1.0| uni-vos em sagrado matrimônio

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01 de abril de 1961
05:01 AM
› casa da yeojin ‹

eram cinco da manhã e yerim iria se casar.

era outono e houve uma frente fria, então yerim estava congelando e tremendo dentro da banheira, por mais que a água fosse fervente. talvez estivesse nervosa demais para conseguir proferir alguma coisa. o farfalhar das folhas alaranjadas do quintal dos im, que refletiam na água da banheira, assemelhavam-se a um magnífico pôr-do-sol, com tons quentes que acalentavam o coração da choi.

os pulsos de yerim estavam marcados, já que sua inocência infantil fizera-a pensar que os vergões causados por cabos de aço iriam sair se esfregasse com força com uma bucha. de que adianta, se seus dígitos apenas formavam gelhas e uma dor lancinante tomava forma em seus ferimentos?

lágrimas foram derramadas, misturando-se com a água da banheira. yerim não tinha maturidade para viver como adulta, já que as sevícias contundentes a que fora submetida durante a vida toda lhe causaram confusão: quando criança, falava em terceira pessoa e nunca aprendeu nada sobre tarefas domésticas, ou tarefas básicas, como vestir trajes de gala ou qualquer vestido longo, complexo ou apertado demais sem ajuda.

yerim desejava que seu matrimônio fosse apenas uma falácia típica de primeiro de abril, e que não teria sua adolescência arruinada ao se casar.

―――
quarto da yeojin! ♡

yeojin amarrava o cadarço na parte de trás do vestido de yerim, garantindo que a vestimenta ficasse rente ao corpo da noiva. hora ou outra ouvia os suspiros melancólicos da mais alta, que brincava com o próprio cabelo.

mina e chaeyoung seriam as madrinhas, e estavam no quarto de yeojin, observando a noiva e tentando dar-lhe um suporte emocional mínimo. hyejoo também estava na casa dos im, tentando achar o vidro de laquê que estaria, alegadamente, na penteadeira de haseul.

hora ou outra, chaeyoung bocejava por ter saído da cama às quatro da manhã. o motivo de terem ido tão cedo era que seria praticamente impossível a choi se arrumar a tempo, acrescentando o choro frequente da que foi forçada a abdicar de sua juventude para virar dona de casa.

− você quer conversar sobre isso? ― yeojin pôs-se de joelhos diante da choi, para que a cabisbaixa pudesse vê-la.

− não. ― lágrimas cristalinas desabrocharam como botões de rosa sob as pálpebras avermelhadas de yerim, enquanto esta respondia em modo sucinto.

então, yerim cobriu o rosto com as mãos, chorando incessante e agonizantemente. yeojin envolveu o corpo frágil da maior com os braços, em um abraço acalentador: queria chorar junto, mas não sabia como yerim reagiria ao saber das dúvidas que a im tinha em relação aos seus sentimentos para com a choi.

então, choi jisu, conhecida como lia, adentrou o aposento onde a dos fios loiros mantinha um hábito falho de repouso diário.

− não há nada que você possa fazer para escapar deste casamento, yerim. ― jisu falou. ― se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

− choi julia. ― yerim chamou, sentada na penteadeira enquanto encarava o espelho, vislumbrando a irmã que estava atrás dela. ― ou melhor, choi lia. você é obcecada pela ideia de se tornar uma noiva. imagine só o quão perturbador seria depois da noite de núpcias, uma jovem lia, sem saber que o casamento vai além do altar e que pode se casar com um homem abusivo e tomar sobre os ombros a vergonha de morrer em suas mãos ou do desquite.

nossa senhora do desterro | yeorimWhere stories live. Discover now