Susto

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               Pv Lorenzo Jauregui



    Faltava pouco mais de duas semanas para o aniversário do meu carinha. Eu estava fazendo de tudo pra sair tudo perfeito. Camila também estava se dedicando, ou melhor ela dava as ordens e eu tentava executar tudo com perfeição.

    O estresse da minha esposa estava me enlouquecendo. Chegou em um nível que eu realmente estava ficando com medo dela. Evitava falar qualquer coisa que a fosse irritar.

    No Natal aconteceu um episódio até engraçado, Camila brigou com Sofia por causa de uma coxa de peru. Sofia comeu a que a irmã tinha separado, foi motivo de briga. Minha cunhadinha ficou chateada queria ir até embora da nossa casa – reunimos nossa família em nossa casa no primeiro Natal do nosso pequeno. Com a ajuda da minha sogra consegui reverter a situação e logo as duas estavam de bem um com a outra.

    O ano novo foi menos agitado. Não teve nenhuma briga, quer dizer teve sim dos gêmeos. Chris ficou com ciúmes porque Taylor estava trocando mensagens com um moleque aí. Confesso que eu também fiquei, minha irmã estava crescendo. Nem conseguia pensar em quando minha princesinha crescesse. Não ia permitir nenhum marmanjo em cima dela. Nicolas iria me ajudar a colocar eles pra correr.

Camila: Lolo – ela desceu as escadas com cuidado.

Lorenzo: Oi amor – me levantei do sofá indo até ela – O que foi amor? Tá sentindo alguma coisa? – perguntei já que ela estava com a mão na barriga e suando um pouquinho.

    Eu estava muito preocupado com ela, além do estresse, ela vinha sentindo algumas dores, teve até um pequeno sangramento a um mês atrás. Pensei que ela estava perdendo nossa bebê, corremos para o hospital. Dra. Eleonor nos atendeu, por um momento pensou que poderia ser descolamento de placenta, mas felizmente não foi.

    Camz ficou de observação um dia, e foi recomendado repouso absoluto. Então a médica nos explicou que seria normal Camila sentir algumas dores nesse final de gestação, mas que se ficasse muito fortes era para procurar por ela.

Camila: Não, só... está incomodando um pouco, eu vou contar as contrações – se sentou no sofá – Está tudo pronto né? As bolsas, tudo?

Lorenzo: Está tudo pronto meu amor – eu fazia um carinho em sua barriga volumosa – Eu vou para minha mãe pra ela ficar com o Nico.

Camila: Tudo bem amor – se levantou de novo – Eu vou lá no quarto dele, ver nosso pequeno.

    Ainda era cedo, Nicolas dormia até um pouco mais tarde. Meu carinha era preguiçoso igual a mãe. Camz foi até o quarto do pequeno andando devagar.

Lorenzo: Oi mamãe – ela atendeu no primeiro toque.

Clara: Oi meu amor, aconteceu alguma coisa?

Lorenzo: Eu vou levar a Camz para o hospital, acho que nossa princesinha tá querendo nascer – eu estava tentando ficar calmo, Camila não podia ficar nervosa, eu tinha que ser o ponto de apoio dela.

Clara: Eu estou indo pra aí agora mesmo – nem pensei pedir ela já tinha me entendido.

    Fui até o quarto do Nico com meu coração apertado. Camila fazia um carinho nos cabelos do nosso filho, cantando pra ele.

Camila: A mamãe te ama muito meu anjo lindo, nunca se esqueça disso – ela chorava falando isso, era como se ela tivesse se despedindo dele, não gostei disso.

    Ela estava com alguns pensamentos estranhos, falando várias coisas sobre complicações no parto. Estava preocupada porque o exame dela tinha apresentado uma anemia.

Lorenzo: Ei, para com isso, vai dar tudo certo – abracei seu corpo com cuidado.

Camila: Aí – ela gritou fazendo Nicolas acordar assustado, não demorou nada pra ele começar a chorar – Lolo.

Lorenzo: Calma amor, minha mãe já tá chegando – eu fiquei sem saber direito o que fazer – Filho fica quietinho, a vovó já tá chegando, papai vai levar a mamãe para o hospital a Lili ta chegando campeão – tentei acalmar ele que ficou em pé no berço nos olhando.

Clara: Pronto filho, cheguei – minha mãe entrou logo no quarto já pegando o pequeno nos braços – Vão logo.

    Peguei Camila nos braços já que ela não estava conseguindo andar direito pela dor. Meu pai nos esperava com a porta do carro aberta. Quando a coloquei no banco de trás ela se agarrou a mim.

Lorenzo: Amor, Eu preciso pegar as bolsas – tentei sair do seu aperto, mas era muito forte.

Clara: Tá aqui filho – ela equilibrava as duas bolsas nos ombros.

    Olhei para a porta procurando onde Nicolas podia estar e o encontrei nos braços do meu irmão, ele ainda estava chorando. Ele estava assustado.

Camila: Ah... – ela gritou de novo – Meu Deus isso dói.

Lorenzo: Respira amor – tentava acalma-la – Pai, por favor mais rápido.

Mike: Eu estou indo filho, fica calmo.

    O rosto de Camila se contorcia em uma expressão dolorida, seu rosto vermelho. Sua respiração estava desregulada. Eu queria poder fazer alguma coisa para aliviar a sua dor, tentava ajudá-la no que podia. Me sentia um inútil.

    Em menos de vinte minutos nós chegamos ao hospital. Meu pai estacionou de qualquer jeito. Saiu atrás de alguém.

Lorenzo: Vamos amor – sai do carro já pegando Camila no colo.

Mike: Coloca ela aqui filho – meu pai voltou acompanhado de um enfermeiro com uma cadeira de rodas onde coloquei minha esposa com cuidado – Você precisa preencher a ficha dela.

Lorenzo: Eu vou ficar com a Camz pai, você preenche pra mim – pedi caminhando atrás do enfermeiro que levava Camila pra dentro dos corredores.

Mike: Eu não posso Lorenzo, tem que ser você – eu ia protestar – Sua mãe já ligou pra Dr. Eleonor, ela já tá esperando a Mila, vai rápido preencher os papéis – segurou firme em meus ombros.

    Caminhei até Camila, peguei sua mão firme. Ela me olhou.

Lorenzo: Eu já volto, eu prometo – beijei sua mão olhando em seus olhos.

    Ela só meneou a cabeça assentindo me olhando intensamente. Foi muito difícil deixá-la, mas era preciso. Corri até a recepção pegando aquelas porcarias, preenchendo tudo rapidamente.

    Meu pai me esperava perto de um dos elevadores. Ele foi me explicando que a médica já tinha chegado e levaram Camila pra fazer alguns exames. Tive que ficar parado no corredor esperando os exames terminarem.

    Estava demorando muito mais que o previsto, quase abri um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro. Ninguém me dava informações sobre nada.

    “ Eu já volto, eu prometo” – eu tinha prometido a ela que não iria deixá-la. Agora ela estava lá sozinha.

Lorenzo: Que demora pai – eu me sentei ao seu lado.

Mike: As vezes os exames ainda demoraram filho – meu pai tentava me acalmar.

Dr. Eleonor: Lorenzo, sr. Jauregui – nos cumprimentou, ela já estava com sua roupa de cirurgia – Lorenzo me acompanhe por favor.

    Eu a segui até uma sala, ela me entregou uma embalagem com algumas roupas para eu poder me vestir, me mandou trocar de roupa no pequeno banheiro. Me troquei rapidamente.

Dr. Eleonor: Você vai acompanhar o parto, certo – assenti com um aceno de cabeça – Vamos ter que realizar um parto cesariana, não há dilatação suficiente e o cordão umbilical está enrolado no pescoço do bebê – ela deu passagem para que eu saísse da sala.

Lorenzo: Meu Deus, minha pequena – parei um pouco antes de entrar na sala de parto.

Dr. Eleonor: Eu preciso que você se mantenha calmo, você só vai piorar a situação – ela me olhou de uma forma séria – Preciso que você autorize a operação.

Lorenzo: Não tem outro jeito?

Dr. Eleonor: Não, não tem. Temos que fazer logo, as duas correm perigo.

Lorenzo: Então, tudo bem, eu autorizo, faça de tudo pra salvar minha mulher e minha filha – pedi desesperado.

    Não era pra ser desse jeito, estávamos tão feliz, esperando a chegada da nossa pequena. Agora eu estava pedindo a doutora pra fazer de tudo pra salvar minha mulher e minha filha. Eu não podia fazer absolutamente nada.

Dr. Eleonor: Você vai acompanhar o parto certo?

Lorenzo: Sim, eu vou sim – falei com a voz um pouco embargada.

Dr. Eleonor: Fiquei tranquilo, não demonstre nervosismo a ela, você precisa estar calmo, precisa tranquiliza-la. Ela não sabe o que está acontecendo, ok.

Lorenzo: Ok.

Dr. Eleonor: Vai dar tudo certo – segurou firme em meus ombros.

    Não falei nada, rezando silenciosamente para que aquelas palavras fossem certeza, e não apenas uma tentativa de me acalmar.

    Passamos por onde meu pai tinha ficado. Agora ele estava acompanhado pelos meus sogros. Sinu estava com as mãos postas fazendo uma oração, Alejandro fazia um carinho nas costas da mulher, meu pai estava do lado deles.

Mike: Nós vamos ficar aqui esperando – ele veio até a mim – Vai dar tudo certo.

    Assenti com a cabeça, ele já devia saber o que estava acontecendo, tinha uma enfermeiro com eles, com certeza ela tinha explicado tudo a eles.

   Segui a doutora com a cabeça a mil, nem vi quando ela parou abrindo uma porta me dando passagem. A sala estava relativamente cheia, com alguns médicos e enfermeiros. Um deles estava ajudando Camila a se deitar na maca alta. Assim que ela se deitou colocaram um pano azul como se fosse uma cortina quase a cima de seu peito. Ignorei uma bandeja cheia de materiais cirúrgicos ao seu lado, quando me aproximei.

Lorenzo: Oi amor – toquei seu rosto.

Camila: Oi – ela respondeu dando um leve sorriso apesar de seu rosto estar contorcido em uma expressão de dor.

    Mais um enfermeiro se aproximou informando que ia aplicar a anestesia. Segurei firme em sua mão. Aquilo parecia doer, e eu sabia que Camila tinha muito medo de agulha.

    Dr. Eleonor fez alguns testes pra ver a anestesia estava fazendo efeito. Então começaram os procedimentos. Eles conversavam entre si, falando coisas que eu não conseguia entender direito.

Lorenzo: Está tudo bem? – perguntei baixo perto do seu ouvido. Ela só acenou com a cabeça – Vai ficar tudo bem, já, já vai acabar. Daqui a pouco a Lili vai tá com a gente – eu tentava manter uma conversa calma com ela para acalma-la, mas não era necessário, ela parecia bem mais tranquila que eu.

    Os procedimentos continuaram, tudo diferente do parto do Nicolas. Eu preferia ver Camila fazendo força, quase esmagando minha mão, falando alguma coisa, ou ate mesmo xingando com da última vez, do seu silêncio perturbador de agora. Podia parecer egoísmo da minha parte, porque aparentemente ela não estava sentindo dor, mas devido a situação o silêncio dela não era um coisa tão boa assim. O silêncio vinha só dela, porque a todo momento alguém falava alguma coisa, eles pareciam agitados.

    Puxei a máscara para baixo livrando minha boca para poder cantar pra ela em um tom bem baixo ao pé do seu ouvido.

                    Ed Sheeran, Perfect.

Lorenzo: Eu encontrei um amor pra mim, querida, basta você mergulhar e me seguir. Bem eu encontrei uma menina, linda e doce. Eu nunca soube que era você quem estava me esperando – eu não sabia porque, mas achei necessário cantar pra ela. Camila me olhou sorrindo, aquela era nossa música – Eu te amo.

