VIII

160 26 31
                                    

" - Mas eu não quero ficar entre malucos!
- Oh, você não tem como evitar.
Quase todos são malucos por aqui."

Alice no país das maravilhas

____________________________________________________________________________
___________

O SILÊNCIO ERA ensurdecedor novamente. Agora era mais violento do que aparentava. Evangeline se mantinha sentada na cadeira de espera, perto da sala de cirurgia que estava a alguns metros dali.

O seu olhar em direção ao vazio, era reparado por alguns médicos que passavam pelos corredores às pressas. Ela apertava os seus dedos com força, arranhando eles com suas unhas grandes, já que não era acostumada a cortar. Sua mão já estava vermelha. E já havia alguns arranhões que passavam quase despercebidos em sua mão. Ela não havia dito uma única palavra.

Assim que a ambulância chegou, ela chorou e chorou, nunca chorou como naquele dia, era acostumada a gritar e a chorar por dentro. Mas desta vez, tudo veio de forma bruta.

A médica que a atendeu havia dito sobre as rupturas sérias, houve uma quebra dos ossos dos braços e pernas, além do pescoço e da coluna, então seria necessário enfrentar uma cirurgia delicada, e os custos que a mesma traria eram inimagináveis, o que consequentemente causou-lhe a sua aflição. Permaneceu sentada ali por horas mesmo sem perceber, balançando a perna esquerda em um tic-tac nervoso.

— A origem, por mais que tenha defeitos, sempre prevaleçe — franzi a sua faceta, olhando para a enfermeira que havia se sentado ao seu lado em um piscar de olhos. — Sabe ao o que estou me referindo, não é, Aine? Falo sobre as almas do passado... — A mulher de olhos escuros e cabelos castanhos pergunta, tocando em sua mão e a apertando com força, não a deixando escolha a não ser permanecer sentada. Evangeline nega rapidamente, com a boca entreaberta.

— E-Eu não sei do que está falando... — burburinha, e a mesma sorri com os dentes brancos, rindo e pondo a cabeça para trás. Pôde notar que seus olhos escureciam.

— Não tem como fugir, Aine.

A sua mão — a da enfermeira sinistra — agora estava pousada em seu queixo, fria e pálida. Os olhos da enfermeira encontravam-se cegos neste instante, mudado da coloração macabra para uma sem vida, sua boca se partia e alguns fios de seu cabelo caíam, o tempo a havia atravessado em poucos segundos de uma forma cruel. Achava-se morta, mas mais viva do que nunca. Arregala os olhos ao assistir as lágrimas de sangue descerem pelos seus olhos vazios, os pingos de água salgada e escarlate. Ao mesmo tempo em que a imagem da mulher saudável voltava, e da mulher doente retornava. Os paralelos se mesclavam, como se estivessem guerra, e as máscaras se confundiam.

— O casamento acontecerá de novo e de novo, e o impedimento por alguém que a ama também acontecerá novamente, é sempre a mesma coisa, pessoas diferentes, almas iguais... O ciclo não tem fim — suas covinhas se encontravam endurecidas de tanto sorrir, com os lábios em um sorriso congelado. A mulher fica com uma feição séria instantes depois. — Apareça no mesmo local onde tudo começou no passado, e que acontecerá de novo e de novo... A floresta te espera. — Sorri, saindo do assento e sumindo pelos corredores, deixando nenhum rastro de sua presença intimidante.

Evangeline se encontrava atordoada, não compreendendo uma maior parte do que aquela enfermeira sinistra queria dizer. Ela pisca algumas vezes, em torpor. Não acreditando que aquilo mesmo tinha acontecido, achava que era apenas mais uma alucinação, mas agora ela tinha certeza, de certa forma, depois de tudo que se calhou. Ela viu que aquilo não era loucura nenhuma...

Maligne: Cheios De Sangue (Concluída)Where stories live. Discover now