All Together Again - Reddie

By Keezzuu

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"Seria mesmo o fim da Coisa? Enfim estava acabado e os losers poderiam seguir suas vidas em paz novamente?"... More

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Um pequeno grande aviso S2
Capítulo XV
Capítulo XVI
30 de Outubro
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Bônus: Especial de Halloween
Capítulo XIX

Capítulo XI

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By Keezzuu

- "Você acha que eles estão bem?" - a mulher tirou o cigarro da boca, não aguentando a curiosidade e olhando pro namorado.

- "A cima de toda essa bagunça, eles são amigos, melhores amigos, desde quando crianças, fica tranquila amor, eles vão se resolver" - sorriu para a parceira que retribuiu o sorriso.

Tomaram um susto quando a porta de entrada dos camarins, onde estavam encostados, foi aberta com brutalidade. Richie passou por eles com pressa e uma cara nada boa. O casal se olhou assustado, sairam por alguns minutos para comprar algumas cervejas para todos e uma confusão se iniciou.

- "RICHIE!" - a ruiva jogou o cigarro fora e saiu correndo atrás do amigo apressado. Já Ben, adentrou o corredor dos bastidores afobado, correndo até onde Eddie estava da última vez.

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"Tá, espera, deixa eu ver se eu entendi, você está me dizendo que o Eddie foi te pedir desculpas, te beijou e o que você fez??"

- "Eu entrei em pânico, não pensei antes, eu não sabia o que fazer e achei que ele tivesse feito aquilo para me zoar...EU SOQUEI ELE!" - Richie disparou a falar desesperado, não queria ter socado o homem, não queria ter o xingado, mas seu subconsciente, em autodefesa, o fez agir daquela forma.

Ouviu Bill suspirar pela tela do computador e colocar a mão no rosto. Beverly retornou da cozinha do hotel com um copo de água e uma pílula para a dor de cabeça do comediante, se sentando do lado dele e prestando atenção em Bill.

Os dois haviam tido uma briga feia, com Beverly dando um sermão em Richie e esse saindo de seu estado de choque colapsante, tendo um mini ataque de pânico pelos seus atos. Conversaram por alguns minutos em uma praça e agora estavam no quarto do hotel onde Richie estava hospedado, conversando com Bill pelo computador.

"Olha, Richie, eu nem imagino tudo o que você teve que passar durante todos esses anos, tendo que se esconder do mundo por ele ser uma merda e não podendo amar quem você amava. Mas de uma coisa eu tenho certeza, o Eddie, ele nunca machucaria você, não da forma que você pensa. Beleza ele entendeu errado quando você contou pra ele em Derry e tirou sarro, mas eu nunca vi alguém tão arrependido e amargurado, como eu vi o Eddie depois que você foi embora."

A voz de Bill soava tranquila, como um bom conselho que Richie precisava naquele momento. Beverly sorriu orgulhosa, amavam os dois amigos e os conheciam como ninguém, queriam o melhor para eles e tinham certeza de que Mike e Ben pensavam da mesma forma.

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- "QUE??"

Mike olhava para os dois amigos na tela do celular, espantado. Havia acabado de ouvir o que tinha acontecido e não sabia se ficava mais assustado com a atitude de Eddie ou com a resposta de Richie.

"É eu sei...é maluquice, mas eu senti que precisava fazer aquilo e...no fundo...eu meio que...queria..."

As bochechas de Eddie ganharam uma corzinha a mais e seu rosto parecia sem graça. Pode ouvir a risada de Ben ao fundo e a cara de desacreditado do analista.

"Mas do que caralhos você está rindo, merda?"

A risada de Ben foi diminuindo e pode escutar ao fundo ele chamando Eddie de "Fofo". O homem faltou pular em cima do amigo e o enforcar ali mesmo.

- "Ei vocês dois, foquem aqui" - Mike pediu tranquilo - "Olha Eddie, o que você sente pelo Richie?"

"Ele é meu melhor amigo desde criança, eu sinto uma grande consideração por ele"

"Jura, Eddie?"

"O que??"

"Amigos que se beijam?"

"NÃO! Ah, cala boca!"

- "Gente!" - o homem chamou a atenção dos dois novamente - "Sendo sincero, Eddie, o que exatamente você sente pelo Richie?"

"E-Eu...eu não sei ao certo...eu nunca senti isso. Na verdade, o Richie sempre foi único, grande parte da nossa adolescência nós ficávamos sempre juntos e...ele sempre cuidou de mim, mesmo com as brigas..."

- "É, eu acho que me lembro de algo assim" - Mike forçou sua memória a se lembrar da adolescência deles.

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Os amigos cantavam e faziam gestos esquisitos enquanto dirigiam rumo a Bangor. Mike havia acabado de completar 16 anos e passado no teste de direção. Richie havia dito aos amigos que teria uma grande festa na cidade de Bangor, praticamente vizinha de Derry.

"The Final Countdown" de Europe, tocava bem alto no rádio do carro do senhor Hanlon, animando o grupo com os solos extraordinários de guitarra.

- "Eu to te dizendo cara, vai ser A Festa" - Richie praticamente gritou para Stan poder o ouvir.

- "Talvez seja a nossa chance de conseguir alguma namorada" - Mike comentou.

- "Namoradas? Acho que e-eu só estou afim de c-cur-curtir um pouco e beber alguns drinks" - Bill disparou.

- "Ah nem me fale, esses trabalhos de meio período são um saco, merecemos relaxar" - Ben riu da careta que Stanley fazia sobre o comentário de bebidas alcoólicas.

- "Desencana Stanley, vai ser legal" - Eddie tentou o animar.

Stan estava preocupado com a situação, não gostava da ideia de terem "fugido" de Derry, em plena madrugada, para uma festa cheia de adolescentes na puberdade, mas estava fazendo um esforço por seus amigos.

O grupo logo chegou até o local marcado, estacionaram o carro e entraram animados no local de música ensurdecedora. Estavam curtindo um final de semana adolescente rebelde, o que tinha de mal nisso?

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- "Edward? Edward Kaspbrak?"

O garoto congelou no lugar, o copo de bebida em sua mão agitava o líquido por conta da tremedeira nervosa. Estava com medo, tinha alguém ali que o conhecia e que contaria para a sua mãe onde ele estava. Se virou um pouco hesitante e encarou o garoto de unhas pretas, cabelo estiloso e uma maquiagem bem chamativa.

- "Ah...sim?" - respondeu incerto, havia se separado do grupo e agora, só queria correr até eles.

- "Oi" - ele sorriu - "Você...é aquele garoto que trabalha na farmácia do senhor Keene a tarde, né?"

- "É...espera ai, você me conhece de algum lugar? Eu...não me lembro de você" - olhou desconfiado para o menino.

- "Minha mãe tem rinite, eu sempre vou lá comprar os remédios dela" - explicou - "Fui recentemente comprar remédios hormonais"

- "Ah você é o garoto das camisinhas" - lembrou. O menino gargalhou antes de responder.

- "Sim...que boa lembrança minha em"

Eddie corou, se lembrava do garoto ter ido até a farmácia e pedido duas caixas lacradas de preservativos.

- "Como...como sabe meu nome?" - perguntou.

- "Eu li no seu crachá enquanto você estava distraído separando os preservativos" - disse simples.

"Mas que porra??" Eddie pensou.

- "Enfim, vamos ali trocar um papo, o que acha?" - o garoto sugeriu, já pegando na cintura de Eddie. O menino sentia que iria entrar em colapso.

- "Ah...tudo bem..." - foi meio a contra gosto, não queria ser mal educado e o garoto parecia ser gentil.

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Os dois engajaram em uma conversa divertida sobre um novo videogame que estava prestes a ser lançado e viagens internacionais. Pareciam dois amigos, com seus copos de drinks na mão e gargalhando sobre os assuntos.

- "Você é divertido, Edward" - o gatoto comentou entre risos.

- "Eddie, me chama de Eddie" - sorriu.

- "Tudo bem, "Eddie" - fez aspas com seus dedos ao citar o nome preferido - "Eu te achei extremamente interessante, o que acha de darmos um pulinho ali, para termos privacidade e eu te conhecer melhor?"

Eddie sentiu seus ombros tensioram e, de repente, algo se acendeu em sua mente, aquele garoto estava interessado em si?

- "A-Ah...eu...vim com meus amigos..."

- "Vai ser rapidinho, depois nós voltamos" - o menino o pegou pelo pulso e começou a andar com ele.

Um "sininho" tocou na cabeça de Eddie, o alarmando sobre o que estava para acontecer. Sua mente trouxe de volta as lembranças daquele homem nojento no banheiro, do palhaço, das ofensas de Bowers e do...medo.

Olhou para trás e percebeu que já tinham se afastado bastante da festa, Ah não, estava em apuros.

- "E-Eu...por favor..."

- "Hum?" - o estranho olhou para ele.

- "Eu não quero!" - se soltou rapidamente do menino confuso e correu de volta para o local.

Trombou com algumas pessoas na entrada, estava em pânico, nem sabia ao certo onde estava indo, só queria encontrar seus amigos.

Acabou tropeçando em alguns pés embaralhados em sua frente, fechou os olhos esperando o impacto do chão e bateu as costas em alguma coisa, tendo os braços segurados em seguida.

- "Ei, calma" - ouviu a voz tão familiar e segura dizer em seu ouvido e abriu os olhos em seguida, olhando para cima - "Você está bem, Eds?"

- "Richie!" - se virou rapidamente para o amigo e agarrou as colas de sua camiseta - "Merda, não saia mais de perto de mim!"

Tozier ergueu uma sobrancelha, fazendo uma careta confusa, sem entender a raiva do melhor amigo e o pânico que este parecia estar.

- "O que? Você quem saiu de perto da gente, estamos ali naquela mesa conversando desde que chegamos, você sumiu, eu fui te procurar e você caiu em cima de mim" - explicou.

- "E-Eu...ah foda-se, vem" - puxou o garoto perdido consigo e foram até a mesa onde estavam seus amigos.

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O carro parou em frente a casa Denbrough, deixando os três meninos descerem, Richie havia deixado a bicicleta na casa de Bill, por isso havia descido com os dois.

- "Foi divertido, mas acho que senti falta de silêncio" - Ben comentou.

- "Você tem que assumir Stan!" - Eddie pressionou, Stanley revirou os olhos e abriu um sorriso.

- "Tá, foi legal"

Os garotos riram em uníssono, se despedindo dos outros três que sobraram no carro e entraram para dentro da casa com cuidado para não acordar os pais de Bill.

- "O que acham de um filme? Ainda falta uma hora para amanhecer" - Richie sugeriu, achou Eddie meio inquieto desde a festa e queria deixar o amigo confortável.

- "Ta, tem u-umas fitas ai, escolham um enquanto eu p-pe-pego uns biscoitos" - o garoto avisou e se retirou do cômodo.

Eddie se sentou no sofá e deitou a cabeça para trás, suspirando. Richie percebeu o incômodo do garoto e se aproximou, se sentando ao seu lado.

- "Não precisa ficar assim só porque não ficou com nenhuma garota" - zombou.

- "Vai se foder" - reclamou cansado.

- "Ah eu já fui, aquela Tina era uma gost-"

- "Beep Beep Richie" - Eddie soltou.

Richie sorriu fraco, observando seu amigo, seja lá o que havia acontecido, ele não parecia bem.

- "Ta, agora falando sério" - Eddie ajeitou sua postura e o encarou - "Você quer conversar sobre algo?"

O menino suspirou e mexeu no relógio em seu pulso, desconcertado em falar sobre aquela situação, sabia que Richie o zoaria até o túmulo caso contasse.

- "Parece que...desde quando o Penny...aquela porra daquele palhaço, passou por nossas vidas...mesmo após o derrotarmos...é como se ele me assombrasse com os meus medos mais profundos..."

- "É...eu sinto isso também, ainda vejo palhaços em espelhos escuros" - o de óculos comentou, tendo os olhos de Eddie observando os seus.

- "É uma sensação ruim, como se ele fizesse parte de nós" - respirou fundo - "Tenho medo de enfrentar os meus medos e...sei lá, acabar trazendo ele de volta na minha mente...Richie..."

- "Hum?"

- "Nós...vamos ser normais algum dia?"

- "Qual a graça de ser normal? Nós enfrentamos a porra de uma criatura demoníaca sozinhos cara, e só tínhamos treze anos. Nós somos únicos, mesmo com as merdas que sobraram na lembrança, por que ser um normal sem graça?" - apontou.

Eddie riu baixo, observando os lábios rosados se mexerem pela fala. Richie notou o olhar diferente do garoto e sentiu seu coração palpitar.

- "Eddie..."

Os dois estavam perto demais, pareciam ter se pertido em meio aos sentimentos escondidos dentro deles mesmos, como se estivessem sozinhos em um lugar calmo e silencioso, estavam em sua própria bolha. As respirações se misturavam como uma mistura de cores imaginárias, colorindo um ambiente quente e sentimental que os envolvia

Novamente um alarme se fez presente na cabeça de Eddie, este que arregalou os olhos e em um impulso rápido, se levantou nervoso e sem graça, deixando Richie completamente desnorteado pelo que havia acontecido ali.

- "E-Eu...vou ajudar o Bill, escolhe o filme ai babaca" - sorriu sem jeito e saiu rapidamente da sala, deixando um garoto confuso, corado e de coração acelerado para trás.

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Havia se passado um mês desde o tumulto no camarim de "A Diversão Está Só Começando", Eddie e Richie não haviam trocado sequer uma palavra desde então. O grupo de amigos estavam animados com o plano que haviam armado no mês passado.

"Certo, vamos fazer o seguinte: Faremos reserva naquele restaurante mexicano em Reno no nome do Bill, como um reencontro dos losers, mas, nenhum de nós vamos nesse restaurante, além dos dois pombinhos, se eles não vão se resolver por bem, vão se resolver na marra"

"Você tem certeza que isso vai dar certo? Forçar a barra não vai piorar as coisas?"

"Eles já estão nessa a um mês cara"

"Eles ficaram vinte e sete anos sem se falar, um mês é pouco"

"Cala boca, Ben"

"Enfim, prestem atenção, já avisamos os dois também, agora é torcer para dar certo"

"Eu espero estar errada sobre vocês e espero que eles se resolvam"

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Richie entrou no restaurante e sorriu para a recepcionista que o guiou até a mesa onde estava reservado para ele. Seus olhos focaram na figura esguia sentada, mexendo no celular, engolindo em seco.

"Eddie" sua mente o avisou, respirou fundo buscando coragem e se sentou na mesa, chamando a atenção do mais velho, que guardou o celular no bolso e o encarou com certa surpresa.

- "Oi..." - Richie começou.

- "Oi"

Um silêncio avassalador se instalou no lugar bonito, ambos não sabiam o que dizer ao certo ou pelo menos olhar para o outro. Eddie apreciava a decoração voltada para o México no local, enquanto Richie de minuto em minuto olhava seu relógio, nervoso.

Ficaram certa de dez minutos em silêncio, até receberem as notificações no grupo de amigos em seus celulares.

"Desculpe, ouve um imprevisto, não vou poder ir"

"A mãe do Ben caiu da escada, estamos indo para o hospital, desculpa gente"

"Preciso comparecer ao cartório, havia me esquecido, me desculpem"

Richie bufou, jogando o celular na mesa e esfregando os olhos. Quando aceitou ir para aquele restaurante, não achou que passaria por aquilo. Eddie observou suas ações nervosas em silêncio, esfregando o dedo indicador no bigode ralo, recém feito.

- "Ficar sozinho comigo é tão ruim assim? Costumávamos ficar sozinhos quando crianças" - comentou atento.

- "Nós não somos mais crianças e a situação mudou" - Richie evitava olhar para os olhos de Eddie, enquanto este buscava os dele.

- "E o que mudou, Richie?" - perguntou já sabendo a resposta.

- "Você sabe o que mudou" - tentou desviar os olhos novamente.

- "Não, eu não sei, poderia me dizer?" - buscou escutar o que tanto queria novamente.

- "Eddie, por favor...nós já nos complicamos demais"

- "Não, Richie, você está se complicando demais" - Eddie aumentou o tom de voz.

- "Com licença senhores" - uma voz feminina se fez presente, chamando a atenção dos dois homens - "Desculpa interromper, mas vim buscar os pedidos"

Eddie respirou fundo enquanto Richie se concentrava rapidamente no cardápio, já que estava ali, não iria ficar passando fome.

- "Eu vou querer Chilli com carne, um Burrito, Nachos e Guacamole"

- "Mixiote com carne, Pozole e Tortillas de queijo" - o analista disse brevemente, não dando muita atenção para a mulher.

A garçonete anotou tudo com cuidado para não errar, havia notado que os dois não estavam em um bom dia e não queria ser a causa de mais um dos motivos.

- "Certo e para beber?"

- " Uma Michelada por favor" - Richie disse com paciência, estava enrolando.

- "Paloma" - Eddie batia o dedo indicador na mesa, já irritado.

A mulher se despediu e saiu dali, deixando os dois homens sozinhos. Eddie encarava Richie de forma nervosa, cansado de esperar. Richie suspirou e finalmente olhou nos olhos do amigo, conversou muito com Bill e Beverly, não poderia ficar fugindo dele assim.

- "Tudo bem, olha...me desculpa pelo soco, eu juro para você que eu não quis fazer isso, juro mesmo" - tentou explicar - "Não foi na intenção socar você, foi um espasmo corporal, eu estava nervoso e você fez aquilo, meu corpo entrou em pânico, eu acertei você e pensei que estava fazendo aquilo para me magoar eu..." - suas falas rápidas deixavam o amigo zonzo, tentando processar tudo o que ele estava falando.

- "Richie, calma" - pediu, observando o amigo soltar o ar que havia prendido - "Eu não estou bravo com você, nem mesmo pelo soco, a atitude que eu tive também foi sem pensar e foi impulso, eu precisava te fazer calar a boca e me escutar...perai, acha que eu machucaria você?" - suspirou - "Me desculpa"

Richie estava desconcertado, não sabia ao certo o que dizer, mas precisava se explicar para o amigo.

- "Eddie...você lembra...quando me perguntou qual era o meu medo?" - o homem assentiu em concordância, prestando atenção - "Eu realmente tinha medo de palhaços...mas o meu maior medo, era descobrirem...descobrirem quem eu era, descobrirem sobre o que eu sentia e...perder você"

Eddie abriu os olhos em certo espanto, era a primeira vez que Richie falava sobre essas coisas com ele, não sabia o que ele via quando crianças.

A mulher deixou os pedidos na mesa, quebrando um pouco o clima que havia se instalado. Agradeceram e assim que ela se retirou, o comediante tomou um gole de sua bebida, sentindo o álcool aquecer seu peito.

- "O que você via?"

- "Eu via...muitas coisas...via o Bowers, via nossos amigos me julgando, via meus pais tentando me matar, mas principalmente...eu via você...e de todas elas, as piores eram com você...eu não sei explicar como elas eram, já fazem muitos anos, mas eu lembro do sentimento...acho que...você estava certo daquela vez" - sorriu fraco, tendo a atenção do garoto, agora, confuso - "Ele nos marcou, deixou nossos medos registrados para nos lembrarmos dele"

- "Filho da puta" - Eddie apertou o talher, se pudesse amaldiçoar Pennywise pelo resto da vida e após ela, ele o faria.

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Richie o observou, ele parecia querer contar algo para ele também, mas não iria forçá-lo a falar nada. Eddie brincava com a comida, incerto em contar para ele, era seu melhor amigo, sentia que devia, pois ele confiou o maior segredo que tinha para si.

- "Eu...via leprosos...minha mãe...meu corpo e...homens"

- "Homens?" - Tozier indagou, tendo a concordância silenciosa do amigo.

- "Homens. Muitas vezes estavam se masturbando e pedindo favores sexuais, sempre tinham doenças transmissíveis também" - explicou.

- "Mas o que isso..."

- "Eu prometi para mim mesmo que não deixaria nenhum homem chegar perto de mim novamente" - olhou para ele - "Mas...na adolescência...eu me sentia diferente...fiquei ereto com um pôster do Elvis Presley...mas também nunca me atrai por ninguém além da Greta Bowie"

- "E a sua esposa?" - Richie se ajeitou.

- "Quando eu sai de Derry e conheci a Myra, ela era a imagem da minha mãe em outra pessoa, acho que eu retornei a infância mentalmente e me apeguei...dependia emocionalmente dela pois ela me fazia pensar assim" - suspirou - "Quando eu te beijei, Richie, não foi só para calar a sua boca eu...eu queria saber como era...como era me sentir amado de verdade, como você sempre demonstrou, mesmo com suas piadinhas de idiota"

- "Ei, minhas piadas e imitações eram boas" - retrucou, batendo a mão na mesa.

Os dois caíram na risada, estavam em um clima agradável, conversando abertamente sobre seus sentimentos, traumas e relações.

- "Infelizmente eu não posso pedir para não ficar chateado comigo por não poder retribuir ao seu sentimento e nem mesmo alimentar suas esperanças para te chatear...eu ando muito confuso Richie...eu não sei mais o que eu quero, o que eu sou, eu..." - Eddie se embaralhou em tentar explicar, tentava buscar uma resposta para si mesmo, mas nem mesmo aquilo era verdade - "Na verdade eu...eu...merda, eu só não sei..."

Richie riu baixo, já esteve naquela situação e o compreendia perfeitamente, não o julgava. Ele passou por tudo sozinho, em silêncio, quando ainda eram crianças, estaria ao lado de Eddie, sua mão deslizou sobre a mesa e alcançou a mão gélida do melhor amigo, dando um mini susto no mesmo.

- "Está tudo bem, você vai descobrir" - sorriu com carinho, o coração de Eddie acelerou em resposta e seu rosto ganhou uma coloração rosada.

- "Não está com raiva?"

As vozes ressoavam na cabeça de Richie, como um sonho que na verdade foi a realidade há alguns meses.

"Ele ta bem, ele só tá ferido, temos que tirar ele daqui"

"Richie..."

"Que foi?"

"Querido...ele morreu"

"A gente tem que ir...vem meu amigo"

"NÃO! EDDIE!"

"PRECISAMOS IR ATRÁS DELE, ELE AINDA TÁ LÁ DENTRO! EDDIE! EDDIE!"

- "Richie?"

Piscou algumas vezes, acordando de seu transe e encontrando o olhar preocupado de Eddie.

- "Oi...er...não estou bravo, como poderia?" - sorriu sem jeito - "Olha, vamos fazer o seguinte"

Eddie parou de comer para prestar atenção no que ele diria, já havia se conformado que estava tudo bem entre eles, mas precisava da confirmação.

- "Nós voltamos a ser amigos, como éramos quando crianças, mas dessa vez, vamos deixar as coisas seguirem seu rumo natural" - explicou, ajeitando seus óculos - "O que tiver que ser, será e você finalmente vai descobrir quem você é, Eds" - disse o apelido pela primeira vez, após muito tempo.

O coração de Eddie se aqueceu e este se permitiu soltar um sorriso abobalhado, quanto tempo haviam perdido nessa briga boba se tudo se resolveria assim? Observou Tozier estender a mão em sua direção, sorridente.

- "Amigos?"

Eddie observou sua mão, alternando o olhar entre seus olhos e sua boca também, era melhor assim.

- "Amigos!"

Os dois homens apertaram as mãos e seguiram com a noite, animados com as conversas desconexas pela bebida e o tempo de conversa perdido nos últimos meses. Estavam felizes.

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* Chilli: é um guisado picante contendo pimenta, carne, tomate e muitas vezes feijão. Outros temperos podem incluir alho, cebola e cominho.

* Burrito: uma tortilla de farinha geralmente recheada de diversos ingredientes, a maior parte das variantes utiliza feijão e carnes com acompanhamentos.

* Nachos: consiste de tortilhas de milho crocantes com formato triangular, cobertas por queijo e pimenta jalapeño.

* Guacamole: purê de abacate temperado com sal, limão, azeite, cebola, tomate e pimenta.

* Mixiote: consiste em carne (carneiro, coelho, galinha, porco ou vaca ou outra, peixe ou marisco) temperada e cozinhada, tradicionalmente num forno cavado na areia, enrolada numa película que se retira das folhas de “maguey pulquero”.

* Pozole: sopa ou guisado feito de milho variado, com carne de porco ou galinha e vários outros vegetais e ingredientes, como cebola, alface, queijo ou malagueta em pó, que não são cozinhados.

* Tortillas: um género de pão folha, confecionado a partir de farinha de milho ou de trigo.

* Michelada: drink composto por Cerveja, Suco de Limão, um toque de Pimenta Tabasco, gelo e crostas de sal nas bordas do copo.

* Paloma: drink composto por Tequila, Soda Cítrica (geralmente de Toranja), muito gelo e crostas de sal nas bordas do copo.

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