Mensagem subaquática ou de Íris, qual a melhor?

329 28 26
                                    


Eu gostaria de ter visto a cena de fora, porque deve ter sido uma visão e tanto. Duas crianças despencando em alta velocidade do topo do Portal em Arco, ou seja, de quase 200 metros de altura, enquanto uma delas pegava fogo. Quer dizer, isso não é algo que se vê todo dia.

Não tive muito tempo para pensar em nada (nada coerente pelo menos). O rio vinha em minha direção na velocidade de um caminhão. O vento arrancou o fôlego dos meus pulmões. Torres, arranha-céus e pontes giravam entrando e saindo do meu campo de visão, todos em tons de laranja graças ao fogo.

Estranhamente eu não sentia minha pele queimar, sequer sentia calor, para ser sincera. Se era por causa da velocidade de minha queda ou por outro motivo, eu não sei. 

Percy, obviamente, caiu no rio primeiro, espalhando água. E então...

Cata-puuum!

Um turbilhão de bolhas. 

Para uma pessoa normal, cair na água de certa altura é o mesmo que cair em cimento, mas como filhos de Poseidon acredito que essa regra não se aplicava a mim e a meu irmão, então meu impacto com a água não doeu. Nem o dele.

Eu estava agora descendo lentamente, com bolhas passando por entre meus dedos. Fui parar no fundo do rio, junto á Percy, em silêncio. Um peixe-gato do tamanho de um humano gordo se afastou com uma guinada para a escuridão. Nuvens de lodo e lixo nojento — garrafas de cerveja, sapatos velhos, sacos plásticos — giravam ao nosso redor. Quer saber? Grover tinha razão sobre os humanos. 

Naquela altura, percebi algumas coisas. 

Primeiro: eu não estava molhada. 

Quer dizer, conseguia sentir a friagem da água. Podia ver onde o fogo tinha sido apagado das minhas roupas e cabelos (uns quatro dedos a partir da ponta dele estavam chamuscados e eu soube que teria que fazer uma visita ao chalé de Afrodite quando voltasse pro acampamento, Silena iria surtar). Mas, quando toquei minha blusa e casaco, que estavam com as extremidades e as mangas queimadas, percebi que ambos estavam perfeitamente secos. 

Troquei um olhar com Percy, vendo ele agarrar um isqueiro. 

Sem chance, pensei. 

Ele riscou o isqueiro. Uma faísca saltou. Uma chama pequenina apareceu, bem ali, no fundo do Mississipi.  

Agarrei uma embalagem ensopada de hambúrguer na corrente e o papel secou imediatamente. O aproximei do isqueiro e queimei-o sem problemas. Assim que o soltei, as chamas bruxulearam e se apagaram. A embalagem voltou a se transformar em um trapo viscoso. 

— Ok, isso é meio legal. — comentei, com minha voz saindo como em uma gravação, parecendo pertencer a alguém mais velha. 

Percy me olhou, piscando com leve surpresa. Aquilo me levou á segunda percepção: eu estava respirando embaixo d'água, o que era muito legal. 

— Isso é esquisito. — contrariou meu irmão, sua voz soando da mesma forma que a minha. 

Ficamos de pé, afundando até as coxas na lama. Nojento, eu sei. Respirei fundo, me acalmando depois de toda a adrenalina dos últimos (pouquíssimos) minutos. Então me lembrei que Percy havia sido mordido pela serpente na cauda da Químera, que era venenosa.  

— Você está bem? — perguntei, me virando para ele de forma preocupada. 

— Sim. — ele respondeu. 

Analisei seu rosto em busca de qualquer traço de mentira ou dor, mas ele estava em perfeito estado, melhor até do que eu. Suspirei aliviada e uma voz parecida com a da minha mãe disse na minha cabeça: Percy, Alex, como é que se diz? 

Alex Jackson | A Filha de PoseidonOnde histórias criam vida. Descubra agora