Capítulo 48 - P.O.V Kadash II

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Ele está na minha cabeça. Na minha cabeça. Na minha cabeça.

- Argh! - o grunhido animalesco que escapa pela minha garganta não é nada mais do que parte do processo. - Saia. Da minha. Cabeça!

Ele mentiu. Disse que me ajudaria. Ao invés disso, completou seu plano, usou o chip implantado na minha nuca para me controlar. Ele disse que eu não deveria ser tão gentil. Tão gentil...

Não seja tão dramático.

- Você não pode fazer isso! - grito para Maori. - Essa é a minha mente, EU tenho o controle! EU sou o Rei!

Sua gargalha ecoa no fundo do meu cérebro, como o chiado de correntes sendo arrastadas.

Sim, você é o Rei. Meu pequeno principezinho. Eu te fiz um. Mas está errado quanto a sua mente. Acha que você está no controle? Ela era minha antes mesmo do projeto estar completo, antes mesmo de eu poder me transferir para , sua mente era minha. Suas memórias eram minhas. Ou você... esqueceu? O.k. Essa foi uma piada cruel, peço desculpas.

- Não. Você tem que sair da minha cabeça. Eu não sei o que está fazendo, mas tem que sair! - grito enquanto bato as mãos nas têmporas.

Uma mão segura meu pulso antes de um novo golpe. Maori me observa, aquelas malditas íris douradas parecem ter se expandido até tomar conta de todo seu olho, é assustador. Ele sorri, suas cicatrizes repuxam asquerosas.

- Eu agradeceria se você não machucasse meu futuro corpo. Sabe, é tão bonito quanto eu costumava ser. - ele acaricia meu rosto e eu dou um tapa em sua mão. Me arrasto para longe, até bater numa parede. - Não adianta tentar fugir de mim aqui, se eu já estou aí... - ele aponta para a própria cabeça.

Não. Ele não vai voltar para minha mente.

Me lanço sobre Maori, consigo socar seu rosto uma vez, antes da dor intensa me derrubar. Perco o controle sobre meus membros.

- Não! Você não vai fazer isso! - berro. Não posso perder minha mente. Não de novo.

Ele passa as mãos pelos cabelos, rindo com um olhar maníaco.

- Eu já fiz isso. - ele se agacha até estar perto se mim no chão, seus olhos fixos nos meus, dois pares de olhos dourados, exatamente iguais e repulsivos. - Isso é um adorável milagre, não faça pouco caso. Você não vê a beleza disso? Até pouco tempo, não imaginava que seria possível, mas isso mudou. Inicialmente, o chip só seria usado para controlar vocês. Seria simples, limpar o mundo de uma forma pacífica. Mas agora... Eu posso ser o mundo. Graças à você, meu principezinho, eu nunca vou morrer novamente.

- Você é louco. - cuspo em seu olho. Ele faz uma careta e limpa com a mão enluvada.

- Mesmo depois de ter perdido as memórias você ainda é filho da vadia da sua mãe. Exatamente igual à ela. - Maori agarra meu queixo, me forçando a olhar pra ele. - Mas não se preocupe, ninguém se lembrará de você, ou de sua mãe, ou dessa Era terrível. Eu vou limpar tudo, vamos reiniciar esse mundo infeliz de uma vez por todas. Todos terão isto - ele toca minha nuca no local do chip, é como a carícia de uma cobra pouco antes de enroscar-se no seu pescoço. - Todos vão poder ser felizes. Iluminados pelo Grande Fênix. Eu verei o que eles vêem e os guiarei. Jamais haverá injustiça, pois se uma lei for descumprida, eu saberei. Se alguém sentir dor, eu saberei. Eu verei tudo. E poderei existir nesse mundo, de corpo em corpo, rei em rei, para sempre.

- É isso que você quer? Controlar cada um deles? O seu povo inteiro? Fazer deles marionetes como... como Jay? - uso minha última carta. O meu rosto lateja com o tapa que recebo.

- Não fale o nome dela. - ele agarra meu pescoço, pressionando-o contra o chão. O ar me falta, minha garganta fechada. As veias saltam no pescoço dele, jamais esteve tão louco. Sinto o gosto metálico de sangue em minha boca até que ele me solta.

Arquejo e inspiro, tossindo. Levo uma mão à meu pescoço, a dor recente ainda parece estar aqui, como uma corda ainda amarrada.

- Olha o que me fez fazer... - ele sussurra divertido, olhando para os hematomas que se formam. - Você me fez quase estragar um corpo tão bom.

- Eu... - A voz esganiçada quase não sai. - Vou... - parecem mais grunhidos do que palavras mas ainda fazem seu efeito e ainda carregam a verdade. - Matar você.

Maori se levanta, ele tira as luvas manchadas com o sangue que escorreu de minha boca. Olha pra mim com olhos dourados cheios de desdém e troça, e dá um falso sorriso cheio de ternura.

- Não, você não vai. Porque você não pode me matar enquanto eu controlar você. E quando eu não fizer mais isso, significa que você está morto. - ele começa a sair da cela, mas se detém na porta cor de creme. - Se tentar fugir, eu vou saber. Se tentar armar alguma coisa, eu vou saber. Estou aqui, sempre aqui. - ele aponta para a própria cabeça. - Vou garantir que se lembre disso.

Ele fecha a porta e eu me encolho no chão frio.

Eu pensei... pensei que pudéssemos fazer isso. Que eu pudesse ser um bom rei. Mas ele estava me usando desde o início. É claro que estava. Como eu pude ser tão inocente e tolo? Ele me criou pra ser exatamente assim?

Maori disse que eu era gentil. Gentil demais.

Mas ele já planejava acabar com isso. Os malditos chips e a Repersonalização, foi tudo para uma coisa: poder entrar na mente de alguém e controla-la.

Ele começou de baixo. Primeiro com os seus próprios guardas, ele os reprogramou, apagou suas memórias e os fez servi-lo incondicionalmente. Em seguida: Jay, apagar memórias, tentou recriar uma personalidade, mas isso não funcionou, ela se tornou incontrolável e, talvez, sua única fraqueza. Em seguida, Maori teve sua vingança e aumentou seu poder, aumentou seu exército e suas experiências. Então descobriu o chip, e o que poderia fazer com ele. Uma Repersonalização em forma diminuta, mais rápida e indolor, e se o processo fosse feito corretamente, uma Marionete controlável. Parecia perfeita, mas faltava algo.

E foi aí que ele pensou. Se ele pudesse também trazer sua consciência dentro do chip, e colocá-la em qual deles quisesse... sim, essa seria a solução. Como uma mente compartilhada. E de bônus, um corpo novo, jovem e bonito.

Eu.

Sim. Você entendeu tudo perfeitamente.

Eu quero você longe dos meus pensamentos, Maori.

Eu acho que não. Afinal, em poucos dias a única consciência na sua mente será a minha. É melhor eu me acostumar.

FIQUE LONGE!

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora