Capítulo 15

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Henrique

Não sabia se estava fazendo a coisa certa em leva-la para minha casa de praia e passar o dia conversando sobre mim.

Particularmente, odiava conversar sobre meus sentimentos, por isso me reservava bastante, e os que sabiam de algo sobre mim, eram muito próximos ou estavam lá quando aconteceu.

Eu ainda não sabia o porquê Elisabete não aceitou terminar logo com tudo isso, mas posso dizer que fiquei feliz.

Agora estava parado esperando a morena que me garantiu que já estava pronta, e quando finalmente a avistei saindo pela portaria, o tempo pareceu diminuir a cada passo que ela dava.

A mulher estava com um cropped simples, um short e um cardigã floral, solto. Seus cabelos escuros estavam soltos, voando com o vento e ela usava óculos que cobriam seus olhos castanhos. Mas o sorriso em seus belos lábios fazia tudo ficar mais lindo.

— Não me diga que está chateado só porque atrasei cinco milésimos? — Perguntou bem-humorada.

— Bom dia para você também, Elisabete. — Brinquei. — Você está linda.

Ela deu uma gargalhada que a deixou ainda mais linda. Fiquei apreciando esse momento de paz, pois sabia que poderia durar pouco.

Afastei-me do capô e abri a porta para que ela pudesse entrar. Ela ainda estava sorrindo quando entrou, e coloquei-me no meu lugar e iniciei a nossa curta viagem.

Abri o teto para que pudéssemos apreciar a vista o caminho todo.

— Diga que você tem músicas boas aqui. — Disse enquanto mexia nos botões do carro.

Assim que as primeiras notas da música começaram a tocar, ela me olhou com os olhos arregalados e de boca aberta.

— O que foi? — A questionei.

— Você gosta de MPB? — Perguntou animada.

— Não me olhe assim, o que pensou que eu ouvia? — Perguntei achando estranha a sua reação.

— Sei lá, alguma música estranha ou nada. — Falou zombando. — Mas fico feliz que tenhamos uma coisa em comum.

— Que sorte. — Brinquei.

A mulher passou o caminho todo cantando as músicas da minha Playlist. Achei agradável ouvi-la cantar. Já saí com muitas mulheres, mas nenhuma delas me agradou tanto quanto essa.

Elisabete tinha algo incomum que eu adorava. Não sabia o porquê, mas queria estar com ela, mesmo que fosse para discutir a todo o momento. Tenho que confessar que ela foi a única mulher que me fazia deixar um dia de trabalho e sair para um dia de conversa.

Mesmo ficando a alguns quilômetros de distância da capital, chegamos rápido a Porto de Galinhas.

— Sabe, sempre quis vir a Porto de Galinhas, mas nunca tive a oportunidade. — Falou ela saindo do carro parecendo encantada com o lugar. — Ironicamente vim com você.

— Isso é algo ruim? — Questionei.

— Não, porém, sei o quanto é chato e você não vai querer se divertir aqui. — Falou virando-se. — No entanto, a primeira coisa que tem que saber sobre mim é: sou persistente.

— Ótimo, colocarei na lista com chata, irritante, tagarela e muitas outras coisas.

A morena fechou a cara e veio em minha direção rápido, me assustando.

— Não vamos brigar hoje, Henrique, mas posso ser tudo isso que você falou enquanto estivermos aqui, só nós dois.

— Ah, não fique irritada, só falei isso para que saiba que conhecemos o lado ruim um do outro, agora teremos que conhecer mais algumas partes boas.

— Mais algumas? — Questionou-me levantando uma das sobrancelhas. — Quais outras partes boas você gosta em mim?

Sua pergunta veio junto de um sorriso pervertido que me fez sorrir também.

— Você beija bem. — Falei e ela ficou envergonhada.

— Ok, vamos entrar. — Falou saindo na minha frente.

***

Questionei a ideia de ter vindo com ela para essa casa distante, mas confesso que agora tudo estava bem. Não tínhamos brigado ainda, e preparávamos uma comida mais natural.

Ela colocara música para tocar e cantava cortando alguns legumes. Era divertido ouvi-la e não ousei criticar a forma como ela fazia isso.

O dia estava ótimo, e como a casa ficava em uma área particular, não éramos perturbados.

Quando terminamos, sentamos ao ar livre para poder apreciar a refeição que tínhamos acabado de preparar.

— Ótimo, você cozinha muito bem. Então isso quer dizer que o seu único defeito é ser um péssimo chefe. — Ela disse enquanto provava um pouco da comida.

— É isso que todos vocês falam quando não estou?

— Claro que não. — Disse com o cenho franzido. — Falamos isso em qualquer situação.

Novamente ela conseguiu tirar de mim um belo sorriso.

— Ok, eu sou exigente. No entanto, tenho que ter foco no meu escritório para ter bons resultados. — Expliquei.

— Já tentou ser mais simpático com eles? — Questionou curiosa. — Aposto que teria mais sucesso e de quebra se tornaria uma ótima pessoa.

Fiquei a encarando enquanto ela falava. Elisa era uma das pessoas mais sinceras e abertas que eu conhecia. Ela não tinha medo de falar o que pensava, nem mesmo para mim, e isso não era mais desagradável.

— Então eu devo ser mais... simpático?

— Sim. Você não precisa sorrir vinte e quatro horas ou conversar sobre a vida com eles, apenas um bom dia, menos arrogância...

— Tudo bem. — Disse e vi seus lábios se curvarem. — Como pode ser tão boa com as pessoas? — Perguntei bastante curioso. — Você acabou de descobrir uma traição, o idiota ainda pensa que você está errada, e pior, eu sou seu chefe, mas ainda sorri e faz piadas.

Os olhos castanhos da morena se prendem em mim. Querendo ou não, eu a admirava por ser tão positiva.

— Ficar remoendo o que aconteceu não me faria bem e mudar por causa disso não ajudaria em nada. — Respondeu encostando-se a cadeira. — Quando descobri o que Miguel estava fazendo pelas minhas costas, pensei que não confiaria em mais ninguém ou que seria infeliz, mas sabe, foi até libertador. Ele era uma pessoa que sempre me colocava para baixo só para que ele brilhasse. Passei três anos trabalhando em um emprego que odiava, só para não deixar de pagar o aluguel. — Sua atenção vai para as ondas quebrando na praia, entretanto não consegui sair da sua hipnose. — Não vou viver triste só porque temo viver isso tudo de novo. Meus pais me ensinaram a ser persistente e sempre ver o lado bom das coisas, e estavam certos. Perdi o emprego, mas agora trabalho para você. E se não fosse por isso não estaríamos aqui.

— Você agradece por me suportar?

— Acredito que você seja uma boa pessoa, Henrique. — Fiquei surpreso com o que ela falou, já que ela sempre dizia aquelas coisas. – Às vezes dá vontade de te matar, mas também há partes boas em você. Ontem, por exemplo, você desistiria de tudo só para me liberar. Agora estamos aqui, só para que eu não surte novamente. E as poucas horas que já passamos juntos, nem me lembrava da pessoa que conheci no primeiro dia.

— Acredito que está exagerando. — Falei voltando a prestar atenção na comida. — Não sou uma pessoa boa como você.

— Você me contou um pouco sobre a sua vida antes disso e posso imaginar que foi difícil, mas não precisa se transformar em alguém que não é só porque tem medo de se magoar novamente.

— Você acha que foi a única coisa que aconteceu? — Questionei mais bravo do que queria. — A vadia da Amanda me estragou com os relacionamentos, mas eu perdi alguém Elisa, alguém que eu amava. – Eu não queria relembrar o passado, isso não me faria bem. Elisabete me olhava assustada e aos poucos a raiva foi passando me fazendo sentir um idiota. — Desculpe. — Falei.

— Tudo bem, Henrique. Não vou mais insistir. — Disse colocando sua mão sobre a minha.


A MENTIRA DO CEO: Contrato com o chefeWhere stories live. Discover now