XIX

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" E me ocorreu, ali parado,

Só respirando com ela,

O silêncio caindo á nossa volta,

Que aquelas podiam ser as duas

palavras mais lindas do mundo.

Temos Tempo. "

Jacob Portman. - Biblioteca de Almas -
Ransom Riggs

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CAPÍTULO ESPECIAL

AQUELA PINTURA FICAra ali por anos, sem ninguém cercá-la, ou sequer tocá-la. Mas ela delongava o olhar irremovível a àquela ilustração que a levava à uma amargura fulminante, um sentimento de ódio, que inflamava os seus órgãos. O rancor se esvai por um momento. Aquele espetáculo ridículo não era mais real, o que saciava as chamas que se ascendiam a mesma, vez ou outra, incontroláveis.

A mulher no pequeno quadro em cima da estante velha tinha os cabelos loiros platinados presos em um rabo de cavalo solto, sorria animada, e o sangue subia em suas maçãs do rosto, indicando que a euforia que experimentara na foto era inteiramente real, nada falso ou uma pose forçada. O que a irritava grandemente. Sempre que parava em aquele espaço da mansão, isso lhe ocorria muitíssimas vezes.

Havia uma criança de cabelos castanhos claros no colo, produzindo uma careta com a língua enquanto sorria, quase diria que se parecia muito com ela se não fosse pelas cores das íris verdes-cinzentas. Um homem ao lado de sua cadeira usava um terno preto, a mão dele pousava em seu ombro esquerdo, no efeito espelho. A única mais afastada era a garotinha que parecia mais velha que o menino no colo de sua mãe, um meio sorriso estampando na face, cabelos loiros platinados e possuía um belo vestido  marrom-escuro com estampa de flores pretas e rosas, no qual tinha mangas e atravessava o seu joelho.

Qualquer um que batesse os olhos na foto, imaginaria que ali havia sido uma família feliz.

Suas unhas brancas e afiadas alisam a imagem com lentidão. Circunspecta e observadora, rasga uma parte do quadro. Havia deixado um traçado no centro do rosto da mãe. Dá um sorriso pequeno, tirando-o, fitando inexpressivamente o estrago. A sensação prazerosa de ter feito algo que não deveria correndo em suas veias azuis e gélidas.

— O que quer aqui? — a voz nitidamente masculina e grossa, que poderia envolver e intimidar todo o espaço, surge ao acaso. Os lábios dela se movem para o canto, formando um sorriso pretensioso, escutando-o.

Não possuindo um pingo de precipitação, vira-se, cravando os seus olhos astutos nele. Os seus olhos verdes fortes e esmeraldas pregavam nela como flechas certeiras, encarando-a, enfurecido. A austeridade exalava nele como um perfume que entregava tudo, a sua essência obscura.

— O mesmo que você quando vem nesse lugar deplorável, Adam, admirar e sofrer pelo passado — diz com um tom passivamente instigante. — Sabia que estaria aqui. — Diz com estranha calmaria.

Tinha em mãos uma caixa de fósforo, e em um ato de instantes, o ascende. Pondo-o nas velas postas no mesmo suporte do quadro. A luz amarelada ilumina a sua expressão obtusa e audaciosa, por estar pisando na sala favorita dele. A sala em que ninguém poderia entrar.

Maligne: Cheios De Sangue (Concluída)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora