Encontro com o passado - MADE...

By aluisa_

42.1K 4.2K 3K

Encarei meu reflexo no espelho de corpo todo em uma das portas do armário, usando só a lingerie. Apesar dos m... More

Oi sumido
Casalzinho butequeiro
Sem tirar a roupa
Tchau falou
Ponta solta
Dois idiotas
Show completo
Melhor terminar
Traí sim
Coração infectado
Repertório de outro
Solidão é uma ressaca
É rolo
Bengala e crochê
Aí eu bebo
Lágrimas
Ligação de emergência
Fala a verdade
Veneno e remédio
Nem Tchum
Campo minado
Não abro mão
Certo pelo duvidoso
Libera ela
Te procurava de novo
Incomparável
Futuro
No dia do seu casamento
No dia do seu casamento II
Quase um casal
Nunca vai ser um adeus
Correntes e cadeados
Imagina
Cachorro de madame
Amores da minha vida
Só lamento
Medo bobo
A culpa é nossa
Ex de algúem
Presepada
Se olha no espelho
5 minutos ou 50 anos
Calma respira
Sem legenda
Jogo é jogo
Cuida bem dela
A pergunta
Felizes para sempre

Como é que larga desse trem?

1.1K 82 24
By aluisa_

Abri os olhos e percebi que o sol já estava alto lá fora. Eu sequer havia lembrado de fechar a cortina do quarto na noite anterior.

Dei uma leve espreguiçada, sorrindo ao lembrar do porquê eu esquecera de fechar a cortina. Virei para o lado e vi que estava na cama sozinha. Fui obrigada a rir. Era óbvio que ele não estaria mais ali.

Wendell era orgulhoso. Eu tinha certeza que ele iria me dar o troco por ter ido embora antes dele acordar naquela primeira noite no Rosewood.

Virei novamente para o outro lado, me enrolando ainda mais nas cobertas, lembrando de tudo que fizemos na noite anterior. Pelas minhas contas, havíamos jantado só perto das duas da manhã, depois de transar umas cinco vezes na cozinha e na sala.

Lembrei, de repente, da jogada ousada que eu havia feito: convidar Wendell para ir no show meu e da Maiara em São Paulo, no dia seguinte.

Meu objetivo era óbvio e eu sabia que ele tinha reparado: introduzir para minha irmã e nossa equipe uma possível volta entre eu e ele. E, apesar de, normalmente, eu não gostar de ter minha vida pessoal vazada, confesso que não me importaria em causar um pequeno rebuliço caso alguma foto nossa juntos rodasse por aí.

Suspirei, preocupada. Era fato que Wendell despertava em mim um lado aventureiro e um tanto sem noção.

Mas eu também havia notado que ele tinha hesitado em aceitar o convite, como se algo o incomodasse. Eu tentara, de todas as formas, identificar o motivo daquela hesitação, sem sucesso.

"Esquece, Maraisa. Para de colocar problema onde não tem. Só curte o momento e deixa acontecer. Não tem nada de errado, vocês são dois adultos desimpedidos" - pensei, sacudindo a cabeça, enquanto levantava da cama.

Vesti o primeiro conjunto de moletom que achei no closet, descendo as escadas, descalça, quase saltitando. Quando cheguei perto da entrada da cozinha, senti o cheiro forte de café passado.

Entrei no aposento e vi uma mesa de café da manhã montada. A garrafa térmica cheia de café preto, uma cesta de frutas, biscoitos, pães e patês. Senti meu rosto corar quando reparei que uma pequena rosa vermelha pousava no centro da mesa.

Não consegui conter o sorriso. Peguei a flor e fechei os olhos, cheirando-a. Tinha o cheiro dele.

Abri os olhos novamente e só então reparei que uma pequena folha de papel estava colada na porta geladeira, com um recado curto, escrito com uma letra que eu conhecia bem.

"Te vejo amanhã em São Paulo. Dessa vez eu pago o vinho. Ah... De nada pelo café".

Revirei os olhos, rindo, enquanto encarava a mesa posta, segurando a flor e o bilhete.

Era óbvio que eu estava fodida. O que havia começado como um mero e inofensivo remember tinha trazido à tona um mar de sentimentos antigos que, no final das contas, nunca havia morrido. Só estavam guardados, sendo ignorados por mim nos últimos três anos.

Meu coração, no final das contas, nunca tinha largado dele.

Sentei na mesa, me servindo de uma xícara de café, lembrando de como eu havia me entregue ontem. Ao contrário da noite no Rosewood, onde eu tinha me esforçado para controlar toda a situação, na noite de ontem eu tinha deixado Wendell me dominar por inteira. E não estava nem um pouco arrependida. Muito pelo contrário.

Apesar do sorriso no rosto, enquanto lembrava de tudo que havíamos feito e conversado, aquilo me assustava. E muito. Eu já havia assistido esse filme. E ele não tinha terminado muito bem.

Suspirei, bebendo mais um gole de café.

"Eram outros tempos, não? Éramos mais imaturos, quem sabe..."

- Maraisa? - a voz curiosa da Maiara interrompeu meus devaneios - de onde saiu esse café da manhã chique?

Levantei os olhos e me deparei com a figura da minha irmã, encostada no batente da porta que dividia a sala com a cozinha, sua mala parada logo atrás.

- Bom dia, Maiara Carla - falei, sorrindo - você tem gostado de aparecer de surpresa ultimamente, hein?

Vi que, assim que verbalizei a última frase, a expressão da minha gêmea se fechou, um ar melancólico tomando conta do seu rosto.

- Ih - eu disse, levantando, indo abraçá-la - o que o Fernando fez dessa vez?

Ela suspirou, encostando a cabeça no meu ombro.

- Nada - a voz da Maiara estava um pouco embargada, apesar de ela tentar disfarçar - só foi chamado de última hora para uma campanha... Daí ele teve que voltar agora de manhã cedo para São Paulo... Foi direto para o aeroporto.

Eu mordi o lábio, segurando minha irmã pelos ombros com as duas mãos. Aquele filme também era um que eu já conhecia. E não terminava bem também.

- Maiara... - falei, medindo as palavras que eu falaria a seguir - você não acha que...

- Para, Maraisa! - ela disse, se desvencilhando de mim e sentando na mesa da cozinha, a expressão fechada - eu sei que você não gosta dele, mas ele não faz mais isso...

Franzi o cenho, sentando na cadeira ao lado dela. Eu amava minha irmã mais do que tudo na vida. Mas era fato que, quando o assunto era o Fernando, ela era ingênua. E ele se aproveitava disso.

- Não estou dizendo que ele necessariamente está te traindo... - continuei, pisando em ovos - mas você não acha meio estranho o fato de nas últimas semanas ele ter desmarcado várias coisas com você, aparentemente sem motivo?

- Mas tem motivo - ela defendeu, pegando um pedaço de pão e passando um dos patês que estava em cima da mesa - ele está com a agenda cheia...

Eu dei um suspiro longo, segurando a mão livre dela.

- A gente também, metade - soltei, olhando-a nos olhos - mas nem por isso você não deixa de ajeitar sua agenda para ficar o máximo possível com ele...

Maiara ficou em silêncio, mastigando o pão. Eu sabia que ela tinha ciência de que eu estava certa. Apesar de tudo, Maiara tinha um sexto sentido muito bom. No fundo, ela só queria convencer ela mesma de que não estava sendo traída mais uma vez.

Apesar de, toda vez, eu querer intervir, eu já tinha aprendido que, quando o assunto era esse, só me restava aconselhar minha gêmea da forma mais sutil possível e estar ali disponível quando o chão dela desabasse e ela precisasse de consolo.

- Tá, mas falando sério - Maiara disse, terminando de comer - quem deixou essa flor e fez esse café da manhã maravilhoso para a minha gêmea?

Eu não tinha me dado por vencida no assunto do Fernando, mas percebi, claramente, que não adiantava insistir. Fiz de conta que não notei que ela estava fugindo do tema e abri um sorriso.

- Então, metade... Precisamos conversar.

Ela fez cara de curiosa, abrindo um sorriso também.

