foi o que eu consegui falar, enxugando as lágrimas com as costas da outra mão - não era assim que eu queria...

Gustavo, que antes estava com um ar curioso, arregalou os olhos, ainda mais confuso, encarando o conteúdo da caixinha que ele recém abrira.

- Mai... - ele começou, os olhos brilhando. Meu coração disparou ainda mais, sem conseguir decifrar a expressão dele ou prever o que viria a seguir - o que isso significa? Você... - Mioto baixou o olhar em direção à minha barriga, onde a minha mão ainda repousava, colocando ele mesmo a mão em cima da minha.

Fiz que sim com a cabeça, meu estômago revirando de mil maneiras possíveis, as lágrimas descendo com tanta força que eu já estava quase enxergando tudo embaçado.

Durante alguns segundos de tensão, que eu pude jurar que foram longos e arrastados minutos, eu e Gustavo ficamos nos encarando. Em uma das mãos ele segurava a caixinha de veludo aberta, enquanto a outra acariciava meu ventre, devagar, um toque leve e delicado.

Ele se afastou um pouco de mim, colocando o conteúdo da caixinha na palma da mão esquerda, antes de abrir um sorriso enorme, que fez eu dar um suspiro de alívio. Sem falar nada, ele tirou o cordão fino de ouro que usava no pescoço e colocou nele o pingente em formato de um carrinho de bebê que havia tirado de dentro da caixa de veludo.

- Preciso de ajuda para fechar - ele se virou de costas para mim, abaixando um pouco para que eu fechasse de volta a corrente em seu pescoço.

Chorando de alívio, fiz o que ele pediu, antes dele me puxar para um abraço forte.

- Maiara... - Mioto sussurrou no meu ouvido, a voz embargada, enquanto eu continuava chorando, meu rosto agora escondido em seu peito - você acabou de me fazer o homem mais feliz desse mundo.

Gustavo me deixou chorar pelo que eu calculei que foram alguns minutos. Minha respiração foi, aos poucos, voltando ao normal, enquanto eu assimilava tudo que acontecera e, pela primeira vez na última semana, me sentia genuinamente feliz por estar grávida.

- Eu achei que você não ia... - comecei, quando finalmente consegui, de fato, parar de chorar.

- Você é doida - ele sussurrou no meu ouvido, me interrompendo, sua voz risonha dando todo o aconchego que eu precisava naquele momento - há quanto tempo você já sabe disso?

- Menos de uma semana - respondi, levantando a cabeça e encarando-o nos olhos.

Gustavo estava radiante, o sorriso de orelha a orelha, os olhos úmidos, me encarando como se na sua frente estivesse o ser mais fascinante da face da terra, enquanto ele brincava com as mechas soltas do meu rabo de cavalo.

- É seu novo recorde pessoal de guardar uma fofoca. Uma semana - ele mordeu o lábio, enquanto eu revirava os olhos, dando um tapa de leve em seu braço.

A verdade é que eu tinha uma infinidade de coisas para falar para ele. Mas, no final, achei de aproveitar o silêncio daquele momento singelo. Todo o meu discurso havia ido por água abaixo, as palavras fofas que eu ensaiara com tanto afinco nas últimas horas pareciam totalmente desnecessárias e vazias perto daquilo que estávamos sentindo e vivendo. Aquele momento improvisado se tornara muito mais especial do que qualquer script que eu pudesse ter montando na minha cabeça.

Mioto, da mesma forma, parecia não querer sair dali. Continuava me encarando, os olhos brilhando, fazendo eu me sentir, pela primeira vez na vida, visivelmente amada por um homem. Um amor que ia muito além do desejo.

Sem falar nada, ele baixou um pouco a cabeça e pousou os lábios, de leve, na minha testa. Poucos segundos depois, ficou de joelhos no chão, deixando um beijo no meu ventre, antes de encostar o ouvido na minha barriga, como se tentasse escutar alguma coisa vindo do bebê.

- Oi, bebê! - ele soltou, empolgado, sem desgrudar a orelha de mim - aqui é o papai! Te amo, sabia? Sua mãe fez eu perder uma semana de conversa com você, mas agora vamos descontar o atrasado, tá?

Eu sorri, ainda sem conter o misto de alívio e felicidade que eu estava sentindo.

- Amo você - sussurrei, observando, apaixonada, o Gustavo fazer carinho na barriga que ainda sequer existia.

- E eu amo vocês - ele devolveu, ficando de pé novamente, roubando um beijo dos meus lábios.

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