Encontro com o passado - MADE...

By aluisa_

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Encarei meu reflexo no espelho de corpo todo em uma das portas do armário, usando só a lingerie. Apesar dos m... More

Oi sumido
Casalzinho butequeiro
Sem tirar a roupa
Ponta solta
Dois idiotas
Como é que larga desse trem?
Show completo
Melhor terminar
Traí sim
Coração infectado
Repertório de outro
Solidão é uma ressaca
É rolo
Bengala e crochê
Aí eu bebo
Lágrimas
Ligação de emergência
Fala a verdade
Veneno e remédio
Nem Tchum
Campo minado
Não abro mão
Certo pelo duvidoso
Libera ela
Te procurava de novo
Incomparável
Futuro
No dia do seu casamento
No dia do seu casamento II
Quase um casal
Nunca vai ser um adeus
Correntes e cadeados
Imagina
Cachorro de madame
Amores da minha vida
Só lamento
Medo bobo
A culpa é nossa
Ex de algúem
Presepada
Se olha no espelho
5 minutos ou 50 anos
Calma respira
Sem legenda
Jogo é jogo
Cuida bem dela
A pergunta
Felizes para sempre

Tchau falou

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By aluisa_

De todas as pessoas no mundo que eu esperava encontrar naquele bar, a última era a Maraisa.

Foram quase três anos. Três anos sem se ver, apenas ouvindo falar dela por amigos em comum e pelas redes sociais. Mas era óbvio que, por mais que eu evitasse, eu sempre acabava sabendo das coisas a respeito dela. Esse é um dos malefícios em ser ex de alguém famoso.

De qualquer forma, famosa ou não, mesmo me esforçando, era impossível esquecer aquela mulher. Eu ainda duvidava que qualquer pessoa na face da terra que já tenha tido o prazer de conviver com a Maraisa tenha esquecido dela.

Maraisa é um furacão. Mas, ao mesmo tempo, calmaria. Mulher de sorriso fácil, mas sabe ser carrancuda quando quer. Decidida, forte, mas sempre com um toque de sensibilidade que só ela tem. Ela é aquela que tira o ar pesado de qualquer lugar, arranca o riso de qualquer um. A melhor companhia para tomar uma cerveja ouvindo música alta ou apenas para assistir um filme em silêncio. Para ir em um jantar chique ou simplesmente comer um cachorro quente na esquina. Dedicada, estudiosa, com um dom sem precedentes em mexer com as palavras, cheia de talento, conquistando todo mundo com a voz grave e ao mesmo tempo delicada e cheia de sentimento. Extrovertida, mas com um "quê" de mistério e teimosia, dona de uma concha só dela, que é seu refúgio de solidão.

Simples, direta, sem cerimônias, sem pudor.

Eu sempre afirmara sem dúvida alguma que, se qualquer pessoa me pedisse para descrever minha mulher ideal, era ela: Maraisa. Com suas qualidades e defeitos. Tanto que a ruína do nosso relacionamento, curiosamente, também era uma das maiores qualidades dela: o amor pelo trabalho.

Mas, depois da noite passada, eu tive a confirmação de que jamais tinha esquecido ela. Muito pelo contrário. Todo progresso que eu tivera nos últimos quase três anos tinha ido por água abaixo depois de um drink e uma garrafa de vinho.

"Deixa de ser infantil, Wendell. Não foi o álcool. Você sabia muito bem o que estava fazendo" - meu subconsciente me alertou.

Eu tinha plena ciência da caixa de pandora que tínhamos aberto e que eu ainda ia colher muitas consequências pelo que ocorrera na noite passada.

Mas eu estava longe de estar arrependido.

Afastei meus devaneios, bocejei e finalmente abri os olhos. Não levou um segundo para um misto de decepção invadir meu rosto.

O lugar ao meu lado na cama, apesar de estar com os lençóis revirados, estava vazio. Maraisa não estava mais lá.

Sentei na cama, irrequieto, quase acreditando que eu havia sonhado com tudo aquilo. "Óbvio que não" - pensei, sorrindo, olhando para o quarto luxuoso em volta de mim - "eu jamais pagaria uma suíte dessas".

Pulei da cama, juntando minha roupa íntima do chão. O quarto estava uma bagunça. Os travesseiros e lençóis no chão, a jacuzzi com resto de espuma e com água até a metade, várias toalhas jogadas próximas à porta da sacada.

Um sorriso de prazer invadiu meus lábios quando avistei a garrafa de vinho vazia, no chão, próxima à banheira.

Juntei a garrafa e me encostei no vidro fechado, encarando o movimento da rua. Havia congestionamento para todos os lados. Consultei o relógio. Já eram oito da manhã.

Caminhei até o banheiro, na intenção de tomar uma ducha antes de ir para o aeroporto e voltar para Goiânia, mas meus pensamentos ainda estavam longe. Eu era obrigado a admitir que estava um pouco decepcionado em não ver ela deitada do meu lado ao acordar...

Decepcionado sim, mas não surpreso. Era inocência minha pensar que Maraisa estaria deitada, esperando eu acordar, com um sorriso apaixonado. Não era o perfil dela. E, talvez por isso, ela mexesse tanto comigo ainda.

"Deixa disso, Wendell. Foi só um remember. Só na sua cabeça você achou que essa noite havia significado algo".

Entrei no banheiro e encarei meu reflexo no espelho enorme, acima da pia. Fui obrigado a sorrir. Colado nele, havia um bilhete curto, escrito com uma letra que eu conhecia muito bem: "Fica tranquilo, já fiz o checkout. A conta está paga. Não sou mão de vaca".

Dei uma risada alta, arrancando a fita que colava o bilhete no espelho e segurando o papel na mão. Eu conseguia sentir o cheiro dela impregnado naquele papel, o que fez meu corpo se arrepiar inteiro.

Era a cara dela fazer isso. Causar uma tempestade e depois sumir com um bilhete provocativo, no maior estilo "tchau, falou".

Liguei o chuveiro e deixei a água quente escorrer pelo meu corpo, encostado na parede gelada de mármore branco. O que aconteceria agora? Ela iria mandar uma mensagem para nos encontrarmos de novo?

Eu ri da minha própria inocência, observando o vidro do box do chuveiro começar a embaçar. Óbvio que ela não mandaria mensagem. A isca dela era aquele bilhete colado no espelho. Era o máximo que eu iria conseguir.

Suspirei, massageando o shampoo pelos meus cabelos molhados. A verdade é que era melhor assim. Afinal, não era certo que a gente se encontrasse novamente...

Terminei o banho, juntei minhas coisas e fui para a recepção devolver a chave do quarto. Estava pronto para virar as costas para o balcão e chamar meu uber para o aeroporto, quando o recepcionista soltou:

- Senhor, a moça que estava no quarto com você pediu para entregar uma coisa quando você viesse devolver a chave... - vi que ele mexeu embaixo do balcão, procurando alguma coisa - aqui está.

Abri um sorriso, enquanto observava o objeto que havia sido colocado em cima do balcão.

Uma garrafa fechada de vinho. A mesma que havíamos bebido na noite anterior. Cobos Volturno, safra de 2017.

Agradeci e peguei a garrafa na mão, ainda rindo, enquanto ia para a frente do hotel esperar meu motorista, processando a indireta que ela havia me dado.

"Maraisa, Maraisa... Que comecem os jogos".

Eu confesso que estava doido para mandar uma mensagem para ela assim que saí do hotel, segurando a garrafa de vinho. Mas me obriguei a, pelo menos, esperar até a manhã seguinte. 

Na verdade, eu passara o resto do dia pensando se o gesto de deixar a garrafa de vinho era um convite para que repetíssemos aquela noite ou se ela simplesmente era orgulhosa demais para deixar eu pagar sozinho um vinho de mais de dois mil e quinhentos reais.

"Talvez um pouco de cada" - pensei, risonho, enquanto eu estava deitado na minha cama, na manhã seguinte, segurando meu celular. Eu estava com a conversa com ela aberta no WhatsApp, encarando sua foto de perfil, pensando no que digitar.

Acho que perdi mais de meia hora entre escrever e apagar várias mensagens, dezenas de vezes. Eu chegava a ficar irritado com o quanto essa mulher mexia comigo. Eu parecia um adolescente idiota que não sabia o que dizer para a sua paixonite de colégio.

O barulho da campainha fez com que meus pensamentos fossem interrompidos, no susto. Pulei da cama e vesti meu roupão, enquanto descia as escadas de mármore, apressado, meus pés descalços sentindo o piso gelado.

A campainha tocou novamente. A pessoa atrás da porta estava visivelmente impaciente.

Abri e encarei, surpreso, o visitante inesperado.

- Porra - Jorge exclamou, entrando sem ser convidado - achei que ia me deixar aqui fora o dia todo.

- Oi, Wendell, bom dia! - falei, debochado, enquanto fechava a porta - posso entrar na sua casa para falar com você?

Jorge riu, já sentado no sofá.