    Recomecei a cantar, não sabia mais se alguém ouvia, só me importava que ela ouvisse. Chegando na parte que que Camila costumava cantar comigo eu ouvi um choro. Um choro baixo, agudo, esguichado. O chora pelo qual eu estava ansioso para ouvir. Minha filha havia nascido, e agora chorava a plenos pulmões. Eu estava tão feliz e completo, minha menininha, finalmente ia poder pega-la em meus braços.

    Pensei que a movimentação ia diminuir um pouco, mas foi o contrário. Ficou ainda mais adiantado, eles pareciam afobados e preocupados. Olhei pra Camila, ela me olhava estranha com o olhar fixo no meu. Uma lágrima solitária escorreu de seu olho.

Xxx: A pressão está caindo – consegui ouvir alguém dizer – Tirem ele daqui, precisamos estancar o sangramento.

    Não estava entendendo, tirar quem? A pressão de quem estava caindo? Que sangramento? Ainda me perguntando tudo isso, senti duas mãos tentando me levantar.

Xxx: O senhor precisa sair – o aperto por debaixo do minhas axilas ficou mais forte.

Lorenzo: Não posso sair daqui, eu tenho que ficar com ela – eu tentei me soltar – Camila – ela me olhou com os olhos pesados piscando lentamente, até que não voltou a abrir novamente – Camila, amor – estavam me arrastando pra fora – Não, me solta, eu preciso dela, me solta – Não conseguia me livrar daquelas mãos, então vi a porta se fechar diante a mim – Por favor, eu preciso voltar – as lágrimas embaçaram minha visão.

Mike: Filho, calma – senti que estava no chão com alguém agarrado a mim, me segurando – Por favor, fica calmo.

Xxx: Se ele não se acalmar, teremos que seda-lo.

Mike: Não será necessário, ele vai se acalmar – senti que me ergueram e me sentaram em uma das poltronas.

Lorenzo: A Camz pai, eu preciso dela – me entreguei ao choro no colo do meu pai. Ouvi mais alguém chorando, com certeza era minha sogra.

Alejandro: O que está acontecendo? – ouvi meu sogro perguntar pra alguém, com certeza era para o idiota que tinha me tirado de lá.

Xxx: A paciente estava sangrando muito, ela teve uma hemorragia, devido às complicações da anemia. A pressão caiu, eles estão fazendo os procedimentos, daqui a pouco eu volto com mais informações.

Mike: E minha neta? Ela está bem?

Xxx: O bebê está bem, nasceu forte e saudável, vão leva-la para o berçário, logo vocês poderão vê-la.

Lorenzo: Pai, eu preciso voltar – minha respiração voltou a ficar irregular – Pai...

Mike: Você precisa respirar, vamos contar comigo, um, dois... – meu pai sabia que eu estava tendo uma crise.

    Queria ser forte por ela, mas não estava conseguindo. Minha vida sem Camila não teria o menor sentido. Ela não podia me deixar, não ia conseguir cuidar dos nossos filhos sem ela. Nicolas ia completar um ano, ela estava toda feliz planejando a festinha dele. Não era justo.

    Me ajoelhei no chão ao lado da minha sogra. Não era muito religioso, não era de frequentar igreja e tudo mais, mas sempre tive me minha fé. Então me apeguei nela, podendo por tudo que fosse mais sagrado, que não me tirasse ela.

    Enquanto pedia, me lembrava de cada momento, cada segundo que passei ao lado dela. Ela tinha sido meu maior presente. Me ensinou o que era o amor, me ensinou a ter mais responsabilidade. Me deu minhas maiores alegrias, nossos filhos, nossa família.

Dr. Eleonor: Lorenzo... – quando ouvi ela me chamar, me levantei rapidamente, meu pai me ajudou.

Lorenzo: Ela vai ficar bem, não vai? – minha voz quase não saia – Vocês conseguiram certo?

Perfect ChangeWhere stories live. Discover now