- Meu deus, Maraisa! Você está com um sorriso todo bobo... Logo você! - ela me cutucou, risonha - você está apaixonada!

Revirei os olhos, rindo.

- Claro que não! - falei, sem convencer nem eu mesma.

Maiara segurou minha mão com força, visivelmente empolgada.

- Conheço muito bem você! Essa é sua carinha de quem foi totalmente desarmada... Só resta saber quem foi que fez esse milagre - ela pegou uma caneca de cima da mesa e encheu de café - a última vez que eu tinha te visto tão boba assim foi na época que você começou a namorar o Wendell...

Mordi o lábio, segurando o riso, enquanto Maiara continuava a tagarelar.

- Falando nisso, que saudades dele - ela bebericou o café - dele, do Jorge, do Mateus...

Continuei em silêncio, só escutando até onde a Maiara ia chegar.

- Eu sei que você não gosta que fiquem falando dos seus ex, mas o Wendell era gente fina... Tá bom, parei - ela tapou a boca com a mão - não vou mais falar sobre, sei que você fica brava - Maiara deu um sorriso travesso - mas que eu gostava de vocês juntos, eu gostava...

Abri um sorriso, enchendo de novo minha xícara.

- Parece que hoje é seu dia de sorte, Maiara Carla - soltei, sem cerimônias.

Minha gêmea ficou me encarando, confusa.

- Do que você tá falando? - ela franziu o cenho, levando um biscoito de chocolate até a boca.

Dei de ombros, sorrindo.

- Você é inteligente, Maiara. Pensa um pouco.

Ficamos em silêncio por quase um minuto, enquanto minha irmã me encarava, intrigada, mastigando seu biscoito, sem verbalizar nada.

De repente, como se uma chave tivesse virado na cabeça dela, Maiara deu um suspiro alto, arregalou os olhos e levou as duas mãos até a boca.

- Maraisa... - ela disse, visivelmente em choque - você tá de sacanagem, né? Você não tá falando isso para tirar com a minha cara, ou tá?

Fiz que não com a cabeça, me divertindo com a situação, entregando na mão dela o bilhete que eu havia tirado da porta da geladeira mais cedo.

Maiara leu aquela linha curta de palavras repetidas vezes, a surpresa e o choque sendo substituídos, aos poucos, por uma felicidade pura e genuína.

- Eu não acredito! - ela pulou da cadeira, se agarrando no meu pescoço - Maraisa do céu! Eu achava que vocês não se falavam mais há anos!

Mordi o lábio, dando de ombros novamente.

- De fato, não nos falávamos há anos... Até sexta-feira passada...

Contei os detalhes dos últimos dias que eu havia passado com o Wendell para uma Maiara eufórica. Não parecia a mesma mulher que havia entrado pela porta quase uma hora atrás. A expressão apática e desanimada havia sido substituída por um misto de supresa e empolgação.

Depois de verbalizar tudo, percebi que, de fato, eu e Wendell possuíamos uma ligação fora do normal. Os últimos dias haviam sido tão intensos que eu tinha a nítida sensação que havíamos passado meses juntos. Na minha cabeça, era como se os três anos anteriores nunca tivessem existido. Como se tivéssemos apenas pausado nosso relacionamento naquela tarde chuvosa de 2019 e, agora, decidido retomar tudo de novo.

"Sossega, Maraisa" - meu subconsciente me alertou - "vocês não decidiram retomar nada. Ainda".

Apesar de ele ter aceitado o convite para o show em São Paulo, o que implicaria um possível rumor de que estávamos juntos, a verdade é que nós não tínhamos decidido, explicitamente, nada a respeito de nós dois. Tudo estava acontecendo de uma forma intensa e tácita.

- Meu deus do céu... - Maiara ainda tentava assimilar tudo que eu havia lhe dito - me belisca que eu tô sonhando! Meu casal voltou! É verdade, pode espalhar!

Dei um tapa de leve no braço dela.

- Não voltamos, até porquê nem conversamos nada sobre o assunto ainda... - falei, quase como um aviso para mim mesma.

Maiara deu uma gargalhada alta.