- Quanta formalidade... Eu te trato assim quando venho visitar meu empresário. Hoje vim visitar meu amigo Wendell - ele me encarou de cima a baixo, franzindo o cenho - inclusive, o que você faz de roupão essa hora da manhã?

Entrei na cozinha e voltei segundos depois com duas cervejas na mão, estendendo uma para ele.

- Estava em São Paulo ontem... Tive reunião. Estou morrendo de cansaço. Cheguei ontem começo da tarde.

Jorge franziu o cenho, abrindo a garrafa de cerveja e dando um gole longo.

- Credo, você foi para uma reunião ou para uma maratona? Parece que tomou uma surra...

Dei um sorriso, lembrando do que realmente tinha me deixado cansado.

- Tomei - falei, bebendo minha cerveja - tomei uma baita surra. Uma surra bem dada. Que eu estou doido para tomar novamente.

Jorge me olhou, sério, a expressão de curiosidade tomando conta de seu rosto.

- Eita, Wendell... O que você aprontou dessa vez? - ele riu.

- Digamos que fui beber no bar do Rosewood e encontrei a pessoa que mais mexe comigo... - respondi, suspirando, sem conseguir segurar um sorriso.

Meu amigo riu, antes de morder o lábio.

- Não precisa nem continuar. Foi ela, né? Seu sorriso te entrega...

Sorri ainda mais, antes de concordar com a cabeça. Jorge era meu amigo há anos, me conhecia melhor do que ninguém. Sem contar que ele também conhecia a Maraisa e havia acompanhado todo o desenrolar do nosso relacionamento, desde a época que nos conhecemos. Tinha acompanhado de perto a amizade, o namoro, o noivado e o trágico término dele.

- Cara, você tem um lance muito forte com essa mulher... Sempre te falei que isso ia voltar à tona, né? Eu tinha certeza.... - Jorge quase quicava de empolgação no sofá. Ele nunca escondera que amava a época que eu e Maraisa estávamos juntos - tá, mas me conta... Como você derrubou aquela bicha teimosa depois de tanto tempo? Quantas cervejas você pagou para ela?

Levantei do sofá, indo até a cozinha novamente.

- Vou precisar de mais do que uma cerveja para te contar a história toda...

Passei a meia hora seguinte contando todos os detalhes necessários sobre  a noite no Rosewood. Jorge escutou a história toda praticamente em silêncio, fazendo comentários pontuais, os olhos brilhando de empolgação.

Quando contei que ela havia deixado uma garrafa de vinho para mim na recepção, ele deu uma gargalhada.

- Cara, essa mulher é foda demais... Te deixou um convite indireto para ter uma próxima vez, sem deixar na cara... Te colocou na obrigação de tomar a atitude de chamar ela.

Concordei com a cabeça, mordendo o lábio.

- Mas eu ainda não mandei nada.

Jorge revirou os olhos, me dando um soco no braço.

- Porra, Wendell! Deus tá te dando a chance de casar com a mulher da sua vida de novo... E você tá aí, fazendo cu doce?

Suspirei, bebendo mais um gole da minha terceira garrafa de cerveja.

- Jorge... Você sabe que eu e a Luísa...

Jorge revirou os olhos, visivelmente irritado.

- Wendell, vou te mandar a real. Ninguém gosta dela - ele soltou, me pegando de surpresa - ninguém nunca falou nada pra não te magoar. Mas essa mina que você arrumou é muito chata. Não combina com você.

Tive vontade de rir, mas fechei a cara.

A verdade é que eu estava namorando a Luísa há pouco mais de cinco meses. Havíamos nos conhecido em uma festa e, desde então, estávamos juntos. Ela era uma mulher incrível, eu não podia negar. Empresária, inteligente, de uma família conhecida em Goiânia. Luísa tinha um gosto requintado, se vestia com roupas caras, apaixonada por moda e itens de luxo.

Eu gostava dela, seria hipocrisia minha falar que não. Mas, no fundo, eu sabia que Jorge estava certo. Luísa não era bem o tipo de mulher que eu imaginava do meu lado. O tipo de mulher que entende meu trabalho, que participa das festas comigo e meus amigos, bebe um litro de chopp e ouve sertanejo até o amanhecer.

- Você ficou chato depois que começou a sair com ela - Jorge continuou - não vai nos rolês, quando vai leva ela e sai cedo, porque a bonitona tem salão no dia seguinte cedo...

- Você tá sendo injusto... Não é bem assim - me defendi.

- Você sabe que é. Ela não combina com você. Com o seu jeito, com o que você gosta. Ela te poda o tempo todo.

