Capítulo 50 - P.O.V Linda

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- O que aconteceu? Depois que fomos capturados em Mondian? - Estamos apenas eu e Amanda, líder da rebelião, na tenda.

- Lince foi procurar por vocês. Ela não voltou, então presumimos que a missão tivesse falhado totalmente.

- E não estavam errados. - resmungo. Ela me ignora e continua explicando.

- Todos no navio queriam desistir, era uma causa perdida afinal. - ela para de brincar com a bolha d'água e me encara. - Mas para alguns de nós, isso era tudo o que restara.

Sim. Para mim também. A imagem de Nona me vem à mente, se eu a tivesse perdido também, naquele dia fatídico, não sei o que seria de mim hoje. A Base era falha e até mesmo cruel, mas foi meu lar por anos, perder aquele lugar e aquelas pessoas quase me destruiu. Imagino como é para aqueles que perderam tudo, ter a rebelião como a única esperança a se agarrar.

- Não quero que você entenda mal. - Amanda continua sem olhar pra mim. - Não estamos nisso por vingança. Não mais. Depois de um tempo, não é só a tripulação que está conosco. Todos que são contra essa nova dinastia, todos que perderam algo com isso estão aqui.

Ela segura minha mão gentilmente, e eu valorizo isso, são poucas pessoas que se sentem confortáveis com minha aparência ou mesmo que me tocam, e me puxa para fora da tenda.

As pessoas estão rindo e se divertindo, é a hora do jantar e os rebeldes se reuniram na fogueira, estão comendo e contando histórias, algumas crianças correm ao redor do círculo, esbarrando nos outros e levando advertências. É um bom lugar.

- Construímos algo bom aqui nos últimos meses. - ela sorri olhando para as pessoas. - Mas não pode ser apenas nós. Como podemos ficar vivendo tranquilamente, enquanto o resto do mundo passa pelo terror da Repersonalização? - ela torce os lábios e deixa sua bolha d'água cair. - Como podemos ignorar isso?

- Então você pretende lutar? - mesmo com aquela traidora? Completo em minha mente. Ainda não fui capaz de perdoar Rayrah, e não sei se algum dia serei.

- Sim. - Amanda suspira. - Essa luta não é só dela, Linda. Rayrah não é a melhor pessoa do mundo, isso é verdade. E eu sei que se tirarmos aquele homem do trono, Rayrah será a Rainha. Mas eu acredito que ela tenha uma boa razão para ir para Arnlev, para nos deixar aqui. Não sou tola, sei que ela fez isso por egoísmo, mas eu acredito que ela poderá ser uma boa pessoa naquele trono.

Uma criança corre até nós e entrega para Amanda uma caneca com sopa. O menino abre um sorriso enorme e banguela e arregala os olhos para mim, antes de correr para trás da mãe.

- Não quero lutar por ela. Ou com ela. Rayrah foi uma boa amiga, mas ela me deixou para morrer. Deixou todos nós... - bufo. Eu não gosto de ser rancoroso, mas eu não consigo evitar. - Como posso aceitar entrar nessa rebelião? Como vou saber se ela não nos deixará no campo de batalha?

- Não pode. Terá que arriscar. - Amanda põe a mão sobre meu ombro. - Não posso falar em nome dela, mas posso falar no meu. Eu sou a líder dessa rebelião, estas pessoas estão comigo e eu com elas, nós queremos nossas casas e nossa paz. Não importa quem esteja no trono desde que seja bom para o povo. - ela é verdadeira quando diz isso. - Se Maori não fosse o sádico louco que é, ele poderia ficar lá que nós não nos importamos. O povo não se importa com quem governa, desde que o faça bem. Essa é a verdade.

Concordo com ela.

- Estamos dentro, então.

- Mas, há algo que preciso pedir. - ela diz enquanto toma a sopa, fala como se fosse algo simples: - Quero a Marionete que você trouxe.

- Não fale assim da Josh!

- É o que ela é. Precisamos encontrar um jeito de tirar o chip. - ela explica irritada. - Essa é a primeira vez que temos uma marionete, precisamos aproveitar, sabe o quanto é difícil ter uma? Eles sempre se destroem quando os capturamos.

Fico horrorizada.

- Não sou a dona dela. Josh não é uma coisa para vocês brincarem e descartarem!

- Linda... - ela massageia as têmporas. - Você é a líder. Você precisa mandá-la nos ajudar. Não acabou de dizer que está dentro?

- Se quer tentar isso, peça diretamente para ela. - aponto na direção da garota anjo no final da clareira, josh engasga com a sopa enquanto ri de algo que Nona diz. - Ela parece uma marionete para você? Uma boneca assustadora como aqueles soldados?

Amanda suspira.

- Perdemos muita gente por causa daquelas coisas. Eles podem parecer pessoais normais, podem ser gentis com você, podem até mesmo fingir amar, mas quando a cabeça deles é tomada e aqueles olhos se tornam dourados, eles cortam sua garganta durante a noite sem nem perceber. - ela sussurra baixinho para que só eu ouça. Um arrepio percorre minha espinha.

- Josh não faria isso.

- Eu disse isso muitas vezes para mim mesma e por essa razão cavei muitas covas.

- Peça à ela. - retomo irredutível. - Se quer mexer com a mente dela, peça à ela. Eu não tenho nada a ver com isso.

- Tudo bem. - Amanda se levanta, ela não parece chateada. - Peça sopa, não durma de barriga vazia, temos bastante comida hoje.

Aceno enquanto ela entra na tenda sem dizer mais nada.

Mais tarde, estou dormindo na tenda com Nona, quando ouço um barulho do lado de fora. A menina cão nos meus braços gane e baba, ela não ouviu nada que pudesse acordá-la, pois seu sono é pesado. Mas eu definitivamente ouvi.

O barulho retorna, não mais uma pancada. Algo sendo arrastado.

Quando olho para o lado de fora, a lua pálida ilumina uma cena inacreditável. Sim, inacreditável como Amanda deu ordens para ignoraram tudo o que eu disse. Josh estava amarrada e insconsiente, sendo levada por dois homens enquanto Amanda sussurrava ordens.

- Solte-a agora. - digo saindo da tenda. Quando me vê, a líder da rebelião xinga baixinho.

- Amarrem-na também. - ordena.

Conjuro uma espada em segundos. Os soldados dela param, hesitantes.

- O que pensam que estão fazendo? - sussurro, sem querer acordar ninguém mais do acampamento, não tenho como saber de que lado ficarão.

- Precisamos dela. - Amanda me encara.

- Forçá-la faz de vocês tão terríveis quanto Maori. - digo e me lanço sobre ela com a espada erguida.

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora