Eu não via a hora de chegar em casa e abraçar a minha pequena. Tinha adiantado algumas coisas e ficaria a tarde com ela.
De quando vi e eu nos acertamos eu só quero ela nos meus braços.
Eu sempre trabalhei demais e agora queria sussego, queria tirar um ou dois dias da semana pra passar uma tarde toda com ela.
Quando cheguei em casa tive a impressão de ver vitória correndo pra dentro, isso me deixou alarmado.
Entrei rápido também e a vi subindo as escadas apressada
- vi, tá tudo bem.?
Seu corpo curvelíneo ficou parado no topo da escada.
Ela não se virou, continuou andando.
O que foi que aconteceu?
Ela não respondia.
- vitória, posso saber o que esta acontecendo com você?
- nada Jean.
A voz dela estava esganiçada, como se estivesse segurando o choro.
Nesse momento ela entrou em seu quarto, abriu as portas do guarda roupa com rapidez e começou a tirar as roupas de dentro.
- vitória para. - peguei em seu braço e ela me olhou com olhos cheios.
Ela estava chorando.
- porque você está chorando?
- porque eu cometi um erro.
Ela afastou o braço do meu toque.
- nos já falamos sobre isso vitória, você está segura aqui e nada e nem...
- o meu erro, foi ter ficado aqui,eu não devia ter ficado aqui.
Parei e a olhei com atenção. Nesse momento parecia que uma parte de mim havia tomado um choque.
- não entendi, espera... não! Eu acho que não ouvi direito Vi.
- foi isso mesmo que voce ouviu. Aqui não é meu lugar.
Eu estava amortecido. Como assim? O que diabos estava acontecendo com ela?
- Vi, isso não tem graça.
Tentei segurar em seu braço mais uma vez e ela se desvencilhou, puxou uma mala velha de cima do guarda roupa e começou a juntar suas coisas.
- pra onde você vai vitória?
- eu vou embora.
- embora pra onde? Eu não estou te entendendo? Eu fiz alguma coisa?
Seu corpo tremia. Algo não estava certo.
- ele te achou? - era a única coisa que me vinha a mente .
Seus olhos viraram- se pro meu lado.
- não, mais eu vou voltar pra lá, de onde eu nunca deveria ter saído.
Suas palavras não me convenceram. E o meu choque aumentou.
- voltar pro homem que quase te matou? você não pode estar falando sério vitória. Você não voltaria pra ele. Porque faria isso?
- se eu não voltasse pra ele, porque eu ficaria aqui?
- porque você me ama. Porque eu te amo
As poucas roupas que vitória possuía estavam todas dentro da mala e ela me olhava como se tentasse achar alguma explicação pras próprias palavras.
Suas mãos tremiam, seus olhos escorriam, seu corpo estava arrepiado.
E quando abaixou seus olhos disse algo que me rasgou por dentro em mil pedacinhos como se eu fosse um papel
- eu não te amo. - os olhos baixos, as mãos tremendo.
- eu não acredito em você. - meus olhos estavam ficando cheios, meu peito doía.
- eu não te amo. - voltou a dizer.
- não era o que os seus olhos me diziam, não era o que o seu corpo me diz todas as vezes que toco nele. Pelo menos olhe pra mim enquanto diz que não me ama.
- não consigo.
Me aproximei a tocando novamente.
- olhe pra mim vitória.- pedi.
Seus olhos pararam em mim por um instante. A única mulher que eu quis em toda a minha vida, não me queria mais.
- eu não te amo e vou embora.
- porque?...porque...eu ...o que foi que eu fiz?
- eu preciso ir.
- PRA ONDE VOCE VAI VITORIA? PELO AMOR DE DEUS,VOCE NAO ESTA RACIOCINANDO DIREITO.
- EU VOU EMBORA DE ONDE NUNCA DEVERIA TER SAIDO.
Mais porque isso agora?
Depois de tudo?
- eu sou incapaz de acreditar que você, a mulher mais inteligente que eu já conheci na vida, uma menina nova e tão vivida ...eu ...eu sou incapaz de acreditar que você tenha essa dependencia emocional naquele filho da puta
Vitória pegou sua mala e foi descendo escada abaixo.
Eu indo atrás.
Não tinha mais argumentos,achava que tudo isso era auto explicativo.
- não me siga Jean.
- eu vou te levar onde você quiser ir, já que é isso que você quer.
-nao , ninguém vai me levar a lugar algum, eu sou capaz de me virar sozinha.
- eu vou te ajudar a fazer o que você quiser até ser capaz de perceber a loucura que você está fazendo.
- não, isso não é loucura. Eu estou deixando você e sua família porque eu respeito o que fizeram por mim e entenda, é necessário. Me deram, casa, comida, aprendizado e eu sou grata. Você não é nada meu,você nem me conhece direito, me deixe ir. Você não sabe o quanto isso é melhor pra todos.
Saindo da casa vitória rumou pro meio do mato, eu queria correr atrás. Eu queria arrasta-la de volta pra casa, mais eu não era assim, eu não a forçaria a ficar num ambiente que ela não quisesse, mesmo que eu saiba que algo nessa conta não bate.
Eu não vi exatamente onde vitória foi.
Porque nesse momento João me abordou.
- senhor eu estava na cidade e um homem perguntou pelo senhor por lá. Ele não é conhecido nessas bandas, será que pode ser ele?
Meus sonhos se arregalaram.
Era isso.
Vitória não sabia mentir.
- vitória foi embora.
Nesse momento, do lado oposto ao que vitória veio, Gumercindo, outro capanga veio cavalgando.
- senhor, do outro lado da fazenda, tinha um carro muito suspeito, todo aberto, com a chave na ignição,como se estivesse abandonado, ou pronto pra sair com pressa.
Eu estava assustado.
Como esse homem invadiu a minha fazenda sem que ninguém soubesse?
Como ele sabia que vitória estava aqui?
Como ele conseguiu condições de vir até aqui.?
- Jean? O que está acontecendo?
A voz da minha mãe soou atrás de mim.
Quando a olhei com uma cesta de frutas na mão, eu desabei.
Chorei, a abracei e fiquei ali enquanto ela delegava.
- peguem todos os homens da fazenda e todos os cavalos, descubram o que está acontecendo, não deixem que nada suspeito saia dessa fazenda.
O meu peito doía, minhas pernas tremiam tanto. A última vez em que eu fiquei assim, foi quando meu pai morreu. Mais uma vez alguém importante na minha vida estava partindo e mais uma vez eu não podia fazer nada.
- ela foi embora mãe. Não me disse nada, apenas foi embora.
- isso não pode ser, a nossa vitória não faria isso.
- ela não é nossa mãe, ela disse que não me amava, ela nunca foi minha.
Abraçada comigo minha mãe me amparou, calada, até demais pra dona Amélia que sempre tinha algo a dizer.
Os capangas voltaram dizendo que o carro não estava mais lá.
Eu queria poder chamar a polícia.
Ligar pro advogado.
Ir atrás dela.
Para a polícia ela era uma desaparecida que até então ninguém sabia que ela estava aqui, eu falhei em não ter aliados.
Para o advogado, ele alegaria que ela foi por vontade própria e como não teve um exame de corpo de delito pra comprovar a violência doméstica, tudo ficaria oi isso mesmo droga! eu falhei nisso também.
Ir atrás dela, seria como dar um tiro no escuro.
O interior de São Paulo era tão grande quanto o interior de Goiás.
Era como procurar agulha no palheiro.
E como ir atrás de alguém que não quer ser encontrado?
Eu a perdi
Perdi o amor da minha vida.
Minha mãe me tirou dos meus devaneios.
- onde você estava quando vitória foi embora?
- eu estava chegando do armazém e a vi correndo.
- ela levou alguma coisa?
- as roupas dela.
Fiquei olhando pra minha mãe, curioso.
- Jean, vitória quando apanhava foi embora com a roupa do corpo, porque agora ela se preocuparia em pegar as roupas?
- não sei.
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Tá chegando o fim da nossa história e eu não estou preparada pra acabar.
Tenho percebido uma revolta muito grande de vocês com relação a história.
Gente, vitória tem 21 anos, sabe pouco da vida e sempre confiou demais nas pessoas, acho que a postura dela nos últimos capítulos é auto explicativa né?
Mais calma, aconteceram coisas que ficaram ocultas aos olhos de vocês, mais vocês vão entender nos próximos capítulos.