Respirei fundo, pronto para retrucar, mas fiquei em silêncio. Jorge estava certo. Eu havia mudado muito da minha personalidade e rotina para me adaptar aos gostos e exigências da Luísa.

- Já a Maraisa... - Jorge continuou - além de ser mil vezes mais bonita, gostosa e foda do que a sua boneca Barbie falsificada, é parceira pra caralho.

- E, mesmo assim, nosso relacionamento deu errado.

- Outra época, Wendell.... - Jorge me interrompeu - vocês são pessoas diferentes hoje. Além do mais... - ele deu um sorriso travesso - quem falou que você precisa casar com ela agora? Manda uma mensagem e deixa as coisas acontecerem.

- E a Luísa? - perguntei, já desbloqueando meu WhatsApp e procurando a conversa com a Maraisa.

- Espera ela voltar da viagem de compras em Miami semana que vem e termina. É mal terminar por mensagem.

- É mal trair ela também - falei, torcendo o nariz.

- Você não pensou nisso duas noite atrás, pensou? - Jorge disse, sério.

Mordi o lábio, apreensivo. De fato, Luísa sequer tinha passado na minha cabeça enquanto eu estava com a Maraisa. Nem um minuto sequer. No começo da nossa conversa no bar, eu quase havia contado para ela sobre a Luísa. Mas, no segundo seguinte, mudei de ideia. Conscientemente. Eu sabia que se falasse para Maraisa que eu estava namorando, ela jamais subiria para o quarto comigo.

Eu havia, propositalmente, ocultado a verdade.

- Para de se culpar, Wendell - Jorge disse, como se estivesse lendo meus pensamentos - o que tá feito, tá feito. Você sabe que eu não julgo. Só conversa com a Luísa assim que ela voltar...

Concordei com a cabeça, enquanto digitava no celular, sem pensar muito. Se eu pensasse, como eu estava fazendo mais cedo, não iria mandar nada.

"Estou lutando desde ontem, quando você foi embora sem falar nada e deixou a cama vazia, pensando se mandava algo ou não. Você me conhece bem. Sabe que eu estar mandando mensagem falando isso é algo raríssimo vindo de mim. Mas eu também conheço você. Sei que, mesmo querendo, não vai dar o braço a torcer e pedir para nos vermos de novo. Então, eu vou dizer: preciso te ver de novo. Quando você quiser, como você quiser, onde você quiser".

Apertei o enviar e bloqueei o celular logo em seguida, largando-o no sofá.

- Feito - sorri para Jorge, virando o resto da minha cerveja - você é uma péssima influência, sabia?

Jorge deu uma gargalhada, terminando a garrafa dele também.

- Você vai me agradecer por isso ainda, irmão.

- Realmente espero que sim - falei, suspirando - não quero machucar ninguém com essa história...

- Se você tá falando da Maraisa, você sabe que é mais fácil ela te iludir do que o contrário, né? - Jorge riu - aquela lá é um foguete. Você que tem que ficar ligado para não se envolver muito antes da hora... Vai devagar. Vocês já queimaram a largada uma vez. Todo mundo sabia que a ideia de vocês noivarem com três meses de relacionamento tinha sido péssima.

Mais uma vez, Jorge estava certo. Maraisa e eu éramos como fogo e gasolina. Dois desapegados, teimosos, orgulhosos... Mas quando se apaixonavam... Tudo tinha que ser para ontem.

O pedido de casamento tinha sido, por óbvio, precipitado. Fora o início da ruína do nosso relacionamento. Nós nos conhecíamos há anos, mas não como casal, e sim como amigos. Na nossa cabeça, aquilo seria suficiente para manter o relacionamento. Mas minha ida para Orlando nos mostrou que não.

Meus devaneios foram interrompidos por um bipe agudo que veio do meu celular, largado no sofá. Peguei ele, nervoso, errando a senha três vezes para desbloquear e abrir a mensagem que aparecera na tela.

- Meu deus - Jorge soltou, rindo - você parece um moleque apaixonado... Essa Maraisa mexe com você, parceiro... Tá com os quatro pneus arriados, igualzinho em 2017. Eu tô tendo um dejà vu...

Eu não respondi, sequer prestei atenção. Meu coração errava as batidas, enquanto eu lia a resposta dela, um sorriso de prazer invadindo meu rosto.

A mensagem não era nada demais. Muito pelo contrário, era direta e seca. Mas, conhecendo a Maraisa, eu sabia o tamanho do significado daquela resposta.

Apesar de curta e grossa, era o suficiente para mim.

"Amanhã de noite, na minha casa. Traz o vinho".

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