- Ah, Maraisa... Você tá completamente apaixonada. Na mesma intensidade que em 2017. Se não mais! - ela não parava de sorrir - e o fato de você ter convidado ele para aparecer em um show nosso é a prova disso.

Fiz menção de retrucar, mas eu sabia que ela estava certa. Apenas levantei a xícara, bebericando meu café, escondendo um sorriso.

- Eu tô doida de vontade de mandar uma mensagem para ele! - ela quase quicava na cadeira, segurando o celular na mão.

- Maiara! - tirei o telefone da mão dela - sossega!

- Deixa eu mandar uma mensagem pro meu "cunhadinho" favorito, por favor! - ela disse, rindo, fazendo voz de criança pidona.

Revirei os olhos, devolvendo o celular na mesa.

- Estamos indo com calma... - falei, fingindo uma tranquilidade que eu, de fato, gostaria de estar sentindo.

- Sim, estou vendo a calma - Maiara pegou o telefone de volta - vocês dois estão calmos como água parada. Tão calmos que em três dias já saíram duas vezes, transaram umas cinquenta, trocam bilhetinhos e você já pretende levar ele pra um show!

Eu ri junto com ela, mas mordi o lábio, preocupada.

- Você acha que eu estou sendo precipitada em levar ele para o show? Posso dar uma desculpa, cancelar... - tirei o celular do bolso no mesmo segundo.

Foi a vez da Maiara tirar o celular da minha mão.

- Para! - ela torceu o nariz, séria - você é controladora demais, irmã. Tem todo direito de ser um pouco sem noção e afobada de vez em quando. Isso se chama amor, sabia?

Ia retrucar, dizendo que não estava apaixonada, mas suspirei, relaxando na cadeira. Maiara estava, mais uma vez, certa. Apesar de, na maioria das vezes, ser muito coração e pouco razão, ela era meu ponto de equilíbrio. Nunca tinha sido diferente.

Cheguei mais perto da minha gêmea e deixei ela me abraçar forte.

- Brincadeiras à parte - ela sussurrou no meu ouvido - eu estou muito feliz por você. Independente do que aconteça. Você está feliz. E é isso que importa.

- Te amo, metade - falei, deixando um beijo demorado na testa dela.

- Amo você, minha gêmea apaixonada - ela devolveu, fazendo voz de bebê.

Revirei os olhos, enquanto ela levantava da mesa e caminhava até a pia, começando outro assunto, perguntando o que iríamos almoçar.

"Apaixonada" - repeti, mentalmente, deixando escapar um sorriso bobo.

"Apaixonada eu não sei. Mas fodida tenho certeza que estou" - suspirei, voltando a prestar atenção na tagarelice da minha irmã.

__________

O dia 05/11 é pesado, né? Eu costumo escrever quando estou ansiosa/triste, até para me distrair, então terminei esse capítulo hoje...
Ia deixar para postar só durante a semana, mas já que escrever me ajudou a aliviar um pouco o peso desse dia, achei que quem sabe postar hoje pudesse ajudar alguém a pelo menos ter uns minutinhos de distração e tirar um pouquinho que seja da angústia que esse dia sempre vai carregar.
Enfim, espero que se distraiam por uns minutinhos.
Fiquem bem ❤️✨

Continue Reading

You'll Also Like

997K 105K 55
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
518K 27.2K 97
• DARK ROMANCE LEVE 𝐎𝐍𝐃𝐄 nessa história intensa e repleta de reviravoltas, Ruby é um exemplo de resiliência, coragem e determinação. Ela é uma pr...
120K 11.7K 22
⚽️ 𝗢𝗡𝗗𝗘 𝗟𝗮𝘆𝗹𝗮 perde seu pai por uma fatalidade. Nisso, teria que passar a morar com sua mãe e seu padrasto, o que era seu pesadelo. Em mei...
218K 15.9K 94
"To ficando 𝘃𝗶𝗰𝗶𝗮𝗱𝗼 nesse beijo teu" - 𝗟𝗲𝗻𝗻𝗼𝗻 lembro quando nós nem tava junto, mas se falava direto geral dizendo que nós combina muito...