Capítulo 9

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Rowlan

Depois de voltarmos para casa, comecei a me arrumar para dormir.

Mesmo calado e ocupado, minha mente estava desperta e pensativa.

Eu estava totalmente desperto e com muitas coisas na cabeça.
Eu queria confiar em Judy e na família dela, mas não os conheço nem a uma semana.

Queria saber o motivo de querer confiar nela, de estar tão curioso com os três estrangeiros.

O tempo passou, eu também pensava na pequena reunião familiar, no casal de fêmeas que estavam lá, em Phyn que havia criado Tefhy sozinha, em Tefhy que cresceu sem um pai presente.
Não conseguia dormir, tentei ler para pegar no sono, mas não adiantava.

Olhei no relógio que havia em cima do criado-mudo e neste marcava 02:13 da manhã.
Sem saber o que fazer, me levantei e comecei a andar pelo palácio, sem nem prestar atenção na direção que eu ia, apenas inerte em meus pensamentos.
Começo a de longe escutar um cantarolar baixo, uma voz bonita, mezzo soprano, murmurando uma melodia doce e calma num tom médio.

Ando em direção ao cantarolar e quando vejo, estou na porta da cozinha que está entreaberta.
Iluminado por uma vela solitária, o ambiente fazia as sombras ficarem distorcidas, mas ao mesmo tempo fazia a pele dela brilhar, seus olhos brilhavam, mesmo a essa distância eu podia vê-los.

Tudo nesse ambiente a deixava ainda mais bonita, de dia ela era bonita, de noite sua beleza ficava exótica.

Ela ainda murmurava quando uma criança apareceu assustando-a.
No mesmo instante, deixei minha presença menos notável, eu não gostava de ser detectado a uma distância enorme, então diminuía meu cheiro, o que antes era pouco amostra, agora é quase insistente.

Ela olha para o garotinho que segurava mais uma vela, deixando o ambiente um pouco mais iluminando, porém ainda escuro.
— Desculpe, não era minha intenção te assustar. Já estou voltando para meus aposentos.
— Espere. – diz ela – fique, eu não tenho problemas com sua companhia.
O menino, humano, ainda hesitante ficou.

— Não consegue dormir ?
— Não quero dormir. Minha mãe disse que amanhã vamos ao curandeiro.
Ela ri pelo menino ter medo.
O menino olha para ela encantado, seus olhos azuis ganhando apenas um pouco menos de destaque do que os dela.

— Eu não fugiria se fosse você – diz ela serena – posso te contar uma coisa ?
Ele balança a cabeça afirmativamente.
Ela se senta no chão encostando na parede e o chama para perto.

— Quando eu estava sem sono ou com medo, pedia para meus pais cantarem para mim, eles nunca cantaram muito bem, mas me acalmava mesmo assim. Talvez, se pedir para sua mãe cantar, isso te acalme.

Fico surpreso, ela parece gostar de música.
O garotinho que parecia ter uns dez anos olhou para ela com o cabelo castanho quase cobrindo os olhos balançando pelo remexer da cabeça.
— Cante você – pediu ele.
Ela o olha surpresa, nem eu esperava por essa.
— Acho que não é uma boa ideia.
— Por favor ?
Ela que não parecia ter o coração tão mole, começa a cantar.

Uma canção de ninar, calma, suave.
Uma canção que falava de saudade e lembranças com alguém querido.
Ela cantava o mais baixo possível, para não acordar ninguém do palácio.

Eu tinha que admitir: A voz dela era hipnotizante.
Ao final da música o garoto já dormia com a cabeça encostada no ombro dela.
A cena é algo que se quer guardar na memória.

Entro em silêncio, paro em frente a ela que me olha ainda envolvida com a música que deve estar tocando em sua mente.
— Desde quando está aqui ? – pergunta.
— Desde o começo.
— Por que não entrou ?
— Eu não queria atrapalhar.
Ela abriu um sorriso mínimo.

