XIV

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" Como é que algumas vezes,
ao sermos afastados de algumas coisas,
ficamos ainda mais próximos dela?"

- Coraline

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A MEDIDA EM que o tempo passou-se, todos foram embora. E Evangeline permanecera sozinha em seu quarto, apenas com a companhia dorminhoca de sua tia na cadeira, com a cabeça pendada para trás enquanto dormia em um sono profundo. Havia deixado um dos livros da estante no qual  estava lendo cair no chão, ficando lá desde que dormira. O tédio consumia Evangeline como um bicho preguiça, mas mesmo assim, continuou naquele lugar sufocante. Os seus pensamentos se voltavam a apenas uma coisa: Awnya e Henrique.

Onde eles poderiam estar? Ninguém sabia. Mas tinha que ir atrás de respostas o quanto antes.

Reaparecendo na umbral, Rubi ficara no hospital ao invés de seu grupo, pois tiveram que partir mais cedo. Só havia se passado uma hora desde que eles se foram, e agora, com o olhar dela sobre a mesma, situava-se ciente de que havia chegado o momento de se despedir de uma vez.

— Eu vou ter que—

Shi... — ela interrompe a fala de Rubi, apontando com a cabeça para sua tia Shelsey, que deixa a boca semiaberta, sem ter visto que a própria descansava. Assentindo em silêncio.

— Eu... — falava sem produzir som, tentando fazer alguma linguagem de sinais com a boca e com as mãos.
— Vou, ter, que ir. —  Evangeline solta um riso alto, abafando no mesmo segundo com a mão, enquanto olhava ela fazer isso. Rubi ri também, mas baixo. Param, pretendendo não acordar a sua tia.

— Eu sei...  — dá um meio sorriso triste. Novamente, mal se conheciam. Mas não queria que ela fosse embora, a sua mera presença a fazia se sentir melhor, essa sensação não a deixava por nada.

Alguém bate na porta, e quando Evangeline fala que pode entrar, a enfermeira adentra com um telefone em mãos. Rubi e ela encrespam o cenho, curiosas.

— Tem alguém no telefone que se declama como Awnya Dinter, e disse que é uma conhecida, e que quer muito falar com você — a enfermeira falava baixo para não perturbar o sono de sua tia Shelsey, mas aparentava que ele era bem pesado para ser desfeito assim. Evangeline pega no telefone, o pondo no ouvido.

— Awnya? — questiona, aliviada por saber que ela e Henrique poderiam estar bem.

— Sim, sou eu. Estou no cemitério de Ednensvyl, não posso explicar, mas acho que você deveria vir aqui, e se puder, rápido — estranhou a sua voz cheia de angústia, quase não produzindo som algum, como se estivesse rouca. — Estou a sua espera.

Tudo fica em silêncio, e então o telefone desliga. Evangeline, com os pensamentos mais desalinhados do que o costume, fita Rubi, e por conta da sua feição enigmática, não decifrava como ela se encontrava. Olhando-a com seus olhos levemente arregalados e cinzas, sem saber o que dizer para ela.

— Muito obrigada — fala com gentileza para a enfermeira, devolvendo o telefone. A mesma confirma, saindo depois de examinar outra vez o soro.

Evangeline nota a chave do carro em cima da bolsa marrom de sua tia, sobre a mesa branca ao torno direito dela. Se ergue com ligeireza, e Rubi a impede de se locomover segurando os seus cotovelos. Mira o seu olhar enraivado para ela, deixando a boca entreaberta quando ficam perto demais, fitando-se em silêncio. Abaixa o olhar, coçando a garganta com desajeito, enquanto Rubi ainda detinha o seu olhar sobre o seu rosto.

Maligne: Cheios De Sangue (Concluída)Where stories live. Discover now