Capítulo 42

6.3K 489 9
                                    

Elisabete

Eu não deveria tê-lo deixado só. Nem demorei tanto no banheiro, mas foi o suficiente para algo de ruim acontecer e deixar Henrique transtornado.

Pensei que ele estava bem, mas quando o vi praticamente correr para fora do salão, notei estar errada. Era para ser uma noite incrível, pois estávamos homenageando alguém que ele amava, porém parece que os pais do meu namorado não facilitavam as coisas.

— O que falou para ele sair daquele jeito? — Perguntei a Catarina. Eu não estava com paciência e não me importei com a forma ríspida que fiz minha pergunta. — O que fez?

Ela me olhou surpresa e ofendida. Não tinham muitas pessoas onde estávamos, mas as que tinham foram atraídas pela nossa conversa.

— Acredita que eu faria algo que fizesse meu filho sair daquela forma?

— Desculpe duvidar, mas não tive boas impressões desde que nos conhecemos. — Respondi no mesmo tom de antes.

— Posso não gostar de você, no entanto, amo o meu filho. — Disse me encarando.

Talvez estivesse exagerando a respeito dela, porém, sei que Henrique não surtaria do nada sem um bom motivo.

— Então o que aconteceu?

— Samuel. — Falou baixando o olhar triste. — Os dois brigaram de novo. Ele disse palavras terríveis para Henrique.

— Por que ele faria isso? — Questionei pensativa.

— Samuel culpa Henrique pela morte de Anna, mesmo sabendo que isso é mentira. — Eu realmente via a tristeza no olhar de Catariana. Era a primeira vez que via a mulher chorar. — Eu a chamei naquele dia, mesmo Henrique dizendo que não queria vê-la. Ela estava animada, dizia que conversaria com o irmão. — Essa parte eu não sabia, e acredito que Henrique também não. — Ela brigou com o namorado porque ele não queria vir, mas Anna o convenceu. Fiquei sabendo desses detalhes há pouco tempo e queria conversar com o meu filho, mas ultimamente ele vem se afastando e sei que a culpa é minha.

— Então o acidente não foi na estrada que os levariam para outra cidade?

— Não. — Disse limpando as lágrimas. — Quem resolveu esses assuntos foi o Samuel, porque não tive forças para ler aquele papel. Mas depois da nossa conversa senti essa necessidade. — Fiquei surpresa com o que Catarina falou, pois nunca imaginaria que eu a encorajaria a isso. — Naquela noite, Marco bebeu. Ele estava em alta velocidade e o carro colidiu com um caminhão. — Acredito que fora difícil relembrar dessas coisas, e principalmente me falar. Eu ainda não sabia o porquê ela estava revelando tais coisas a mim, porém, isso me ajudava a entender mais sobre essa família em pedaços. — Samuel nunca conversou sobre isso, mas acredito que sua dor se transformou em mágoa devido ao que aconteceu entre Henrique e Anna. Não é justo culpa-lo. Ela estava vindo para casa.

Ela começou a chorar novamente e por impulso a abracei. Não era hora de ressentimentos e sabia que isso estava doendo dentro dela.

Eu poderia ainda ter muitos motivos para odiar a mulher, mas escolhi deixar nossas diferenças de lado e tentar melhorar nossa relação.

— A sua dor nunca vai passar. — Falei ainda agarrada a ela. — Mas sei que irá achar uma forma de diminuí-la. Deve ser difícil perder um filho, e sei que não cheguei a conhecer Anna, mas acredito que ela gostaria de vê-la sorrindo e feliz. — Afastei-me da mulher e a olhei em seus olhos cheios de lágrimas. — A pior parte da morte é o luto, pois os que ficam sofre com a dor da perda e a saudade. Porém, deve acreditar que sua filha está em um lugar muito melhor que esse, e que possivelmente está com você a todo o momento. Não temos como mudar o passado, no entanto, podemos construir um futuro melhor, e para isso temos que deixar nosso orgulho e rancor de lado e tentar consertar as nossas relações no presente. Henrique se martiriza, e acredito que agora mesmo está em algum lugar se culpando. Ele não se acha merecedor da felicidade porque pensa que tirou isso da sua irmã.

— Por que está me ajudando? — Perguntou-me deixando suas lágrimas caírem. — Fui péssima com você desde o começo. Não deveria ser tão boa comigo.

— Você me humilhou e desrespeitou a mim e a minha família. Mas não quero continuar pisando em vidro com a família do homem que amo. Todos nós erramos, afinal somos humanos. Porém, devemos aprender com nossos erros e aprender a perdoar quem nos fez mal ou seremos infelizes para sempre, porque ninguém pode ser feliz tendo ódio no coração.

Inesperadamente, foi a vez dela me abraçar novamente. Essa noite estava sendo confusa. Sempre tentei dar o melhor de mim para os outros, só esperava não me arrepender.

***

Cheguei em casa com a cabeça cheia. Liguei diversas vezes para Henrique, mas o homem não me atendia. Minha irmã não ficou no apartamento, pois Dom iria leva-la para Porto. Ele também estava preocupado com o irmão e falou que da última vez que algo assim aconteceu, Henrique ficou mais recluso e calado.

Meu medo só aumentava a cada minuto que passava e eu não tinha resposta alguma. Tentei dormir, mas isso também não funcionou.

Sentei-me no sofá, inquieta, e sabia que não dormiria nada essa noite se eu não ouvisse sua voz dizendo estar em casa e bem.

O barulho da campainha me assustou e me impulsionou a sair de onde estava e abrir a porta. Meu coração ficou mil vezes mais leve ao ver Henrique parado em minha porta. O abracei forte sentindo meu corpo relaxar.

— Você quase me matou de preocupação. — Falei ainda agarrada ao seu corpo.

— Desculpa. — Disse em um tom tristonho.

Depois que me separei dele o puxei para dentro do apartamento e fechei a porta. Ele ainda vestia o smoking, mas a camisa estava aberta e seu cabelo bagunçado. Henrique parecia bêbado. Nunca o vi passar do limite no álcool.

— Onde estava?

— Bebi um pouco e caminhei na praia. — Disse sentando-se no sofá. — Só que depois de um tempo fui sentindo que precisava de algo.

— De quê? — Perguntei sentando-me a seu lado.

Ele olhou para mim com os olhos escuros devido à luz. Via algo diferente nele, algo que me fazia ficar sem ar.

— Preciso de você.

Foi inevitável não sentir a temperatura aumentar. Seus olhos eram pura luxuria. Geralmente, Henrique era mais romântico, apesar de também ver paixão em seu olhar, porém, sua urgência em me beijar, me fazendo deitar no sofá, fez com que meu corpo inteiro pegasse fogo.

Dei graças a Deus por Mariana não estar em casa, pois ela estragaria esse momento tão aguardado.

Suas mãos possessivas varreram o meu corpo que estava coberto pelo tecido fino de seda que usava como camisola.

Fiquei feliz em ter escolhido isso, pois quando estava em casa, costumava usar uma calça de moletom e uma blusa simples.

Meus pulmões estavam no limite quando sua boca liberou a minha. Não pude reclamar, era isso que desejava desde o nosso início. Eu sabia que ele guardava o Henrique pervertido dentro de si, e não sabia o porquê tentava ser tão doce, mesmo eu sabendo que ele era o misto dos dois.

— Mariana não está em casa, não é? — Perguntou olhando em meus olhos. Confirmei com a cabeça, porque ainda estava tonta com o beijo, e queria economizar energia. — Ótimo.

Ele se levantou e me pegou no colo. Agarrei seu pescoço e senti minha mente girar com tudo o que estava acontecendo. Não ousei fazer perguntas sobre o que estava acontecendo, porque não queria estragar o momento, deixaria isso para outra hora.


A MENTIRA DO CEO: Contrato com o chefeWhere stories live. Discover now