Capítulo 19

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Elisabete

Desde aquele dia, Henrique estava muito estranho. Quando me deixou em casa ele estava de bom humor, até beijou o meu rosto antes que eu saísse.

Ficar perto dele era difícil, mas eu tentava ignorar as sensações estranhas e boas, o problema era que após conversarmos e daquele beijo ardente, tudo ficou mais complicado, não o desejar estava ficando impossível.

Acordei cedo na segunda, mesmo sendo um dos piores dias, pois, tínhamos que suportar a ressaca do fim de semana.

Assim que saí na portaria, avistei o chefe que estava encostado no capô do carro à minha espera. Eu ainda não conseguia entender como esse homem podia ser tão lindo. Era como se ele sugasse a beleza das coisas só para o seu benefício.

— Bom dia. — falei quando já estava em sua frente.

O homem me avaliou de cima a baixo e finalmente sorriu para mim. Odiava constatar que Henrique podia fazer com que meu corpo se tornasse água quando fazia qualquer coisa adorável como sorrir.

— Bom dia, Elisabete, você está linda.

Achei estranho esse seu bom humor matinal, já que o mesmo era conhecido por sempre estar chateado.

— O que aconteceu, você está agindo estranho?

— Foi você que pediu para que eu fosse mais... educado. Elisabete, por que está me perguntando isso?

O encarei tentando achar uma ironia, mas não encontrei nada.

Tínhamos uma reunião com o grupo que estava construindo os dois prédios que complementariam os hotéis do senhor Aguiar.

A Art. Vilella costumava trabalhar mais com a construção de ambientes e paisagismo, o trabalho de construir ficava para as construtoras, apesar de também construirmos áreas e casas, não focávamos nessa parte, ainda mais em um projeto tão complexo. Toda essa experiência estava sendo muito empolgante. Mesmo estando nesse projeto há algumas semanas, eu já estava entrando no ritmo dos demais e mesmo tendo que ser supervisionada por Roberto e Henrique, eles me davam liberdade criativa. Eu ainda não estava desenhando nada tão importante como os ambientes internos, mas os detalhes também eram importantes e acreditava que se mostrasse que eu poderia ser boa nisso, eles poderiam confiar mais no meu trabalho.

Henrique era mesmo um homem exigente e cabeça dura, no entanto, ele era bom e às vezes sabia reconhecer um bom trabalho.

Semana passada eu estava terminando um desenho e sem saber ele me observava. No fim, fiquei surpresa com o seu elogio e sua sugestão que achei muito valiosa.

Por isso eu pensava que valia a pena insistir em conhecê-lo. Mesmo ficando irritada com o homem às vezes, ele sabia valorizar bons trabalhos e, lá no fundo, era sensível além de ter o melhor beijo.

Não sei o porquê pensei nisso agora.

— Depois da reunião, podemos almoçar juntos. — Falou-me fazendo voltar a realidade.

— Ok. — Respondi.

***

Ao chegarmos na agência fomos recebidos por Amanda e Rafael, o responsável pela construtora que faria os edifícios. Ele era um cara muito educado e engraçado. Fez amizade com todos, menos, é claro, com meu chefe que ficou emburrado o tempo todo.

Eu não sabia o porquê, já que o homem estava alegre quando nos vimos pela manhã. O pior era ele ficar implicando com o engenheiro que só estava fazendo o seu trabalho. Tive que o chutar algumas vezes para que ele não passasse dos limites.

Quando enfim a reunião acabou, ele saiu bufando da sala. Todos perceberam e fiquei com cara de tacho. Entrei em sua sala já notando sua irritação.

— O que deu em você? — O questionei colocando um arquivo em cima da sua mesa.

Era para Judi tê-los trazido, mas a mulher estava uma pilha de nervos por conta do receio de ter que enfrentar o Godzilla aqui.

— Não começa, Elisabete, já estou cheio com tudo o que aquele homem falou. — Disse passando a mão no cabelo, claramente nervoso.

— Do que está falando? — Não sabia do que o homem estava falando, já que não ouvi nada de mais sair da boca de Rafael.

— Claro, você não viu como ele questionou o meu projeto ou se intrometeu em algo que ele nem tinha conhecimento. — Disse caminhando de um lado para o outro. — E Amanda ainda o apoiava, aposto que só fez isso para me irritar.

— Acredito que ele estava dando alguns conselhos. — Tentei amenizar, mas ele me olhou feio.

Se pudesse, Henrique me mataria com aquele olhar. Era como se eu tivesse falado a maior heresia da face da terra.

— Você estava adorando os elogios dele, não foi? — Henrique andou em minha direção com as mãos na cintura em uma pose desafiadora. — Sabia que ele só fazia isso para me provocar e ainda assim gostava.

Fiquei chocada com as suas palavras e um desejo de esbofetear o seu rosto bonito passou pela cabeça.

— Você é um tremendo babaca, sabia? — Disse irritada. — Ele estava sendo gentil, diferente de você, que sempre está de mau humor e só me elogia por obrigação.

— Querida, eu não preciso ser obrigado a constatar o óbvio, porém, acredito que nada do que eu faça seja o bastante para você ou para ninguém.

Respirei fundo e tentei me acalmar, pois não queria brigar mais com Henrique. Era difícil conviver com ele e não ter um simples momento de briga, no entanto, tinha que me esforçar para ficar calma toda vez que ele parecia estar surtando.

— Ok, não ficarei mais feliz com elogios de nenhum outro, só os seus. — Falei me afastando.

— Desculpe. — Disse me fazendo parar no meio do caminho. Virei e encontrei seu olhar cabisbaixo. - Não estou irritado com você e não deveria descontar minha raiva e frustração em quem não tem culpa.

Tinha que confessar que fiquei surpresa com a sua confissão. Henrique parecia duro e um homem que nunca assumiria seus erros.

— Obrigada, mas você não pode ficar irritado com tudo. — Disse me aproximando novamente. — Se as opiniões do Rafael te incomodaram, você deveria ter dito, mas de uma forma menos... arrogante. — Falei e ele cerrou os olhos.

— Está tentando me mudar?

— Não, imagina. — Disse com um sorriso no rosto.

— É melhor sairmos logo. — Falou. — Minha mãe virá a tarde.

A MENTIRA DO CEO: Contrato com o chefeWhere stories live. Discover now