- Não. Isso é errado. Eles merecem lutar pelo que acreditam. - retruco mas sem força.

- Lutar? Acreditar? Não é isso que sempre fizemos? Não é isso que me separou de você? Não é o que você sempre fez e o que nunca deu certo? Não é isso que destruiu as gêmeas? - ele suspira, o polegar em minha bochecha. Não é ele. Mas o toque é o dele. - Nós não podemos fazer diferente dessa vez?

- Como mais poderíamos?

- Se eles não sentissem mais medo, mais dor, mais tristeza. Nem ódio, nem ganância, nem soberba. Todos poderíamos viver sem mais guerras. Pais não abominariam suas filhas pequenas. Irmãs não abandonariam umas às outras. Filhos não queimariam a própria mãe e irmão. Nada... disso.

Se... se ele realmente acredita nisso, talvez não seja tão ruim. Se as pessoas pudessem ser boas umas com as outras, ainda que não por escolha própria, criaríamos um mundo perfeito, um lugar bom.

- Enquanto os seres humanos tiverem o livre arbítrio sempre farão as escolhas ruins. Sempre terão os seus instintos egoístas que destruirão aos outros e à eles mesmos. As escolhas humanas estão fadadas ao fracasso. - Ele segura meu rosto com as duas mãos, aqueles olhos dourados por inteiro me consumindo. - Mas eu, nós, podemos mudar isso. Crie um mundo perfeito comigo.

Sinto sua mão pressionar meu pescoço, me levando para um beijo terno e quente, como o fogo. O beijo de Kadash.

Mas antes que nossos lábios se toquem, sinto algo frio e metálico sendo pressionado na minha nuca. Seguro seu antebraço e o giro, afastando-o de mim. Ele estava me manipulando, queria colocar seu maldito chip em mim. Não Kadash, Maori.

- Desgraçado! - digo enquanto vejo o chip cair com dois baques surdos no mármore. Ele gargalha, o som do rei quebrado que o tomou, não do príncipe.

- É uma pena, querida. - ele encara o chip no chão. - Eu te dei muitas chances. Mais do que daria para qualquer um normalmente. - ele faz uma careta. - Nosso jogo foi divertido, mas você escolheu perder.

Ele avançou contra mim. A adaga se transformando em uma espada de duas cores. Instintivamente ergo minha espada. Ele a força contra mim com um sorriso deliciado.

- Gostou dela? - seus olhos dourados refletem a espada prata e vermelha. - Eu a chamo de Duas Caras.

- Combina com você. - o empurro para longe e aciono o meu poder, para detê-lo, parar seus músculos.

Mas ele avança contra mim de novo.

- Surpresa?

Nossas espadas se chocam novamente e ele usa a mão livre para esfaquear minhas costelas no mesmo lugar. Arfo e me afasto. Usando meu poder para lançar um raio de energia nele, que desvia e se choca contra parede. Não pode ser. Ele também.

Ele sorri passando a mão sobre o peito, puxando a túnica até revelar a cicatriz branca, exatamente igual a do corpo original - O suficiente para me proteger de você.

Recuo horrorizada. Não Kadash.

- Não foi doloroso para o garoto, se quer saber. - Kadash dá de ombros. - Mas eu fiquei apreensivo de não funcionar e ter que precisar de outro corpo. Esse aqui me cabe tão bem.

As espadas gritam, lançando faíscas. O derrubo no chão e rolamos. O que ele fez foi um desrespeito com os mortos. Com minha mãe, com Kadash. De novo e de novo.

- Eu vou destruir você de uma vez por todas. - rosno. - Não vai restar nada, não resta nada de você. - bato com sua cabeça na parede, ouço um som de crack que não vem de osso algum, mas de sua nuca, do chip. E uma mini onda de eletricidade me dá um leve choque.

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Where stories live. Discover now