XXI

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" Eu preciso te matar
Essa é a única maneira de tirar você da minha cabeça."

Melanie Martinez –
The Best People Are Crazy

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1 ANO ANTES

HOSPÍCIO LA VILLE:

O FITAR CONSTORNADO e alheio a parede era efetuado por Evangeline, segurando as duas mãos firmemente sobre o colo, na como o joelho subia e descia, em uma locomoção repleta de ansiedade e inconstância. Havia sido colocada no hospital antes de ontem. Os médicos a aconselharam com vozes calmas, oferecendo os mesmos remédios, pondo-a em seu novo espaço de dormir. Apostava que nunca mais veria a sua mãe de novo, após atravessar as portas daquele lugar enorme. Jamais iria regressar, e se reviesse, nunca mais seria a mesma.

Prantos de ira foram desferidos ontem a noite, em seu pequeno quarto, na Ala 1. Chorou até os sintomas de sono invadirem o seu corpo, e as suas pálpebras pesarem em seus olhos vermelhos. Não conseguindo mais aguentar aquele manto de inconsciência insuportável. Estava sozinha, sem ninguém para auxiliá-la, só ela, apenas ela, seus pensamentos, e pesadelos. Aqueles malditos sonhos capazes de fazê-la adentrar em uma loucura na qual infernizava a sua frágil mente.

Erguia o queixo levemente para observar alguns profissionais passarem por ela, segurando fichas e conversando com outros doutores. Alguns enfermeiros paravam e a perguntavam se estava bem, com o mesmo atendimento acalentador de costume, e ela dizia que não quase ciciando, bem baixinho, e eles apenas meneavam, sem estarem cem por cento conformados, mas não tendo motivos o suficiente para insistir.

Achava-se a espera do doutor Henrique, que se encontrava em uma consulta, àquele momento. Logo seria a vez dela, então apenas encarava a umbral branca como as paredes de La Ville. Toda aquela luz não funcionava em nada, a morbidade continuava encrustada em todos que moravam ali, impregnando os seus dorsos e aparências exaustas. Não duvidava que a maioria das pessoas ali estivesse morta por dentro, como ela.

— Precisa me dizer o por que disso tudo, preciso de uma resposta, além daquelas sem nexo da minha tia... — Inspira com impaciência. — Sabe que não vai adiantar se me esconder, como faz sempre.

Antes que chegassem no corredor, Belle falava com Awnya, que quando ela queria, mantinha a sua fisionomia sisuda e indecifrável. Descobrira alguns documentos relacionados à sua estadia no hospício, e quase conseguia mais informações, se não fosse pela própria abrindo a porta do escritório, flagrando-a.

— Eu não tenho nada a dizer, Belle — murmura com exatidão. Guardando uma trilha de emoções dentro de si quando avistava-a. Ela era a cara dela.
— E nem tente me persuadir.

Nada... — lambe os lábios secos, respirando forte ao olhá-la de novo.
— Nada sobre os meus pais? — Indaga, obstinada com essa questão, e Awnya franzi os lábios, tensa, puxando ela pelo braço direito, seguindo o caminho. — Terá que me dizer a verdade um dia!— Para de falar quando ela exclama fracamente, " Conversamos sobre isso depois ", parando perto da área de atendimento psiquiátrico.

— Paciente de espera, certo? — a enfermeira chefe Awnya surge do corredio à esquerda, apoiando a mão no ombro de uma garota de sua mesma idade, aparentemente. Os cabelos um pouco fora do lugar e olhar obtuso, de certa forma suave.

Maligne: Cheios De Sangue (Concluída)Where stories live. Discover now