— Você compõe ?
Ela me olha como se eu tivesse dito algo absurdo.
— Eu não sei o suficiente para compor.
— Toca algum instrumento ?
Ela me olha como se dissesse :" Onde quer chegar ?"
— Piano e um pouco de violino.
Automaticamente meus olhos se desviam para as mãos dela, dedos finos, pareciam de alguém que tocava.

Ela olhava para o garotinho com um olhar diferente, sonhador.
— É estranho como a música pode acalmar alguém a ponto de fazê-lo dormir.
— Seus pais realmente cantavam ?
— Minha mãe tentava, mas meu pai pedia para entrar na minha mente e me mostrava as músicas que já havia escutado.
— Como ?

Será que eu escutei direito ?
Ela ri.
— Um dos poderes do meu pai, permite que ele manipule mentes.
— Isso é horrível.
— Ele não sai vasculhando a mente das pessoas.
— Ainda é estranho para mim.

Era ri novamente.
— Melhor levar ele para o quarto, a mãe pode estar o procurando. – diz ela ainda com uma expressão sonhadora ao olhar para ele.

Me levanto para pegar o garoto e ela diz:
— Pode deixar que eu levo. Talvez ele acorde se você pegar.
— Ele vai acordar de qualquer jeito.
Pego o garoto já sem nenhuma intervenção.
— Sabe onde ele dorme ?
— Sei onde os criados geralmente ficam, só abra as portas para mim.

Fomos caminhando em silêncio, as vezes eu pedia para ela abrir algumas portas.
Ela carregava as duas velas, estavamos andando por um corredor que era bem iluminado deixando tudo mais fácil de ver do que antes.

Em um determinado ponto olho para ela e percebo que tem os olhos marejados.
Paro imediatamente, ela olha para trás e aqueles olhos incrivelmente vermelhos se destacam ainda mais com as lágrimas não derramadas.
— O que foi, você está bem ?
Pergunto ignorando o tom de preocupação em minha voz.

Ela ri antes de enxugar os olhos.
— Eu só estava imaginando como seria essa situação com um futuro parceiro.
Então ela realmente desejava uma família.
— E como foi na sua imaginação ? – pergunto curioso.
— Mágico.

Andamos em silêncio, era um silêncio bom, respeitoso.
Eu pensava em tudo o que ouvi dela hoje, tanto na casa de Phyn, quanto na cozinha a pouco tempo atrás.
Entramos nos aposentos que os criados geralmente ficam.
A mãe do menino veio e pegou ele nos braços, agradecendo e voltando para o quarto do garoto.

Depois disso, voltamos de onde havíamos vindo.
— Isso é ridículo ! – digo quebrando o silêncio.
— O que ?
— Eu brigar com você sem nem te conhecer direito.
Ela ri.
— Você só queria protejer sua família. Está certo em ficar alerta. Eu é que sou a errada e descuidada demais.
Por eles serem fortes e cuidarem de si mesmos, eu fico despreocupada com qualquer ameaça.

— Eu devia ser menos Territorial e super protetor.
— Eu devia ser um pouco mais cuidadosa.
— Vamos fazer o seguinte: trégua, sem alfinetadas ou olhares tortos.
Ela olha para mim e diz:
— Por mim está ótimo.

Naquela noite eu fui para meu quarto me sentindo estranho, diferente, bem, leve.
Não conseguia dormir, mas agora estava calmo, pensando em tudo o que aconteceu.
Aos poucos senti meus olhos fechando, o sono me arrebatando.
Nos sonhos, a música que Judy murmurava tocava como numa festa, fazendo com que imagens da realidade misturada com os sonhos aparecesse em minha mente.

Oi oi oi gente.
Turu pom ?
Olha gente, a música na multimídia é de uma animação de 1996 ( se não me engano), eu gosto muito e não consigo imaginar outra música para esse capítulo.
Só peço que imaginem a voz dela mais baixa que a música e mais calma, (Afinal, ela estava cantando para que o garotinho dormisse).
É isso galera, espero que tenham gostado.
Votem e comentem.
Bjinhos

Entre mundos - primeiro volume - Triologia Entre MundosWhere stories live. Discover now