A louca das estátuas perde a cabeça

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O lado bom de ser um meio-sangue é que quando algo dá errado, você pode jogar a culpa nos deuses e é isso. Sequer precisamos nos sentir mal por tal coisa, já que na maioria das vezes a culpa é deles mesmo, se não em todas. 

Por exemplo: se mortais se encontrassem andando sem rumo em um bosque de Nova Jersey, depois de terem sido atacados por vovós malignas em um ônibus que acabou explodindo, eles achariam que é apenas muita falta de sorte. Semideuses, por outro lado, sabem melhor; nós sabemos muito bem que isso é um deus tentando ferrar com a nossa vida.  

Então lá estávamos nós: eu, Percy, Annabeth e Grover, andando pelos bosques ao longo da margem do rio, em Nova Jersey, as luzes de Nova York tornando o céu amarelo atrás de nós e o fedor do rio Hudson entrando por nossos narizes. 

Grover estava tremendo e balindo, e seus grandes olhos de bode, cujas pupilas haviam se transformado em fendas, estavam cheios de terror. 

— Três Benevolentes. As três de uma vez.

Percy parecia em choque e eu não podia culpá-lo por isso, já que eu mesma estava me sentindo totalmente perdida. Annabeth é quem nos mantinha andando, enquanto tudo o que eu conseguia fazer era apoiá-la. 

— Vamos! — dizia ela. — Quanto mais longe chegarmos, melhor. 

— Annie tem razão. — concordei. — Vamos.

— Todo o nosso dinheiro ficou lá atrás. — lembrou Percy. — Nossas comidas e nossas roupas. Tudo. 

Nem me lembre, maninho, eu pensei. Mal saímos do acampamento e já estávamos na pior, para não usar outra palavra. Que belo presságio, hein!? O que iríamos fazer agora?

— Bem, talvez se você tivesse seguido o plano e nos tirado da estrada depois de sairmos do túnel. — resmungou Annie, mas eu não vi que diferença iria fazer. — O que foi aquilo? 

— Elas teriam atacado vocês, eu tinha que fazer alguma coisa. — se defendeu ele.

— Teríamos dado conta, o que você fez poderia ter dado muito errado.  

— O plano inteiro poderia ter dado muito errado, mas deu certo no fim e é isso que importa. — cortei a briga logo de cara. Ou só tentei, porque a loira voltou a falar: 

— É, talvez você tenha razão. Mas, ainda assim, vocês deveriam ter saído do ônibus e fugido quando tiveram a chance, e não digam que não a tiveram porque eu vi. Quem sabe se não tivessem resolvido entrar na briga...

— Ah, não, não me coloca no meio disso, por favor. — eu pedi, me sentindo cansada demais para discutir. 

— O que você queria que nós fizéssemos? — retrucou Percy. — Que deixássemos vocês serem mortos? 

— Você não precisava me proteger, Percy. Nem Ally. Eu ia ficar bem. 

Como se isso fosse me impedir, revirei os olhos. Nunca poderia deixar que Annie se machucasse, não tendo algo que eu pudesse fazer para impedir, e ela me conhecia bem o suficiente para saber disso. Eu já imaginava o motivo dela estar chateada, e também sabia que na verdade ela tinha gostado de não termos fugido. Inclusive, não acredito que me conhecendo ela tenha mesmo pensado que eu iria fazer tal coisa, nem por um segundo.

— Fatiada como pão de forma. — "corrigiu" Grover. — Mas bem. 

— Cala a boca, garoto-bode. — mandou Annabeth. 

O sátiro baliu, triste. 

— As latas... Uma sacola de latas perfeitamente boa. 

Nós chapinhamos pelas terras lamacentas, por entre horríveis árvores retorcidas que tinham um cheiro azedo de roupa suja. Depois de alguns minutos, Annabeth foi para o lado de Percy. Como eu estava bem atrás deles, consegui ouvir a conversa.

Alex Jackson | A Filha de PoseidonTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon